Adeus, Prewett



Estava escuro... e frio. Um perfume suave invadiu as narinas dela... Margaridas. Havia um buquê caído no chão, única fonte de luz no quarto escuro. O barulho de metal fê-la se virar rápida. Um aro dourado rolou pelo chão até os pés dela. Lílian se abaixou para pegar a delicada aliança.

Ela brincou com o anel em suas mãos por alguns instantes antes de perceber que a aliança estava molhada... de sangue. O aro voltou a cair no chão, enquanto os olhos da ruiva enchiam-se de lágrimas. Mais alguém ia morrer... E ela não podia fazer nada... Absolutamente nada!


- Lily?

Lílian abriu os olhos, encontrando a face de Tiago sobre a dela, olhando-a preocupado. Ela ergueu-se, enquanto Tiago sentava-se na cama, esperando que ela lhe contasse o que estava acontecendo.

- Lily? - ele voltou a chamar, enquanto ela andava de um lado para o outro.

- Alguém mais vai morrer, Tiago... Eu sei que alguém vai morrer. Mas eu não sei quem. - a essa altura ela já estava chorando - Eu não sei e não posso fazer NADA!

O moreno também levantou-se, abraçando a esposa, deixando que ela chorasse com o rosto escondido em seu peito. Tiago a puxou delicadamente enquanto voltava para a cama, sentando-a sobre seus joelhos, afagando os cabelos soltos dela. Ele sabia que não adiantaria dizer que eram apenas pesadelos. Porque não eram. Não havia como consolá-la, mesmo porque, de alguma forma, ele se sentia da mesma maneira.

Um choro fraco veio do quarto ao lado. Tiago sentiu os soluços de Lílian diminuírem em seu peito. Delicadamente, ele levantou o rosto dela, limpando as lágrimas que ainda escorriam dos olhos verdes que tanto amava. Com um sorriso triste, ele encostou os lábios nos dela antes de se levantar.

- Pode deixar que eu cuido do Harry. Eu já volto.

Lílian ficou sentada na cama, pensativa. Após alguns minutos, Tiago reapareceu, tendo o filho nos braços. Ele deitou Harry entre os dois e enlaçou a mão da ruiva. Ela sorriu, mais calma.

- Você vai acostumá-lo mal desse jeito.

- Não acho que haverá tempo para ele se acostumar. Temos tanto por fazer nesses últimos tempos... - Tiago a fez se deitar novamente - Deixe ele aproveitar enquanto pode o fato de dormir com a mulher mais linda e carinhosa do mundo.

Ela sorriu, corando.

- Deu para mentir agora, Tiago?

- Eu nunca mentiria para você.

Ela fechou os olhos, sentindo o corpinho de Harry se aconchegar em seu peito. Tiago também se aproximou, encostando a cabeça à dela.

- Eu te amo. - ele sussurrou - Vai dar tudo certo, Lily.

Lílian não respondeu. Queria poder fazer o tempo parar naquele instante. As palavras de Tiago ecoaram em seus ouvidos. Será que não haveria tempo de Harry se acostumar com o carinho dos pais? Por quanto tempo eles estariam seguros? Quanto demoraria para Voldemort voltar a persegui-los, por causa de uma estúpida profecia e do maldito pingente que ela trazia no pescoço?


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Remo abriu a carta com cuidado, observando o convite que vinha junto. Ele sorriu ao ler o que Tonks escrevera. Ela estava se formando. E, assim como ele a convidara para ser seu par no baile de formatura, ela também o estava fazendo.

Ele se sentou à mesa, empurrando um prato de biscoitos para Hórus, enquanto procurava uma pena. Não devia fazer aquilo, seus sentidos estavam sempre alertando para o fato de que era perigoso para Tonks se envolver com ele demais... Mas ele não podia resistir.

Respirando fundo, ele começou a escrever o pergaminho de resposta. Sim, iria para o baile com ela... A título de amigo. Embora ambos soubessem que seus sentimentos eram bem mais do que amizade.

Finalmente ele terminou a carta e, lacrando-a, amarrou na pata de Hórus. A coruja piou alegremente e logo levantou vôo. Remo ficou observando a ave sumir no horizonte, onde as luzes da aurora começavam a despontar. Mais um ano estava chegando ao fim... Logo seria natal de novo. Tiago o chamara para passar as festas com ele e Lílian. O único problema é que a noite de natal seria véspera da lua cheia... Mas, ao menos uma vez, ele queria esquecer os sofrimentos pelos quais passava todo mês.

Deixando a janela, onde o ponto que era Hórus já desaparecera, Remo voltou ao trabalho. Dumbledore dera a ele a incumbência de investigar sobre as possibilidades de Voldemort saber da ordem através de outras fontes que não membros dela própria. Mas até agora, tudo levava a crer que realmente havia um traidor entre eles.

Mas quem poderia ser?...


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- Faltam duas semanas para o Natal. - Tiago observou pela quarta vez, sentado no chão, brincando com Harry, que começava a dar seus primeiros passos.

Míriam olhou para a nora divertida. A ruiva revirou os olhos.

- Eu sei, Tiago.

- Mas só faltam duas semanas... O tempo passa rápido, não?

- Eu sei, Tiago.

- Então, já que só faltam duas semanas...

- Não se preocupe, eu não vou esquecer de comprar seu presente, Tiago. - a ruiva respondeu finalmente.

- Mas eu não...

- Eu já sei, Tiago. Você não está me tirando a paciência para que eu não me esqueça de comprar seu presente e o do Harry. É apenas uma observação casual.

O moreno ia responder, mas antes que pudesse fazê-lo, Harry agarrara seu dedão e o enfiara na boca.

- AI!

As duas mulheres se viraram, enquanto Tiago tentava tirar o dedo da boca do filho sem machucá-lo. Finalmente Harry o soltou.

- Bem, parece que já sabemos o que dar para o meu pequeno neto, não? - Míriam sorriu, abaixando-se para pegar a criança - Agora que seus dentinhos nasceram, ele realmente quer sair experimentando eles em tudo o que encontra.

- Em especial nos meus dedos. - Tiago observou as marquinhas dos dentes de Harry, a terceira só na mão direita.

- Também temos que providenciar um presente para Emelina e Fábio. Eles se casam em janeiro.

- E não vamos nos esquecer que em janeiro também temos a formatura da curandeira mais responsável do St. Mungus! - Tiago levantou-se - Só é uma pena porque eu não vou mais poder vê-la a qualquer hora no Ministério.

Lílian sorriu enquanto ele a abraçava. Antes que ele pudesse beijá-la, no entanto, Míriam pigarreou.

- Há crianças assistindo...

A ruiva corou e Tiago revirou os olhos.

- Mãe, eu adoro quando a senhora faz essas gracinhas... Se o Harry se tornar um estraga-prazeres, eu vou saber exatamente com quem foi que ele aprendeu.

Míriam apenas riu, deixando a cozinha com o neto. Tiago voltou a se virar para lílian.

- Enfim sós...

Nesse momento, um grito soou na sala e os dois logo acorreram para lá, encontrando a cabeça de Moody na lareira.

- Potter, você está me devendo oito relatórios para ontem! Eu quero você imediatamente no meu escritório!

Tiago revirou os olhos.

- Ah, a burocracia...


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Lílian ergueu a cabeça dos documentos que analisava por alguns instantes. Era tão estranho trabalhar ali sozinha... Acostumara-se tanto com Camille. Ela levantou-se, caminhando pela sala, lembrando-se de seu sonho. Um buquê... uma aliança... O que aquilo poderia significar?

Os olhos dela observaram todo o aposento, até parar em sua agenda aberta. Não precisava ler para saber quais eram os compromissos do dia. Comprar papa para Harry, acabar de fazer as compras da lista de natal e procurar alguma coisa para o casamento de Emelina. Lílian encostou-se na parede, subitamente chocada.

- Emelina! É ela! O buquê e a aliança... Voldemort vai matar Emelina!

Sem se preocupar com o escritório e o serviço que tinha que fazer, ela recolheu seu casaco e saiu praticamente correndo do prédio do Ministério. Na rua, a neve caía em seus cabelos, formando um forte contraste. Mas a ruiva não foi notada por ninguém.

Emelina, àquela hora, estava no teatro Globe, dando suas aulas de expressão corporal e coisas do tipo. Ela adorava esse tipo de coisa. Se Voldemort a atacasse lá, mataria também os alunos de Emelina, crianças trouxas. Não poderia permitir que isso acontecesse.

Lílian aparatou na frente do teatro. Antes porém que pudesse entrar no prédio, sentiu o coração apertar. Alguma coisa já acontecera. Talvez tivesse chegado tarde demais... Decidida, ela empurrou as portas de vidro e entrou no salão escuro do Globe.


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Gideão viu o irmão cair novamente e mordeu os lábios para segurar a dor que sentia. Sabia que Fábio não voltaria a se levantar. Ele fechou os olhos escurecidos. Se tinha que morrer, então levaria o maior número possível de comensais com ele para o Inferno.

Dois já tinham caído. Mas ainda havia quatro em pé, preparando-se para mais um ataque. O rapaz apontou a varinha para si mesmo. Ele também lera os livros de Lílian sobre a Antiga magia quando ela estava em seu chalé, tentando ajudá-la. E um dos feitiços descritos no livro chamara sua atenção.

O sacrifício... Dos recursos, o último. Gideão começou a cantar em voz baixa, enquanto os comensais se aproximavam. Gideão começou a levitar e uma aura negra o envolveu. Os comensais pararam e um deles aparatou. Pena... Um dos malditos conseguiria escapar.

- Mier corpus... mier sanguis... vorare... abscondere... facere apparescer et nyx... crepare et tempus...

O brilho negro desapareceu, juntamente com a consciência do último dos Prewett.


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Emelina sorriu ao ver Lílian aparecer na porta do teatro, mas desfez o sorriso ao ver o semblante da amiga.

- Lily? O que está fazendo aqui? O que aconteceu?

A ruiva piscou diversas vezes, parecendo preocupada. A sensação de agonia desaparecera e uma imensa tristeza tomara seu lugar. Lílian olhou fixamente para os olhos da loira, vendo-se refletida neles, e percebeu seu erro.

- Emelina... Eu sinto muito...

- Do que está falando? - a loira agora estava séria.

- Fábio e Gideão... Eles estão mortos.


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Tiago afagou a cabeça de Lílian enquanto os dois caixões eram descidos ao túmulo. Apesar de nunca ter sido exatamente amigo de Gideão, ele o conhecera e o admirara como um dos melhores aurores do Ministério. E Fábio fora colega deles, se formara no mesmo ano.

Emelina estava perto da cova, os olhos secos. Provavelmente já chorara todas as lágrimas que tinha. Sirius observou o casal de amigos, enquanto ele mesmo amparava Susan. Ela estava pálida. O rapaz voltou-se para olhar os outros amigos. Remo permanecia impassível e Pedro observava tudo com os olhos assustados. Dumbledore aproximou-se de Emelina, enquanto a terra começava a cobrir os dois caixões.

- Perdemos dois grandes homens. Mais uma vez, Voldemort esteve a nossa frente. Gideão e Fábio Prewett morreram como heróis. Nunca nos esqueçamos disso.

Lílian fechou os olhos, segurando as lágrimas. Não pudera fazar nada, de novo. Até quando seria assim? Até quando?

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