Jogos do Destino



Cap.6 – Jogos do Destino

- Ninfadora, querida?

- Ninfadora? – a garota de cabelos laranja cítrico olhou para os lados, fazendo-se de desentendida – Acho que não tem ninguém com esse nome por aqui!

- Haha, muito engraçadinha. Preciso falar com você.

- Eu sou inocente, eu juro! – disse estendendo as mãos em um gesto teatral de rendição.

- Tonks! É sério, pode parar de brincar?

- Desculpe, desculpe – riu ela – Pode falar, mãe. Pela sua cara não deve ser coisa boa, né?

- Bem, mais ou menos – começou Andrômeda, hesitante – Mas... seu pai tem uma viagem de negócios. Sabe, é meio urgente. Embarcamos esta noite.

- E qual é o problema... Desculpe? Você disse “embarcamos”? – surpreendeu-se ela.

- É, eu terei que acompanha-lo. Você sabe que ele não se vira sozinho. É bem capaz de aparecer na reunião usando bermudas!

- Hmmm, certo. Quer dizer, por mim tá beleza, mas...

- Mas será que consegue ficar em casa sozinha? Voltamos no domingo de manhã, e sei que não são nem dois dias, mas...

- Mãe, fica tranqüila! Eu sei me cuidar.

A mãe olhou para ela e riu. Certo. Bem, Tonks não era exatamente a garota que “sabia se cuidar”. Ela não passava um dia sem quebrar alguma coisa, e ainda não podia fazer magia sozinha, em casa. A casa estaria em ruínas quando ela voltasse. Provavelmente pegando fogo ou algo do tipo. Mas a filha, parecendo ou não, já tinha dezesseis anos e seria apenas um dia e meio sozinha. Daria a ela esse voto de confiança. E depois, se não desse certo... bem, um castigo pelo resto da vida deveria ser suficiente.

- Muito bem – disse em tom de encerrar conversa – Mas trate de se cuidar, viu? Nada de chamar estranhos para essa casa, e isso envolve qualquer um que eu não conheça, ouviu bem? E sem festas. Acompanhe seus amigos até a estação amanhã, e volte para casa. Ou pelo menos não fique vagando por toda Londres sozinha, por que sei que é bem capaz de se perder.

- Mãe! Eu vou ficar bem...

- E, por Merlim, Ninfadora, nada de quebrar a casa inteira em um dia, certo? Tome cuidado com meus vasos, com as xícaras, a louça e tudo o mais. E vou deixar algum dinheiro trouxa para pedir comida para entrega, se ligar o fogão a casa pode pegar fogo.

- Mãe! Eu não sou tão ruim assim!

- Só estou sendo realista, filha – disse a mãe, mas com um sorriso no rosto – Além do mais, eu me preocupo com você. Mas tudo bem, vai dar tudo certo. Afinal você já tem dezesseis anos, não é? Eu confio em você.

- Beleza.

A mãe saiu da sala tranquilamente e Tonks sorriu. A casa seria dela por um dia. E ela sabia exatamente o que fazer. Embora isso significasse que, talvez, a mãe não devesse confiar tanto nela.

---

Remus conteve um suspiro. Então era isso. Amigos, fora o que dissera. Ele já devia esperar por isso. Mas, depois de tudo o que acontecera era difícil acreditar que tudo acabaria assim. Com aquela conversa. Ele não conseguia vê-los mais como amigos, principalmente lembrando-se daquela noite.

Embora uma parte dele tentasse desesperadamente fugir das lembranças daquela fatídica noite, uma outra parte, ainda que bem menor, preferia manter-se mergulhada nelas. No tempo em que tudo parecera tão simples, tão certo. E mais, naquele tempo, ela era sua. Ou seria otimismo demais de sua parte tê-la como “sua”? Afinal, ele nunca soube como tudo poderia ter sido depois daquela noite. E também não era um legilimente bom o suficiente, ainda mais na época, para ter certeza sobre o que se passava em seu interior. Possivelmente ela nunca houvesse sido sua.

Levantou os olhos e quase se assustou ao notar sua presença, sentada ali diante dele, compenetrada em um extenso rolo de pergaminho. Ela percebeu seus olhos cravados nela e também ergueu o rosto. Seus olhos se encontraram e se mantiveram fixos por alguns segundos. Alguns segundos a mais do que seria o normal. Talvez aquilo quisesse dizer alguma coisa. Por fim ela sorriu e sacudiu a cabeça levemente, tirando os cabelos – hoje negros e crespos – do rosto.

- Algum problema?

- Ahn... – gaguejou ele – Não. Não, tudo bem. Eu só não reparei quando você entrou. Estava um pouco...

- Você estava viajando, Remus – riu ela – Totalmente fora de órbita. Mas e aí – seus olhos brilharam de uma forma que lhe lembrou muito Sirius, e ela inclinou o corpo para frente em sua direção, com um riso malicioso – é uma garota?

Ele tossiu discretamente e tentou não encara-la, desviando os olhos para o chão, ou para o tampo da mesa. É claro que era uma garota. Mas como seria possível explicar que a garota era nada mais nada menos que... ela?

- Hmm, não, bem, não exatamente – disse nervoso – É mais uma, hmm, uma amiga. Nada demais.

- Acho que temos alguém apaixonado, não? – riu ela – Logo, logo teremos casamento!

- É claro que não – ralhou ele, como que para uma criança mal criada – Pense bem, Ninfadora, eu nunca poderia... – sua voz morreu e ele de repente lhe lançou um olhar aflito.

Tonks o encarou desconfiada e curiosa. O que estava acontecendo? O que ele quisera dizer com aquilo. Ele nunca poderia... o quê? Pensando bem, nunca soubera muito sobre ele. Ele poderia ter algum segredo? Algo realmente importante, que interferisse de verdade em sua vida? Agora sua cabeça estava cheia de idéias da s mais absurdas. Logo ela, a pessoa mais curiosa do mundo. bem, ele começara, agora teria que ir até o fim.

- Nunca poderia...? – insistiu ela

- Bom, de qualquer jeito não daria certo – falou na tentativa de mudar de assunto – Sabe, eu... me casar.

- E por que não? Você ainda é jovem, Remus. É só encontrar alguém, e, bem, por que não?

- Há... há coisas sobre mim que você não sabe, Ninfadora.

- Saberia se você me contasse – disse começando a se irritar – E não me chame de Ninfadora! Qual o problema? Não sou boa o bastante para guardar seus segredos? Não sou confiável?

- Por favor, Ninfadora, não se faça de vítima. As coisas já estão bem ruins sem você...

- Por que estão ruins? - disse, o tom de voz aumentando – Vamos lá, Remus, o que há de tão terrível assim em você? Desde que te conheci você sempre foi assim, você nunca me falou sobre você! Bem, acho que temos história suficiente juntos para que eu...

- Eu sou, eu não sou... Tonks, eu não sou como... eu não sou normal – murmurou ele.

Ela estreitou os olhos. Notou que, em algum instante, mesmo não se lembrando, pusera-se de pé.

- Que conversa é essa agora? Como assim, não é normal?

- Eu... Tonks... – ele baixou a voz e olhou para ela, parecendo teme-la – Eu sou um lobisomem.

---

- Você tem certeza de que essa é uma boa idéia? – perguntou Hanna parecendo nervosa.

- Absoluta.

- Mas Tonks...

- O cara tem o dobro da sua idade! – interpôs Carlinhos – Tonks, você não sabe nada sobre ele. Nada! Só o conhece há um mês e tiveram, o que? Quatro encontros.

- Três – murmurou sentindo-se repentinamente constrangida – Tivemos três encontros, sem contar o dia em que nos conhecemos. Fomos dançar sábado passado, lembra? Você e Hanna ficaram vendo filmes com meu pai...

- Certo. Mas então, pense um pouco, Tonks! Ele só está aqui para arranjar um emprego! Vai embora daqui há pouco e você nunca mais vai vê-lo! Não vale a pena...

- Carlinhos – disse, e percebeu que havia lágrimas tremelicando em seus olhos – Carlinhos, por favor. Eu nunca quis tanto uma coisa na vida. Eu o amo, de verdade. E eu... eu estou pronta para isso, sei que estou.

Ele olhou para ele, surpreso e assustado. Só vira Tonks chorar uma vez em todos os anos desde que haviam se conhecido, e fora por que um Sonserino lhe lançara uma azaração durante o jogo de quadribol e fizera Grifinória perder o campeonato, além de deixa-la com manchas amarelas e doloridas por todo o corpo por semanas. Ela estava no segundo ano! E, mesmo assim, haviam sido apenas umas poucas lágrimas.

- Mas, Tonks...

- Cala a boca, Carlinhos – interrompeu Hanna, abraçando a amiga – Tudo bem. Nós temos que ir, e sabemos que vai fazer o que achar certo. Estaremos torcendo por você. Seja lá o que decidir.

- Eu só acho que...

- CARLINHOS!

- Certo, certo – o ruivo fechou a cara, parecendo contrariado – Só estou pensando no bem dela.

- Ela pode decidir sozinha o que é ou não bom para ela, tá legal?

O apito do trem soou alto na plataforma, e a amiga intensificou o abraço. Carlinhos olhou ansioso para o relógio.

- Temos que ir.

- Bem – falou Hanna – Apenas... boa sorte. Estaremos torcendo por você.

Um homem de uniforme chamava os últimos passageiros a embarcar.

- Temos que ir.

- ... E lembre-se de que nós vamos estar sempre do seu lado...

O trem começou a se mover lentamente.

- ... não importa o que aconteça.

- Tudo bem. Vou lembrar. Tchauzinho. É melhor vocês irem.

- Tchau – disse a amiga correndo e pulando no trem que agora começava a nadar nos trilhos.

- E, Carlinhos – ela chamou o amigo, que começava a se virar para a enorme locomotiva – vejo vocês em Hogwarts. Espero que já tenham... se acertado até lá. – ela indicou a amiga com a cabeça, e viu as orelhas do rapaz ficarem vermelhas. Então ele já estava pulando para o trem e abanando para ela da janela de um compartimento, junto com Hanna. Ela quis lhes gritar um último até logo, mas, no instante seguinte, o trem ganhou velocidade, e virou a curva.

*

N/A: Capítulo extremamente curto eu sei, e demorou um século. Mas, para quem não sabe - suponho que isso inclua todos - acabo de ganhar um irmãozinho, então passei a páscoa ocupada mimando ele, e não tive tempo de atualizar a fic ^_^ Mas espero que tenham gostado. Bjs.

P.S. Não deu pra responder coments dessa vez, mas no próximo capítulo eu respondo!




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