Na floresta proibida



Capítulo 4 - Na Floresta Proibida


A semana se passou relativamente tranquila. Os marotos estavam se comportando exemplarmente, os sonhos de Lílian continuavam sem pé nem cabeça e o admirador secreto da ruiva não voltara a dar as caras. Logicamente, como tudo o mais no universo, aquelas coisas tinham o seu porquê de ser.

Era véspera de lua cheia. Na opinião de Sirius, isso era muito excitante. O vislumbre de uma semana perambulando como animago à noite buscando aventuras era motivo mais do que suficiente para não aprontar por hora. Além disso (e ao pensar nesse além disso o olhar de Sirius ficou simplesmente maquiavélico) era a chance de ouro para preparar alguma coisa para "presentear" o Ranhoso.

No meio do corredor que saía das masmorras onde a professora Estricnina dava aula de poções, Sirius ia pensando nos detalhes de seus planos para aquela noite, enquanto Tiago observava Lílian conversando com Susan alguns passos à frente e Pedro tentava passar despercebido ao lado de um grupinho de sonserinos que cochichava ansiosamente. Remo já estava na Ala hospitalar.

- Ei, Pontas. - Sirius sussurrou, enquanto observava Rabicho com o canto dos olhos - Estava pensando em fazermos uma pequena expedição à Floresta Proibida hoje. Uma checagem de terreno.

Tiago sorriu animadamente.

- O Remo não pode ir, mas a gente pode levar o Rabicho e...

- Nada de roedores. Vamos entrar mais fundo hoje naquele lugar, não quero ter que voltar por causa dele tremendo de medo.

O de óculos deu de ombros e eles seguiram para o jantar. Sentaram-se na ponta da mesa e, enquanto comiam, Tiago observava a turma. Emelina os encarava com um olhar divertido, como se estivesse adivinhando pela calmaria que logo viria uma tempestade. Pedro sumira, como sempre, e Remo sofria na enfermaria com a proximidade de sua transformação. Frank, vermelho de vergonha, tentava recusar os "aviõezinhos" que Alice lhe servia. Selene conversava animadamente sobre
penteados e maquiagens com Susan, embora sua ouvinte tivesse cara de absoluto tédio. E Lílian, como sempre, estava imersa num livro.

Pela primeira vez, Tiago prestou atenção no que a ruiva lia. Ela andava com aquele livro há quase um mês, carregando-o para cima e para baixo. Era um volume grosso, verde escuro com o título em letras douradas descascadas. Forçando um pouco a vista, ele conseguiu enxergar o título: "Contos e lendas antigas: o que há por trás dos mitos do mundo mágico". O rapaz sentiu um déja vu. Conhecia aquele livro.

Cenas do último verão voltaram a sua mente. Quando se avô morrera depois de quase oitenta anos de uma vida muito bem vivida, havia na cabeceira do velho bruxo um volume igual ao que Lílian segurava. Perdido nessas lembranças, o rapaz não percebeu quando Sirius, que estava sentado ao seu lado, levantou-se, nem quando a ruiva que em geral lhe dominava os pensamentos, desapareceu também. Ele só foi notar alguma coisa quando Pedro sentou-se ao seu lado, comentando
alegremente coisas como "Sirius", "mordido" e "Dearborn". Mas nem com isso Tiago prestou atenção. Sua memória estava muito longe dali...
*****

Lílian observou surpresa Sirius encurvar-se de dor enquanto Camille Dearborn desaparecia nos corredores que levavam a torre da Corvinal. Mesmo um tanto distante, ela podia ver com perfeição a marca dos dentes pequenos de Camille na mão do moreno. Respirando fundo, ela aproximou-se, parando na frente do colega.

- Precisa de ajuda, Black? - ela perguntou, tentando ser o mais gentil possível.

- Se você puder ajudar, eu agradeceria muito. Seria humilhante chegar com isso para Madame Pomfrey.

Lílian assentiu e fez um sinal com a cabeça para ele segui-la. O rapaz obedeceu até chegarem às escadas que levavam ao dormitório feminino. Lílian subiu sozinha e instantes depois voltou com uma pequena caixa branca.

- É um kit de primeiros-socorros. - ela disse ao ver o olhar inquisidor dele - Minha mãe me deu no primeiro ano quando vim para Hogwarts.

Rapidamente ela limpou o ferimento e fez um discreto curativo, finalizando com um feitiço cicatrizante. Sirius sorriu agradecido.

- Obrigado, Evans.

- Pode me chamar de Lily.

Os olhos azuis de Sirius adquiriram um brilho divertido.

- Oras você vive brigando com o Tiago porque ele te chama de Lily! Está dando em cima de mim, ruiva? Sinto muito, não posso fazer isso com meu melhor amigo. - o olhar dele ficou mais malicioso - Embora você não seja de se jogar fora...

A garota sorriu, piscando o olho marotamente enquanto dava um tapa de leve no braço do rapaz.

- Vocês garotos vêem segundas intenções em tudo, não? - ela mudou o semblante de repente, ficando séria, embora mantivesse um discreto sorriso no canto dos lábios - Sinto muito por não ter sido muito legal com você por todos esses anos. Amigos?

Ela estendeu a mão e Sirius sorriu, correspondendo ao cumprimento.

- Amigos. Mas como fica o Tiago nessa história?

- Não fica. Ele corre por fora. - os dois riram enquanto caminhavam para os sofás da sala comunal - E então, quer conversar sobre sua relação com a Dearborn?

O rapaz suspirou.

- Essa é uma looooonga história...
*****

Mais tarde, naquela mesma noite, Rabicho entrou no dormitório masculino muito depois de todos se recolherem. O rapaz deixou seus olhos correrem pelo quarto. Remo estava na enfermaria e Frank dormia profundamente, tão profundamente que qualquer um diria que ele fora enfeitiçado. As camas de Tiago e Sirius não haviam sido tocadas.

Com um suspiro, o loiro deixou-se cair em sua cama. Fora deixado para trás de novo. Ele reconhecia que não era tão corajoso quanto os amigos, mas ficava magoado todas as vezes em que o deixavam sozinho. Cada maroto tinha uma utilidade para o grupo e a dele definitivamente não incluia atos de coragem, exceto pelas noites de lua cheia em Hogsmeade.

Remo era o grande inventor de desculpas. O seu problema lupino fizera com que aprendesse a mentir sob pressão e parecer extremamente convincente. O fato dele ser monitor também ajudava. Ele, Pedro, era a "central de informações". Tornando-se um rato e esgueirando-se por todo tipo de frestas, Rabicho duvidava que alguém conhecesse mais dos segredos dos alunos de Hogwarts dos que ele. Sirius era o conquistador. Displicentemente elegante, provavelmente não havia uma garota que não tivesse suspirado por ele nem uma vez. Exceto, lógico, por gente como Camille Dearborn. Tiago era o líder. Rico, forte, corajoso, "heróico", era tudo o que muita gente gostaria de ser. Ele e Sirius eram as pessoas mais populares da escola.

Tentando se esquecer do sentimento de ter sido excluído pelos amigos de alguma grande aventura, ele trouxe à mente as informações que ouvira naquele dia, em especial as de um certo grupo de sonserinos.

Eles falavam sobre poder. E sobre o Lorde das Trevas, o rapaz pensou com um tremor de medo. Voldemort agia há há algum tempo e a cada dia as coisas ficavam piores. Mas ali, em Hogwarts, tudo permanecia normal, como se o mundo lá fora não estivesse em pé de guerra.

Com pensamentos sobre o que faria se tivesse poder e grandeza, o maroto adormeceu.
*****

"Entre todos os antigos mitos do mundo mágico, o menos divulgado e apreciado é, sem dúvida, aqueles que contam sobre a Antiga Magia. No entanto, para nós, bruxos da Alta Magia, presos à varinhas e poções para praticarmos nosso poder, esse é um dos mitos mais fascinantes.

Há pouquissímos indícios, porém, sobre os chamados "magos da emoção", capazes de usar sua magia apenas com pensamentos. Acredita-se que eles sempre tenham sido muito poucos, o que faz da Antiga Magia um dom. Entre suas características mais marcantes, acredita-se que esses magos tinham o dom da vidência, além de serem exímios guerreiros.

Há boatos, embora nunca tenha sido comprovado, que a Antiga Magia esteja presente em nossa sociedade bruxa através dos centauros, sereianos, unicórnios, fênix e demais animais extremamente mágicos e que povoam o mundo desde muito antes de nós. Logicamente, não há nenhuma prova disso e dentre esses aqueles que sabem falar jamais comentaram a respeito."


Lílian releu pela última vez o único registro que encontrara sobre sua pesquisa. Aquilo não era muito animador. Continuava cheia de dúvidas. Ela deitou-se exausta, com o livro aberto no colo, mergulhando em mais um de seus estranhos sonhos.
*****

Se alguém estivesse olhando para a orla da floresta proibida naquela noite, teria se surpreendido ao ver um cervo e um enorme cão negro desaparecem por entre as árvores.

Tiago e Sirius, em suas formas animagas, percorreram todo o perímetro da floresta que já conheciam e depois começaram a se aprofundar. Os animais pareciam fugir deles, como se soubessem que não eram o que aparentavam ser, mas os dois não se importavam. Aquela noite prometia ser muito produtiva.

Finalmente, depois de muito caminharem, os dois pararam numa clareira, próximos a um lago. Mas não por muito tempo. Pontas foi quem ouviu o galope vindo de vários pontos da floresta. Ele voltou a se transformar em humano, no que foi seguido pelo amigo.

- Há algo vindo para cá e estamos cercados. Temos que nos esconder. Sugiro subir em alguma árvore, e rápido.

Sirius assentiu e logo estavam sentados no alto de um velho carvalho, cobertos pela capa de invisibilidade. E foi a conta, pois mal acabaram de se esconder e um grupo de centauros emergiu na clareira. Em poucos instantes, outros grupos se juntaram ao primeiro. Tiago e Sirius observavam tudo muito atentamente, enquanto tentavam controlar até suas respirações, sem saber que já haviam chamado a atenção de alguém ali.

- Está muito próximo agora. Não podemos continuar a fingir que não há nada acontecendo. - um dos centauros disse, após alguns minutos de silêncio.

- Juramos que não íamos nos meter em assuntos humanos de novo. - outro, completamente negro, respondeu.

- Não é apenas um assunto humano, Agouro. - um centauro ruivo ao lado do que parecia ser o mais jovem do grupo e que olhava insistentemente para um alto carvalho à sua frente, retrucou - Estão chamando por nós. Ele está chamando por nós.

- E pela sucessora de Helena. - o mais velho entre eles tomou a palavra - Ela já está aqui. Está acordando. E devemos ajudá-la quando chegar a hora.

- Tem certeza do que está falando, Magoriano? - perguntou o mesmo centauro ruivo de antes.

- Sim, Ronan. Não é apenas porque ela está sendo chamada que sei que está aqui. Eu a sinto próxima já há algum tempo. Ela tem a mesma presença cheia de conforto que Helena tinha. - Magoriano sorriu, como se mergulhado em alguma boa lembrança - Não voltaremos a nos reunir até que ela nos chame. Quando ela vier, daremos a ela o que lhe é de direito e tomaremos parte do que ela ordenar.

Todos assentiram silenciosamente, embora Agouro o fizesse com clara má-vontade. Depois disso, aos poucos, os centauros foram sumindo na floresta, até que só restasse um, justamente o mais jovem, de corpo baio, cabelos muito louros e encaracolados e olhos azuis bem claros. Sirius e Tiago estavam ansiosos para que ele fosse embora e pudessem finalmente dar o fora dali, mas aquela não era a mesma idéia do centauro, pois ele se aproximou do velho carvalho.

- Podem descer agora. Sei que estão aí.

Tiago e Sirius se entreolharam sem saber o que fazer, mas obedeceram. Os dois pararam diante do centauro, levemente temerosos.

- Sei que ouviram tudo e que, provavelmente, nada entenderam. Por isso, vou deixar que saiam daqui, desde que digam seus nomes.

Aquela era uma condição razoável e os garotos prontamente responderam a ela.

- Sirius Black.

- Tiago Potter.

O centauro observou Tiago com interesse quando ele se apresentou e depois assentiu.

- Eu sou Firenze. Saiam agora da floresta. Não é seguro permanecer aqui.

Os dois assentiram e transformaram-se diante do olhar sério do jovem centauro. Quando os dois desapareceram de vista, Firenze ergueu os olhos para o céu.

- Marte está brilhante hoje... - ele suspirou - A sombra da guerra volta a se aproximar...




Então, aqui está mais um capítulo. Um pouco mais revelador não? Ou vocês acham que ainda está muito misterioso? Bem, comentem, a opinião de vocês é realmente importante para mim.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.