Chama no Inverno



Olho Azul Apresenta:

A Última
Primavera

Capítulo 1- Chama no Inverno



“Deaeta koto
Kansha shite imasu
Isshou taisetsu ni shimasu
Iron na egao wo

Dou graças por
Termos nos encontrado.
Eu guardarei comigo
Todos os seus diferentes sorrisos.”

-Maki Goto-



Ambos os olhos sonolentos se abriram com os repentinos feixes de luz do cômodo adjacente. A porta estava semi-aberta deixando, também, vestígios da conversa entrarem pela enfermaria da escola de bruxos.

Seu corpo acordava enfim e se encontrava bastante dolorido. Demorou para que os ouvidos entendessem as palavras que bailavam com aquela clareira.

-Mas é tão grave assim, Madame? - a voz masculina perguntava, parecendo confusa.
-Demais, demais, diretor... Não sei o que a deixou dessa forma, mas... Nem sei como dizer! - Mesmo tentando sussurrar, Madame Pomfrey falava cada vez mais alto.

Gina tentou se levantar; ouviria melhor caso se aproximasse. Suas pernas, no entanto, pareciam quase sem vida de tão enfraquecidas.

-A jovem Weasley... - a gentil enfermeira dizia num tom fugidio - Ela não viverá até o próximo ano letivo.

Quase caiu da cama ao ouvir seu prognóstico. Segurou a voz com ambas as mãos e se implorou para não emitir ruídos. Seria algum pesadelo? Mal se lembrava do motivo de estar naquele quarto hospitalar.

Apertou bem os olhos e tentou se concentrar. Os dois se haviam silenciado. Como fora parar ali? Seria mesmo somente um vil sonho? Infelizmente, tudo lhe respondia em negativas.

A enfermeira falava a Dumbledore sobre alguns tratamentos alternativos para aliviar a dor da paciente. A pequena Weasley sentia-se ainda menor cada vez que notava o desespero no tom da mulher recrudescer.

"Tenho que me lembrar... Por que isso? Eu estava bem! Podia jurar," pensou para si, olhando a brecha para o outro cômodo. A porta abria-se suavemente deixando os dois bruxos entrarem silentes.

Escondeu-se nas cobertas com a possibilidade de ser descoberta. Não saberia o que dizer ou fazer. O melhor seria deixar que eles a contassem oficialmente. Ou não.

-Pobrezinha, parece ainda mais agasalhada que antes... Devo pegar outro edredom?
-Não, Madame, não haverá necessidade para tanto, -o diretor falou, ajeitando os óculos em forma de meia-lua.

Ele sabia que ela tinha ouvido tudo?

-É melhor deixarmos que descanse por enquanto. Tenho muito a pensar com esse novo desafio... Seus pais ficarão desesperados. Com toda razão, aliás. Porém, gostaria de poupá-los de qualquer sofrimento desnecessário.
-Pedirá por uma segunda opinião?
-Sinto-me obrigado.
-Não me ofendo, diretor, mas como o fará sem que a menina pressinta?
-Sem motivos para preocupações, Madame Pomfrey, cuide do que puder e deixe todo o resto comigo.

A mulher assentiu enquanto ajeitava as roupas da cama de sua paciente. Os dois saíram logo em seguida, deixando a insone vítima plena de indagações.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Muito bem, senhor Malfoy, sabe bem que não tenho o dia todo. O que fez à Weasley?-A mulher andava por todo o escritório, mexendo com as mãos por trás das costas.
-Professora McGonagal, tenho certeza de que isto é um imenso engano, -o rapaz loiro respondeu com seu sorriso mais calmo. Tinha seus dezessete anos e passava toda a certeza possível ao falar.
-E o que a sua letra fazia no cartão de aniversário de Virgínia?
-Esse é o nome dela!? Olha, aquele presente não era pra ela, só foi um terrível engano.
-Terrível, imenso... Qual será o próximo adjetivo, Malfoy?
-Que seja... -Levantou-se, já caminhando até a porta.
-Aonde pensa que vai?
-Pro meu quarto, professora. Não terminamos ainda?
-Com certeza, não! Sente-se; o diretor está quase chegando.
-Dumbledore!? Quantas vezes preciso repetir a palavra "engano"? Sinceramente, é um exagero. O velho não está nem aí pros outros, mas só porque sou um Malfoy, ele quer me ferrar.
-Já chega! Não somos injustos perseguindo inocentes. Ah, professor. Falávamos justamente do senhor, -Sorriu para uma figura atrás do moço.
-Na parte do "velho" ou na do "injustos", Minerva?

A mulher olhou feio para o loiro, que ensaiava uma risada.

-Bem, acabo de voltar da enfermaria onde a senhorita Weasley se encontra e não está nada melhor... Estão tomando chá?-perguntou, procurando com os olhos.
-Professor!-McGonagal o repreendeu, -Estava interrogando o rapaz, aquele quem mandou o presente que a menina tinha acabado de abrir antes de sofrer o ataque. Vamos, Draco Malfoy, diga qual o feitiço.
-Não sei do que está falando...-respondeu uma vez mais, passando a mão pelos lisos cabelos.
-Tudo bem, o caso é sério. Não lhe darei punição alguma se nos passar informações corretas que ajudem Virgínia.

Draco suspirou. Olhou para as mãos e quase não resistiu à vontade de mentir.

-Já disse: o presente era para a Parkinson. Não sei o que deram àquela coruja bêbada que errou feio o destinatário. Podem ver como o vestido nem é do número daquela menina. Por isso eu fiquei tão exasperado durante a entrega. Da próxima vez, juro que mando uma coruja dos Malfoys.
-Chega de mentiras!
-Professora McGonagal, dê algum crédito ao jovem. Não creio que o que aquela criança tem seja por alguma diabrura. -Dumbledore sorriu estranhamente a Draco. -Agora vá dormir para estar inteiro nas aulas da manhã. Passe antes na enfermaria, pois creio q o chá que Minerva lhe aplicou tinha alguma substância incomum.
-Alvo Dumbledore! Eu não enveneno alunos.

O rapaz já não estava mais lá quando os dois foram se despedir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Draco Malfoy com certeza não estava nos seus melhores dias. Primeiro todo o trabalho para mandar aquele presente a Pansy Parkinson, depois a única coruja disponível para locação era uma incompetente e conseguira errar até a mesa! Agora McGonagal estava no seu pé achando que tinha gastado tempo e dinheiro para envenenar alguém que tinha como destino uma vida terrível - algo mais interessante que a agonia da morte.

Não. Morte? Sua cabeça exagerava. Aquilo tinha sido só alguma intoxicação alimentar. Apostava em algum desses regimes malucos. Aquela ruiva andava meio magra mesmo havia uns tempos.

Por que diabos havia notado aquilo!?

Torcia para que sua mãe não soube do fiasco daquela noite, já estava sabendo de coisas demais a seu respeito. Não oficialmente. Não que ele se importasse, sabia o que significava para Narcisa desde que seu pai fora preso. Tinha a missão de limpar o nome da família e ela, a de garantir que tudo fosse feito da melhor maneira possível. Pelo menos aprovava Pansy.

Pansy Parkinson... Desde quando sentia aquilo por aquela bruxa? Era uma atração tão estranha! Em que estaria pensando agora que achava estar sendo trocada por uma Weasley? Teria ciúmes? Riria ao ouvir a verdade?

Seria complicado explicar tudo com provas! Com certeza, tiraria um belo sarro dele pelas costas ao contar para os outros de sua idéia de um presente romântico.

Seu estômago estava muito estranho, aquele velho tinha razão sobre ir à enfermaria. Mudou seu rumo e caminhou a passos largos. Precisava de um belo sonífero para tirar a cara de desprezo de sua mãe e seus colegas quando lessem o bilhete apaixonado junto ao vestido.

“Pelo menos não tinha espaço para tudo o que planejei...” pensou ao entrar no lugar onde Madame Pomfrey sempre estava. Porém, o local se encontrava deserto exceto por armários imensos cheios de pequenos baús e vidros pardos. A escuridão predominava naquela sala.

Abriu a espessa cortina com cuidado para o leito dos doentes. Como àquela hora não havia aulas para faltar, ali devia estar vazia; mesmo assim, fez silêncio. Pegaria algo para dormir e iria embora antes que a enfermeira criasse algum problema. Escolher algo mais forte era bem melhor!

Caminhou a curtos passos procurando naquele preto e azul o lugar de onde a mulher sempre tirava os pequenos milagres. Se tivesse sorte, acharia uma poção do esquecimento para nem fizesse idéia do que é que seus amigos estariam rindo no dia seguinte. Esquecer tudo como se a vergonha de mandar um vestido como admirador da tal Weasley nunca houvesse ocorrido.

“Por sorte, a menina passou mal e acharam que eu a enfeiticei! Ah, Pomfrey a deve estar curando no dormitório de Grifinória,” lembrou-se enquanto se aproximava dos últimos leitos. Tinha certeza de que o criado mudo extra no fim da fila de camas guardava os calmantes e afins.

Um som abafado ressoava dali; um choro?

Draco ergueu uma sobrancelha ao se aproximar com mais cuidado. A última cama estava ocupada. Era uma figura bem pequena. Uma aluna. Os cabelos ruivos emaranhados no travesseiro não deixavam dúvida de sua identidade.

“Gina Weasley? Ué? Então cadê aquela enfermeira folgada?” Suspirou aliviado ao perceber que a menina já havia acordado. Pelo menos não tinha morrido. “Hã!? Isso me importa? Argh, como vou pegar o remédio com ela aí?”

A cabeça da paciente estava voltada exatamente para o lugar desejado de Draco. O moço olhou melhor e constatou que se escondia no travesseiro; se respirasse fundo e fosse com confiança, nunca perceberia que a pessoa pegando o frasco não o deveria fazer.

Contou até três. Naquele momento, ouviu um barulho da ante-sala e correu para debaixo da cama da enferma Weasley.

Eram duas pessoas conversando...

Gina também se havia silenciado. Abaixou a cabeça até seu esconderijo e entrou em choque ao reconhecê-lo.

Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, as duas pessoas começaram a conversar. Ela parecia bastante desesperada quanto ao homem na parte inferior da cama ouvir aquilo e tentou distrai-lo jogando alguns travesseiros.

-Shhh! Parecem falar de algo sério! Não quer saber!?-Draco sussurrou, afastando os objetos jogados.

A menina ficou vermelha de raiva e frustração. Suspirou o mais baixo possível e olhou desesperada para o outro cômodo.

-Mas não achou nadinha? –a voz de Madame Pomfrey perguntava persistente.
-Eu simplesmente fui até a Professora McGonagal dar-lhe alguma explicação. Ela tinha feito um inocente de refém... Ou acha que aquele presente recebido por engano continha algo? –Dumbledore explicava, um tanto nervoso.
-Não, não... Já estava doente antes. Notou com está magra?
-Sim, sim.

Malfoy revirou-se em seu lugar, comemorando suas conclusões acertadas. Aquela professorazinha fajuta haveria de se ver com ele!

-Que presente...?-Gina perguntou bem baixo. Falava consigo própria?
-Aquele que a maldita da coruja tonta te entregou na janta!- o jovem respondeu, saindo do esconderijo e sentando-se na cama. Os dois lá fora não pareciam querer olhar a paciente.
-Coruja?-Ela o olhou interrogativa. –Não me lembro de nada disso, Malfoy.
-Como assim!? –Depois pensou de novo: era melhor se ela nunca soubesse. –Hã... Não é nadinha importante! Mas você deu um ataque depois que o recebeu, sabe?

O diretor e a enfermeira pareciam ignorar a conversa paralela e discutiam sobre soluções. Pareciam de acordo que Gina deveria ir ao St. Mungus, hospital famoso por curar bruxos.

-Acha mesmo que isso seria bom?-Dumbledore perguntava uma vez mais. O nome tão terrível voltou novamente a atenção dos jovens ao colóquio.
-Professor Dumbledore, garanto que aqui não haverá cura alguma.
-E lá?

A mulher ficou silente, porém deixara óbvia a resposta.

-Sim, já me disse que não há como... Só me sinto terrível ao pensar em como o contaremos a uma menininha tão saudável e à sua maravilhosa família!
-Temo que seja nosso único passo a dar.

Draco olhava penetrante para Gina. Como assim? Falavam mesmo dela!? Impossível! Um presente não matava. Porém, não fora seu presente a causa mortis. Fora!? Não! Seria? Talvez fosse.

Dumbledore e Pomfrey se retiraram para continuar noutra hora, deixando o loiro repleto de dúvidas.

-Era... Err... Você vai-
-Morrer?
-...
-Acho que sim.
-Seus pais nem podem bancar o hospital!
-Não que vá servir.
-Mas duvido que eles contem isso; dirão que o St. Mungus é a solução e pronto.
-Eu falo.
-Mesmo?
-Acho que sim. Sou grande o bastante pra entender isso.
-Menina boba, isso é o que é. –Levantou-se e ajeitou as roupas um tanto empoeiradas.
-Como!? Tudo que eu posso fazer é falar a verdade. Eu vou morrer e pronto.


-Sei e não me importo. Grite pra todo mundo. Bem, eles vão chorar, mas sua família vai até gostar da idéia de ter menos uma cabeça. Sobra mais, né?
-DRACO MALFOY! Como pode ser tão cruel!?
-Ha, ha! Você respondeu antes da pergunta. Sou um Malfoy e não ligo pra nada que ocorra a seres tão insignificantes. Sabe, só fiquei preocupado porque a McGonagal tava me culpando. Tô feliz que o velho não pense o mesmo. –Ajeitou-se para sair e abriu a porta. –Papai morreria se pensasse que arrisquei minha liberdade por uma Weasley! Que gasto de energia!

Foi embora pondo Gina boquiaberta.

-Nem com isso ele se importa, aquele estúpido!-desabafou, indo dormir. Ou, pelo menos, tentá-lo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Um vento refrescante roçava seu rosto. A primavera cheirava a tantas flores diferentes... Não tardava e já estariam naquela estação... Não fazia mais tanto frio quanto no inverno e os botões já se despontavam no imenso jardim fora do castelo de Hogwarts.

Gina fechou os olhos e tentou se concentrar na vida a seu redor, toda ardendo em um novo recomeço, seu fogo se extinguia mais rápido que imaginara.

Um vento gélido soprou em sua bochecha fazendo cócegas. Sentada ali, sem árvore ou muito mato para protegê-la, era como se a paisagem colorido-acizentada refletisse seu coração.

Do que mais sentiria falta quando se fosse? De seus irmãos, sua família... De Harry também! Terminaram fazia muito pouco tempo, mas o bastante para que qualquer mágoa sarasse. No fim, ainda esperava que um dia voltassem. Agora tinha a certeza do contrário... Era tão definitivo.

Estranhamente, aquilo lhe confortava. Se ainda estivesse com ele, seria doloroso. Teria de contar o que ouviu...

Lembrou-se da expressão de Dumbledore lhe perguntando se queria que sua família fosse informada por ora. Ele ainda faria alguns contatos para conseguir que alguém pagasse o hospital e, talvez, uma cura definitiva. Até lá, Gina implorou-lhe que ninguém soubesse.

Malfoy tinha razão... Contar a verdade sobre algo imutável não era o melhor. Quanto menos tempo durasse o sofrimento de seus queridos, menor seria o dela próprio.

Ali, observando a paisagem com o vento a brincar com seus cabelos úmidos de frio, Gina notou que, tirando a angústia pelos outros, ela estava bem. Morrer não deveria ser mais assustador?

-Ei! Que faz nesse lugar tão isolado, hein? – Uma recém-chegada puxava-a pelo braço para que se levantasse.
-Mione! Tava me procurando?
-É claro! Logo que acordei fui à ala hospitalar, mas já te tinham dispensado. Pensei que te veria nas aulas e você as faltou todas, segundo tuas amigas. A Madame Pomfrey disse que desmaiou de gripe; o presente de Draco foi só coincidência.
-Que presente!?-Havia ouvido algo assim do próprio rapaz, que se desviara do assunto. Algo daquele sujeito!? Teria então, realmente, lhe dado um presente mortal?
-Bem, veio uma coruja e te entregou algo do Draco, digo, foi isso que li quando você desmaiou. A professora McGonagal logo o tirou dali, então deve ter sido mesmo dele.
-E aí?
-Só sei que a Parkinson não tá muito satisfeita com a possibilidade.
-Eu não lembro de nada disso. Sei que já me sentia mal quando fui jantar.
-Então não foi aquilo... Só se ele já tá te azarando há mais tempo.
-Não creio -concluiu a menina para si mesma.
-Vamos entrar, ou sua gripe piora!
-Ah, certo... Eu já vou, entre na minha frente.
-Mas eu vim te buscar!
-Obrigada, mas preciso de mais uns tempos sozinha.
-Tá estranha...
-Desculpa, Hermione. Só diga a meu irmão que fui tomar banho. Sei que ele que te convenceu a vir falar comigo.
-É. Tão espalhando boatos de algo entre você e Malfoy, aí ele tá irado!
-Ha! Essa é boa! Quem ia querer alguma coisa com aquela doninha?
-Eu não sei, mas convenhamos que você anda meio inexplicável desde que terminou com Harry. De qualquer forma, eles tão treinando quadribol, então nos vemos lá.
-Okay! – Fez seu possível para mostrar um sorriso. Mesmo que a outra não o comprasse, era bom notarem que ela tava bem.

Ver a silhueta da amiga sumir em direção ao campo a fez pensar que em breve seria ela quem sumiria. Nas condições normais estaria furiosa com os tais boatos. Estaria curiosa com o presente de Malfoy. Estaria preocupada com tanto...

No momento, estava muito bem.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Vamos! Diga a verdade!-a moça chorava descontrolada.

O jovem sentia asco por aquela cena. Pansy gritava muito por causa de algo que ele já tinha explicado. Com quem pensava que estava falando!?

-Não ouse duvidar de um Malfoy, Parkinson – disse o mais calmo possível – Repito pela última vez: a coruja errou.
-O vestido nem é o meu número. Se não era pra Weasley, também não era pra mim.
-Como assim não é!? Especifiquei tudo ao alfaiate. Agora está tudo perdido, deixe-o com a pobretona mesmo; vai ser o único de sua vida.
-Então, você realmente deu o vestido pra ela!-mais berros...
-Ai, eu não to pra baixaria hoje não. – Saiu dali contrariado. Era impressionante como se aborrecia com quem pensava se importar. Pansy era tão perfeita para o que procurava... Mas o escândalo em pleno corredor era demais.

Precisava de um descanso.

Olhou pela janela e de longe viu uma figura inconfundível. Levantava-se de onde estava no meio daquele dia frio. Gina parecia haver desistido da vida, já que nem se importava com uma pneumonia ou coisa assim. Já era fim de tarde, e o tímido sol de inverno ia, aos poucos, dormir.

Não que se preocupasse por sua loucura. Realmente, Minerva McGonagal saíra de seu pé e deu-lhe um pedido de desculpas por escrito. Em outros tempos, pediria a seu pai para interferir e tirar-lhe o cargo por duvidar de um Malfoy. No momento, nem tinha vontade de tanto.

De repente, uma idéia passou-lhe pela cabeça. Era um tanto maluca – era até demais – e seria muito difícil que desse certo, mas por que não tentaria?

Deu um passo em direção à saída do castelo, mas hesitou logo. Não seria impulsivo em demasia? Contudo lhe parecia um castigo tão perfeito para Parkinson! Talvez até ajudasse com a imagem da família... Afinal, estaria muito bem acompanhado, segundo o pensamento do novo Ministério.

Todavia, aquilo lhe parecia tão humilhante.

Inspirou fundo; tanto que lhe deu uma pontada no peito. Ou seria por medo? Não! Era frio, claro. Já era noite! Isso, uma fria noite de inverno...

Caminhou a passos pesados pensando em estratégias.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

A menina ainda tentava se decidir se andaria depressa ou devagar até o campo de Quadribol. Mentir para seus amigos que estava bem era muito difícil! Fazê-los acreditar era tão mais ainda...

“Mas esse é um peso para eu agüentar, já que enfrentarão outro bem pior quando eu não existir mais,” pensou mais um vez. Por que sempre tinha que se dizer isso?

Um dia aquilo a convenceria, né? Naquela hora era tão doloroso ainda... Como fazer para que o sofrimento deles diminuísse? Tinha de haver mais! Talvez se ela aproveitasse o máximo da vida, eles acabassem notando depois que não havia mais nada. Era uma boa, né?

-Ei, ruivinha!-alguém a chamava, ou assim parecia já que até então achava ser a única a se congelar ali fora numa hora daquelas.
-Quem tá aí!? – Já estava escuro demais para ver, e ela, cansada demais para tentar adivinhar.
-Como assim não sabe!? Quem não poderia identificar a minha voz, hein?- A figura foi se aproximando. Usava o casaco de frio mais grosso entre os uniformes, mas seus cabelos não tinham gorro algum, por isso se grudavam à face e o resto caía num desleixo com um certo glamour.

A moça teve uma sensação estranha assim que percebeu quem era. Draco Malfoy, bem na sua frente, com um ar mesquinho usual, mas... Algo incomum o rodeava.

-Que quer? – perguntou, cruzando os braços para se proteger do vento – ou dos calafrios que a presença dele lhe causava.
-Só conversar... Digo, tenho uma proposta!-Dando mais uns passos, deixou que ela visse em seus olhos o brilho de empolgação que piscava lá.
-Hã?
-Vamos ser namorados! Vai ser totalmente perfeito. Sua família é pobre, mas caiu nas boas graças do Ministério. Você vai morrer, mas deve querer experimentar algum conforto antes disso, né? Ha! É tão perfeito... Imagine a cara daquela convencida da Parkinson e do bobo do teu irmão quando souberem. Que acha de irmos a Hogsmeade? Eu te compro roupas novas e a gente, sei lá, faz as coisas que casais gostam de fazer. Hmm, depois de amanhã então! Ah, no dia seguinte tem jogo, eu não tenho que ir parar no meio dos Grifinórios, certo? – Ele fez uma pausa e resmungou umas coisas incompreensíveis. – Já sei! Ia te pedir para irmos com os Sonserinos, mas não to a fim de implorar: ficamos com os Corvinais! Você tem aquela amiguinha estranha que é de lá... É só nos sentarmos com ela – contando que não nos incomode. – Ah, no sábado, pensamos em mais!

Gina sentiu os olhos cinzentos virarem outra cor estranha. Que era aquilo tudo!? Ele ainda esperava algum tipo de resposta para tanta doideira!?

-Hã... Vamos passear por aí? Depois a gente janta e se fala de novo até termos que ir às nossas casas, -ele falou e a observou mais atentamente, -Fala alguma coisa!
-O que te fez pensar que eu concordei com o teu pedido!?
-Quê?
-Você começou a tagarelar e...
-Uau! Você tá ficando tão vermelha.
-E daí!? Tão convencido... Vem com uma proposta e se esquece de perguntar se eu concordo!
-Não quer ficar com os corvinais?
-Eles são os rivais da minha Casa neste jogo! Aliás, eu não quero é ficar com *você*!

Os olhos que a encarava foram ficando bem pequeninos com o susto. Ele piscou por uns segundos e respirou pesado.

-Tenho que ir ver o fim do treino. Marquei com a Hermione. Por que to te dando satisfação!? Tchau!- A jovem desviou-se do obstáculo de mais de 1,70 metros e se preparava para acertar as coordenadas até seu destino. Estava atordoada por causa daquela maluquice.

Como Draco Malfoy foi criar uma proposta tão inútil!? Claro, quem não gostaria de ter um namorado rico com todos os luxos a que se tem direito? Os diamantes ainda eram os melhores amigos de uma garota... Porém, ela o desprezava!

Se fosse do tipo que pensasse só no que o outro tinha em Gringotes, nunca teria largado Harry! Era capaz de seu ex ser mais rico.

“Miserável convencido! Acha que só porque ele quer, ele o terá. Ridículo,” pensou, com vontade de gritar.

Todavia, essa era a última lembrança que possuía antes de abrir seus olhos e notar que seus ombros estavam sendo segurados com muita força. Seus lábios, que, havia pouco, tremiam de frio, queimavam mais do que o machucado deixado por um balaço.

Tão quente... Suas bochechas também pelavam.

-E então!?- O outro quebrara o silêncio. Até aí, parecia uma cena de filem romântico em que o mundo parava com um beijo. – Agora tenta se imaginar morrendo sem saber que esse paraíso existia bem aqui?

Gina o encarou por uns segundos. Não podia deixar de ser sincera para si própria: aquele parece ter sido um belo beijo. Mesmo que sua mente tivesse dado branco, a sensação era tão interessante! Formigava por todo o seu corpo... E aquelas mãos quentes soltando de leve seu ombro. Já até sentia saudade.

-Okay, vamos ou não a Hogsmeade?-insistiu Draco.
-Nem pensar, Malfoy!-respondeu com a voz mais firme que pôde arranjar. Aquela presunção toda lhe ajudara bastante no intento. Levantou a mão direita e deixou o impacto atingir em cheio o rosto cuidadosamente tratado do moço.

Fez força para correr, mas sentia tanto frio que parecia se virar em câmera lenta. Na verdade, as coisas pareciam se virar e ela não se mexer nem um milímetro. Quando sentiu o movimento de sua parte, enfim, não era para lado algum que ia.

Caía livremente no que seria um chão duro e gelado, apesar de nem ter sentido impacto qualquer. Tudo tinha se apagado; somente um vazio gélido penetrava por todo o seu ser.

Continuará...

Anita, 05/03/2006

Notas da Autora:

Olá!! O que estão achando desta fic nova? A idéia me surgiu de um sonho, ma seu ainda a estou aprimorando. Qualquer comentário será bem-vindo, tá!? É me deixarem uma review ou, se for o caso, mandaram para o meu e-mail [email protected] também visitem meu site!! http://olhoazul.here.ws

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.