Revelações



Hermione se aproximou e pegou o medalhão nas mãos. Harry pôde notar a curiosidade nos olhos da garota, ao contrário do amigo, que parecia querer distância do objeto.

- Veja Ron! É meio pesado. – disse ela estendendo a mão para ele.

- Não, não, obrigado! – ele disse.

- Não me diga que você está com medo de pegar isso? – perguntou ela.

- Se eu puder evitar, eu prefiro não pegar mesmo.

- Ron, é apenas um medalhão.

- Eu sei, mas um pedaço da alma de Você-Sabe-Quem está aí dentro.

- Mas nós nem sabemos como é isso direito! – disse Harry.

- Por isso mesmo eu não quero pegá-lo.

- Você é quem sabe. – disse Hermione devolvendo o objeto a Harry.

- E agora? – perguntou o ruivo – O tal Regulus não sabia como destrui-lo. Ele ía perguntar a Dumbledore. Como ficamos?

Ele e Hermione ficaram aguardando a resposta de Harry.

- Ainda não sei. Olha, está tarde, eu quero tomar um banho e cair na cama. Depois veremos isso.

- Bem, eu também estou louca por um banho. Boa noite para vocês.

- Boa noite! – disseram os garotos.

Enquanto tomava banho, Harry estava pensativo. Se um bruxo mais experiente como Regulus Black não conseguira destruir o maldito medalhão, como ele poderia? Deixou este pensamento de lado. “Penso nisso amanhã.” Então seus pensamentos voaram para uma ruiva. Olhou para o pingente através do espelho do banheiro. “Será que ela já dormiu?” Saiu do banheiro. Rony já estava roncando na cama dele. Harry passou pelo corredor. O quarto de Hermione estava iluminado, o que dava a entender que a amiga ainda não tinha ido dormir. Ele desceu até a cozinha. Estava tudo bem quieto. Tomou um gole d’água e sentou-se. Segurou no pingente e disse:

- Gina!

Ele esperou cerca de 30 segundos até que o holograma se formou na frente dele. Harry olhou para ela. Gina tinha um sorriso na boca. Estava linda. Estava sentada na sua cama, no dormitório das meninas, com a cortina puxada.

- Puxa – ela disse – achei que não iria falar com você antes de dormir.

- Desculpe, hoje o dia foi difícil. Dá para você falar?

- Eu coloquei um feitiço silenciador aqui. Ninguém vai nos ouvir. – disse e depois comentou – Eu soube o que aconteceu lá no Beco Diagonal. Não se falava noutra coisa por aqui.

- Não se preocupe, seus irmãos estão bem.

- Eu sei. McGonagall fez questão de me tranqüilizar. E vocês? – ela perguntou.

- Bem, a gente estava por lá na hora H. Pudemos ajudar um pouco. Ainda bem que Tonks e outro auror também estavam no Beco.

- Caramba Harry! O que vocês faziam por lá?

Harry contou rapidamente a história dos livros e o encontro com Draco e Narcisa.

- Então ele está mesmo do lado do cara de cobra?

- Você duvidava, Gina?

- Sei lá. Do jeito que você contou da noite em que Dumbledore morreu. Pareceu que ele estava com medo, ou arrependido.

- Com medo sim! Afinal ele nunca deixou de ser um covarde. Arrependido não! Ele sempre demonstrou bem o caráter dele.

- É estranho, ele sempre me disse que...

- Sempre te disse? – interrompeu Harry – Disse o quê? Não sabia que você falava com esse cara.

- Calma, Harry! Você nem esperou eu acabar.

- Tudo bem. – ele se acalmou – Fala então.

- Bem, Draco sempre me disse que o pai era louco de ser o que era. Ele tinha medo do que poderia acontecer com a família dele se eles não fizessem o que Voldemort queria.

- Espera aí Gina. Desde quando Malfoy falava deste tipo de assunto com você? Aliás, desde quando você tinha qualquer tipo de conversa com esse cara? Pior, por que você o tratou por Draco?

- Xii, arrumei um 7º irmão agora?

- Gina, eu estou falando sério! – disse Harry irritado.

- Ok, ok. A gente..., bem... a gente conversava... assim..., às vezes.

- Como assim conversava?

- Harry, você está parecendo o Ron!

- Eu estou parecendo o Ron? Gina, parece que você não conhece seu irmão! Quando eu contar para ele que...

- Pode contar, eu não ligo. Não fiz nada demais.

- Gina, Malfoy é o inimigo, lembra?

- Mas ele nunca me tratou como inimiga. Muito pelo contrário, aliás.

- O que você quer dizer com isso?

- Olha, Harry, você deve estar cansado e estressado pelo que passou hoje. Vai dormir. Amanhã, com a cabeça mais fresca, a gente conversa. Eu não quero brigar com você, eu te amo muito para isso.

- Mas Gina...

- Pergunta para Hermione. Beijo! – ela lançou um beijo para ele e soltou o pingente. O holograma sumiu.

Harry chamou de novo por ela, segurando o pingente, mas ela não mais apareceu.

- Droga! – esbravejou baixinho.

Subiu as escadas de dois em dois degraus, tamanha pressa e irritação. “Pergunta para Hermione, pergunta para Hermione! Pois vou perguntar mesmo! E vai ser agora!” Ele se aproximou do quarto da amiga. Ainda vinha luz por baixo. Ele bateu na porta.

- Hermione, está acordada?

- Harry! É você?

- Sou eu. Posso entrar?

- Espera um segundo.

Ele aguardou até que ela abriu a porta para ele.

- Desculpe, Mione, mas tenho que perguntar algo a você e não vou conseguir esperar até amanhã.

- Nossa! O que é tão importante assim?

- Gina! – ele disse simplesmente.

- O que foi, aconteceu algo com ela? – perguntou apreensiva.

- Não, ela está bem. É que..., bem...

- Você parece nervoso. Senta aqui. – ela apontou para cama e os dois sentaram. – Fala agora!

- Bem, eu estava falando com ela agora há pouco, pelo pingente, sabe e...

- Ah, conta! Como foi a chegada deles? Como está a Escola? Ela te disse quem ficou de monitora-chefe?

- Mione, pára um pouco! Fui eu que vim te perguntar uma coisa, esqueceu?

- Desculpe. Pergunta!

- Gina e Malfoy, o que há entre eles? – ele foi direto.

- O quê?

- Não se faça de boba! Gina me contou que ela batia altos papos com o idiota!

- Harry, se acalma, ok? O que ela realmente contou a você?

- Isso! Que ela conversava com ele. Quando eu perguntei mais coisas, ela disse para eu perguntar a você.

- A Gina disse isso?

- Disse!

- Amigona mesmo a Gina, hein. – disse com ironia.

- Fala, Mione!

- Ok, ok. Bem, desde nosso 4º ano, ela me disse que achava que o Malfoy tinha uma queda por ela e que...

- O quê? Queda por ela?

- Você vai deixar eu continuar?

Ele assentiu.

- Bem, depois do Baile de Inverno, digo, depois que o Neville subiu para o dormitório, Gina se tocou que havia esquecido o batom dela na mesa e voltou. O Malfoy ainda estava por lá. Ele chegou até ela e elogiou o vestido dela e tal. Na verdade ele disse algo como: “Como pode uma menina como você ter vindo daquela família?” Ela disse que por pouco não estuporou ele na hora, mas falou poucas e boas para ele. Foi aí que ele fez algo que a surpreendeu. – ela parou por um momento e continuou – Ele pediu desculpas, Harry. Quando ela me contou isso, eu quase não acreditei. O fato é que, depois disso, eles passaram a conversar mais vezes.

- E onde eles conversavam, Hermione?

- Bem..., eles costumavam dar umas voltas pelo Jardim.

- E eles só conversavam?

- Harry, eu não estava junto para ver.

- Hermione, eu não sou idiota. Ela conta tudo para você. E então?

- Só se você prometer que não vai surtar.

- Pronto! Agora mesmo é que eu já surtei! Fala logo!

- Bem, se a própria Gina mandou você me perguntar, então agüente as conseqüências. – ela respirou fundo – Eles ficaram, Harry.

- O QUÊ? – ele gritou.

- Eu sabia que você ficaria assim. A Gina é louca! Ela é quem tinha que contar!

- Por que você não me contou antes?

- Por causa disso aí! – ela apontou para ele – Desse estado em que você ficou.

- Mas você poderia ter contado bem antes. Tipo, na mesma época. Eu não estava namorando ela.

- Você ía ficar assim do mesmo jeito. Ela era a irmã do seu melhor amigo e você já tinha ódio mortal do Malfoy. Além do mais, se eu contasse, o Ron iria saber no minuto seguinte e haveria morte em Hogwarts. Ela também me pediu segredo e eu não traio os meus amigos.

- Mas.., mas...

- Olha só, Harry. A Gina ficou com ele umas duas vezes. Não foi namoro. Logo depois ela começou a namorar o Miguel, lembra?

- Mas por que o Malfoy?

- Sei lá! Acho que ela se sentiu atraída por ele.

- Mas o Malfoy? – ele repetiu.

- Harry, escuta! Ela...

Nesse momento Ron entrou feito um louco no quarto.

- Pronto, agora ferrou de vez! – Hermione revirou os olhos. – O que você ouviu, Ron?

- Tudo! Ou quase tudo! Desde que você contou ao Harry o que aconteceu no Baile. Fiquei escondido ouvindo.

- Bem, agora todos já sabem! Ótimo! Podemos ir dormir então! – disse a menina se levantando.

- Hermione! – exclamaram Rony e Harry ao mesmo tempo.

- Olhem aqui vocês dois! – ela se irritou – Eu não sou a Gina e muito menos o Malfoy! Não venham descarregar a raiva em cima de mim! Eu já disse, eles só ficaram. Foram uns beijinhos sem importância. – ela virou-se para Harry – Você nunca deu bola para ela, apesar dela já sentir o que sente por você. Vocês acham que nós garotas não temos vontade também? Vontade de experimentar? Nós queremos nos sentir admiradas. Sentir que alguém tem atração por nós. Ou vocês acham que a gente vai esperar eternamente pela pessoa que a gente gosta tomar uma atitude? Se a coisa não rolar com quem a gente quer..., ah, quer saber? Por isso eu fiquei com o Krum. Pronto, falei! Agora tchau que eu quero dormir!

Harry saiu do quarto aborrecido, mas mais calmo. Ele tinha certeza que Gina o amava. Sua raiva era porque a boca do Malfoy encostou na dela. As línguas deles se encontraram. “Mas que droga! Como fui estúpido em não notá-la antes! Agora agüenta! Antes de você ainda teve o Miguel e o Dino, seu otário!” Ele pensou. “Mas foi para mim que ela se entregou. Só para mim.” E acabou dando um sorriso.

- Não acredito que você está sorrindo! – disse Rony emburrado.

- Ah, é porque eu amo sua irmã e não dá para ficar muito tempo com raiva dela. Eu sei que ela me ama também.

- Ah, sorte sua! Boa noite! – disse ele.

- Boa noite! – respondeu.

Passados alguns momentos, Harry ouviu-o dizer:

- Ela confirmou que ficou com ele.

- A Gina não me disse diretamente, você ouviu que foi Hermione quem confirmou que sua irmã e o ...

- Falei da Hermione.

- O quê?

- A Mione confirmou que ficou com o Krum.

- Mas você já sabia. A sua irmã contou que eles tinham se beijado.

- É, eu sei. Mas ainda tinha esperança.

- Ron, você não ouviu o que ela falou? Ela praticamente confirmou que ficou com ele, porque não agüentou ficar esperando outro tomar a atitude.

- Pois é. Mas quem garante que esse outro sou eu?

- Só ela pode garantir. Mas como você não quer falar disso com ela, então agüenta, cara.

- Boa noite então. – ele murmurou.

- De novo, boa noite!

E Harry foi dormir com o pensamento em Gina.

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