O aniversário de Harry



Tiago acordou sentindo um peso extra em sua barriga. Mãos delicadas colocaram seus óculos no lugar e ele pode ver através das lentes o sorriso de Lílian. Ela ainda estava usando a capa branca de curandeira, mas os cabelos, usualmente presos numa trança, estavam soltos, caindo até o meio das costas.

- Boa noite, querido. - Lílian cumprimentou, sorrindo inocentemente.

- Como foi o trabalho? - ele perguntou, tentando não notar o fato de ela estar sentada sobre sua barriga.

- Graças a Merlin, nada de desesperador. - uma sombra rapidamente passou pelos olhos dela, mas logo ela estava novamente sorrindo - E você? Muito cansado?

Tiago sorriu, virando o corpo, de modo a trocar as posições.

- Eu nunca estou cansado para você.

Ela sorriu, capturando os lábios dele num beijo antes de derrubá-lo para sair da cama e sentar junto a penteadeira.

- Daqui a dois dias, Harry vai completar um ano.

O moreno suspirou resignado, enquanto Lílian tentava se controlar para não rir.

- Eu sei.

- Como está Sirius?

- Já se passaram dois meses desde a morte de Susan. Eu não diria que ele está completamente bem. Mas eu já o vi pior. Na verdade, nos últimos tempos, eu só consigo reconhecer o velho Almofadinhas quando ele está com Harry.

Ela assentiu.

- Podíamos fazer uma pequena reunião de amigos para comemorar o aniversário de Harry. Talvez isso alegrasse um pouco Sirius.

Tiago estreitou os olhos.

- Porque você está tão preocupada em alegrar Sirius quando me deixa aqui a ver navios?

Lílian não conseguiu controlar a risada.

- Ô, pobrezinho do meu Tiaguito... Tão abandonado... - ela fez um biquinho antes de continuar - Não seja por isso, pobre e sozinho Tiago. Eu o convido a tomar banho comigo. Você está realmente precisando de uma ducha de água fria.

Ele meneou a cabeça.

- Prefiro esperar por você aqui. Pode tomar seu banho, eu vou ver como Harry está.

Ela entrou no banheiro e Tiago levantou-se da cama, indo pé ante pé para o quarto do filho. Harry dormia tranquilamente, os cabelos negros bagunçados, extamente como os de Tiago. O rapaz se pegou pensando se Lílian também ia implicar com os cabelos do filho, como implicara com ele por anos a fio.

Suspirando, ele afagou a cabeça do filho e lembrou-se do amigo. Sirius realmente precisava de algumas alegrias para variar. E ultimamente, apenas Harry conseguia arrancar um sorriso do padrinho. Lílian tinha toda a razão.

Com essa resolução na cabeça, Tiago não podia esperar até amanhecer para mandar os convites aos amigos. Assim, ele subiu até o sótão, onde Deméter e seus dois filhotes, Pandora e Hades, costumavam dormir. Para sua surpresa, Apolo e Piu 1 também estavam lá.

- Certo, eu não devia me suspreender. Se eu tenho a minha Lílian, porque o Apolo não pode ter a Deméter numa noite como essa? Vejamos então... Eu vou mandar vocês três. - ele disse para as corujas, apontando os três filhotes enquanto amarrava os pergaminhos que escrevera enquanto subia as escadas na pata de cada uma - Remo, Pedro e Sirius. As amigas de Lílian estão todas ocupadas com outras coisas, então essa vai ser uma reunião de marotos.

As três corujas logo sumiram na noite e Tiago se pegou pensando em suas palavras. Sim, uma reunião de marotos. A velha e a antiga geração. Porque é óbvio que Harry também seria um maroto. Mesmo que Lílian parecesse ser contra, ela mesma era um maroto honorário, como dissera Sirius uma vez.

Com esses pensamentos, ele voltou a entrar no quarto.


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- E ele vai, e marca... GOOOOOLLLLLLLLLLLLL! - Sirius ergueu o afilhado nos braços, enquanto a pequena bolinha que ele arremassara num aro enfeitiçado para correr atrás da bola, caía no chão - Esse é o meu grande artilheiro.

- Você foi batedor, Sirius. Porque quer que Harry seja artilheiro? - Lílian perguntou enquanto desamarrava o avental que usava na cozinha e entrava na sala.

- Acho que ele ainda não tem força nos braços para segurar um bastão. Mas esse pirralho não nega, vai ser jogador de quadribol, e dos bons.

- Lógico, Sirius, afinal, ele herdou o talento do pai. - Tiago, também escarrapachado no chão, sorriu, enquanto o filho saía dos braços de Sirius e andava cambaleante em sua direção - Vai ser o melhor apanhador de todos os tempos. E, como eu, vai ganhar todas as taças de quadribol enquanto estiver em Hogwarts.

- Pontas, alguém já lhe chamou a atenção para o fato de que você é TÃO modesto? - Remo perguntou, sorrindo.

- Mas eu não sou apenas modesto. Sou também bonito, inteligente, gostoso, engraçado, divertido, boa pinta...

- Gabola, chato, cínico... - Lílian interrompeu o marido.

- E além de tudo, tenho uma mulher que me adora, estão vendo? - ele perguntou, enquanto puxava a ruiva pelo braço, fazendo-a cair em seu colo, roubando um beijo dela.

- E que cozinha muito bem. - Pedro observou, aproximando-se, enquanto mastigava alguma coisa.

- Pedrinho, Pedrinho, você pensa em outra coisa que não seja comida e fofoca? - Sirius perguntou, tomando Harry novamente nos braços.

O maroto riu. Sirius virou-se para Remo, único sentado no sofá, tendo o olhar distante. Não era à toa que o apelido do amigo era Aluado. No que ele poderia estar pensando? Talvez em quem seria o próximo que ele entregaria a Voldemort... Sirius meneou a cabeça. Tinha que tirar isso da cabeça. Remo não podia ser um traidor. Não podia.

Pedro observou o semblante de Sirius enquanto ele observava Remo. Podia ler nos olhos azuis do rapaz toda a desconfiança. Ele deu um meio sorriso. Muito em breve chegaria a hora de plantar definitivamente a semente da discórdia entre Aluado e Almofadinhas.

Nesse momento, a cabeça de Dumbledore emergiu da lareira, e logo o corpo inteiro do diretor estava na sala de estar da casa dos Potter. Lílian imeditamente levantou-se, dando a mão para ajudar o marido a fazer o mesmo. Sirius sentou Harry em seu colo, virando-se para o velho professor, assim como Pedro e Remo.

- Sinto muito estar interrompendo esse momento de alegria. Mas preciso conversar com vocês, Tiago e Lílian. Na verdade, eu preciso tirá-los daqui.

- Mas o quê... - Sirius foi quem começou, abraçando o afilhado para depois se levantar.

- Estão planejando um ataque contra o St. Mungus. Só que esse não é o verdadeiro alvo da operação dos comensais. Querem tirar a atenção dos aurores de outros locais. Como a casa de vocês, por exemplo. - Dumbledore continuou num tom grave - Vocês devem sair daqui o mais rápido possível. Essa noite mesmo. Façam suas malas.

- Para onde vamos? - Lílian perguntou, enquanto tirava o filho dos braços de Sirius.

Dumbledore passou os olhos pela pequena assembléia que o ouvia com atenção.

- Primeiro para Hogwarts. Depois... é uma informação confidencial.

Sirius sentiu um choque. Se Dumbledore não queria falar, era porque desconfiava de alguém ali presente. Ele não viu Lílian subir as escadas, estranhamente calma, quase como se já esperasse aquilo. Nem percebeu quando Remo e Pedro se despediram, deixando apenas ele, Dumbledore e Tiago na sala.

Ele estava certo. Havia um traidor entre os marotos. Aluado...


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O ambiente era sombrio, cortado apenas pela luz fraca da lua que se infiltrava pelos vitrais. Pedro observou a velha igreja com atenção. Não era seguro, por hora, se encontrar com seu mestre. Por isso, escolhera aquele lugar para que um dos comensais que sabiam de sua existência ouvir suas informações e levá-la para o Lorde. Bastava que a Ordem soubesse que havia um traidor, não era preciso também que ele desse bandeira de quem realmente era.

O rapaz quase rtiu com a contradição da cena. Igrejas deveriam ser lugares de arrependimento e perdão. E ele estava ali, pouco depois de ter deixado a companhia de seus amigos, para traí-los. Um som difuso venho de algum lugar da escuridão. Alguém aparatara.

- E então, Rabicho, alguma novidade?

O comensal se aproximou com grandes passadas.

- Dumbledore foi visitar os Potter hoje. Já sabem que o Lorde está atrás deles. Descobriram o plano do St. Mungus.

O homem parou, obviamente curioso.

- Como ele pode saber? Isso é informação restrita... A não ser que tenhamos um espião em nosso meio... Você não seria um agente duplo, não é, Rabicho?

Pedro se sentiu gelar.

- Nã-não, eu jamais, ja...

- É, eu sei que não. Você é covarde demais. Bem, se é tudo, até a próxima, Rabicho.

O comensal desapareceu e Pedro olhou com raiva o ponto em que ele estivera há pouco. Como podia mudar de sentimentos em tão poucos minutos? Talvez porque todos o acusavam de covarde.

- Eu não vou me arrepender. Muito em breve serei tão grande quanto todos que me humilharam. Não importa o quanto isso custe.

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