Preocupações e Atribulações



Capítulo 14

Preocupações e Atribulações

Os dias em Magfia continuavam calmos e serenos principalmente para os alunos mais novos que já estavam se acostumando com o ritmo do colégio, o volume de lições era alto, porém suportável e os professores eram ótimos, por mais que houvessem excessões quanto á popularidade, como o professor Heródoto. Os funcionários também muito eficientes, ficalizavam e ajudavam em tudo com excessão talvez da inspetora Mafalda Liliane que sempre buscava um meio de incriminar os alunos por alguma coisa. Os corredores do colegio agora estavam ficando cada vez mais apinhados nos dias que se passavam, pois o frio chegara e com ele os passeios pelos amplos gramados cessaram fazendo com que os alunos enchessem as salas comunais de chochicos, conversas e jogos. Os quatro amigos faziam o mesmo numa tarde de Maio na sala comunal da Anangangala, onde Pedro e Robson jogavam xadrez de bruxo, Susana lia um livro e Cláudia insistia sem parar em contar as mais novas fofocas do colégio para a amiga que respondia monossilabicamente.
- Xeque-Mate! - disse Pedro encurralando o rei inimigo que tremia segurando a coroa na cabeça.
- Não! - disse Robson colocando a mão na cabeça.
- Como não Rob? Você perdeu. Minhas duas torres fecharam a coluna, não tem como você sair. - disse Pedro apontando as peças no tabuleiro.
- Não é isso. É a dor de cabeça, ela não parou desde aquele maldito chapéu. - disse Robson com raiva e dor.
- Eu já disse pra você ir na Ala Hospitalar, mas minha palavra não vale nada aqui mesmo, né? - disse Susana sem retirar os olhos do livro.
- Eu comentei com a Paula, lá do segundo ano e ela disse que tem um chá que resolve isso em um segundo. - disse Cláudia falando de uma de suas amigas.
- Quem pediu pra você falar com outras meninas sobre o que aconteceu com o Robson? - perguntou sério Pedro.
- Você sempre ignorante. É que a vó dela é enfermeira e sabe como resolver isso, mas minha palavra também não vale nada aqui. - disse a menina amuada e começou a caminhar pela sala.
- Deixa que eu me resolvo. Vamos começar outra. - disse o garoto impaciente. Cláudia como não conseguia assunto com a amiga começou a prestar atenção no jogo dos garotos por detrás de Robson. De repente ela reparou que na nuca dele havia uma marca estranha que serpeava uma vara, os dois desenhados como que tatuagem.
- Rob, você fez aquelas tatuagens que todo mundo anda falando? - disse a garota animadamente.
- Não, porque? - disse o garoto puxando a gola da camisa para cima.
- Deixa eu ver. É que tem umas tão legais, a Manu do 3º Ano da Anangangala fez uma na perna, é tão linda. - e enquanto falava lutava contra o garoto que já havia parado de jogar, pois derrubara as peças.
- Menina, pára da encher o saco e vai arrumar o que fazer. - disse Pedro secamente rearrumando o jogo.
- Desculpa atrapalhar o jogo Pedro. Mas é que a tatuagem dele era tão legal, parecia até uma cobra. - disse a menina sentando-se ao lado de Susana.
- Mas ele já não disse que não... - ia dizer Pedro quando Susana já havia surpreendido Robson e viu a marca bem no centro da nuca do garoto.
- O que é isso Pedro? Se não é uma tatuagem, o que é? - disse olhando para o amigo.
- Nada. Nada gente, apareceu aí, e nem é tão grande. - disse impaciente o garoto.
- Mas cara, não é normal aparecer marcas no corpo. Agora até eu falo pra você, vai na ala Hospitalar ver isso. - disse Pedro preocupado.
- Eu já disse que não é nada. Agora também não vou mais jogar. Tchau. - disse para os outros, que tentaram seguir Robson, mas foram impedidos por Susana que disse para deixá-lo a sós. Ela e ninguém entendia o que Robson estava sofrendo nos últimos tempos desde que chegara em Magfia. Suas noites não estavam sendo calmas, todas as noites pesadelos horrendos, caveiras, mortes, cemitério, chuva, frio, pessoas gritando e outras cantando, sangue e alguém lhe fazendo a marca na nuca. Isso começara depois do Reveillon, depois do olhar sanguinário que Rodoberto dirigira a ele e que ninguém percebera. Tudo só aumentara desde então, principalmente depois da detenção que o Heródoto lhe aplicara e que fizera as dores de cabeça surgir, as quais ora eram muito agudas, ora eram fracas, mas ininterruptas. Uma das poucas distrações era conversar com os amigos e até isso fora-lhe privado por um tempo na segunda detenção que recebera. Ler também melhorava essa condição no início, porém depois nem as histórias de Merlin no livro que seu pai lhe dera ajudavam.
A noite continuou com as preocupações e mais um pesadelo lhe acometeu. Estava ele em um amplo campo de noite onde legiões de pessoas vinham em sua direção e no alto seres alados incendiavam a noite. Ao seu redor corpos ensangüentados estavam se decompondo e na sua mão havia uma espada enorme, na cabeça um elmo de prata e na cintura estava pendurada uma corneta. Parecia a visão de uma batalha, entretanto parecia perdida, pois apenas ele lutaria contra todos os outros, não só ele talvez, pois um senhor muito velho e maltrapilho se sentava a sua frente, com roupas rotas e amassadas, entretanto nos olhos ainda havia esperança e na boca uma voz que dizia “É você. Só pode ser você...” Os exércitos inimigos se aproximavam e... O pesadelo acabava e passava para outro em que ele estava em cima de uma mesa redonda preso por cordas e na tampa fria da mesa havia uma inscrição pentagonal, archotes iluminavam a noite mesmo em chuva e algumas pessoas cantavam, na sua nuca novamente a quente sensação do ferro em brasa lhe marcava mais uma vez e um grito insuportável saía de sua garganta fazendo-lhe acordar novamente ainda com o som de altos risos no seu ouvido e a voz fria que dizia: “É você. Só pode ser você...”
O que só podia ser ele nunca podia ser descoberto, pois ele acordava por mais que tentasse se manter no sono. Os pesadelos variavam de vez em quando, mas sempre tinha um enredo parecido e sempre a mesma frase sem nexo: “É você. Só pode ser você...”. O dia seguinte amanheceu com um alvoroço na entrada do Salão Principal. Havia um aviso afixado na porta do salão:
“AOS ALUNOS DE TODAS AS SÉRIES. MAGFIA INFORMA!
ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA A SELEÇÃO DE NOVOS INTEGRANTES DOS TIMES DO TORNEIO DE QUADRIBOL. PARA SE INSCREVER BASTA PROCURAR O DIRETOR DE SUA RESPECTIVA CASA. A SELEÇÃO OCORRERÁ NA ÚLTIMA SEMANA DO MÊS.
ATENCIOSAMENTE.
Á DIREÇÃO.”
Os alunos animados foram dispersando aos poucos e Robson encontrou os outros três amigos e eles se foram para a mesa da Phortgrum, visto que era possível geralmente participar de todas as mesas.
- Então, vocês vão participar das inscrições para o Quadribol? - perguntou animada Cláudia.
- Eu vou. Nunca joguei, mas deve ser ótimo.- respondeu Pedro com interesse. - E você Rob, vai participar?
- Eu acho que sim, só espero que nós possamos treinar. - disse Robson pensativo. - Já a Susana acho que não vai participar, né? - disse para a garota que lia o jornal “A Voz do Bruxo”.
- Ãh? Ah! Eu não, quadribol é um esporte muito violento e perigoso, ainda mais para meninas. Você nem devia participar Cláudia. Quadribol chega a ser mais perigoso do que futebol. - analisou a garota sem perceber que os outros não entendiam muito bem sobre futebol.
- Ah, quadribol é muito bom. Sempre gostei desde pequena. Lá em casa tem até discussão sobre quadribol. - disse a garota enquanto os outros tomavam o café da manhã.
- O que você vê tanto nesse jornal Susana. - disse Pedro curioso.
- Vocês não estão sabendo? Tá um clima muito estranho lá fora, um monte de gente sumindo, a fuga dos bruxos da Garganta do Diabo, e essa propaganda racista. Nem o jornal é imparcial mais. - disse a garota espantada.
- Que propaganda racista é essa Susana? - perguntou Cláudia.
- Eles dizem que há duas partes na comunidade bruxa, a parte boa e a ruim. Isso não pode ser bom. - nesse momento a professora Gadelha passou com uma lista anotando os alunos interessados em ter aula de voô para se preparar para a seleção. Robson, Pedro e Cláudia se inscreveram, Susana insistiu em recusar, disse que tinha muitas tarefas, como sempre e realmente tinha. Nas tardes de que se seguiram ela voltou a freqüentar sem parar a biblioteca em busca da razão da marca no pescoço de Robson, totalmente sem sucesso. Enquanto isso os outros três estavam extremamente ansiosos com o início dos treinos de quadribol que se iniciariam na sexta-feira próxima, entretanto entre eles e o dia dos treinos ainda havia uma semana inteira de aulas e problemas como sempre. E nessa semana a curiosa Cláudia talvez tenha ouvido e falado mais do que devia com sua imensa boca. É que justamente quando ela passava por um dos imensos corredores de uma das cavernas a inspetora Mafalda Liliane conversava secretamente com alguém e ela ouvira parte da conversa, a outra percebera o que ela estava fazendo e pegara-a em flagrante.
- Mas eu estou ficando mole com esses alunos. - disse vermelha de raiva, com a órbita vazada quase visível sob o olho de vidro. - Acho que alguém deve ter falado demais sobre o ser humano ter dois ouvidos e uma boca, mas eu vou lhe ensinar o sentido devido disso.
- Não, eu não ouvi nada, juro. - disse a garota suplicante sendo agarrada pela gola da roupa e arrastada pelos corredores de levavam a sala da cruel inspetora. Lá estavam pendurados objetos que agradariam os melhores torturadores do mundo. Haviam maças, porretes, punhais, cordas e outros objetos dos mais variáveis tipos que foram amedrontando a garota enquanto a inspetora lhe prendia á cadeira e começava o interrogatório a frente de uma única vela.
- O que a senhorita ouviu? - disse sem sorriso nos dentes a inquiridora.
- Nada.
- Mentira! Conte a verdade e tudo será mais fácil. - disse sem meios termos Mafalda.
- Não ouvi nada. - disse a garota tentando se acalmar.
- Vou lhe dar mais uma chance. - disse com frieza o buldogue de Magfia.
- EU NÃO OUVI NADA. - disse a garota em tom mais alto e reparara em um sinal estranho na sala acima da cabeça da inspetora, havia um pentagrama prateado que lhe lembrara algo que poderia salvá-la. - Espere, eu ouvi sim, senhora. - disse rapidamente.
- Ãh? Ah! A senhorita ouviu o que? - disse a inspetora apreensiva.
- Odej. Sim, odej, foi isso que eu ouvi. - disse a garota com um breve sorriso.
- Como? - disse empalidecendo a enorme Mafalda.
- ODEJ. - disse a garota confiante.
- RETIRE-SE DAQUI. NÃO SEI COMO... VOCÊ NÃO PODIA... SAIA! SAIA! SAIA JÁ DAQUI E NÃO FALE NADA DISSO PARA NINGUÉM, ENTENDEU? - disse furiosa e com um extremo medo a inspetora e a garota não pensou duas vezes e saiu correndo da sala de tortura. Mesmo que tivesse escapado da sala dela era estranho o que havia acontecido. A Susana precisava saber disso, pensou a garota. Mas parecia que algo a impedia de conversar com a amiga, pois a semana estava cheia de deveres e atividades das mais complexas. O Heródoto não dera mais sinais de amizade desde o salvamento de Robson, aliás parecia que sua ojeriza pelos quatro amigos havia crescido e isso não era a única coisa a crescer nele. Sua corcunda parecia cada vez maior e mais nojenta a cada dia que passava e haviam comentários dos mais variados rolando por Magfia sobre o que poderia ser aquilo, Cláudia, é claro, sabia cada um deles detalhadamente, o que ela mais gostava era que ele criava um verme gigante espacial que estava prestes a abduzir os alunos com seu extremo mau hálito. Contudo, por mais que falassem mal dele sua matéria era extremamente complicada e exigia perícia. Numa dessas aulas ele pediu aos alunos da Photrgtum e da Gainea que fizessem um relatório detalhado sobre as influências das culturas Afro-ameríndias na criação da Magia Sincrética. Ela um relatório complexo e interminável sobre indíos e negros que contribuíram para a criação de feitiços unificados que ajudaram em grande parte na defesa deles contra os portugueses e espanhóis. Além disso ele queria um projeto para o Recesso que envolvesse sua matéria e ele deveria ser feito em grupo, no caso de Robson foram ele, Susana, um outro garoto da Gainea e uma menina da Phortgrum, entretanto não seria muito fácil começar e concluir o trabalho como os quatro logo foram percebendo.
Outra coisa que foi se reparando é que o casal Gadelha e Wilson pareciam dispostos a transformar o dia em trinta horas, pois a quantidade de atividades que os dois passavam eram insuperáveis, e Robson tinha uma leve impressão de que os dois tinham um desapreço maior pela Gainea, ele desconfiava seriamente que era porque ele era seu filho. Por mais atrapalhado que fosse, seu pai era hábil no lidar com as fórmulas alquímicas e com as poções, tendo ensinado a eles diversas delas com perfeição.
Além da quantidade insuportável de atividades Cláudia não conseguira se comunicar durante a semana com Susana devido aos seus sumiços repentinos, a maioria deles é claro relacionados á biblioteca, mesmo assim havia momentos em que ela simplesmente evaporava. Por fim havia um terceiro e último motivo que vinha atormentando três pessoas do grupo, a chegada dos treinos. A princípio voar parecia uma tarefa fácil, visto que qualquer um podia voar, mas aos poucos foi se percebendo que voar não era tão simples, pois alguns alunos caiam e tinham quedas feias, outros mal conseguiam tirar os pés do chão devido ao medo e outros demonstravam um dom excepcional para o voô. Para o espanto de Robson e dos outros dois, Miguel era um desses alunos. Seus cabelos vermelhos pareciam um rastro de fogo no ar devido a extrema agilidade com que ele se movimentava na vassoura, e ainda sabia regras, lances, conhecia jogadores, times e assistira no mínimo a uns dois campeonatos mundiais, o suficiente para dizer que ele sabia um bocado do jogo. Finalmente chegara a vez dos três amigos na enorme fila que fora feita pelo monitor Adão Elifáz, que era baixinho, mas competente e hábil com a vassoura. Pedro fora bem no treino e aprendeu rápido a se movimentar, havia alegria na forma com que ele direcionava a haste de mogno no ar. Cláudia por sua vez fora melhor ainda, demonstrava conhecimento por ter visto provavelmente a uma certa quantidade de jogos, talvez não tantos quanto o astro de sua casa, o Miguel, mas uma quantidade suficiente para agradar ao pequeno treinador árabe. Já Robson por sua vez levantou voô com um certo receio depois de ver tantas quedas, algumas fraturas e outros acidentes, porém ele era dotado de um vigor e um sentido aventuresco em tudo que fazia que não lhe intimidava, entretanto ele superou todas as expectativas que recaiam sobre ele e conseguiu em um dos testes capturar oito vezes uma esfera que era lançada pelo pequeno Elifáz, todos apaudiram, com excessão do séquito de Miguel. No fim do treino sobraram um terço do grupo inicial e o treinador dava sinais de que o grupo diminuíria ainda mais, além disso fez bastante elogios á Miguel que segundo ele estava a um passo da perfeição.
Isso não afetava muito Robson. Mesmo com algumas afrontas de Heródoto e as derrotas para Miguel seus dias tinham se tornado melhores, principalmente agora com os treinos de quadribol, ele iria batalhar para conseguir a vaga no time da casa, era uma simples questão de tempo. Entretanto das noites não poderia dizer o mesmo. O problema era que agora além dos pesadelos que o atormentavam no solo tinha perturbações voadoras, em que ele montado em algum monstro alado voava em direção a uma enorme torre envolta em chamas e fumaça e um enorme abismo onde ele caía infinitamente com o som da voz em seus ouvidos “É você. Só pode ser você...” Além dos sonhos haviam as dores que lhe acompanhavam em qualquer lugar que ele ia, e que de certa forma ele já estava se acostumando, mas mesmo assim de vez enquanto uma dor mais aguda lhe deixava mal e era nesses momentos que Susana vinha com a mesma cantilena de sempre que ele deveria ir até a ala hospitalar e ver o que era isso, mas aos poucos até mesmo ela abandonou isso, pois ela também tinha com o que se preocupar.
Mesmo sem participar dos treinos, que aliás estavam sendo cada vez mais produtivos para os outros três, que foram pré-selecionados para a última fase, ela tinha os deveres do colégio e as pesquisas da marca que continuavam terrivelmente sem sucesso algum, pois nenhum livro do colégio mostrava-a, e muito menos comentava sobre semelhante marca, o que estava se tornando uma frustração e um desafio para a garota que cada vez mais se dedicava a isso.
Para Robson a distração dos treinos era tão produtiva que ele se sentia até mais aliviado durante o dia, entretanto o sono também era mais instenso devido ao cansaço e seu rendimento nas matérias diminuíra, tanto que ao fim de uma das aulas a professora Dagoberta o chamara de canto e conversara com ele.
- Robson, meu querido. Você é um ótimo aluno, mas não sei que tem acontecido com você nas últimas semanas que não tem demonstrado a mesma competência na matéria, se você continuar assim a situação vai se tornar preocupante. Tome cuidado. - disse a professora em tom sério para o garoto. E as preocupações do sono do garoto iam além das matérias, pois ele começou a ter ataques de sonambulismo durante o dia enquanto tinha seus pesadelos. O pior deles foi numa tarde que ele caminhara oculto pelos corredores e salões de Magfia, e certamente era estranho ninguém vê-lo, ele foi descendo as escadas até o quarto andar subterrâneo onde poucos alunos andavam pois não haviam muitas salas, somente corredores extensos e muitas portas que levava-se não sabia onde. Robson via cenas incríveis e terríveis sincronicamente, eram luzes e vapores das mais variadas formas. Sentia ventos e caminhava na direção que eles lhe indicavam, até que em um momento se abria um abismo diante dele e ele se jogaria. Alguém assistia essa cena e o garoto estava prestes a entrar em uma porta que não devia de forma que a pessoa gritou.
- Dex Oniro! - e Robson saiu do estado em que estava caindo ao chão e acordando aos poucos. - Robson! Robson! Acorde!
- Professor Juscelino, o que o senhor está fazendo aqui? - disse o garoto sonolento ainda.
- Minha sala é aqui perto, esqueceu Robson? A pergunta certa é o que você faz aqui dormindo? - perguntou o professor seriamente.
- Não sei. Isso tem me acontecido faz já certo tempo, mas não conte a ninguém, por favor. Eu vou resolver isso.
- Ah, Robson, você deveria procurar a ala hospitalar. Sonambulismo não é um bom sinal em magia. Geralmente isso acontece quando... Deixe pra lá, não há de ser nada, mas tome mais cuidado e procure uma poção chamada Inhipn, ela certamente vai te ajudar. Vou ficar de olho em você e tome cuidado. - disse o professor com cara de preocupado.
- Brigado, professor. Até mais. - disse Robson caminhando rapidamente até o salão comunal de sua casa. Ele não contava isso para ninguém e por sorte sua ninguém via isso, pois geralmente estava sozinho, ou quando não assim estava em companhia de Pedro que além de jogar xadrez de bruxo com Robson, percorria as cavernas com ele e faziam as atividades juntos. Porém para Pedro a melhor atividade do dia era perturbar Cláudia, fosse pelo cabelo, pela sarda, pelo modo como ela se vestia, com quem andava, como voava, como comia e ela se irritava com tal facilidade que ele não parava de persistir nisso. E foi num desses dias de discussão que ele pegou pesado com ela.
- Ah, cala a boca menina. - disse Pedro com raiva.
- Ah, cala a boca? Agora só falta querer falar da minha boca, ela deve ser podre, fedida, feia, horrível, cheia de germes e provavelmente eu devo ter um zilhão de cáries, a quantidade de obturações que eu tenho que fazer eu não vou nem imaginar, não é isso que você ia falar? - disse a garota com os olhos lacrimejantes.
- Se você quer saber é bem isso mesmo. - disse o garoto fazendo um gesto de cheiro ruim com a mão na frente da boca. A garota saiu correndo e novamente teve no seu caminho a enorme Mafalda Liliane que estava em mais uma discussão, mas dessa vez mais audível e perceptível quem era alvo de suas críticas.
- Eu sei o que você está fazendo com o garoto. - disse a mulher de voz grave. - Mas isso não vai ficar assim. - Ela ouve um barulho do sapato de Cláudia e corre atrás da garota, que dispara pela caverna e vê como única saída uma porta do mesmo quarto andar subterrâneo que ela percorria. Ela se viu numa sala em que um homem de preto encapuzado caminhou lentamente ao seu encontro com algo na mão, mas percebeu uma saída lateral e percorreu por ela, subindo vários lances de escadas, caiu e se machucou, mas finalmente chegou numa saída próxima á biblioteca onde procurou Susana e contou-lhe tudo que aconteceu. A outra lhe acalmou mesmo que preocupada e curiosa com o que a inspetora queria dizer, disse que deviam pensar e investigar antes de tomar providências. Sentadas as duas começaram a raciocinar.
Entrementes Robson que estava com cada vez mais sono durante o dia, novamente dormia em seu quarto na Gainea em uma tarde fria. Seu sono profundo lhe revelava novamente estranhos pesadelos e terríveis lugares com os mais diversos tipos de atrocidades, de repente ele começou a caminhar como sonânbulo pelos corredores da casa, mesmo assim ninguém lhe viu e ele finalmente caiu em sono profundo novamente no meio da sala comunal para acordar somente horas depois com as pontadas lhe matando de dor.
Cláudia saiu mais calma da biblioteca, e mal sabia ela que ao sair naquela hora seria a primeira a ver uma novidade que lhe tiraria os outros pensamentos da cabeça por um bom tempo e ainda arrancaria muitos risos de Pedro por um bom período. Havia um espelho na entrada do Saguão Principal, onde havia uma inscrição em letras grandes e rebuscadas que dizia: “Para a mais Bela...”

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