Traduções



Severo acordou suado em seu quarto, sentindo a cicatriz em seu braço queimar. Voldemort estava chamando. Imediatamente o rapaz se levantou, vestindo-se apressadamente para depois aparatar, reaparecendo num grande salão onde vários comensais já se encontravam. Ele observou o Lorde conversar apressado com Bellatrix. Qualquer fosse o assunto daquela reunião, ele havia perdido.

Numa sala anexa àquela, Pedro aparatava para casa. Voldemort ficara tão impressionado com as informações sobre a Antiga Magia que decidira manter o rapaz como peça chave, um ás na manga. Poucos de seus comensais sabiam que aquele grifinório covarde estava do mesmo lado que eles, e o lorde queria que assim continuasse.

Por isso, Snape jamais soube que Pedro Pettigrew, a sombra dos marotos, era um traidor. E ele também nunca se interessara pelos segredos de Voldemort. O olhar arguto de Severo estava percorrendo o salão muito rapidamente, de olho em um comensal que escapulia sorrateiramente. Travers. Snape jamais entenderia porque não gostava do "colega", e, naquele momento, essa questão foi jogada para segundo plano. Ele seguiu o outro comensal, passando igualmente despercebido por todos que estavam no salão.

Silenciosamente eles desceram escadarias, Travers um pouco mais à frente, sem saber que era seguido, até chegarem às masmorras do Lorde das Trevas. Severo observou-o parar diante da cela da jovem de olhos tristes.

- Olá, Dorcas Meadowes.

A jovem levantou a cabeça silenciosamente. Snape, mesmo de longe, podia perceber o brilho de ódio que havia nos olhos dela. Travers riu ruidosamente, abrindo a cela e aproximando-se da moça.

- Sabe, Dorcas, eu estava a fim de ter um pouco de diversão hoje à noite. - ele abaixou-se até ficar no nível dela, que estava encolhida, sentada no chão, deixando-a perceber que estava completamente bêbado - E já que fomos quase namorados...

Ela cuspiu no chão antes que ele pudesse aproximar-se o suficiente.

- Não sabe como me arrependo de ter aceitado ir ao meu último baile com você, seu monte de m...

O comensal riu, segurando-a com força pelo queixo.

- Você costumava ser mais limpa, Dorcas, mas assim mesmo há de servir.

Com violência, Travers tomou os lábios dela entre os seus. Na escadaria da masmorra, Snape segurou com força sua varinha.

*****

"Cada mundo é guardado por um Perpétuo, exceto os portões do Inferno. Sete são as sentinelas que todas as passagens coordenam. Todos estão à disposição daquele que tem o poder do sacrifício, a chave da morte. Mas que não se engane o guardião, eles não merecem total confiança, ou dele farão joguete na Guerra Eterna. Apenas Thanatus, o anjo da Morte e Chaos, o senhor da Destruição, não tentarão iludir o soberano de Hades."

Lílian releu o parágrafo cheio de ambiguidades que acabara de traduzir. Ainda tinha muito o que aperfeiçoar. Se pelo menos tivesse o pai ali... Ele sim era um especialista. Ela pôs o livro negro de lado e concentrou-se em outro menor, de capa verde.

"Os domínios de Perséfone estão nos limites da mente. Os de Cérbero, no âmago do sangue. As harpias são o hálito fétido da morte. Acima de todos está Hades, o coração do reino sombrio.

A barca de Caronte só há de transportar aquele que tem o poder do sacrifício, que do sangue da sentinela fez entrada para si. Pois só através do punhal pode o guardião governar."


- O que tudo isso pode significar? - ela se perguntou, olhando para suas anotações.

Tudo estava, de alguma forma, relacionado com Mitologia. Por sorte, seu pai era amante dos mitos de todos os povos. Ah, seu pai... Balançando a cabeça, ela voltou a tentar se concentrar no que descobrira até ali. Perséfone era a rainha dos Infernos; Cérbero, o cão guardião de três cabeças; as harpias era demônios que ceifavam a vida dos mortais e Hades era, não apenas o soberano do inferno e marido de Perséfone, como a própria designação do mundo dos mortos. Esse Hades poderia ter ligação com o dragão de Helena? E o que era o poder do sacrifício que tanto se repetia? Era o quinto livro em que encontrava uma citação como aquela!

- Apenas o sacrifício pode abrir os portais do Inferno, apenas...

- Falando sozinha, Lily?

A ruiva voltou-se para o namorado, que parara ao lado dela, acariciando seu pescoço.

- Só estou um pouco confusa. - ela respondeu, voltando a atenção para os papéis e tentando ignorar os arrepios causados pelo toque dele.

- Não pode deixar para pensar nisso amanhã?

- "Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje", era o que minha mãe sempre repetia. Além disso, Dumbledore conta comigo.

- Lílian, você não dorme há duas noites e está nessas traduções desde que chegamos do "chá" de Dumbledore. Feriados foram feitos para se descansar! Amanhã é Natal e você está aí, metida nesses papéis, sem dar atenção nem a mim!

Lílian olhou para o relógio em seu pulso e voltou para ele os olhos verdes, sombreados por grossas olheiras.

- Você não é um bebê que precise de atenção a todo instante. E, a propósito, Feliz Natal. Já passa da meia-noite. Seu presente está na gaveta da minha mesa de cabeceira.

Tiago suspirou enquanto ela organizava mais pergaminhos. Hora de atitudes drásticas. Ele se sentou no chão, ao pé da cadeira dela e, com força, a puxou, fazendo-a cair em seu colo, calando os gritos que certamente viriam com um caloroso beijo. O rapaz sentiu o corpo dela amolecer e finalmente afastou-se gentilmente, levantando-se com ela no colo.

- Eu proíbo a senhorita de pegar nesses livros até o fim da semana. E agora você vai tomar um copo de leite quente e depois vai para a cama dormir!

- Sim, senhor, meu cavaleiro da armadura brilhante. - ela disse sorrindo.

Tiago riu, roubando mais um beijo enquanto carregava a namorada para longe da pilha de livros que Dumbledore tirara do salão onde, um dia, encontrara um ovo de fênix.

*****

- EXPELLIARMUS! - a voz de Snape soou.

Travers foi jogado contra a parede. A varinha escapou de suas mãos e, antes que ele pudesse se levantar, Dorcas estava diante dele, a varinha em punho, os olhos brilhando.

- Avada...

Snape segurou o pulso dela e apontou a própria varinha para a testa de Travers.

- Se fizer isso, vai acabar se arrependendo. - ele disse para ela com a voz rouca, os olhos presos aos dela.

- Você vai se arrepender por isso, Snape. - Travers disse, os dentes rilhando.

- Não se você não se lembrar, bêbado idiota. - o outro comensal observou com um sorriso sarcástico - Obliviate!

Um jorro de luz atingiu a cabeça de Travers, que ficou com o olhar perdido, acabando por desmaiar. Dorcas puxou o pulso com violência da mão do ex-sonserino.

- Porque me ajudou?

- Eu não gosto dele. - Snape respondeu, dando de ombros - E ninguém mexe com os meus prisioneiros. Corra até as escadas. Dali poderá aparatar.

Dorcas olhou-o espantada por alguns instantes.

- Obrigada. - ela sussurrou antes de se levantar, desaparecendo na curva das escadarias.

Das outras celas começava a se levantar um murmúrio. Severo apontou para Travers com a varinha, fazendo-o levitar. Antes de sair, ele mexeu numa caixa onde dezenas de vidros guardavam líquidos coloridos. Suas queridas poções. Ele escolheu um vidro azulado e, quando chegou à porta que saía das masmorras, fez o corpo desarcodado do outro comensal passar e jogou o vidro escadaria abaixo, fechando a porta em seguida. Lá embaixo, o vidro se partiu, deixando um vapor azulado escapar para as celas cheias de prisioneiros.

*****

Uma rua vazia. Parecia um lugar comum, como aquela em que vivera sua infância. Mas algo ali estava errado. As luzes do poente sempre se faziam acompanhar por uma orquestrar de passarinhos. Àquela hora sempre havia o vento suave que soprava do litoral. Mas tudo estava em silêncio, parado, como se o próprio tempo houvesse interrompido seu curso.

Uma garota. Uma garota de cabelos negros e olhos claros e gentis caminhou na direção dela. Ela era bem jovem, mas ao mesmo tempo... a aura dela era estranha... Tão quente e reconfortante... e, ao mesmo tempo...

- Olá, pequena. - a garota disse docemente - Está preparada?

- Preparada?

- Eu não queria mostrar isso, mas é preciso. Mas não se preocupe, não deixarei que se lembre de nada.

De repente a rua desapareceu. Estava perto de uma lareira, junto de Tiago. Os dois sorriam. O moreno beijou o alto da cabeça dela, enquanto a envolvia pela cintura. Um choro de bebê encheu a sala e a ruiva levantou-se. Lílian se viu ir até uma escada e depois parar assustada. Um clarão verde surgira sob o vão da porta. Tiago gritou alguma coisa. Muito rápido, ela viu um homem pálido, de sorriso irônico, entrar na sala, após derrubar a porta, enquanto ela mesma corria pelas escadas.

- AVADA...

- NÃO!!!


*****

Fawkes soltou um grito longo e sentido. Dumbledore imediatamente se levantou, olhando o quarto escuro até localizar a fênix. O velho diretor caminhou até a ave, acariciando-a levemente.

- O que aconteceu?

Ela soltou um fraco trinado, enquanto o olhava tristemente. Dezenas de bruxos tinham morrido há pouco nas masmorras do Lorde das Trevas. Dumbledore sentiu o coração apertar. Ainda tinha esperança de rever alguns daqueles que haviam sido capturados, muitos eram seus ex-alunos. E Fawkes agora dizia que estavam todos mortos.

Algém bateu à porta e o diretor vestiu um robe por cima do camisolão, caminhando para o escritório, onde Minerva McGonnagal esperava com um vulto encolhido.

- Alvo, ela acabou de chegar. Escapou das masmorras Daquele-que-não-deve-ser-nomeado.

O diretor olhou com admiração para a pequena, enquanto se sentava.

- Ora, isso é excelente. E como se chama, senhorita?

A garota levantou o rosto sujo, olhando para os olhos de safira de seu ex-professor.

- Dorcas Meadowes.

*****

- NÃO!

Tiago acordou com o grito de Lílian, que estava sentada na cama, os olhos arregalados.

- Sangue... Não pode... Não...

O moreno aproximou-se da namorada.

- Lily, o que...

Ela voltou-se para ele, os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

- Você está vivo? Mas ele...

O rapaz a abraçou forte, acariciando o alto da cabeça dela.

- Calma, Lily... Foi só um pesadelo...

Ela encostou a cabeça ao peito dele, continuando a chorar baixinho. Tiago tocou a fronte dela, levemente preocupado. Ela estava queimando de febre. Finalmente, Lílian voltou a adormecer e ele voltou a deitá-la, olhando-a com carinho.

- Não vai acontecer nada, Lily... Não se preocupe. - ele beijou a testa dela - Vou buscar uma poção para sua febre. Durma bem...

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