Ouvindo Sirius



Era sábado. Tiago acordou com uma enorme dor de cabeça e, com algum esforço, tentou se lembrar do que acontecera na noite anterior pra ele estar daquele jeito.

- Droga! Porque diabos eu acordei?

A resposta a essa questão veio na forma de mais um toque curto e ansioso na campainha. O moreno levantou-se irritado, colocando os óculos e seguindo para a porta da frente, onde alguém parecia ter esquecido o dedo sobre a campainha. Tiago abriu a porta de súbito, encontrando o alegre sorriso de Sirius.

- Bom dia, Pontas, amigão! O que tem aí pro almoço?

- A que devo a honra de uma visita tão cedo, Almofadinhas? - perguntou Tiago enquanto o outro maroto entrava antes mesmo de ser convidado.

- São onze da manhã, Pontas. - Sirius comentou, entrando na cozinha - Não me diga que estava até agora dormindo?

Tiago respirou fundo, entrando de novo em seu quarto. Sirius o seguiu, observando o lugar. Parecia que um furacão tinha passado por ali. Havia roupas largadas por todo o chão, meias penduradas na janela e, para completar, o cheiro de bebida impregnava tudo.

- Tiago, você estava tentando incendiar seu quarto ou é só impressão minha? - Sirius perguntou enquanto atravessava o quarto para abrir a janela, deixando uma lufada de ar fresco entrar.

- Eu bebi um pouco ontem.

- Um pouco? Cara, é só a Lily dar as costas por uns dias que Você já faz a maior zona?! Como você vai explicar essa bagunça quando ela voltar?

Tiago sentou na cama, fechando o semblante.

- Ela não vai voltar.

Sirius observou o amigo, que estava de costas para ele. As mulheres, decididamente, tinham vindo ao mundo para serem injustas com caras legais como eles dois...

- Tiago, eu estive com a Lily ontem. - Sirius confessou, sentando-se ao lado do amigo.

- Então você já deve saber que, ao final das contas, o apelido de "pontas" tem realmente tudo a ver comigo, não? Imagino que ela esteja muito bem com o Prewett.

- Não, Tiago, ela...

- Olha, Sirius, se você veio aqui pra falar dela, é melhor ir embora. Eu não quero ouvir.

Sirius abaixou o olhar e um brilho dourado no chão chamou sua atenção. Um anel. Ele se inclinou, pegando com cuidado a jóia, observando o aro com atenção.

- Esse anel... Não é a aliança que você ia dar para a Lily?

- Leve pra você. Eu não quero mais ver isso na minha frente.

- Tiago, sobre a Lily...

- Que droga, Sirius! - Tiago se alterou, levantando-se - Eu não quero saber nada sobre ela!

- Mas você tem que me ouvir! - Sirius disse, seguindo-o até a sala.

- Nada sobre Lílian Evans me diz respeito.

- Isso é mentira! - foi a vez de Sirius levantar a voz - Ela realmente te enganou, mas não da maneira que você está pensando. Eu até entendo o que ela fez, mas...

- Entende?! Sirius, por favor, poupe-me desses comentários absurdos. O que aconteceu? Ela se arrependeu e pediu pra que você viesse defendê-la? Perdeu seu tempo. Acabou.

- Tiago, escuta aqui: mesmo sob a absurda hipótese de que ela quisesse traí-lo, ela não poderia. Sabe porque? Porque no dia em que nós dois nos metemos a heróis, ela nos salvou dos comensais. Mas Voldemort apareceu. E aquele panaca amaldiçoou a Lily...

- O que isso tem a ver? - Tiago o cortou, irritado.

- ...com a Thanatus. - Sirius terminou, baixando a voz até que ela se tornasse apenas um sussurro.

Tiago parou de fugir do amigo imediatamente, parando de costas para ele. Aquilo era impossível, Voldemort não podia lançar uma maldição como aquela, ele teria que saber da Antiga Magia e tudo o mais...

- Isso é mentira. - Tiago respondeu baixinho.

- Ele sabia da Antiga Magia. Sabia que Lílian é uma guardiã. Ele tramou toda aquela armadilha porque sabia que nós íamos cair na asneira de enfrentar os comensais sozinhos e ela viria em nosso socorro. Quanto a Gideão, ele tinha acabado de chegar para nos ajudar quando tudo aconteceu e não pode fazer nada. Por isso, quando a Lílian procurou Dumbledore, Gideão estava lá e ofereceu o chalé, para evitar que ela ficasse em contato com muita gente para não correr riscos. Quando você foi lá, ela aproveitou o seu ciúme para afastá-lo dela. Ela pensou que assim estaria PROTEGENDO você!

Tiago sentou-se, capisbaixo. Aquilo não podia ser verdade. mas porque Sirius mentiria para ele. Além disso, esse fato explicava muita coisa, como o sentimento de angústia, ele não ter conseguido ficar com a Dawlish e, finalmente, a certeza de que, apesar do que vira, nada do que Lílian dissera era verdade. Sirius depositou a aliança na mesa de centro, à frente de Tiago.

- Ela só não queria que você se machucasse por causa dela. Lílian não acredita que possa encontrar uma forma de reverter a maldição. Por isso, ela achou que contar a verdade a você era injusto. Você ficaria ao lado dela, e, num impulso, poderia tentar tocá-la e morrer. Ela mentiu sim, Tiago, mas porque ama você. Eu só estou lhe contando tudo isso porque acho que você tem direito de escolha. Não me desaponte.

Sirius saiu, deixando o amigo sozinho. Lá fora, o sol brilhava. Apesar de tudo o que estava acontecendo, o sol continuava a brilhar. Ele observou o céu. Finalmente parecia um dia de primavera. lentamente, ele começou a caminhar pela rua.

- Sirius! - gritou uma voz feminina.

O rapaz parou ao ouvir o chamado. Do outro lado da rua estavam Selene, Susan e Emelina. A italianinha abanava os braços freneticamente, enquanto suas duas amigas conversavam animadas. Ele sorriu, atravessando a avenida para se juntar ao grupo.

- Bom dia, meninas.

- Bom dia, Sirius. - as três cumprimentaram.

- Você estava com o Tiago? - Susan perguntou ansiosa.

Sirius virou-se para uma casa de dois andares na esquina que ele acabara de virar.

- É, eu acabei de sair de lá.

- Tentando animar ele, não? - Selene perguntou - Coitado... Também, a Lily com essa mania de estudar... Eu fui no Ministério chamá-la para almoçar e a Camille me disse que ela tinha tirado uma licença para fazer uma especialização na França.

Emelina sorriu, concordando. Sirius e Susan apenas se entreolharam.

- Falando em almoçar, nós estávamos exatamente indo fazer isso. - Emelina observou - Porque não convidamos o Tiago?

- Não vai dar, Emelina, ele saiu pra... casa dos pais. - Sirius disse rapidamente.

- Mas você com certeza vem conosco, não? - Selene perguntou, embora olhasse para Susan, que fingia estar muito distante.

- Claro! - Sirius respondeu, animando-se - A propósito, Su, eu tenho uma coisa pra te devolver.

Sirius retirou do bolso um pequeno objeto, juntamente com a varinha. A morena sorriu, tirando a "miniatura" de guarda-chuva das mãos dele antes que ele lhe devolvesse o tamanho natural.

- Eu faço isso mais tarde. Não tem o maior cabimento num dia bonito como esse eu ficar andando com um guarda-chuva.

Ele assentiu e os quatro voltaram a andar. Selene conversava alegremente sobre a próxima apresentação das "esquisitonas" enquanto Emelina sugeria figurinos e números de dança na apresentação, começando a dar piruetas no meio da rua. Susan apenas ria, repetindo "ai, meu Deus, veja só com que tipo de doidas eu tenho que andar?!" e Sirius se pegou pensando em como o riso dela era alegre e cheio de vida.

Eles almoçaram perto de um teatro em que Emelina ia se encontrar com o namorado, Fábio Prewett. A loira se despediu e logo Selene também se foi, saindo-se com uma história sobre ensaios. Por fim, só sobraram Sirius e Susan, caminhando na direção da casa dela em profundo silêncio.

- E então, como Tiago reagiu à notícia? - ela perguntou, tentando iniciar uma conversa.

- Acho que ele está em choque.

- É, isso já era esperado. E Camille? Já recebeu uma resposta?

- Resposta?

- Você não disse que tinha escrito pra ela? - Susan agora parecia confusa.

- Ah, é... Eu recebi.

- E então?

- Acho que foi a "desilusão final". - ele respondeu, sorrindo tristemente - Su?

Susan parara de caminhar, e quedara-se pensativa.

- Você já foi a um parque de diversões, Sirius?

- Como?

- Você já foi...

- Não, eu entendi essa parte. Só quero saber o que isso tem a ver com o que estávamos conversando.

- Sempre que eu estava triste, meu papa me levava ao parque. E então?

- Não, eu nunca fui a um parque de diversões trouxa.

- Ótimo. - ela respondeu sorrindo - Então vamos logo.

A morena chamou um táxi que passara ali perto e eles embarcaram, afinal não podiam simplesmente aparatar no meio de um parque. Dez minutos depois chegaram ao parque de diversões. Susan levou o rapaz em praticamente todos os capítulos, tirando uma máquina sabe-se lá de onde para fotografar momentos inesquecíveis, como "Sirius Black envergonhado no carrosel" ou "Sirius Black emocionado com a montanha-russa".

Já era noite quando eles se despediram antes de aparatar pra casa, em um beco do "palácio dos espelhos".

- Obrigado, Susan. Foi, realmente, uma tarde muito divertida. Qualquer dia vamos repetir a dose.

Ela sorriu.

- Com prazer. Até a vista, Sirius.

Ela desapareceu. Com uma última olhada num espelho que o fazia gordo e achatado, Sirius também aparatou, ressurgindo sentado em sua sala de estar às escuras. Ele se deixou ficar onde estava, perguntando-se como estariam Tiago e Lílian. Teria o amigo procurado a ruiva? Ou ainda estava confuso com tudo o que acontecera?

Enrugando o semblante, ele voltou a questão que o atormentava: como Voldemort soubera de Lílian e a Antiga Magia? Certamente não tinha sido através dos centauros escondidos na Floresta Proibida. E, além da própria Lílian, só havia quatro pessoas que sabiam da verdade: Dumbledore, Tiago, ele mesmo e Remo. Dumbledore e Tiago certamente não iriam fornecer uma informação dessas para Voldemort. Não tinha sido ele. Só restava Remo.

Sirius meneou a cabeça. Remo Lupin era seu amigo, ele não faria isso.

Ou faria?...

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