O Covarde e o Protegido



Capítulo 13

O Covarde e o Protegido

Os três contaram cada uma das coisas que tinham acontecido durante essa semana em que o diretor não estivera presente. A visita á floresta, o monstro na floresta, o Velho Tronco Homem, as detenções, principalmente a de Robson que era cruel e criminosa. As pesquisas de Susana, as descobertas e finalmente a libertação do chapéu. Nesse ponto Susana fez um relato detalhado do que havia descoberto sobre a lei proibitiva dos artefatos e o quanto o Diretor da Gainea havia ferido as leis internacionais, parou por um momento e pediu uma punição do diretor.
- Acabaram? - disse o diretor calmamente. - Compreendo a raiva de vocês quanto ao professor Heródoto Wenceslau e entendam ele teve seus motivos.
- Mas e quanto ás leis senhor? - disse Susana sem compreender.
- Minha querida Susana eu mesmo criei diversas leis internacionais e sei que á rigor essa lei é invalidada por outra que diz que “no cargo em exercício por profissional que preste serviço é possível que a punição a um subalterno seja feita com algum artefato considerado por lei anterior”, sendo assim minha cara, a lei não o impedia de fazer isso. - disse o diretor seriamente.
- Mas... - disse Susana.
- Espere Susana. Contudo, a ética e a moral profissional e estudantil não lhe davam o direito de um castigo desse porte, que poderia ter causado uma lesão irremediável no Robson. Sendo assim como vocês viram eu conversei com o professor de vocês e ele se explicou de forma que eu ouvi e acatei os motivos dele, os quais eu não vou revelar o teor. O que basta saber a vocês é que eu não demitirei o professor de vocês, mas estejam certos de que ele pagará a pena por ter feito isso de forma que eu não quero ver agressões muito menos maltratar de qualquer uma das partes.
- Mas... - disse Pedro.
- Sem mas Pedro. O que passou, passou. Relevem e fiquem com a certeza de que tal evento não vai ocorrer novamente.- disse o diretor sem dar espaço a novas palavras dos alunos. - Agora eu gostaria de falar com o principal envolvido nesse caso, ele que não disse nada até agora. Vocês podem esperar por favor o amigo de vocês ali fora enquanto eu converso em particular com ele? - disse o diretor educadamente e os outros saíram da sala.
- Professor, o senhor não acha que devia ter demitido o Heródoto? - disse Robson insistindo no tema.
- Primeiro, chame-o de professor Robson, e eu já dei esse assunto por terminado, já me resolvi com o seu professor. O que eu quero falar com você é outra coisa. Esse chapéu que você utilizou pode lhe causar seqüelas, sendo assim peço que você vá na ala médica se sentir dores. E quero lhe dizer outra coisa. Robson, eu vou passar uns tempos fora do colégio, sendo assim não se envolva em confusões, este não é um tempo de aventuras, mas sim um tempo de organização. Eu te peço, não ordeno, nem mando, mas peço com razão, espero que me ouça. - disse o diretor numa voz que parecia vir além das cordas vocais.
- Sim, senhor. - disse o aluno sem hesitar.
- Pode ir se não tiver mais nenhuma pergunta. - disse o diretor finalizando a conversa.
- Só mais uma professor. Porque o senhor disse isso pra mim? - disse o aluno sagazmente.
- Há coisas que não vão ser ditas hoje meu jovem. Um dia, um dia eu te conto. - disse o diretor. Robson saiu da sala e acompanhou os outros amigos para a primeira aula de Astronomia, na torre exterior onde eles iam depois daquela semana de detenção, os quatro novamente juntos.
A aula na imensa torre de Astronomia correu bem, a professora Kate com os enormes óculos fundo de garrava mostrou a eles o espaço, as estrelas e contou um pouco com sua voz séria um pouco da história da astronomia. Passada a aula foram todos para os seus quartos animados com aquele dia em que quase tudo voltou ao normal. Contudo, Robson foi o único que dormiu com algumas perguntas não resolvidas.

As semanas que se seguiram foram calmas, mesmo sem a presença do diretor. Os quatro amigos ficaram mais unidos depois do incidente com o professor Heródoto, que por sua vez continuava com a mesma aspereza contra os quatro e principalmente contra Robson. Mesmo assim o clima entre os alunos era tão caloroso quanto o tempo nos arredores, o sol brilhava intensamente nesse verão, depois de tantos períodos chuvosos e os passeios nos campos eram muito agradáveis, o único cenário que destoava dessa beleza veranil eram os enormes picos ao sul de Magfia, os quais eram o contraste á luz radiante. As aulas prosseguiam fervorosamente e frenéticamente, as lições eram maiores do que o tempo disponível diziam Pedro, Robson e Cláudia, enquanto Susana se esforçando ao máximo demonstrava uma habilidade digna de um malabarista que lida com mais de um objeto ao mesmo tempo.
Entrementes a guerra continuava lá fora, grupos ocultos faziam propagandas anti sangue ruins e anti trouxas nas ruas, e piadas contra os mesmos se tornaram comuns em diversos lugares, alguns aderiram a essa onda, mas a maioria ainda nutria um grande respeito pelos que não eram totalmente bruxos. Na Suprema Corte dos Bruxos os principais líderes mundiais se reuniam para decidir os rumos da política internacional, contudo diversos grupos não queriam se envolver com os problemas mundiais, considerando-os insignificantes. Zacarias e Dumbledore defendiam uma ação mais intensa contra os bruxos seletistas do mundo inteiro, contudo eram votos vencidos na grande reunião dos bruxos.

Em Magfia, o clima também piorara, pois parecia que alguém tinha contado a notícia do que aconteceu com Robson e ela se espalhou mais rápido do que notícia em cidade pequena. Haviam cochichos nos corredores, nas salas de aula e nas cavernas. Os quatro amigos mais unidos do que nunca, não tinham a mínima idéia do que acontecia na escola. Robson continuava com o espírito destemido de sempre, Susana por sua vez permanecia a aluna mais dedicada do quarteto, Cláudia continuava espalhafatosa e um pouco fofoqueira, Pedro havia intensificado sua perturbação a Cláudia.
Foi justamente Cláudia que em uma de suas animadas conversas com as garotas da Realex que descobriu o que causava tantos risos e tantos cochichos nos corredores de Magfia.
- E o Robson como vai Cláudia? - disse uma garota japonesa chamada Simone. Outras duas amigas olharam entre si e começaram a rir.
- Vai bem, por que você tá perguntando? - disse Cláudia intrigada.
- É o que dizem por aí. - disse outra garota chamada Arlete. - Sabe, que ele é filhinho da mamãe.
- Protegido. - disse a outra que se chamava Raíssa entre o riso.
- Parem com isso! Vocês não sabem o que estão dizendo. - disse Cláudia séria.
- Mas você quer que nós falemos o quê? - disse Simone deixando os olhos direto nos da amiga.
- Disseram que só porque ele é filho da professora de Feitiços o diretor tirou a detenção dele. - disse Raíssa que tinha os cabelos loiros e brilhavam intensamente.
- Tudo mentira, como podem dizer uma coisa dessa? Ninguém sabe o que aconteceu. - disse Cláudia pasma.
- E você sabe? Porque não nos contou? - disse Simone curiosa.
- Não, não sei de nada.- mentiu Cláudia, sabendo que o que aconteceu deveria ser segredo.
- Então ele é filhinho de mamãe enquanto isso. - disse Simone com o sorriso entre os lábios.
- De onde veio essa história? - disse Cláudia intrigada.
- Veio da própria casa dele. - disse Arlete piscando sem parar.
- Dizem que ele não tem muitos amigos por lá. - disse Raíssa em seguida. - Aliás o colégio inteiro está falando isso dele.
- Isso não tá certo. Vocês não deviam dizer isso. - disse Cláudia séria. - Eu tenho que sair, vou fazer um trabalho. Até mais. - despediu-se das amigas que continuaram caçoando de seu amigo no quarto. Cláudia saiu correndo para o quarto de Robson na Gainea aproveitando que ainda era dia e contou tudo que estava acontecendo ao amigo.
- E o colégio inteiro tá falando isso de você. - disse Cláudia olhando nos olhos do amigo.
- Isso é injusto, eles nem sabem o que aconteceu. Mal sabem o que eu passo ainda hoje. Mas quem inventou isso me paga. - disse o garoto impetuosamente.
- Se acalme, é melhor a gente analisar o que está acontecendo antes não é? Depois a gente toma uma decisão. Vamos falar antes com o Pedro e com a Susana, quatro cabeças funcionam melhor que duas.
Os quatro reuinidos não se resoveram em nada, a não ser que deveriam não dar atenção a qualquer ofensa e continuarem a defender o amigo. Mas os dias iam se passando e nada dava sinais de melhora por mais que Robson insistisse que não fora por ser filho da professora de Feitiços que livrou-se do castigo, contudo não explicava o motivo pelo qual isso acontecera. Ao mesmo tempo o professor de Tradições Antigas mantinha um leve sorriso em todas as suas aulas e foi em uma delas que ele dera sinais de que era por causa do que diziam de Robson.
- Quero que vocês abram o livro na página 83 e vejam o nome do capítulo: Proteções Ameríndias, um título atualíssimo, não é, senhor Albuquerque. - disse com um sorriso entre os lábios. - Agora quero que façam uma redação relacionando o texto aos tempos de hoje, tenho certeza que não terão muita dificuldade.- E a aula transcorreu na mesma morbidez de sempre, com o professor escrevendo frenéticamente em pergaminho e esporadicamente lançando olhares para os alunos. Era espantoso seu poder de coação sobre eles. Ao final da aula o professor recolheu os pergaminhos e quando pegou o de Robson ele sentiu uma leve pontada que lhe lembrou os tempos do chapéu. O professor deu um leve sorriso e dispensou os alunos. Susana que percebera o que aconteceu com o amigo correu até ele.
- Robson, você tem que ir até a ala hospitalar, eu já te disse isso. Não adianta nada bancar o herói, você é igual todo mundo. - disse a amiga séria.
- Eu sei disso. - disse Robson irritado. - Mas eu não posso me dar por vencido, ele não pode achar que eu sou fraco.
- Você é quem sabe, mas heroísmo não faz ninguém ser melhor. Até mais. - E saiu em disparada ás estufas da professora Efigênia enquanto Robson caminhava lentamente até a sala de História da Magia, acompanhado por seus pensamentos de não desistir.
- Atrasado Robson, por isso serão lhe descontados 5 pontos, não é a primeira vez que acontece isso com o senhor. E por mais que os boatos infundados digam que há uma proteção com o senhor eu e todos os professores vamos agir igualmente com todos. Sente-se.- disse olhando para todos os alunos que se sentavam a frente de uma professora vestida de Mulher da Pré História, talvez meio exagerada, usando tinta azul no rosto e uma roupa animalesca. Mesmo a visão da professora contrastando com o tom que ela utilizava ao falar com o aluno, era voz geral entre todos os professores e recomendação do diretor antes de viajar que todos os alunos fossem tratados igualmente, sejam eles quem for, sendo assim talvez eles estivessem mais rigorosos com todos os alunos, sem excessão.
- Hoje estudaremos a Magia do Paleolítico. - disse a professora com um sorriso no rosto, o que causou umas marcas estranhas no seu rosto, e continuou a aula andando como um macaco ou meio macaco pela sala, contou segredos dos bastidores da história mágica e passou algumas atividades para os alunos da Gainea e da Realex. Cláudia ao final da aula se aproximou de Robson.
- Rob, estão dizendo que essas histórias de que você é protegido veio do Miguel da minha casa, dizem que ele não aceitou ser recusado pela nossa amizade. Falam que ele é mimado e que a família dele tem grande poder e geralmente castiga aqueles que lhes fazem reserva. - disse a garota em tom de fofoca.
- Então ele vai se ver comigo, se estiver inventando essas histórias de mim. - E correu atrás do garoto de cabelos ruivos encaracolados que andava ao lado de um grupo sorridente. Deu um cutucão no ombro do garoto, da mesma forma que o outro havia lhe dado na primeira vez em que se encontraram.
- Ah, Robson, o protegido, estávamos falando e nos divertindo justamente de você. Então, tem usado seus poderes aqui dentro de Magfia? - disse o garoto com sarcasmo.
- Então é você mesmo que inventou essas histórias de mim, saiba que eu não sou protegido coisa nenhuma, sou tratado igual todo mundo e você deveria ter mais coragem e dizer o que acha na minha cara. - disse raivoso Robson.
- Então estou dizendo agora, e me dê licensa que eu tenho mais o que fazer do que ficar falando com você. - empurrou o outro e saiu andando.
- Isso não fica assim, vire-se e me enfrente, seu corvarde! - disse Robson sob o olhar doas alunos da Realex e da Gainea. Miguel virou rapidamente com os olhos irados, parecia que alguma coisa havia sido ativada dentro dele.
- Nunca me chame de COVARDE! - e saiu correndo com os punhos cerrados sobre Robson que preparavfa-se para se defender, contudo um outro braço os seguraram impedindo que começassem a brigar.
- O que está acontecendo aqui? - disse a voz do professor Juscelino Zambak. - Expliquem-se! - Os dois começaram a tentar se explicar, contudo um falava junto com o outro e nada era entendido, por fim o professor havia visto a cena e perguntara somente para dar uma chance aos dois. - Calados! Os dois acabam de perder 20 pontos para cada casa e vou falar com os diretores das casas dos dois para que cumpram detenções. Brigas nos corredores do colégio são proibidas.
- Mas... - disse Miguel desacreditando que um professor desse detenção em Robson.
- Mas o que? - disse severamente Juscelino. - Sem mas e agora se dirijam cada um dos dois ás suas respectivas aulas. Todos os professores têm dito e parece que ninguém tem acreditado mas não há um só aluno que seja tratado diferente do outro em Magfia. Isso é ponto claro.
Os dois alunos se olharam ainda com raiva e foram para suas aulas. O dia prosseguiu calmamente pela tarde sem muitos risos dos alunos das outras casas depois da cena no corredor, parecia que a fama de covarde que Miguel assumira também pegara e da mesma forma que Robson havia sofrido, o outro sofria também. Alguns passavam por ele cacarejando, ou lhe chamando de frango entre outros apelidos nada amigáveis. O certo era que havia uma detenção a ser cumprida e quem aplicaria seria Juscelino Zambak, isso fora decidido pelos professores diretores das duas casas em vista dele ser neutro e dele ter presenciado a cena entre os dois alunos. Os dois compareceram á sala do professor de Defesa contra as Artes das Trevas no quarto subterrâneo na tarde do mesmo dia e ouviram o que o professor tinha a dizer.
- Vocês dois se comportaram de forma infantil hoje nos corredores da Academia. Por mais que ainda sejam jovens tem que ter consciência de que estão se formando cidadãos e não podem agir precipitadamente. O pior é não saberem a diferença entre não terem afinidades e se tratarem como inimigos. Uma coisa é não gostar de alguém a outra é odiá-la, e vocês se trataram como se odiassem, um provocando o outro e o outro revidando. Visto isso vão cumprir uma detenção em conjunto para aprenderem a se respeitar. Porque por mais que não gostemos dos outros temos que respeitá-las sempre. - disse o professor calmamente olhando nos olhos dos dois pequenos alunos. - Para isso vou lançar um pequeno e simples feitiço em vocês dois. Vocês dois estarão ligados por um laço de equilíbrio e enquanto os pensamentos dos dois não se equilibrarem e no caso quanto ao respeito entre os dois o laço permanecerá. É simples. PSIQUEQUALITÉ! - e um fino raio de luz azul ligou a cabeça dos dois, esse laço só podia ser visto pelos três que estavam ali presentes. - Ah, sim, com excessão dos horários de dormir e em que não for possível a proximidade, vocês não poderão se distanciar 10 metros um do outro. Boa consciência para vocês e até mais. - disse o professor e virou-se de costas deixando apenas o rastro de sua capa. Os dois ainda se olharam com raiva entre o fio azulado e não perceberam que ele tomara um tom meio avermelhado naqueles pequenos instantes. Desacreditando do professor caminharam um par cada lado e como se tivessem levado uma rasteira caíram ao chão. Mesmo assim insistiram por longos minutos e ao fim perceberam que iam ter que andar próximos um do outro. Sem nenhuma palavra e ainda olhando com desprezo para Robson, Miguel começou a segui-lo e os dois de cara fechada foram para o Salão Principal jantar.
Os dias transcorreram com certa dificuldade, pois assim que os dois saíam de suas respectivas casas e se encontravam tinham que permanecer próximos um do outro grande parte do dia, o que foi se tornando uma tarefa cada vez mais árdua para cada um dos dois, visto que a população de Magfia não era muito grande e a notícia havia se espalhado. Corriam fofocas e boatos nos corredores das cavernas e no vazio dos amplos salões sobre o que havia acontecido para que os dois que pareciam se odiar sem motivo algum estivessem agora andando lado a lado, não como se fossem amigos, pois a cara de nenhum dos dois era de muitos amigos, mas como se estivessem se aturando. Entretanto, ninguém a não ser os amigos mais próximos de cada um sabia o real motivo dessas coisas estranhas.
As dificuldades entre os dois foram se tornando insuportáveis e isso ficou bem claro em mais uma saída da aula de História da Magia, aula a qual eles tiveram que se sentar juntos.
- Peraí, vamos tentar resolver isso logo tá? - disse Robson segurando o ombro do outro.
- Certo. Mas o que idéia então você tem para resolver isso. - disse Miguel com rosto descrente.
- Eu não gosto de você e nem você de mim. A gente só tem que se respeitar. - disse Robson tentando clarear as idéias.
- Mas eu não posso respeitar você e sua tuminha com aquela sabe tudo, o indiozinho e a fofoqueira ruiva. - disse Miguel encrispando os lábios.
- Sua turma mal-encarada de menininhas e grandalhões é pior e nem por ter amigos desse tipo você deixa de ser covarde. - disse entre risos Robson.
- Eu já te disse pra não me chamar de COVARDE. - e a linha que tinha permanecido vermelha entre os dois até o momento se tornara roxa com listras vermelho elétrico, como se a raiva de Miguel tivesse passado pelo fio, entretanto Miguel que já daria um soco em Robson foi impedido novamente, mas não pelo mesmo braço. Era o braço de uma mulher enorme e gorda que tinha um olho de vidro, a inspetora Mafalda Liliane que estava de licensa por uma terrível doença mas que voltara para fiscalizar os alunos nos corredores.
- Pelo visto a detenção dada pelo professor de Defesa contra as Artes das Trevas nos senhores não foi suficiente. Mas agora eu voltei e as coisas são diferentes portanto, aliás eu tenho uma sala inteira que precisa ser arrumada e os senhores vão fazer isso hoje de noite. E eu vou ficar de olho. - disse cutucando nojentamente a órbita com o olho de vidro.
E eles passaram a noite tendo que arrumar uma sala velha e suja no quarto andar e essa não foi a última vez. Com a volta do buldogue de Magfia os dias e as noites foram se tornando cada vez mais terríveis. Além disso os dois garotos não conseguiam parar de discutir e sempre havia uma sala, ou um corredor, ou até mesmo um banheiro a ser limpo, sendo assim eles começaram a executar tarefas não muito asseadas, chegavam cansados em suas respectivas casas, isso aos poucos foi gerando um pensamento mais pacífico entre eles, contudo parecia impossível que acabasse o desrespeito.
Abril ia passando e parecia que os sinais de chuva tinham se ido embora mesmo deixando o intenso sol durante o dia e um leve frio de noite. Os alunos estavam adorando esse clima que permitia entre outras coisas caminhar pela propriedade do colégio. Cláudia, Susana e Pedro também estavam curtindo os finais de semana em que haviam menos atividades sob o sol do fim do verão, entretanto o mesmo não podia se dizer de Robson e Miguel que eram obrigados a caminhar juntos e não davam sequer uma palavra. Foi em um desses finais de semana que ocorreu algo inusitado.
Alguns garotos do 5º ano também estavam caminhando pelos campos de Magfia paquerando as garotas, mexendo com as pessoas e foram mexer justamente com Robson que estava sentado á grama enquanto Miguel não caminhava muito longe. Quando chegaram perto um deles, o mais alto, deu um cutucão nas costas de Robson que olhou de imediato.
- Ei, sai daí que esse lugar é meu? - disse o aluno.
- Aqui é livre que eu saiba. - disse o pequeno Robson, e nesse momento perceberam que ele era o Robson, filho da professora de Feitiços, pegaram ele pelo pescoço e ergueram ele no ar, somente seus pés balançavam sobre a superfície da grama. Miguel que percebera a cena pensou em fugir, mas sem se lembrar do feitiço que os unia acabou caindo.
- E o outro quem é? Seu amigo, só pode seu um baita de um covarde. - dissera outro garoto do quinto ano, mas ele não percebera que o garoto havia se levantado e junto com ele parecia que vinha junto uma fúria sangrenta em que ele empunhava sua varinha. Os outros perceberam a reação do garoto que vinha lançando feitiços, no mesmo momento soltaram Robson, o qual também pegou sua varinha e começou a lançar feitiços sobre os arruaceiros quintanistas que foram acertados algumas vezes e fugiram correndo de medo.
- Eu já disse, nunca me chame de covarde! - bradou o pequeno Miguel que não prestara atenção mas uma sombra enorme se interpunha a sua frente e era a sombra do enorme buldogue velho chamado Mafalda Liliane que já vinha pronta para aplicar um castigo e provavelmente dessa vez não seria só limpeza.
- Vocês dois já aprontaram demais, agora... - ia dizer a inspetora num tom de voz rude e grave com a malícia de sempre no olhar quando foi interrompida por outra voz.
- Agora eles serão libertados da detenção e poderão passear livremente pelos campos. - disse o velho professor de Tradições Arcaicas Heródoto Wenceslau que continuava vestindo sua enorme capa escura sobre o imenso calombo nas costas em um sol de rachar. - Não se preocupe Mafalda eu vi toda a cena e os garotos não fizeram nada que eu possa considerar errado. - disse o professor com um sorriso que parecia mais uma carranca, enquanto Robson olhava descrente para as palavras do professor que deu um tapinha nas costas do aluno e saiu andando pelo gramado. Os dois se olham e a fina linha tênue que os unia foi desaparecendo lentamente deixando-os livres.
- Isso não muda nada entre nós. - disse Miguel sem o mínimo apreço pelo outro, mas com respeito
- Digo o mesmo para você. - disse o outro em tom sério. Saíram cada um para o seu lado, Robson foi atrás dos seus amigos finalmente livre. Os outros três estranharam a chegada do amigo.
- Que aconteceu Rob, você chamou o Miguel de covarde e ele rodou a baiana de novo? - disse Pedro com riso no rosto.
- Não, nós conseguimos nos libertar. - disse Robson contando tudo que acontecera. - O mais estranho foi o Heródoto ter me salvo do castigo da Mafalda.
- E o que ele estava fazendo lá vendo vocês? - perguntou Cláudia que usava um enorme óculos de sol.
- Realmente, é estranho. - disse Susana que estava sentada com um livro na mão encostada numa árvore.
- Vai ver ele ficou com ciúme de você com o Miguelzinho. - disse Pedro rindo da cara de Robson. Os quatro continuaram a tarde no gramado sob um dos últimos dias de sol do mês. Ao final da tarde voltaram para as cavernas para descansar do longo e divertido dia, entretanto Robson se via ainda preocupado pelas razões que teriam levado ao estranho professor vê-lo e salvá-lo. Indo dormir com essas preocupações teve um sono perturbado por pesadelos e dor de cabeça e logo já estava acordando para um novo e complicado dia de aula.

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