Em tempo algum, em meio ao nad

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Capítulo 15 - Em tempo algum em meio ao nada


Aos poucos as brumas que os envolviam desapareceu. Tiago foi o primeiro a erguer-se, assustado, olhando o horizonte, onde o sol começava a nascer.

- Onde nós estamos?

Lílian balançou a cabeça, levemente tonta. Diante dela, a perder de vista, águas tranquilas ondulavam enquanto a brisa marinha bagunçava seus cabelos.

- É um barco.

- Eu sei que é um barco. Mas como é que estamos num barco se há pouco estávamos nos subterrâneos de Hogwarts? - Tiago perguntou irritado.

- Ora, cale a boca! - Lílian aproximou-se da amurada - Eu estou tentando pensar!

A ruiva olhou o oceano com prazer, embora estivesse preocupada. De alguma maneira, eles haviam entrado no olho d'água. Já vira o navio uma vez, nas memórias de Hades. Então o dragão devia estar por perto. Quanto a isso não havia problema, se aquilo era como uma "penseira", ninguém poderia vê-los. Mas como conseguiriam sair dali?

- E então, já pensou? - Tiago parara ao lado dela.

- Estamos dentro das memórias de Hades.

- E como saímos daqui?

- Eu não sei.

- Como assim não sabe?!

Foi a vez de Lílian explodir.

- Olha aqui, Potter, pra começo de conversa, é por sua culpa que estamos aqui!

- Não é não! Foi você quem descobriu aquela passagem!

- Potter, EU VOU MATAR VOCÊ!

- Ei! Ninguém vai matar ninguém no meu navio!

Lílian e Tiago viraram-se para o lugar de onde viera a voz. Sentado junto ao leme, um rapaz, um pouco mais velho que eles talvez, de cabelos de um louro quase branco e olhos azuis, sombrios como as noites sem lua, observava-os, divertido. Ele desceu até o convés, onde os dois estavam, e Tiago postou-se diante de Lílian. A ruiva puxou-o pela gola do pijama, fazendo com que ele fosse para trás dela.

- Eu não preciso de sua proteção, Potter. - ela sibilou.

- Sabe, eu concordo com ela, garoto.

Lílian olhou o rapaz com atenção. Ele usava um túnica longa, azul celeste, com desenhos geométricos bordados em prata nas barras, tendo um cinto negro na cintura. Ela só vira roupas como aquela em livros de História sobre civilizações antigas. Mas como ele podia vêlos? Ia ter que reformular suas teorias sobre a "penseira" do dragão...

- Quem é você? - Lílian perguntou, começando a se acalmar.

- Meu nome é Hades, minha bela senhora. - ele respondeu com um sorriso, fazendo uma reverência.

- Mas é o nome do... AI!

Lílian dera um chute na canela de Tiago, sem se importar em ser discreta, o que arrancou um riso do outro rapaz.

- E por qual título atende tão encantadora senhora?

Tiago, ainda segurando o local alvejado, fechou a cara ao ver que Lílian corara. Ela sorriu e estendeu a mão a Hades.

- Lílian. Mas pode me chamar de Lily.

Oras, o cara era um completo estranho e ela deixava que a chamasse pelo apelido! Ele, que a conhecia a sete anos sempre levava um fora quando a chamava de Lily! Isso não era justo! Hades segurou a mão da ruiva gentilmente, depositando um beijo sobre ela.

- Encantado.

O rapaz mirou os olhos da ruiva com atenção. Verdes como duas esmeraldas, iguais aos de uma pessoa muito querida...

- A-han! - Tiago pigarreou, intrometendo-se entre os dois e fazendo Hades soltar a mão da garota.

- E o senhor é... - Hades virou-se para o moreno com um sorriso divertido.

- Tiago Potter.

- Mas pode chamá-lo de Infame que ele também atende. - Lílian soltou irritada.

- Bem, agora que estamos todos apresentados, poderiam me dizer como vieram parar no meu barco e porque estão vestidos tão estranhamente?

Lílian e Tiago entreolharam-se, notando pela primeira vez que ainda estavam em trajes de dormir, ele com um pijama preto e ela com um robe por cima da camisola fininha. Ele voltou-se para ela, que parecia apreensiva e logo percebeu o porquê. Eles não iam poder dizer quem realmente eram. Estavam em algum ponto do passado, num lugar que não conheciam e podia ser perigoso revelar que eram bruxos. Afinal, nem sempre aquela notícia era recebida sem medo.

Ele sorriu. Não mentia tão bem quanto Remo, mas sabia representar o suficiente para enganar quem não o conhecesse. Com a cara mais inocente que ele conseguiu fazer, ele virou-se para Hades, enquanto tentava se recordar de um filme trouxa que assitira nas férias, quando Lílian levara ele e Sirius ao cinema.

- Bem, eu e minha irmã estávamos... brincando com algumas experiências do papai. - ele observou a face surpresa de Lílian e continuou - Ele não gosta muito que a gente faça isso, mas a gente fez e alguma coisa quebrou e, bem, quando acordamos, estávamos aqui.

- Entendo. Isso acontece às vezes. - Hades respondeu, assentindo.

Lílian controlou-se para não mostar surpresa. Nunca ouvira uma desculpa mais estúpida que a de Tiago, mas o que mais a chocara foi ver que Hades acreditara e que não parecia nem um pouco perturbado com a informação.

- É, com licença... Você disse que isso acontece às vezes? - ela perguntou, deixando transparecer parte de seu nervosismo.

- Não se preocupe. - ele sorriu - Mexer com magia sempre pode acarretar alguns acidentes. Imagino que o pai de vocês seja um mago, não?

- Mago? - Tiago olhava o rapaz com os olhos arregalados - É, claro, nosso pai é um mago. Você também é?

Hades meneou a cabeça.

- Não. Mas tenho amigos que são. Vou levá-los até um deles quando desembarcarmos. Foi Sammondicus que me deu esse barco, de modo que eu pudesse navegá-lo sem precisar de ajuda. Eu sou marinheiro. É, acho que ele poderá levá-los de volta para sua casa. Enquanto isso... Vocês conhecem a Tessália?

Tiago meneou a cabeça, ainda absorvendo as últimas informações. Lílian deu um beliscão de leve nele.

- Onde fica a sua cabeça durante as aulas do prof. Binns?

- Você acha mesmo que eu não tenho nada melhor para fazer durante as aulas daquele chato?

O marinheiro observou divertido a briga dos "irmãos". Com tom professoral, a ruiva respondeu à pergunta.

- A Tessália é uma região da Grécia que, se acredita, foi o berço da feitiçaria.

- Certo, exceto pela parte da Grécia. A Tessália fica na Hélade.

Tiago sorriu, enquanto Hades se afastava em direção a uma porta.

- Você também erra, senhorita sabe-tudo?

Ela o olhou friamente.

- Depois de colonizada por romanos, a Hélade transformou-se em Grécia. Se isso ainda não ocorreu, é porque estamos num passado realmente remoto. Nem Hogwarts existe ainda. Vamos ter que depender completamente dele.

- Escutem, não poderão andar comigo pelas nossas cidades vestidos desse jeito. Há roupas aqui que alguns amigos meus deixaram da última vez que decidiram passear comigo. Tenho certeza que eles não irão se importar em emprestá-las.

- Eu vou ter que usar saia? - Tiago perguntou, temeroso.

- Potter, cala a boca. - Lílian cruzou os braços irritada.

O moreno aproximou-se dela, sussurrando em seu ouvido, de modo que só ela escutasse.

- Você vai ter que me chamar de Tiago. Que tipo de irmãos se tratam pelo sobrenome, Lílian Potter?

- Não me chame assim. - ela sibilou no mesmo tom que ele.

- Mas...

- O que estão esperando? - Hades perguntou, indicando a cabine com a cabeça - Venham escolher o que vestir.

Lílian seguiu o rapaz sem olhar para Tiago e entrou na cabine. Hades abriu um baú e após mexer em várias túnicas, Lílian escolheu uma verde-água, feita de um tecido que parecia seda. Pouco depois, Tiago, a contra-gosto, pegou uma túnica vermelha. Pouco depois eles estavam novamente na amurada do navio, enquanto Hades se afastava para preparar algo para que comessem. Lílian começou a prender o cabelo numa trança enquanto observava o mar em silêncio.

- E então, Lily... você tem mais alguma coisa para contar sobre essa estranha aventura?

A ruiva suspirou. Teria que contar sobre o que descobrira nos livros e nas memórias de Hades, pois Tiago já estava irremediavelmente envolvido em seus problemas.

- Tudo isso tem a ver com a Antiga Magia.

- Antiga Magia? O que significa isso? - ele perguntou, voltando-se inteiramente para ela.

Lílian suspirou, cansada, sentando-se no chão.

- O que aprendemos em Hogwarts é Alta Magia. Diferente de nós, que usamos varinha, os bruxos da Antiga Magia conseguem usar seus poderes sem varinhas, amuletos ou qualquer coisa do tipo.

Tiago espantou-se.

- Mas como podem fazer magia sem varinha?

- Os poderes deles são regidos pelos sentimentos. A Antiga Magia é a magia das coisas, da lua, do sol, do sangue. Ela impregna tudo à sua volta. De certo modo, é mais natural que a nossa. Há muitos anos, ela simplesmente desapareceu. Ou melhor, foi "dormir". Eu ainda não consegui descobrir como, só o que sei é que está relacionado com a Inquisição e a Idade Média.

- E você, Lílian? O que é você nesse emaranhado de magias? Você usa varinha mas também consegue usar seus poderes sem ela.

- Sinceramente, eu não sei. - ela respondeu tristemente.

No horizonte, contornos de terras e montanhas já se faziam exergar. Tinham chegado.



*Quintus Severus Sammondicus_ médico que viveu no século III, e que deixou escritos sobre medicina em que utilizava a palavra "Abracadabra" e falava sobre magia em curas. (essa é uma informação real, não pertence a mim, nem a criadora de Harry Potter.)




Mais revelações... É isso aí, já passamos da metade dessa primeira fase. Espero que tenham gostado desse aqui também. Quanto às informações históricas, a Grécia realmente já se chamou Hélade, a Tessália era considerada a terra da magia, onde muitos bruxos e feiticeiros reuniam-se para aprender sobre a magia, mais ou menos como uma Hogwarts a céu aberto, com a diferença de que realmente existiu. A magia, para os antigos, era uma mistura de alquimia (a nossa atual química).
medicina, astrologia e outras ciências que hoje se afastaram muito dessas raízes. Esse tipo de detalhe vai aparecer muito na fic, já que eu realmente amo História Antiga. Não se esqueçam de comentar!

Beijocas,

Silverghost.

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