Não pense que terminou



As folhas amareladas caíam das árvores, tornando o jardim um tapete macio. Um vento frio denunciava o início do outono. Através da janela de seu quarto, a paisagem nunca parecera tão bela a Lílian.

A ruiva virou-se na cama, encontrando um pequenino ser que dormia tranquilamente. Os cabelos, embora fossem poucos, já denunciavam a futura semelhança com o pai. A porta do quarto se abriu e, com um sorriso, a ruiva levantou a cabeça.

Lá estava Tiago, com seus olhos brilhantes, cheios de entusiasmo. Ele sentou-se na cama e o pequeno acordou, os pequeninos olhos incrivelmente verdes brilhando, exatamente como os da mãe.

- E então, como vai a família mais linda do mundo? - ele perguntou, roubando um beijo da ruiva.

- Muito bem. Só falta o papai deixar de ser teimoso e deixar a mamãe voltar a trabalhar. - Lílian respondeu com um olhar brincalhão.

- Lily... Eu já disse que é mais seguro que fiquem aqui.

- E você pode se arriscar à vontade. Realmente...

- Não vamos discutir isso de novo agora, certo? - o moreno deu um beijo na fronte do filho e segurou firme a mão dela - Eu te amo, Lily. Não quero que nada aconteça a você.

Ela sorriu tristemente.

- Eu sei. Porque é exatamente assim que eu me sinto em relação a você...
- ela voltou a beijá-lo, e as cenas se perderam num torvelinho de cores.

Lílian acordou sentindo-se bem como há muito não se sentia. Desde que Sirius estivera lá, há uma semana, ela não dormia direito, com medo de Tiago invadir a casa e fazer uma desgraça. Aquele sonho era o primeiro bom que ela tinha em dias. Mas não passava de um sonho; não era como seus pesadelos que, invariavelmente, se tornavam realidade.

Muito longe dali, Tiago também acabara de acordar, ainda com a sensação vívida do sonho que, sem saber, dividira com Lílian. O rapaz levantou-se, indo até o banheiro, onde o espelho mostrava um homem barbudo com enormes olheiras e aparência cansada. Nada muito diferente do que ele se acostumara a ver no último mês. Exceto por um detalhe: os olhos or trás dos óculos tinham voltado a brilhar. Ele sorriu, decidido a tomar um banho, tirar aquela barba da cara e arrumar o caos da casa para torná-la um lugar habitável.

Duas horas depois, o sol começava a nascer e Tiago estava na cozinha, terminando seu café da manhã. Tinha tomado uma decisão afinal. Naquele dia, ele voltaria a procurar Lílian. Não sabia porque demorara tanto para fazer aquilo. Mas agora que tinha certeza, ele precisava vê-la. E isso era pra ontem, ele pensou com um sorriso...



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Remo acabou de tomar sua quinta xícara de café, finalmente soltando os livros em que passara a semana pesquisando. Ele realmente não conseguia entender porque continuava a estudar se dificilmente conseguiria trabalho. Tudo por causa de uma nova lei de uma tal Umbridge que dificultava ainda mais a sua vida... Se não fosse pelos trabalhos da Ordem que Dumbledore sempre entregava a ele, não sabia como estaria sobrevivendo.

Ele olhou pela janela, observando o sol começando a nascer. Seria um belo dia. Mas, infelizmente, ele não estaria aproveitando.

Sem perceber, Remo se pegou pensando em Tonks. Como ela estaria? Por seus cálculos, a garota estaria terminando o quinto ano. Em breve ela estaria formada. Ele sorriu irônico. Acusara-a de enganá-lo, mas e ele? Também não mentira?

Ao longe, um pontinho negro surgiu, voando em sua direção. Por um momento, Remo desejou que fosse Hórus, com mais uma das intermináveis cartas dela. Mas era apenas um passarinho.

- É, Tonks... - ele sussurrou depois de um suspiro - Parece que eu ainda não consegui esquecer você...



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Lílian estava sentada na cama desfeita, abraçada aos joelhos, observando o nada. Desde que acordara, depois do sonho, ela estava ali, sem vontade nenhuma de levantar, querendo apenas imprimir na memória cada instante do sonho.

Como estaria Tiago? Estaria suficientemente magoado com ela para não acreditar em Sirius? Ela já vira o que o ciúme dele era capaz de fazer, visto que até com o próprio Sirius ele arranjara confusão por causa dela. Ela abaixou a cabeça, forçando-se a não chorar.


Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado...



Ela ouviu a porta da frente se abrir e passos ecoarem pela sala. A porta do quarto agora se abria devagar, mas ela não se moveu. Não precisava ver para saber quem estava chegando. Ela o sentira quando ele aparatara no vilarejo que havia ali perto, ouvira cada passo no caminho que o trazia até ali, respirara cada lufada do ar que lhe trouxera o perfume dele...

Mesmo assim, Lílian acabou por levantar a cabeça, encontrando os olhos de Tiago Potter. Ele parecia cansado, abatido, enquanto a observava com atenção, como se recordando cada curva sob a camisola e cada momento em que haviam passado juntos. Ele caminhou até ela, parando já quase na beirada da cama, mas não por sua vontade. A ruiva estava usando sua magia para afastá-lo de novo.

- Sirius esteve comigo. - ele disse simplesmente, observando os olhos dela. Mas ela continuou em silêncio - O que ele disse e verdade?

Lílian se levantou, dando as costas a ele. Não tinha forças para mentir dessa vez. Tiago sorriu. O silêncio dela, para ele, era resposta suficiente. Ele deu mais um passo e, para sua surpresa, conseguiu se mover. Um soluço escapou dos lábios dela e Tiago mordeu os lábios, aproximando-se novamente até ficar diante dela.

- Lily...

- Sirius contou tudo a você, não? - ela voltou-se para ele - Porque está aqui então?

- Você acha que é tão fácil esquecer? Será que não conseguiu entender, depois de todos esses anos que eu AMO você?

- Tiago, por favor, vá embora. Desista. Procure outra pessoa que possa...

- E você acha que eu não tentei? - ele perguntou encarando-a com insistência - Voc~e acha que eu não tentei me livrar da sua lembrança, que não tentei... Merlin, eu quase enlouqueci, Lily. Eu tentava me concentrar nas suas palavras, tentava ficar com raiva de você...Mas eu não consegui.

Ele levantou a mão, como se fosse limpar as lágrimas que escorrim pelo rosto dela. Mas Lílian deu um passo para trás.

- Desista, Tiago. - ela pediu num sussurro.

- Eu não vou desistir de você, Lily - ele retrucou, anormalmente sério - Nunca. Nem que o troco seja a morte, eu quero você. E eu não me importo se...

- MAS EU ME IMPORTO! - ela gritou, não deixando que ele continuasse - Vá embora, Tiago. Por Deus, VÁ EMBORA!

Ele suspirou enquanto ela mirava nele os olhos verdes, agora extremamente vermelhos. Ele assentiu com a cabeça, voltando para a porta.

- Eu vou, Lílian. Mas essa história ainda não terminou. - ele sorriu de leve - Tenha certeza que não vai se livrar de mim tão fácil...

Ela ficou novamente sozinha. Encostando a cabeça na parede, por entre as lágrimas, um tênue sorriso apareceu.


Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão,
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado...


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