As presas da serpente



Da cozinha dava para ouvir os passos apressados descendo as escadas. Tiago e Sirius se entreolharam, acabando de colocar a mesa. Pouco depois, surgiu Lílian, a face vermelha de fúria. Os dois rapazes a observaram assustados enquanto ela se aproximava do primeiro brandindo uma carta contra o nariz dele.

- TIAGO POTTER! O QUE SIGNIFICA ISSO?!

- Cara, eu estava com saudades dessa cena. - Sirius riu, enquanto Tiago caía sentado na cadeira e Lílian finalmente percebia a presença do amigo.

- Sirius? O que está fazendo aqui?

- Tiago me mandou uma carta ontem. Ou melhor, hoje, de madrugada, pouco depois de você ter aceitado o pedido de casamento dele. Acho que depois de você dormir ele aproveitou para escrever para todo mundo que conhecia e espalhar a novidade. O Remo e o Pedro me procuraram na lareira para saber se era verdade que vocês tinham voltado e o que Tiago tinha escrito, ou se era uma brincadeira minha...

- Você não deveria estar com a Susan? - ela voltou a perguntar, enquanto Tiago lia a carta que ela ainda segurava diante dos olhos dele.

- Os pais dela vieram visitá-la. Chegaram ontem. - Sirius respondeu - E depois de tudo o que ouvi sobre as famílias italianas, você acha que eu ia esperar eles deitado na cama da filha? Além disso, agora vocês estão finalmente de volta! Eu precisava deixar um tempo na agenda para visitar meu melhor amigo quase irmão e minha futura cunhada...

Lílian calou-se, processando a informação, enquanto Tiago acabava de ler a carta, ainda sem entender o porquê daquele ataque tão cedo.

- Lily, isso é só uma carta da minha mãe. Porque esse escândalo?

- Ah, sim... - ela voltou-se para o rapaz - Quando foi que você marcou a data da cerimônia, e ainda por cima, sem me consultar? Quer dizer, você pretendia me dizer que já tinha marcado o dia do MEU casamento?

- Do nosso. - Tiago corrigiu - Você está com raiva porque eu não contei? Eu só queria fazer uma surpresa.

- Pontas, detesto ter que discordar de você, mas não dá para fazer surpresa de um casamento, especialmente para a NOIVA, sabe? - Sirius observou, sentando-se e começando a se servir de algumas torradas - A propósito, Lily, eu já disse que seu robe combina maravilhosamente bem com a cor da sua camisola?

- Quantas vezes eu tenho que dizer para tirar o olho gordo da MINHA Lily? - Tiago perguntou com uma careta.

Lílian estava da cor de seus cabelos enquanto arrumava o robe sobre a camisola. Ela sentou-se, um pouco mais calma, tomando a carta das mãos de Tiago.

- Você não acha que dois meses é muito pouco tempo? Estamos no começo de setembro e você marca para o final de outubro.

- Já temos casa, não precisamos fazer mudança e a lua-de-mel está planejada há, pelo menos, quatro anos. Não vejo porque não podemos casar até amanhã mesmo. Só que são datas demais para decorar, então prefiro casar no mesmo dia em que começamos a namorar e que fize...

- Poupe-nos dos detalhes sórdidos, Pontas. - Sirius interrompeu o amigo, tendo a boca cheia - E não se esqueça que eu sou o padrinho.

- Sirius e Susan são meus padrinhos. Você já decidiu quem serão os seus? - Tiago perguntou para a ruiva.

- Pra quantas pessoas você escreveu enquanto eu dormia? - ela perguntou desconfiada, vendo três corujas pousarem na janela.

- Só as mais próximas...

- Você leu o que sua mãe disse sobre lista de convidados? Ela quer juntar a nata do Ministério e todos os nossos conhecidos. Um alvo em potencial para ataques de comensais. - Lílian se levantou indo até as corujas - Falando nisso, como estão as coisas por aqui, Sirius?

- A censura do Ministério caiu definitivamente. As pessoas estão em pânico, sem saber em quem podem confiar. Ninguém mais fala o nome de Voldemort, é só "Você-sabe-quem" pra cá, "Você-sabe-quem" pra lá... Titio Voldie anda muito famoso, sem dúvida alguma. - o rapaz respondeu amargamente - A Dawlish foi assassinada, o que significa que nossas aulas foram interrompidas. Tivemos ataque quase que na entrada da Academia de Aurores e tentaram invadir o Ministério, mas fracassaram. O St. Mungus está sendo monitorado dia e noite. Todo mundo sabe que se um desses três cair nas mãos das "bailarinas da morte", estamos ferrados.

- É tão consolador receber notícias como essas quando é você quem conta, Almofadinhas... - Tiago observou com um sorriso - De quem são as cartas, Lily?

- Uma é da Camille. Parece que sua mãe escreveu pra ela. Será que D. Míriam já está enviando os convites? - Lílian perguntou pálida.

- Não, ela vai esperar você confirmar a lista de convidados. - Tiago afirmou - E as outras?

- Hestia, do St. Mungus, perguntando se eu vou para o hospital hoje de noite. E querendo saber se é verdade essa história de casamento. A Camille deve ter falado pra ela. As duas são muito amigas. Eu podia chamar a Hestia para ser a madrinha.

- Eu acho que, a essa altura, toda a comunidade bruxa já sabe... - Sirius observou sorrindo.

- E a última carta? - Tiago perguntou, olhando para o pergaminho ainda selado nas mãos de Lílian.

A ruiva leu em silêncio antes de se sentar.

- Gideão. Ele avisou que vamos receber comunicado oficial para nos apresentarmos de volta ao trabalho ainda hoje e deu os parabéns pelo casamento. Vou chamá-lo para ser meu padrinho. - Lílian segurou o riso ao ver a cara de Tiago - E não adianta fazer careta, isso já está decidido!

Sirius tentou controlar uma gargalhada enquanto o amigo resmungava alguma coisa e Lílian se servia de suco.

- Porque temos que voltar a trabalhar hoje? - o moreno perguntou, finalmente se controlando.

- Tiago, você não ouviu tudo o que o Sirius disse? Precisam de nós lá no Ministério. E tivemos férias bem prolongadas...

- Não foram exatamente as férias que eu queria. - ele respondeu com um olhar malicioso.

- Ei, não se esqueçam que eu ainda estou aqui! - Sirius exclamou, ao ver a troca de olhares entre o casal - Nada de orgias no café da manhã!

- Você tem uma mente TÃO poluída, Almofadinhas... - Lílian observou, levantando-se - Eu vou tomar banho e me trocar. Nada de bagunças, entenderam?

- Sim, mamãe! - os dois responderam em uníssono.

Ela saiu rindo, meneando a cabeça. Meia hora depois eles estavam no Ministério. Lílian se despediu do noivo com um beijo, prometendo encontrá-lo na hora do almoço e se encaminhou para o escritório que dividia com Camille. E lá estava a loira, com uma enorme barriga, atendendo solícita uma velha senhora. A ruiva esperou a senhora sair do escritório para parar diante de Camille, que baixara a cabeça para alguns documentos.

- Pois não, o que posso fazer por... - Camille ergueu os olhos - LÍLIAN!

- Quer dizer que é só eu me virar por alguns instantes e você já apronta? Que barrigona é essa, srta. Dearborn? - Lílian sorriu - Ou eu deveria dizer, sra. Bones?

- Até que enfim você voltou! - A loira tentou erguer-se com dificuldade, mas Lílian não permitiu.

- É melhor não se cansar. Está com quantos meses?

- Nove. Pode nascer a qualquer momento. Mas como foi na França?

Uma sombra passou pelos olhos de Lílian.

- Cansativo. Mas agora já está tudo acabado, não nos preocupemos mais com isso. Desculpe não ter ido ao seu casamento, mas...

- Eu entendo. - Camille respondeu - Só foi uma pena, porque Edgar queria que você fosse a madrinha, afinal, vocês foram monitores-chefe juntos. Além de ser minha amiga e colega de trabalho... Mas Tia Mimi substituiu a futura norinha a altura.

- D. Miriam é sua madrinha, né? - Lílian perguntou - Foi ela quem disse que eu tinha aceitado me casar com Tiago?

- Na verdade, antes de Tia Mimi escrever, Edgar recebeu uma coruja de Tiago. Devo acresecentar que o pulo que ele deu na cama ao ouvir a coruja, pensando que era algum comunicado do ministério sobre mais um ataque, foi extremamente desagradável...

- Tiago escreveu pra Edgar? Ai, Merlin, porque comigo...

- Então a futura sra. Potter chegou. - Elifas Doge apareceu na entrada do escritório - Parabéns, Lílian, mas acho que já é hora de voltar ao trabalho. Guardem as fofocas para o horário de almoço.

Pela segunda vez naquele dia, Lílian ficou da cor de seus cabelos. Ela foi até sua escrivaninha e, assim que o "chefinho" desapareceu, ela voltou-se para Camille.

- Não me diga que Tiago também escreveu para o sr. Doge? - ela perguntou sussurrando.

- Não, quem disse ao sr. Doge foi a Ministra Bagnold. E quem escreveu para a Bagnold foi...

- D. Mimi... - Lílian suspirou - Porque não estou surpresa?

Enquanto isso, alguns andares abaixo, no QG dos aurores, Tiago, Sirius, Edgar e Frank conversavam no cubículo do primeiro.

- Então ela finalmente aceitou. - Frank observou com um sorriso - Alice quer ver vocês dois no almoço. Ela disse que, como já tem prática, pode ajudar no casamento.

- Camille também vai querer ajudar, embora não devesse estar nem trabalhando. - Edgar continuou - Ela quase teve um ataque quando soube. Recebemos a carta de sua mãe pouco depois da sua.

- Na verdade, parece que minha mãe escreveu para todo mundo que eu escrevi e até para algumas pessoas indesejadas... - Tiago fez uma careta

Alguém bateu na porta do cubículo e logo os rostos de Pedro e Remo apareceram.

- Estamos interrompendo alguma coisa? - Pedro perguntou sorrindo.

- Viemos parabenizar o noivo. - Remo disse, aproximando-se - Ele merece, depois de tantos foras...

- Pôxa, Remo, obrigado por me lembrar dessa parte negra da minha vida. - Tiago fez uma fingida cara de amargura.

- Ei, é pra isso que servem os amigos! - Sirius disse, dando umas palmadinhas nas costas do moreno - Quem diria, Pontas, meu velho... Finalmente vai conseguir arrastar a pimentinha para o altar...

- Modéstia à parte, eu sou irresistível.

- Eu sei que estamos todos felizes pela volta do sr. Potter e pelas notícias que ele traz com ele. - uma voz ameaçadora veio da entrada do box - Mas será que vocês podem fazer a despedida de solteiro num outro lugar? Há trabalho para se fazer!

O grupo virou-se para a porta, dando de cara com Olho-Tonto Moody, que sorria sarcasticamente. Eles saíram em silêncio depois de Frank avisar pela terceira vez que Tiago não se esquecesse que eles e Lílian tinham que almoçar com Alice. Apenas Sirius permaneceu sentado, brincando com a varinha entre os dedos. Como Moody estava mais que acostumado com os dois sempre juntos, pareceu se conformar com a saída dos outros e logo os deixou sozinhos.

Tiago sentou-se, olhando com desgosto para a pilha de papéis que se atulhara em sua mesa durante suas "férias". Suspirando, ele voltou-se para Sirius, e notou que o amigo tinha um sorriso maligno brincando nos lábios.

- Sirius? O que aconteceu?

- Você ouviu o que Olho-Tonto disse, Pontas?

- Claro, temos que voltar ao trabalho.

- Não, não essa parte. A outra. Sobre "despedida de solteiro".

Tiago ficou pálido.

- Você não está pensando em...

- Claro que estou! Eu sou seu amigo, seu irmão e seu padrinho. Tenho que providenciar sua despedida de solteiro.

- Sirius, a Lílian vai me matar se souber!

- Eu apanho os cacos, não se preocupe. Qual é a graça de se casar se não tiver uma despedida antes?

Fora do box, Pedro e Remo caminham para o elevador, os dois em silêncio. Um preocupado com a lua, que, naquele dia, nasceria cheia. E outro... bem, o outro, após se despedir do amigo, rapidamente aparatou. Seu Lorde o chamava. E ele tinha muitas notícias fresquinhas para dar a Voldemort.

Voltando ao Escritório Internacional de direito em magia, já é quase hora do almoço. Lílian não pára de olhar o relógio ao mesmo tempo em que lê documentos e mais documentos, assina vistos e coisas do tipo. Camille tenta ignorar uma dorzinha incômoda enquanto ri baixinho. Desde que começaram a trabalhar juntas, era sempre assim, quando ia chegando a hora do almoço, Lílian começava a ficar inquieta, até que Tiago aparecia e eles saíam para almoçar.

- Realmente, o amor é lindo... - ela sussurrou para si mesma, acariciando a barriga inconscientemente.

Finalmente alguém bateu à porta do escritório e Lílian, mais do que depressa, levantou-se para atender. Camille sorriu ao ver Tiago abraçar sua "pimentinha". Frank Longbottom também estava parado junto ao umbral. E, por fim, Sirius Black.

Havia muito que não via o rapaz. O olhar dos dois se encontraram e Camille sentiu o habitual calafrio que Sirius exercia praticamente sobre toda a população feminina do mundo... Certo, ela estava exagerando. Lílian, por exemplo, nunca tivera olhos para o amigo. Talvez porque já estivesse muito ocupada com Tiago...

Ela meneou a cabeça em silêncio quando Lílian convidou para que almoçasse com eles. Com um sorriso, a loira se despediu do grupo e voltou ao trabalho. Tudo bem, tinha que admitir, Sirius ainda mexia com ela. Mas quem realmente ela amava era Edgar. E ponto final.

Lílian, Tiago, Frank e Sirius encontraram uma Alice extremamente empolgada no Caldeirão Furado. A baixinha praticamente pulou no pescoço da amiga assim que ela entrou no bar.

- Finalmente, sua maluca, finalmente, finalmente!

A ruiva segurou Alice antes que essa pudesse fazer uma dança da vitória.

- Alice, por favor, não haja como uma criança de cinco anos de idade, sim?

- Mas você deu o braço a torcer! Isso tem que ser comemorado! - ela virou-se para Tiago - Parabéns! Eu sabia que um dia você ia conseguir! Nunca perdi a esperança de ver você todo nervoso no altar esperando essa maluca.

- Alice, se acalme, eu sei que você está feliz, mas não precisamos exagerar... - Frank sorriu, aproximando-se da esposa, que lhe ofereceu os lábios.

Sirius riu disfarçadamente. Sempre que as amigas grifinórias se encontravam, era uma festa. Quando reunissem as cinco de novo, depois de tanto tempo, ele não queria nem imaginar a bagunça que elas fariam. Ou melhor, ele queria sim...

- E você, quando vai tomar vergonha na cara e se arranjar também, Sirius Black? - Alice perguntou, voltando-se para ele.

Sirius fez uma careta. Pelo visto, Susan não tinha contado nada. Bem, se ela não queria contar, quem era ele para contrariá-la? O rapaz respondeu apenas dando de ombros e logo sentiu o olhar divertido de Lílian sobre si. A ruiva cruzou os braços, como se esperando que ele dissesse alguma coisa.

- Bem, eu estou me encaminhando. - o moreno respondeu, notando o olhar satisfeito das duas amigas. Mulheres...

Eles sentaram juntos, conversando animadamente. Aproveitando que se sentara ao lado de Sirius e que Tiago estava numa acalorada discussão com Frank, Lílian se inclinou junto ao ouvido do amigo.

- Porque não chamou Susan para vir também? - ela perguntou num sussurro.

- Eu procurei ela. - ele respondeu no mesmo tom - Mas só encontrei Dóris no escritório e decidi sair de lá antes que ela quisesse começar a conversar...

Lílian sorriu e logo Tom, o dono do bar, apareceu diante deles com pratos e talheres voando ao seu lado, começando a servir o grupo.



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No ministério, Susan finalmente se desvencilhava de uma enorme pilha de documentos, que só faziam aumentar desde que ela chegara ali de manhã. Estava morrendo de vontade de ver Lílian, sabia que a amiga tinha chegado por causa da carta de Tiago. Mas só agora, na hora do almoço, é que ela ia conseguir procurar a ruiva.

Com uma grande sorriso no rosto, a italianinha caminhou até o elevador, vazio àquela hora. Na verdade, poucas eram as pessoas que a essa hora estavam trabalhando. O Ministério sempre parecia ter sido entregue às moscas no horário de almoço. Nem mesmo os "aviõzinhos" de Sirius, que sempre sobrevoavam a cabeça de todos, eram vistos.

Rapidamente, Susan chegou ao escritório de sua "maninha". Mas quando abriu a porta, a cena que encontrou era bem diferente do que imaginara.

- Camille? - a morena esbugalhou os olhos ao ver a moça encolhida no chão, sangue sujando suas vestes.

- A bolsa se rompeu. - Camille respondeu num fio de voz.

- Eu vou buscar al... - Susan começou, mas foi interrompida pela loira.

- Por favor, não me deixa sozinha! Edgar não está no Ministério, ele precisou sair com meu pai e não tem ninguém aqui...

Susan apertou a pequena pulseira que ganhara de sua nona há muitos anos, ajoelhando-se ao lado de Camille. Se a bolsa já se rompera, não havia muito mais o que fazer. O Ministério estava praticamente vazio, e ela não poderia simplesmente largar a mulher ali e sair como louca procurando alguém para ajudar.

- Ai, meu Deus, o que eu faço... - Susan perguntou sussurrando para si mesma.

Camille começou a gemer enquanto lágrimas escapavam de seus olhos.

- Susan, me ajuda!

- Você sabe meu nome? - a morena parou por um momento, confusa.

- Claro que eu sei seu nome! A Lílian sempre fala de você. E ela também nos apresentou.

- É verdade... - Susan observou, antes de finalmente acordar para a realidade. - Olha, Camille, eu só vi partos em filmes trouxas. Eu não sei o que fazer, mas vou tentar te ajudar assim mesmo. Você sabe de alguma coisa que possa ajudar?

- Quem sabe dar um jeito de passar a dor? - a loira perguntou com dificuldade.

- Eu não sei fazer isso. Bem, vai ter que ser pela maneira mais difícil...

Susan conjurou uma bacia de água morna, um travesseiro e muitas toalhas. Que mais aparecia nos filmes? Uma tesoura para cortar o cordão umbilical. Mais alguma coisa? Ela vasculhou a mente tentando descobrir algo mais que pudesse precisar, mas não se lembrou de nada. Suspirando, ela sentou-se ao lado de Camille, fazendo-a deitar.

- Morde isso aqui. - ela disse, colocando um pano entre os dentes da outra - Vai impedir que machuque sua língua. Ou, pelo menos, eu acho. Porque a Lílian não podia estar aqui?

Camille grunhiu alguma coisa que, obviamente, Susan não entendeu, já que a loira estava praticamente amordaçada. A morena ajeitou o travesseiro às costas de Camille e depois caminhou de joelhos até ficar em frente da grávida, flexionando as pernas dela, abrindo-as para que pudesse ver alguma coisa.

- É suposto ter tanto sangue assim? - Susan perguntou sentindo-se zonza - Camille, você vai ter que me ajudar. Vai ter que fazer força. Muita força... Eu vou tentar pressionar sua barriga e seja o que Deus quiser...



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No Beco Diagonal, Frank, Alice, Tiago e Lílian caminhavam despreocupadamente. Sirius ficara para trás, nem um pouco desejoso de participar das "conversas de casamento". Os rapazes caminhavam mais atrás delas, observando a conversa alegre e os risos das duas. Tiago sorriu ao ver a disposição da namorada, ou melhor, da noiva. Durante quase seis meses, só o que vira naquele rostinho tão amado foram lágrimas. E ele definitivamente queria esquecer essa época.

A resposta a esses pensamentos foi uma explosão vinda perto do Banco Gringotes. Tiago viu Lílian se voltar assustada e, seguindo o olhar dela, ele sentiu o coração dar um baque. Pairando ameaçadoramente contra o céu, estava a Marca Negra.

- Alice, Lílian, protejam-se! - ele ouviu Frank dizer.

Mas as duas não obedeceram. Enquanto todos que até ali tinham estado andando despreocupadamente corriam para a saída, Lílian e Alice tentavam se aproximar deles. Frank, que logo correra para o ponto de onde vinham os gritos, não percebeu isso. Mas Tiago sim.

- Lily, por Merlin, vá embora! - ele disse assim que ela se aproximou.

- E deixar você aqui sozinho? Negativo, Tiago. Eu vou ajudar. Também sou um membro da Ordem.

Antes que ele pudesse retrucar, uma sombra surgiu entre eles.

- Ora, ora, ora... Então a guardiã conseguiu reverter o feitiço... Estou realmente impressionado.

- Voldemort. - ela sussurrou entre dentes.

Tiago virou-se para o homem que tinha diante de si, logo focando os olhos vermelhos, como sangue. O moreno rapidamente ergueu a varinha, postando-se na frente de Lílian.

- E, quem diria, o jovem Potter continua vivo. Da última vez que nos encontramos, você estava levemente desarcodado, garoto. Bella me disse que você deu muito trabalho. Exatamente como seu pai, no passado. Falando nisso, por onde anda Raymond?

- Isso não é da sua conta. - Tiago disse, os olhos erguidos em desafio.

- Tiago, o que está... - a voz de Frank morreu ao ver quem estava diante do amigo.

- Mas vejam se essa não é uma reunião muito agradável? Os Longbottom, o Potter favorito de Dumbledore e a futura sra. Potter.

- Acho que você se esqueceu de mencionar o traidor dos sangue-puros, Sirius Black. - a voz de Sirius soou por trás de Voldemort - Olá, Tio Voldie. Sabe, faz tempo que eu queria conhecê-lo...

Voldemort voltou-se para Sirius.

- O jovem Black... Realmente, uma reunião muito agradável. - o homem olhou para trás de Sirius, por onde muitos comensais se aproximavam - Creio que teremos muita diversão hoje. Aos noivos!

Ele fez uma reverência sarcástica e uma voz soou entre os comensais que se aproximavam. Sirius imediatamente se desviou do feitiço, aproximando-se dos amigos. Os cinco fizeram um círculo, de modo que não ficassem desprotegidos. Lílian fechou os olhos, lembrando-se do que ouvira em seu delírio. Não deveria usar a Antiga Magia até que fosse absolutamente necessário.

Ela ouviu mais um feitiço ser lançado e imediatamente ergueu a varinha.

- Protego!

Tiago ouviu a voz de Lílian ao seu lado, enquanto repetia mentalmente que tudo ia acabar bem. Não iam conseguir separá-los de novo. Voldemort não conseguiria. Enquanto isso, Sirius lutava tentando não prestar atenção em seus pensamentos, mas estava muito difícil. Como Voldemort sabia que eles estariam ali? Não podia ser apenas uma coincidência. Não quando o maldito sabia sobre o noivado dos amigos. Alguém dera a informação. Alguém que sabia...

Voldemort sorria, observando a luta. Uma comensal parou ao seu lado. Bellatrix.

- Mestre, o senhor...

- Matem o Potter.

Ela assentiu e, por debaixo de seu capuz, um sorriso cruel se desenhava nos lábios. Lílian fechou os olhos ao sentir um corte se abrir em seu braço. Olhos cinzentos a encaravam com prazer atrás de um capuz negro. Não precisava de muito para descobrir quem era. Lúcio Malfoy.

- "Matem o Potter." - a voz de Voldemort soou dentro de sua cabeça.

Ela olhou para o lado. Um outro vulto se aproximava de Tiago. Um vulto que tinha os mesmos olhos de Sirius, embora o corpo fosse bem diferente. Bellatrix.

- Densangeo!

Quase que imediatamente os dentes do vulto de preto surgiram por debaixo do capuz, cresecendo sem parar. Bellatrix não conseguiu se equilibrar com o novo peso e tropeçou. Sirius, que estava ao lado da ruiva, voltou-se para ela.

- De onde você tirou esse feitiço?

- Foi o primeiro que me veio à mente. Voldemort está mandando que matem Tiago! - ela disse baixo, de modo que só o moreno a escutou.

- Droga!



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- Ahhhh... Eu não aguento mais!

- Vamos, Camille, falta pouco! A cabeça dele já está saindo. - Susan passou a mão sobre o rosto para tirar o suor, sujando-se de sangue - Precisa fazer força!

- Eu não quero... - a loira disse chorosa - Por favor, acabe com isso...

- Eu estou tentando, mas você precisa me ajudar. Por tudo o que é mais sagrado, Camille, você precisa aguentar. Pense no seu filho.

Camille mordeu o pano em sua boca com uma nova contração e fechou os olhos, fazendo força. Susan segurou as pernas dela, tentando mantê-las abertas. Nos filmes aquilo era bem mais rápido. Quanto tempo Camille aguentaria ainda? Ela estava perdendo muito sangue e Susan percebia quanta dor a loira estava sentindo.

Alguns andares abaixo daquele em que elas estavam, Moody corria desesperado, com Gideão logo atrás dele.

- Ele está lá! O próprio Voldemort está lá. Há muitos mortos. E há cinco funcionários do ministério tentando detê-los. Precisamos enviar reforços!

- Moody, se acalme, quem está lá? - Gideão tentava acompanhar o velho.

- Alastor! - a voz de Dumbledore soou atrás deles.

Moody e Gideão voltaram-se para a lareira, onde a cabeça do diretor parecia flutuar.

- Dumbledore! - Moody aproximou-se rapidamente.

- Onde exatamente eles estão?

- Os que conseguiram fugir disseram que estão concentrados junto ao banco Gringotes.

- Quem exatamente está lá? - Dumbledore perguntou apressado.

- São todos da Ordem. Os Longbottom, Black, Potter e...

- Lílian. - Gideão completou, lívido.

Dumbledore assentiu, desaparecendo novamente nas chamas. Moody voltou-se para Gideão.

- Prewett, apronte o mais depressa possível o esquadrão de elite. Vá logo!

O rapaz logo desapareceu da frente e Moody olhou mais uma vez para a lareira.

- Agüentem firme, por Merlin, agüentem até que possamos chegar.



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- Estupore!

- Protego!

Lílian estava começando a ficar exausta. Não podia apenas se defender. Os comensais estavam tentando cansá-los. Não deixavam brecha para que atacassem. Se não aparecesse ninguém logo, eles estavam, como diria Sirius, ferrados.

Ela sentiu mais um corte se abrir em seu corpo, dessa vez perto do pescoço. A ferida ardia terrivelmente, mas ela não podia tentar fechar o corte. Se tirasse a atenção da luta por um instante, não haveria Lílian para fechar o corte no instante seguinte.

- Expelliarmus! - a voz de Sirius soou próxima a ela.

A ruiva voltou-se por alguns momentos para ver como iam os amigos. Alice estava bem machucada, mas não parecia ter notado isso. Frank também tinha muitos cortes e já respirava com dificuldade. Sirius tinha um corte grande na barriga. E Tiago estava com algumas escoriações e cortes, mas nada tão sério quanto o amigo.

- Droga, droga, droga... - ela resmungou para si mesma enquanto observava um comensal avançar para ela - Estupefaça!

O comensal caiu e ela ouviu em sua cabeça um sussurro, que sabia ser Voldemort.

- "Serpensortia".

- Ai, Merlin... - ela arqueou as sobrancelhas ao ver a imensa cobra que se contorcia no chão, na direção de Tiago - Cuidado!

Lílian puxou o namorado no instante em que a serpente deu o bote. Tiago caiu sentado no colo dela, enquanto os outros se dispersavam para escapar da cobra. Ótimo, agora, para completar, estavam separados.

- Incendium!

Um lampejo vermelho saiu da varinha de Tiago e a serpente logo se viu envolvida em chamas. O moreno levantou-se, ajudando Lílian a fazer o mesmo. A ruiva observou as presas afiadas da serpente que se debatia no fogo. O olhar dela voltou-se para a rua que levava a eles. A face dela se acendeu de alegria.

- Tiago, estamos salvos. Vem vindo um esquadrão.

- Não é só isso. - Tiago estava olhando para o ponto de onde Voldemort assistia a luta - Dumbledore está aqui.



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- Saiu! A cabeça dele saiu! Vamos, Camille, só mais um pouco, já está saindo.

Os lábios da loira sangravam pela pressão. Camille jogou a cabeça pra trás, fazendo força, agarrada ao pé da mesa de Lílian. O escritório estava todo sujo de sangue. Ela quase podia rir ao imaginar a cara da ruiva quando visse aquela bagunça. Quase...

Susan levantou-se levemente e Camille viu a face cansada da morena. Tinha que dar graças a todos os deuses por Susan ter aparecido no momento em que mais precisava. Ela não teria conseguido chamar ninguém. A italianinha ergueu as mãos, colocando-as sobre o ventre de Camille, pressionando para baixo.

- Estamos quase lá, Camille... - Susan disse num sussurro nervoso - Só mais um pouco.

- Eu estou cansada, Susan...

- Só mais um pouco, Camille, por favor!

A loira se contorceu num derradeiro esforço.



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Havia uma cobra aos pés de Voldemort, mas não como a que atacara Tiago e Lílian. Aquela era muito maior. Mas, junto de Dumbledore, voando protetoramente, estava Fawkes. Os aurores já estavam entre eles, enfrentando os comensais. Alice e Frank já estavam recebendo cuidados enquanto Sirius, cercado de comensais, ainda lutava.

Lílian e Tiago estavam afastados dos amigos, perto das escadarias de mármore do banco, onde Dumbledore e Voldemort ainda se encaravam.

- Tom, por favor, acabe com isso. - a voz suave do diretor tentava persuadir o outro homem.

- Não seja ridículo, Dumbledore. Eu não vou desistir enquanto não tiver minha vingança.

- Crucio!

A maldição não veio de Voldemort. Lílian viu quando o comensal se aproximou, os olhos cinzentos brilhando. Tiago não percebera. A ruiva só precisou puxá-lo levemente para levar todo o impacto do feitiço.

- LILY! - o moreno observou ela cair no chão e voltou-se para o comensal com ódio. Estava cansado de ser bonzinho. Estava cansado de apanhar. Agora era a vez dele.

- RELAXO!

Uma nuvem de relâmpagos deixou a varinha de Tiago, envolvendo o corpo de Lúcio Malfoy. Os olhos de Tiago brilharam sinistramente ao ver o outro se contorcer de dor. Mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Malfoy e todos os outros comensais que infestavam o Beco Diagonal desapareceram. Olhando para cima, ele viu Dumbledore, olhando para ele.

- Tiago? - a voz de Lílian soou fraca no chão.

- Lily, você está bem? - ele perguntou ajoelhando-se ao lado dela.

- Estou. Só um pouco fraca, senão poderia ter repelido o feitiço. Mas eu acho que quebrei a perna na queda. Está doendo. - ela fez bico.

Tiago quase riu da careta dela, levantando-a com cuidado no colo. Dumbledore aproximou-se deles.

- Vocês devem ir para o St. Mungus cuidar desses ferimentos. Mas depois, não deixem de aparecer em Hogwarts. Preciso falar com os dois.

Tiago e Lílian assentiram, e logo Sirius juntou-se a eles.

- Bem, não foi de todo ruim. - Sirius observou - Não há muita gente que possa se vangloriar de ter tido dois encontros com Voldemort e ter saído vivo de ambos.

- Eu concordo plenamente, Sirius. - Lílian respondeu - E vamos abrir champangne pra comemorar. Mas será que você pode esperar que consertem minha perna?

Sirius sorriu.

- Olha que promessa é dívida, viu?



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O choro de criança encheu o escritório. Susan riu entre as lágrimas.

- É uma menina, Camille. Uma linda e saudável menina.

Camille sorriu, recebendo o bebê nos braços depois de Susan cortar o cordão umbilical e tirar um pouco do sangue que cobria o corpo da pequena.

- Ela vai se chamar Susana. - a loira disse com um sorriso terno, olhando para a italianinha antes de se virar para a filha - Bem vinda ao mundo, Susana Bones.

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