Crise de sonambulismo e sonhos

Crise de sonambulismo e sonhos



Capítulo 1 - Crise de sonambulismo e sonhos pra lá de estranhos...

O Salão Principal estava vazio e silencioso. Pelo teto enfeitiçado, o luar invadia o castelo. Por breves instantes, uma nuvem encobriu a lua, mergulhando o salão na penumbra e, quando ela se foi, um vulto estava parado diante da mesa onde se sentavam os professores.

Era uma garota. Os cabelos, de um tom vermelho escuro, estavam soltos, caindo até um pouco abaixo dos ombros. Os olhos, de um verde vivo, miravam cuidadosamente a parede. Ela desviou da mesa, aproximando-se da parede de pedra, repousando a mão sobre ela.

- Cum spíritu tuo eo....

- Rabicho, fica quieto! - uma voz ecoou forte no salão, fazendo a garota se virar.

- Quieto, Pontas! Você enlouqueceu? - outra voz irrompeu do nada.

- Evans?

Repentinamente, no meio do salão, apareceram três garotos, um deles segurando um rato. O mais alto, de cabelos negros e claros olhos azuis olhava estarrecido para a garota, que não esboçara qualquer reação diante do inesperado aparecimento deles. Os outros dois, que estavam frente a frente, viraram-se para ela. Um deles tinha olhos castanhos, brilhando febrilmente atrás das lentes dos óculos e cabelos muito negros e extremamente bagunçados. Era ligeiramente mais
baixo que o amigo que falara por último. O outro, que até ali estivera segurando um rato, deixou o pobre animal cair no chão, guinchando loucamente. Tinha os cabelos num tom de castanho bem claro e olhos da mesma cor, que pareciam observar tudo com muita atenção.

- Lílian? O que está fazendo aqui? - perguntou o de cabelos claros, aproximando-se.

Ela virou-se para ele, embora não parecesse o enxergar e voltou-se novamente para a parede, fazendo uma breve reverência para, em seguida, começar a caminhar como se não hovesse ninguém ali.

- O que vamos fazer, Tiago? - perguntou o rapaz que se aproximara dela.

O de cabelos bagunçados foi quem respondeu, recolhendo do chão um tecido prateado e sedoso.

- Vamos segui-la, Remo. A certinha monitora vai ter que explicar o que está fazendo perambulando por aqui a essa hora. Ela não vive me dando detenção por causa disso? Quem sabe, com alguma sorte, eu consigo chantagear ela para sair comigo...

- Acho que não vai ser dessa vez, Pontas. - o de olhos azuis observou - Sua amada ruivinha, ao que tudo indica, é sonâmbula.

- Eu concordo com o Sirius, Tiago. - falou Remo - Você sabe que ela é incapaz de infrigir qualquer regra.

Tiago suspirou, o sorriso que brotara ao pensar que tinha um trunfo, desaparecendo.

- É, eu acho que vocês têm razão. Mas vamos segui-la assim mesmo. Sabe-se lá o que pode acontecer com ela andando dormindo por aí. Vai que ela entra no Salão Comunal da Sonserina?

Remo voltou a recolher o rato que aquietara-se no chão.

- Meio impossível, não? Ela não sabe a senha dos sonserinos. Aliás, do jeito que ela está, acho que vamos ter que abrir a porta pra ela. Afinal, como ela vai dar a senha para o quadro da Mulher Gorda?

Tiago jogou a capa sobre eles,fazendo-os ficar invisíveis novamente. Os três seguiram a ruiva enquanto ela caminhava pelos corredores até a entrada do salão comunal da Grifinória. A garota parou diante de um quadro onde uma mulher dormia.

- Maravilha... Agora vamos ter que acordar o quadro também...

Sirius saiu de debaixo da capa, mas parou antes de aproximar-se do quadro. Lílian estava agora envolta numa estranha aura prateada. O quadro girou para o lado, revelando uma passagem. Ela sumiu dentro do Salão Comunal enquanto os três garotos se olhavam assombrados.

- Isso só pode ser alucinação... - Remo sussurrou baixinho enquanto eles entravam pela passagem, vendo um relampejo vermelho desaparecer nas escadas que levavam ao dormitório feminino do sexto ano.
*****

Os corredores escuros prolongavam-se cada vez mais, como se não tivessem fim. Ela já estava cansada de tanto caminhar, mas não ia parar. Não podia parar. Estavam precisando dela. Estavam chamando. Um chamado terno e triste.

Finalmente, ela chegou ao seu destino. Estava diante de um enorme portão entalhado que certamente teria admirado durante horas se não fosse pela sensação de urgência que ela tinha em atravessar para o outro lado. Com delicadeza, ela levantou a mão, colocando-a sobre uma das figuras que se sobressaíam no relevo da madeira. Um dragão. As portas começaram a se abrir.

- E Potter pegou o pomo. Grifinória vence mais uma vez! A taça de quadribol fica com os leões pelo quinto ano consecutivo!

Lílian acordou assustada ao ouvir o grito que vinha do campo de quadribol. Ela assistiu pela janela da Ala hospitalar um pontinho vermelho sobre uma vassoura ser abraçado por uma verdadeira multidão. Com um suspiro de resignação, ela ajeitou-se na cama. Madame Pomfrey aproximou-se, como se adivinhando que sua solitária paciente acordara.

- Bom dia, senhorita Evans.

- Bom dia, Madame Pomfrey. Dei muito trabalho essa noite?

A enfermeira sorriu.

- Não dessa vez. Acho que finalmente encontramos uma poção que acaba com suas crises de sonambulismo. Vamos testar mais essa noite e se a senhorita não for encontrada de novo perambulando pelo Salão Principal, acho que amanhã já poderá dormir na sua torre. Pronta para ter alta?

A garota assentiu, sentando-se na cama. Antes, no entanto, que pudesse se levantar, o mundo ficou escuro e ela sentiu-se completamente zonza. A enfermeira segurou-a a tempo, fazendo-a deitar-se de novo.

- Não se preocupe, senhorita Evans, a poção que tomou tem alguns efeitos colaterais. Vou pegar algo que acabe com a tontura e depois poderá ir para seu salão comunal.

Lílian suspirou enquanto Madame Pomfrey desaparecia de vista. Desde o início daquele ano, o seu sexto ano em Hogwarts, ela vinha sofrendo de crises de sonambulismo que sempre terminavam com ela de camisola no Salão Principal olhando tolamente para a parede. E o pior de tudo é que quem a descobrira foram justamente os Marotos. Lógico que quando eles lhe contaram, ela não acreditara. Mas quando acordara certa noite no meio do salão com Potter ajoelhado no chão tentando respirar depois de um feitiço que ela não se lembrava de ter aprendido... Bem, só o que lhe restara foi mudar-se para a Ala hospitalar.

Ela mirou o teto branco da enfermaria. E ainda tinha os sonhos... Não contara a enfermeira os sonhos estranhos que andava tendo, preferira mantê-los em segredo. Mas o que eles poderiam significar?

Nesse momento, antes que ela pudesse continuar com seus pensamentos, a porta da Ala hospitalar se abriu, deixando passar por ela a última pessoa que ela desejava ver logo depois de acordar. Os cabelos estavam mais bagunçados que o normal, se é que isso era possível, e ele ainda usava as vestes de quadribol. Era realmente só o que faltava a ela. Tiago Potter...

- Olá, Lily!

Aquele atrevido, babaca, cínico... Como ele se atrevia a chamá-la pelo apelido?

- Estava muito bem, Potter, até você fazer o desfavor de aparecer.

O rapaz suspirou, enquanto sentava-se numa cadeira ao lado da cama dela.

- O que pensa que está fazendo?

- Você é bem mais simpática dormindo, sabia?

Lílian bufou, recostando-se mais nos travesseiros. Tiago sorriu. Já estava acostumado com o jeito explosivo da garota. E era isso que ele mais gostava nela. Ele não conseguia manter uma conversa decente com nenhuma garota, já que elas pareciam derreter sempre que ele chegava perto. Não que as conversas com a ruiva passassem das ofensas, mas isso era porque ele simplesmente adorava implicar com ela.

A garota, que olhava para a paisagem que se descortinava pela janela, arriscou olhar para ele. E quase sorriu. Tiago tinha um olhar sonhador e um sorriso bobo nos lábios. Ela jamais o vira "voando". No que ele estaria pensando? Ela voltou-se novamente para a janela. Tiago era um idiota, petulante, arrogante, cafajeste... Nunca terminaria a lista de nomes que se encaixavam na personalidade de Potter, podia percorrer todo o alfabeto, sem dúvida alguma. Mas, apesar de ele ser totalmente execrável, ela achava que ele poderia ser um bom amigo. Se não fosse pela irritante mania de azarar Snape, passar a mão pelo cabelo e chamá-la para sair, ela tinha certeza de que poderia passar boas horas na companhia dele.

- Então, hoje tem visita a Hogsmeade. Você não quer ir comigo para comemorar a quinta vitória da nossa casa no quadribol?

No que ela estava pensando há alguns instantes mesmo? Potter, um bom amigo? Se já não estivesse na Ala hospitalar, teria rumado pra lá e pedido um exame completo a Madame Pomfrey da sua sanidade.

- Deixe-me pensar... Comemorar o quinto ano em que VOCÊ é apanhador e VOCÊ ganha a taça de quadribol para a Grifinória em Hogsmeade? É realmente uma proposta irrecusável, mas eu não pretendo estragar sua festa, Potter. E, conhecendo meu temperamento, eu com certeza faria você beber cerveja amanteigada pelo nariz. Então, porque simplesmente me deixa em paz e vai comemorar com Black, Lupin e Pettigrew? - ela falou sarcasticamente, embora tentasse manter a calma a todo custo.

- Seria interessante experimentar cerveja amanteigada pelo nariz. Se eu fizer isso, você vai comigo? - ele perguntou com um sorriso.

- Porque não tenta? Se você fizer isso eu posso PENSAR na possibilidade, embora tenha esperanças de que você morra asfixiado antes disso... Quer saber, Potter, não faça isso. Seria deprimente demais você chegar a tal ponto.

- Mas se você vai PENSAR na possibilidade...

- Os pensamentos serão todos negativos, pode ter certeza. - ela o cortou antes que perdesse o controle e arremessasse o que estivesse mais próximo de sua mão. Teria que dormir ali de novo e não queria ter Potter por companhia na Ala hospitalar com alguma rachadura no crânio...

- É uma pena... Mas não se preocupe. Ainda temos seis meses de aulas e possibilidades de encontros, Lily.

- Não me chame de Lily. - ela disse num tom perigosamente baixo - E nem nos meus pesadelos eu sairia com você, Potter.

Tiago suspirou, decidindo sair dali antes que levasse algum tapa ou coisa do tipo. Abrindo a porta, ele olhou uma última vez para a ruiva.

- Até mais tarde, Lily.

Ele mal pode desviar do livro que veio voando em sua direção. Sorrindo, ele seguiu para a torre da Grifinória. Ainda tinha uma vitória a comemorar...
*****

- Cum spírito tuo eo clamo passare.

A parede desapareceu e ela estava diante de um longo corredor. Sabia que quem a estava chamando estava no fim daquela passagem. Ela precisava continuar. Precisava encontrar. Estavam esperando por ela.

De repente, o corredor se desvaneceu numa bruma e ela estava diante de um lago, cercada por frondosas árvores. Pequenos pontos brilhantes a cercaram e ela sentiu-se fascinada. Eram pequenas fadinhas. Elas pousaram em seu cabelo, em seu ombro, no bolso do casaco, rindo, brincando e mexendo com ela.

- Elas são belas, não?

Lílian se virou, encontrando uma mulher de longos cabelos negros e olhos muito verdes, como os dela. A ruiva assentiu, sentindo-se estranhamente confortada pela presença da outra. As fadinhas se levantaram, envolvendo a recém-chegada por alguns instantes antes de desaparecerem. A morena aproximou-se, sentando num tronco caído junto ao lago e fez sinal para que Lílian também se sentasse.

- Sabe, você me preocupa. Você é muito teimosa.

- Teimosa? - Lílian olhou para a morena, curiosa. Quem era aquela mulher para falar isso dela?

Normalmente, ela não conversava com gente que não conhecia. E também não ficava calada quando a repreendiam. Ela tendia a se defender apaixonadamente. Mas estava por demais envolvida por aquela mulher.

- Está fazendo tudo errado. Está sendo racional demais.

- O que quer dizer?

- Deixe a Antiga Magia seguir seu curso. Pare de se reprimir.

- Antiga Magia?

Antes que Lílian pudesse receber uma resposta, um raio de sol incidiu extamente sobre os olhos dela. A ruiva não teve remédio além de acordar. Estava na Ala hospitalar de novo. Fora só um sonho. Mais um sonho sem sentido.

Ou, talvez, não fosse tão sem sentido assim.

- Antiga Magia... Pelo menos é alguma coisa para pesquisar. Quem sabe descobrindo isso, eu volte a ter uma noite decente de sono...




Quem será a misteriosa mulher que visitou Lílian? O que significam esses sonhos? E o que diabos é Antiga Magia? Será que Potter tem alguma chance (alguém duvida disso?)? Esses e outros mistérios no próximo capítulo de Hades: a última guardiã.
Aí está mais um capítulo, pessoal. Eu sei que ainda está muito confuso, mas eu prometo que logo, logo as coisas vão começar a clarear. Não se esqueçam de comentar!

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