Pesadelo com o passado.
Cap. 5 – Pesadelo com o passado.
Hermione abriu os olhos, piscando algumas vezes para acostumá-los a claridade do local, em Hogwarts era tudo mais escuro, com suas paredes de pedra negra. Foi uma surpresa acordar naquela manhã e constatar que ainda estava no mesmo quarto do dia anterior e que tudo aquilo não havia sido apenas um pesadelo (ou seria sonho?!), como pensara.
Seu cérebro demorou alguns instantes para absorver a informação, depois disso ela se espreguiçou na cama, notando que estava sozinha nela. Onde será que Harry estaria? Na verdade não se importava, tudo em que pensava agora era em tomar um banho (e, claro, dar uma olhada naqueles belos sapatos, supostamente seus, no closet), e talvez depois ir fazer uma visitinha à biblioteca, já que não havia como voltar pra sua época.
Dirigiu-se ao banheiro, mas ao chegar na porta entreaberta pôde ouvir o barulho de um chuveiro. Então era ali que Harry havia se metido!
Por uns momentos sentiu-se tentada a entrar lá e vê-lo enquanto tomava banho. Se seu corpo fosse assim como ela imaginava, ele deveria ser perfeito. Pensou em como seria senti-lo junto a ela. Se fosse tudo tão bom quanto seu beijo havia sido então seria... inimaginável.
Quando percebeu seus atos já estava quase dentro do banheiro. Ia dar a volta pra sair de lá, mas seus olhos pararam em um Harry todo molhado, com os cabelos pregados no rosto por causa da água, um tórax de dar inveja a qualquer um, e seus largos ombros a mostra.
Pensamentos nada bons, do ponto de vista da amizade, inundaram sua mente, fazendo Hermione se sentir culpada. “O que ele vai pensar de mim? Meu Merlin, eu me transformei em uma pervertida sacana!”. Não conteve uma exclamação ao notar que Harry tinha uma toalha amarrada na cintura, mas se arrependeu no mesmo instante, pois fez ele notá-la no aposento.
– Queria te ver antes de ir ao Ministério, mas estava tão linda dormindo que não quis acordá-la. – disse se dirigindo para onde a mulher estava. – Entreguei seus relatórios também. Vão examinar tudo pra ver se nossa teoria tem fundamento mesmo.
Ela não sabia do que ele tava falando, mas agora não dava a mínima para suas palavras. Estava ocupada demais se repreendendo por não conseguir desgrudar os olhos, nem que por um segundo, daquele corpo.
Então sentiu ser pressionada contra aquele que tanto admirava, e não teve como controlar seu corpo à proximidade dele. Tremeu de leve e arfou algumas vezes ao sentir sua respiração quente em seu pescoço. Balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos insanos que agora tomavam conta dela, mas ao sentir os lábios dele contra os seus, tão quentes quanto na noite anterior, perdeu todo o autocontrole que ainda estava conseguindo manter.
O beijo foi terno e rápido, ao que ela simplesmente retribuiu. E quase reclamou quando Harry se afastou.
- A propósito, bom dia pra você também. – e se dirigiu sorridente para o closet.
- Hum... bom dia. – ela balbuciou baixo, quase não passando de um sussurro. Sua sanidade voltava em alta velocidade, fazendo-a sentir-se como uma aproveitadora fajuta.
Era como se tivesse enganando um pobre amigo inocente, afinal de contas ela estava apenas se aproveitando das situações para afogar suas mágoas pelo fim do namoro, não?!
- Então você já foi no Ministério hoje... – tentou puxar assunto, enquanto ele escolhia algumas roupas. Fazendo o máximo para não expiá-lo de canto de olho. – Não sabia que abria tão cedo.
- Na realidade não abre. Pelo menos não todo o prédio, apenas a parte ligada ao Departamento de Mistérios. – ela arregalou os olhos se perguntando o que eles tinham com esse departamento. Harry de repente se virou pra mulher, parecia empertigado – Pra que a pergunta se nós seguimos os mesmos horários? Obviamente você os sabe até melhor que eu.
- Hum... é que eu... – agora Hermione não sabia o que dizer, tinha medo de se enganar com as palavras e falar mais do que devia. – Hum... Ah! – sua mente se acendeu numa idéia – Não estou muito bem.
Voltou para o banheiro e trancou-se fingindo mal-estar. Harry bateu na porta preocupado e mandou abri-la. Ao que ela se fez de surda. Agora ele nem se lembraria mais da pergunta dela.
Passou alguns minutos preparando-se para o banho e encarando uma imagem diferente da que sempre via de frente ao espelho. Ela havia mudado. Não muito talvez, mas o suficiente para lhe tirar aquele ar infantil e mandão. Era uma mulher muito bonita mesmo sem maquiagem, em seu estado bruto... lembrando-lhe rosas que nasciam livres ao campo.
Entrou na banheira e se permitiu um breve instante de fuga da realidade. Não queria pensar em Rony, seu orgulho lhe parecia um fardo pesado demais. Ainda não acreditava que havia levado um fora, muito menos de um de seus melhores amigos. Tentava esquecer as palavras do ex-namorado, que insistiam em não deixá-la em paz nem por um segundo sequer. “Você sabe que nunca nos amamos!”, ainda se repetiam em sua mente, apesar de seus esforços.
Ela não sabia que nunca haviam se amado! Muito pelo contrário, apesar de eles não terem um relacionamento muito feliz, aquilo era tudo o que ela tinha. Mesmo com a cisma das pessoas em cima dela e Harry... Mas é comum uma amiga se preocupar com seu amigo, não?!
Hermione encostou sua cabeça na borda da banheira, respirando devagar. O sono parecia estar voltando em camadas, fazendo-a sentir seus pensamentos cada vez mais pesados, e lentos. Até que em certo ponto cochilou.
***
- Hermione, vá! Fuja antes que ele te pegue! – Harry gritou a plenos pulmões no meio daquele caos.
A garota olhou pra ele, que tentava alcançar o Lorde das Trevas, que por sua vez ia em direção à ela, e viu desespero em seus olhos.
- Não se preocupe Harry, eu acabo com ele! – falou debilmente, apontando a varinha para onde vinha Voldemort – Expelliarmus!
Ao que ele desviou com extrema facilidade.
- Criança, criança... Você acha realmente que um feitiço tão simples quanto esse pode com o Lorde? – Voldemort disse de modo a lembrar um rosnado de cachorro – Sangues-ruins tem o desprazer de morrer primeiro, logo após cuidarei do seu amiguinho. – e sorriu maléfico, com o canto de sua boca em forma de linha reta, ao que fez a garota perceber as besteiras que estava dizendo.
- Harry! Ele vai me matar. – havia horror em cada sílaba pronunciada.
- Ah não vai não! – gritou com ódio, enquanto alcançava Hermione – Se afaste dela, maldito bastardo! – ao ver Voldemort segurar Hermione pelos cabelos.
- Está na hora de fazermos uma brincadeirinha, Potter! – disse do mesmo modo sarcástico e risonho, o qual faria qualquer um fraquejar.
De repente o local mudou. Não estavam mais no meio de montes de Comensais lutando contra aurores, e sim de frente a uma antiga mansão em ruínas.
- A mansão Riddle...
- Vejo que aquele velho lhe contou algo sobre minha história, não é garoto?! – puxava Hermione pelos cabelos com tamanha força, que parecia querer levantá-la do chão.
- Não fale assim do Dumbledore! – Harry ordenou.
- Você está me saindo um tanto impertinente, vendo que está em total desvantagem. – e usou a garota como escudo, caso Harry tentasse lhe aplicar algum feitiço.
- Você não sabe onde está se metendo! – Harry rosnou por entre os dentes.
Voldemort apenas estendeu sua varinha em direção ao garoto.
- Eu pensava em te matar de uma vez, mas quero me divertir um pouquinho também. – se podia sentir malicia em cada letra que saia de sua boca. – E essa sua namoradinha sangue-ruim é bem apetitosa.
Hermione arregalou os olhos. Não que ela já não estivesse aterrorizada com a menção de sua morte, mas aquilo era realmente muito pior do que ela esperava.
Já Harry sentiu tanto ódio que nem se preocupou em corrigir o fato de que ela não era sua namorada. Ele apenas vasculhava sua mente em busca de algum feitiço que os fizesse escapar dali.
Por sua vez, Voldemort virou a garota de volta pra ele e beijou-lhe o lábio furiosamente. Sua varinha ainda em punho.
Harry sentiu nojo. – LARGUE ELA! – ordenou furiosamente.
O Lorde das Trevas afastou a garota e olhou-o. Parecia estar pensando em qual maldição usar contra Harry quando sentiu algo escorrer por seu rosto. Hermione havia cuspido nele.
- Eu tenho nojo de gente como você. – gritou aterrorizada, e com cara de quem vomitaria a qualquer momento.
Voldemort nem teve nem tempo de raciocinar, pois Harry voou em cima dele, socando-o por todos os lados, a varinha esquecida no chão.
- Isso é por você mexer com a garota dos outros...- ele repetia em meio a socos e mais socos, parecia ter esquecido de Hermione no recinto. – Nunca mais se aproxime dela seu miserável! – gritava.
O Lorde das Trevas não revidou. Muito pelo contrário, ficou apenas parado, deitado ao chão.
Quando Harry finalmente parou de socá-lo, pelo cansaço, Voldemort sorriu por entre seu próprio sangue, que escorria de seus lábios alvos em forma de linha reta, e disse:
- Já acabou? – sua voz parecia mais fria ainda, se é que era possível. Fazendo até Harry temer o que ele faria.
Mas não teve tempo para nada.
Só se conseguiu distinguir uma luz verde jorrando da varinha do bruxo mau, enquanto esse gritava: - Avada Kedrava! -, e atingindo Harry na barriga. Ao que ele pendeu pra traz, sem resistência. Entorpecido. Chegando ao chão em um baque surdo.
Apenas um grito quebrou o silêncio momentâneo.
- Nãããããããããããããããããão! – o desespero tomando conta de cada parte do corpo de Hermione.
***
- Nãããããããããããããããããão! – a mulher se debatia, sentindo estar em um minúsculo espaço – Haryyy!
Goles e mais goles de água entravam por sua garganta, sem que ela pudesse fazer nada.
- Haryyyyyyyyyyyyyyyyy! – ecoou por todo o banheiro, o mais alto que sua voz, semidebilitada pela água, pôde.
Houve um barulho de porta sendo derrubada, e passos apressados em sua direção.
- Hermione! Hermione! – a voz desconhecida parecia longínqua e desesperada. Mas foi tomando forma, até a mulher conseguir reconhecê-la. – Ah, não! Hermione!
Sentiu seu corpo ser levantado agilmente, e uma onda de ar frio a fez tremer. Algo como uma toalha foi passada apressadamente por seu corpo, enquanto era levada para fora do banheiro.
Abriu os olhos e viu Harry colocá-la na cama e cobri-la com um edredom quente e macio.
- Harry? – perguntou sem entender. - Cof, cof, cof – tossiu, engasgada pela água que havia descido garganta abaixo. – Mas você não estav...
- Meu amor... Como eu pude te deixar sozinha? – ele parecia pronto pra chorar – E se tivesse acontecido alguma coisa? – passava as mãos molhadas por entre os cabelos pretos espetados.
As lembranças do banho voltavam à mente da mulher. O fato de estar nua fez, inevitavelmente, suas faces adquirirem um tom rubro, pelo desconforto de se ver tão exposta e vulnerável àquele homem.
“Àquele homem...” Essa frase soava estranha em seus pensamentos, pois “ele” havia sido um de seus melhores amigos, a “ele” ela havia confidenciado seus maiores segredos, “ele” havia arriscado a própria vida para salvá-la do Lorde das Trevas... “Ele” sempre havia sido seu porto-seguro!
- F-Foi só um pesadelo... – Hermione tentou acalmá-lo. Ao que ele encarou-a e disse:
- Não foi apenas um pesadelo! Você já estava naquele banheiro a tempo demais, – olhou o relógio – umas duas horas talvez?! E eu não fui nem ver se estava tudo bem...
Ela sentiu uma rajada de ar quente trespassar seu corpo, como se saber que ele se preocupava com ela lhe fizesse um bem inimaginável. Como se amar e ser amada fosse a melhor coisa do mundo!
“Amar?”, arregalou os olhos. Mas não pode pensar nisso, pois Harry começou a vesti-la com uma roupa bem quentinha.
- Hei! Eu faço isso sozinha! – falou brava por correr o risco de ser vista por ele naquele estado.
- Agora vai bem me dizer que não me quer aqui no quarto... – disse quase irônico.
- Exatamente! Quero me trocar sozinha!
- Santo Deus, Hermione! – ela notou que ele não disse ‘meu amor’, e se flagrou sentindo falta daquilo – O que está havendo? Por que você não me fala?
- Não está acontecendo nada... – ela não entendeu a pergunta, mas achou melhor não discutir.
- Não está? É claro que está! – ele parecia muito triste e, por que não dizer, preocupado – Você não diz mais que me ama, não me quer junto a ti, nem falar direito comigo você está falando. Cadê seu lado possessivo? Aquele ciúme doentio que você sempre tinha?
- Hã? Mas... Eu continuo do mesmo jeito! – mais meias verdades.
- Ah, sim! Claro que continua! – mais ironias.
- O que você quer dizer? – ela estreitou os olhos.
- Eu quero dizer que acho que estamos com um GRANDE problema aqui! Eu quero dizer que você está agindo diferente de antes! – encarou-a bem nos olhos, e dava pra notar que o que ele queria falar o estava afetando muito – Eu quero dizer que acho que você não me ama mais como antes!
Então era isso. Isso era o que o vinha afetando tanto. Ele achava que ela não o amava!
Hermione engoliu em seco e desviou o olhar. Disse baixo:
- É claro que eu te amo! – e aquelas palavras não saíram de sua boca tão forçadas como ela pensou que sairiam. Pra falar a verdade ela havia mesmo gostado de pronunciá-las.
- Ah, obrigada! – foi pega de surpresa por um abraço quente, apertado e aconchegante – Hermione, obrigada. Isso era tudo que eu precisava ouvir!
Harry se afastou sorridente. A sombra de insegurança em seu rosto totalmente dissipada. Deu-lhe um rápido beijo estalado e se dirigiu à porta.
- Hei, aonde você vai? – Hermione atirou a pergunta antes que pudesse se conter.
- Ué, você não queria um pouquinho de privacidade? – ele respondeu, ainda sorrindo – Aproveite ela por enquanto, pois hoje à tarde quero levar você pra passear.
E se retirou pela porta que dava para o corredor.
Continua...
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