Traição



- Quem é o padrinho mais bacana do mundo? Hem? Hem?

Sentado no chão, o pequeno Harry tentava tirar das mãos de Sirius a varinha com que o rapaz fazia figuras brilhantes flutuarem pela sala. Um pouco mais adiante, Tiago, Remo, Pedro, Gideão e Fábio jogavam snap explosivo, relembrando os velhos tempos de escola. Remo levantou-se quando o baralho explodiu em seu rosto pela terceira vez consecutiva.

- Tiago, eu não sei como, mas sei que você está roubando.

- EU?! - o moreno respondeu com um semblante inocente - Eu jamais faria uma coisa dessas.

Gideão, ao lado de Tiago, tentava não rir, enquanto seu irmão apenas observava o moreno guardar a varinha no bolso. Remo meneou a cabeça.

- E eu sou a chapeuzinho vermelho.

- Acho que está mais para lobo mau, Aluado. - Pedro observou.

- Mudando de assunto, alguém além de mim percebeu que o Sirius está agindo como completo idiota?

Todos seguiram o olhar de Remo. Sirius estava agora deitado no chão, com Harry engatinhando em cima de sua barriga, os dois com sorrisos bobos na cara.

- Eu ainda estou tentando descobrir qual deles é o mais criança. - Tiago observou - No dia em que Sirius tiver filhos, ele endoida. Quase todo dia ele aparece aqui para atrapalhar minha vida conjugal...

Gideão abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas acabou se calando. Nesse momento, um grupo de moças desceu as escadas. O batizado de Harry fora naquela manhã, e depois da cerimônia, toda a turma almoçou na casa dos Potter para comemorar. Lílian e Susan seguiram diretamente para onde Sirius e Harry brincavam.

Susan tirou o afilhado do colo de Sirius, entregando-o para Lílian. Ela sorriu enquanto o rapaz se levantava e lhe roubava um beijo. No colo da mãe, Harry bateu palmas incertas e seus padrinhos viraram-se para ele, sorrindo.

- Isso é um garoto esperto... - Sirius riu, passando a mão sobre a rala penugem negra na cabeça do afilhado - Quando crescer, vai ser um conquistador, assim como o padrinho. Eu vou ensinar tudo o que sei para ele.

- E eu, como madrinha, vou ter que desensinar tudo o que esse grande cachorrão botar na cabeça do meu pobre Harry...

Todos riram enquanto Sirius olhava para a morena como se tivesse sido muito magoado.

- O que está querendo insinuar com isso? - ele perguntou fazendo bico.

- Exatamente o que você pensou. - ela piscou o olho, apertando a bochecha do afilhado de leve - Harry vai ser um menino comportado como a mãe e as tias, não é, Harry?

- Ei, vocês estão tentando estragar meu filho? - Tiago aproximou-se - Ele tem que continuar com a tradição dos marotos!

Os olhos de Lílian faiscaram na direção do marido.

- Não se atreva a pensar que eu vou permitir que você forme um transgressor de regras debaixo das minhas vistas!

- Como se ela tivesse sido sempre uma santa na escola... - a voz de Emelina saiu num sussurro muito audível.

Lílian ficou vermelha enquanto todos riam.

- Eu...

- Ora, Lily, quantas e quantas vezes você me ajudou a encontrar o Fábio escondido na sala da monitoria? - a loira continuou, olhando carinhosamente para o rapaz.

- E eu também me lembro perfeitamente bem das vezes em que você pregou peças em umas certas sonserinas esnobes num baile, com a minha ajuda... - Selene lembrou.

Os marotos entreolharam-se.

- Foi você que derramou tinta nas minhas primas no baile de inverno do quarto ano? - Sirius perguntou surpreso.

- Er... Bem...

- E, lógico, não vamos esquecer o fato de que você abrigava no seu quarto de monitora um certo clandestino. - Susan sorriu, olhando para Tiago.

A ruiva ficou mais vermelha do que seus cabelos.

- Certo. Talvez, se Harry for ser uma dor de cabeça para os professores, isso não seja uma herança vinda apenas do pai.

Tiago abraçou a esposa, beijando a cabeça de Harry.

- É por isso que eu adoro essa mulher.

A porta da cozinha se abriu e a mãe de Tiago apareceu, segurando um prato de biscoitos.

- Brownies para todos! Para quem teve traumas com os brownies de Hagrid, eu juro que os meus estão uma delícia.

- A senhora também sofreu com a culinária do Hagrid? - Selene perguntou, aproximando-se para pegar um biscoito.

- Que grifinório não teve? - a velha senhora sorriu, entregando o prato nas mãos de Selene - E para o meu netinho, que ainda não tem dentes, eu vou dar uma coisa bem melhor...

Miriam aproximou-se de Harry, um pequeno embrulho nas mãos. Tiago recebeu das mãos da mãe o presente, abrindo-o com um sorriso de nostalgia. Assim que o embrulho de papel foi desfeito, uma pequena vassoura de ouro com um boneco montado nela começou a voar sobre a cabeça do bebê.

- Esse foi meu primeiro presente quando eu nasci. - Tiago explicou para Lílian.

- Acho que vou ter que me resignar a ter dois amantes de quadribol em casa, não? - a ruiva respondeu, recebendo um beijo do moreno.

- Realmente, você não tem muita escolha. Está no sangue.

Lílian sorriu e observou os amigos. Emelina e Fábio estavam de casamento marcado. Selene em breve viajaria para os Estados Unidos com uma turnê das Esquisitonas, que começavam a fazer muito sucesso. Susan e Sirius conversavam a um canto, sorridentes. Remo, Pedro e Gideão discutiam alguma coisa referente a Ordem. Alice, Frank e o pequeno Neville infelizmente não puderam aparecer por causa de um almoço de família com os pais de Frank.

O olhar dela se encontrou com o da sogra. As duas sorriram. Tudo estava perfeito. E pela primeira vez, Lílian teve esse pensamento sem se sobressaltar pelo futuro.


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Bellatrix observou o primo com altivez, enquanto Voldemort pensava nas informações que acabara de receber.

- Nascido no fim do sétimo mês. Filho de pais que já me enfrentaram três vezes... O filho dos Longbottom... ou o filho dos Potter?

Os dois Black se entreolharam.

- Ainda há mais alguma coisa que eu não pude ouvir, milorde. Me expulsaram antes que eu pudesse saber o fim da profecia.

- Para mim, isso não passa de besteiras. A velha quis impressionar Dumbledore e inventou uma profecia de meia-tigela... - Bellatrix falou, com a voz cheia de tédio.

- Dumbledore não a teria posto em Hogwarts se pensasse assim. Ele está preocupado. Talvez seja hora de fazer uma nova visita aos meus amigos... Conhecer os pirralhos, porque não? Régulo, você deve continuar vigiando aquele velho gagá. Até você se formar, no ano que vem, continuará espiando Dumbledore. Pode ir agora.

Régulo fez uma breve reverência com a cabeça e Bellatrix também se levantou.

- Com a vossa licença, milorde.

- Um instante, Bella. Há alguém que eu gostaria que você conhecesse essa noite. - Voldemort sorriu - Um membro da Ordem dos tolos.

A morena sorriu.

- E quem seria, milorde?

- Um dos diretores do St. Mungus. Beijo Fenwick.


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Tiago aparatou enquanto Lílian acabava de abotoar a capa. Miriam observava os preparativos da nora da porta do quarto, tendo Harry adormecido em seus braços.

- Não se preocupe, D. Mimi. - a ruiva sorriu, enquanto puxava o capuz para a cabeça - Não deve ser nada demais, apenas uma reunião de rotina.

Miriam sorriu fracamente. Sabia que isso não era verdade. Conhecia a existência da Ordem da fênix, seu marido fora convidado por Dumbledore, mas declinara o convite por causa dela. Aquele aviso de última hora através de Fawkes significava que ocorrera mais um ataque.

Lílian também aparatou, ressurgindo na frente da Casa dos Gritos. Tiago esperava por ela na entrada do casarão, já tendo dito a senha. As flores que haviam nascido com a primavera principavam a morrer naquele início de setembro. Logo seria outono.

Ela se apressou a chegar a passagem onde o moreno a esperava. Juntos, eles entraram no salão em que os outros membros da Ordem estavam reunidos. Lílin contou mentalmente os membros. Dos vinte e três membros iniciais, três haviam morrido, um estava desaparecido... e faltava mais duas pessoas. O irmão de Dumbledore estava em missão. Mas... Fenwick deveria estar ali.

Como se adivinhando os pensamentos da guardiã, Dumbledore levantou-se. Os olhos dele não tinham aquele brilho de confiança que ela se acostumara a ver, e todos os anos que o diretor já vivera pareciam pesar nas costas dele como nunca pesaram antes.

- Sinto muito tê-los tirado de suas casas a essa hora da noite, mas há coisas urgentes a se falar. Mais um de nossos membros está morto. Beijo Fenwick foi assassinado esta tarde numa rua próxima ao St. Mungus. Três trouxas e dois bruxos também morreram no ataque. - ele respirou fundo antes de continuar - Acredito que não há mais dúvidas de que Voldemort sabe da existência da ordem. Mais do que isso, ele está sistematicamente assassinando os membros dela, tentando nos enfraquecer.

- Mas, professor... - Emelina o interrompeu - Como ele poderia saber?

- É por isso que eu os chamei aqui. Creio, minha cara Emelina, que há um traidor entre nós.

Sirius sentiu inconscientemente seu olhar pousar em remo, que escutava atento o que o diretor dizia. Nem por um momento ele percebeu que Pedro, sentado ao seu lado, começara a tremer de leve.

- Um traidor na Ordem? - Gideão cruzou os braços - Isso é um absurdo, Dumbledore.

- Eu não vejo por qual outra maneira Voldemort saberia sobre nós. E, convenhamos, esses assassinatos não são obra do acaso. É coincidência demais que os últimos ataques a bruxos tenham sido desferidos justamente contra membros da ordem.

- E o que podemos fazer? - foi Remo quem perguntou.

- Se Marlene ainda estivesse entre nós, seria algo muito simples. Mas ela foi a primeira a ser levada, e eu não duvido que tenha sido premeditado por Voldemort que nós poderíamos usar os poderes dela para descobrir o espião. Todos aqui dominam a arte da Oclumência, então não existe muito que possamos fazer...

- Há o Veritasserum. - Susan observou.

- Não há muitas pessoas que sejam capazes de fazer essa poção atualmente, Susan. - Dumbledore respondeu com pesar - E mesmo que houvesse, poderíamos confiar que essas pessoas não alterariam a fórmula? É perigoso até mesmo se feita dentro de todos os conformes, porque o Veritasserum poderia desencadear uma violenta reação que levaria quem a toma a morte.

- Então estamos todos a mercê de um traidor? - Tiago perguntou.

- Receio que sim, Tiago. Há algumas medidas que poderiam nos proteger, mas a essa altura, Voldemort já sabe nossos nomes. Não há como se esconder. Só o que posso pedir é que se cuidem mais do que têm feito. Alguém mais quer falar? - ninguém se manifestou e ele sentou-se - Acredito que seja tudo. Vocês podem ir. Menos os Longbottom e os Potter.

Os dois casais permaneceram sentados enquanto todos deixavam a sala. Assim que se viu só, Pedro transformou-se em rato e voltou para a sala no exato instante em que os cabelos brancos de Dumbledore sumiam no fogo da lareira. Provavelmente, ele os tinha levado para Hogwarts. Não havia muito mais o que se fazer ali.

Pedro saiu do salão, voltando a sua forma humana, e encontrou Susan e Sirius sentados junto a uma árvore, já fora da casa dos gritos. Ele se escondeu com cuidado, tentando ouvir o que o casal dizia. Ele pode ver Susan menear a cabeça.

- Sirius, isso é impossível. Remo não pode ser o traidor. Ele é amigo de vocês e...

- Ele é o único que sabia de certos segredos que Voldemort conhece. Toda aquela confusão da Thanatus... Remo se voltou para o lado das trevas, Su!

- Você está delirando. - ela levantou-se e aparatou.

Sirius logo a seguiu enquanto Pedro saía de seu esconderijo. Uma pontada de culpa logo foi absorvida pela euforia. Precisava alimentar as suspeitas de Sirius. Assim, o amigo confiaria cegamente nele. Seria perfeito...


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Lílian viu a imagem de Sibila desaparecer na penseira de Dumbledore e sentiu o coração apertar. Alice também estava pálida, mas a ruiva sabia que a amiga não precisava se preocupar. Voldemort não teria dúvidas quando fosse escolher qual das duas crianças atacaria. Ele ia querer o filho da guardiã.

Ela se viu tentada a arrancar do pescoço o pingente que trazia e fugir dali, para longe, bem longe, com Harry e Tiago. As palavras de Dumbledore passavam por ela sem que prestasse atenção a nenhuma. A porta do escritório se abriu e os olhos dela nublaram-se e Lílian ouviu a voz de sua mãe, que a assombrara por muitas vezes nos últimos tempos. A ruiva ergueu a cabeça e encontrou a sua frente os olhos sombrios de Severo Snape.

Dumbledore sentiu a temperatura aumentar consideravelmente enquanto Lílian levantava-se, os olhos verdes brilhando assustadoramente. Tiago observava a esposa incrédulo enquanto Severo batia violentamente contra a parede, fazendo diversos instrumentos quebrarem e os quadros de ex-diretores olharem espantados para a ruiva.

- Lílian, o quê... - Tiago começou.

- Esse maldito matou meus pais! - ela disse entre dentes, tirando a varinha das vestes.

Alice e Frank apenas observavam em silêncio, enquanto Lílian se aproximava, a varinha apontada para o peito de Severo, que continuava sentado no chão. O rapaz olhou firmemente para ela.

- Eu não nego essa acusação, Evans. - ele respondeu com asco na voz - Eu não apenas matei seus pais como também fui eu quem os indiquei para a morte.

Severo calou-se com gosto de sangue na boca, enquanto Tiago o erguia pelo colarinho. Lílian estava parada logo atrás do marido enquanto ele se preparava para mais um murro. Dumbledore segurou a mão do ex-aluno, fazendo-o largar Severo.

- Não é hora para isso. Snape pode ter errado no passado, mas agora...

- Um espião da ordem... Faça-me o favor, professor! - Tiago praticamente cuspiu as palavras - Como pode acreditar nele depois dessa confissão?

Lílian sentiu-se zonza. Era sobre isso que Dumbledore falara? Snape era agora um espião para a Ordem?

- É ele quem está nos traindo. - ela murmurou.

- Não, Lílian. os ataques começaram antes de ele se juntar a nós. Além disso... Dorcas confiava nele. Snape salvou a vida dela nas masmorras de Voldemort!

- E porque não poupou também a vida dos meus pais?! - a ruiva gritou, sentindo os olhos arderem.

- Eu sinto muito. - Snape respondeu, abaixando a cabeça - Me arrependo profundamente do que fiz.

- SEU ARREPENDIMENTO NÃO VAI TRAZÊ-LOS DE VOLTA!

Tiago abraçou Lílian, que começou a chorar compulsivamente em seus braços. Snape permaneceu com a cabeça abaixada. Ele tinha uma boa idéia de como a garota se sentia.

- Nós confiamos em você, Dumbledore. Se você quer acreditar no que o Ranhoso diz, ótimo. Mas, por favor, não nos faça voltar a ver a cara desse imbecil. - Tiago observou o diretor e aproximou-se da lareira - Não era preciso ele dizer que Voldemort está atrás de nós porque sabemos disso há muito tempo. Até logo.

Os dois desapareceram através do fogo. Alice e Frank também se levantaram, despedindo-se silenciosamente do diretor. Finalmente, Dumbledore e Snape ficaram sozinhos. Dumbledore voltou para sua escrivaninha e Severo levantou a cabeça.

- Continua confiando em mim, mesmo depois dessa cena?

Dumbledore permeaneceu em silêncio por alguns instantes.

- Você teve uma coragem excepcional para admitir o que fez. Confio em você hoje, mais do que antes. Assim como Dorcas também confiou. Você tem a chance de expiar os seus erros. Não a desperdice.

Snape assentiu a caminhou para a porta.

- A propósito, diretor, eu aceito seu convite. Será uma honra ensinar em hogwarts.

Dumbledore sorriu.

- Obrigado, Severo. Agora pode ir.

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