História da Magia

História da Magia



HISTÓRIA DA MAGIA


O dia demorou a passar para Lily. Ainda estava furiosa com James por ter dado em cima daquela menina. Na verdade o que a enfurecia era mais do que isso: ele tinha mentido para ela. Ele não gostava de ninguém, só de si mesmo, pensou ela com desprezo e uma certa dose de amargura que nem ela mesma notou. Depois das aulas todos almoçaram, e a refeição foi um tanto quanto quieta. Ninguém conversava com ninguém, mas Lily percebeu os olhares que Harry, Ron e Hermione trocavam. As horas demoraram a passar e as aulas foram extremamente chatas. James não olhou nenhuma vez para Lily. NENHUMA! Não que ela estivesse interessada. Não estava esperando olhares e muito menos passou as aulas olhando para ele. Não mesmo, pensou ela! Mas não pôde deixar de notar que a vontade dele de sair com ela estava menor. Nenhum convite, nenhum sorrisinho besta, nenhum olhar! Estava esquisito. Ela com certeza não estava entendendo a nova tática. A não ser que ele tivesse mesmo desistido. Aí suas teorias de que ele realmente era um falso foram comprovadas. Ela deu um sorriso de satisfação e voltou os olhos para o professor Binns que estava em sua frente, lendo um livro. Foi então que ela lembrou da aula de História de Magia. Ia perder toda a tarde preparando, tinha pouco tempo até as 17:00 horas. Maldito James Potter e maldita aula! Finalmente as aulas acabaram e ela pôde se dedicar à preparação do estudo. Tirou um livro na biblioteca e começou a analisar os temas. Tudo lhe pareceu extremamente chato. Até para uma pessoa que gostava de estudar, como ela, a matéria História da Magia era chata. E tudo o que ela mais precisava era ter lições extras em seu tempo livre, com ninguém menos do que James Potter. Que ódio! Passou os olhos pelo mesmo trecho do livro no mínimo umas 10 vezes. Ficou assim por algum tempo, até que sentiu que estava preparada. Espreguiçou-se, e ainda estava esticando-se quando James chegou. Ela não percebeu sua presença, pois ele se sentou muito calmamente. Então disse:


-Pronta?


-Como? -ela se assustou -De onde você surgiu???


-De lá -disse ele apontando o quadro da mulher gorda -Nossa, Lily, tudo bem que você esteja cansada, mas isso? Francamente, você está na Grifinória há anos, era para saber onde fica a entrada do salão comunal, não?


-Eu sei disso, James. -disse ela revirando os olhos, como sempre fazia nessas situações. -O que eu queria saber era quando você apareceu. Surgiu assim, do nada!


-Você anda muito distraída ultimamente...Tá tudo bem com você? -perguntou ele franzindo a testa.


-Não precisa perguntar isso, é tão não você. É realmente desnecessário fazer de conta que está preocupado. -ela respondeu balançando a cabeça.


-E se eu realmente estivesse preocupado? -perguntou ele olhando para os olhos dela.


-Por que motivo estaria? -respondeu ela desviando os olhos.


-Porque eu gosto de você?


-Não gosta -disse ela firmemente, voltando a olhar para ele. Uma súbita coragem caiu sobre ela, não precisava evitar seu olhar, tudo o que ela dizia era verdade, não? Ele nunca gostara dela.


-Por que você insiste nisso? -perguntou ele aborrecido.


-Talvez porque você tenha dito que gostava de mim e alguns segundos depois estava falando sobre sabe-se lá o que com uma menina qualquer. -ele abriu a boca para tentar explicar algo, mas ela o interrompeu -Não adianta falar que estava só conversando, ou que não está “morto para a vida”, porque pra mim sua boca estava mais interessada em ALGO do que falar. E pra mim, você só sai com uma pessoa se gosta dela. Portanto se gostasse de mim estaria mesmo “morto para a vida”. Pelo menos para esse tipo de vida. -concluiu ela.


-Belo discurso -disse ele sorrindo -Mas eu não concordo. Um: eu estava conversando, e minha boca estava mesmo interessada em algo mais, mas NÃO COM ELA! -disse ele enfatizando as palavras sem gritar. -Dois: Se eu agisse como você está dizendo, a melhor opção seria me internar num mosteiro! Fala sério, Lily! Eu tenho 16 anos! E o principal: Eu realmente gosto de você. Ou gostava, não sei...


-GOSTAVA? Como assim? -perguntou ela pulando da cadeira com um uma cara de idiota totalmente transtornada. -O que você quer dizer, já parou de gostar?


-Não -disse ele triunfante. -Eu ainda gosto de você, mas parece que você não é tão indiferente a mim assim! Pareceu bem preocupada com a possibilidade de eu parar de gostar de você. -e acrescentou arrogante -O que já era de se esperar, afinal nem todas têm a honra de ter James Potter a seus pés.


-Não era isso! -disse ela vermelha numa tentativa de se recompor -Eu estava surpresa, SÓ surpresa com o fato de você ter parado assim de repente! Nem você é tão volúvel!


-Ah, Lily, Lily, Lily...Por que você ainda fingir que não gosta de mim? Nem discordou da parte “nem todas têm a honra de ter James Potter a seus pés!”.


-Isso porque estava preocupada demais discordando das outras partes da sua fala! -disse ela mais vermelha do que nunca.


-Não vou discordar de você...-disse ele -Mas um aviso: eu AINDA gosto de você. Porque um dia não vou gostar mais. E você vai implorar para sair comigo.


-Só se esse dia for o que você vai beijar o Snape. -disse ela sorrindo com a perspectiva.


-Eca, Lily! Sem essas cenas nojentas, por favor! -disse ele fazendo uma careta. Lily começou a rir. Ele também deu risada.


Passaram alguns minutos rindo, mas quando esse ataque de risos passou um silêncio tomou conta da sala. Não havia mais ninguém além deles dois, mas mesmo assim houve um constrangimento. Ela pegou um livro que estava em cima da mesa e estendeu para ele. Disse num sussurro que nem ela mesma conseguiu ouvir:


-Leia da página 44 até a 60.


Ele devia estar muito concentrado em seus lábios, pois entendeu o que ela disse e abriu o livro sem falar nada. É verdade que ele abriu a boca e ficou assim por alguns segundos, mexendo-a sem sentido algum (pelo menos foi o que Lily achou. Ao contrário de James ela não tinha o menor talento para ler lábios!). Mas fechou-a e pareceu se concentrar no livro. Ela ficou olhando para a janela, estava escurecendo rapidamente. James continuava sem tirar os olhos do livro, apesar de não virar nenhuma página por um bom tempo, o que Lily estranhou mais tarde, ao pensar sobre a aula. No momento estava distraída demais para notar aquele fato esquisito. Era muita concentração para quem não estava lendo uma palavra! Ele devia estar pensando, como ela. Lily ficou olhando em silêncio para James enquanto ele supostamente lia. Ele realmente não era um menino de se jogar fora. Talvez se não tivesse aquele cérebro fosse um bom partido. Não estranhou o fato de estar pensando em James daquela maneira. Notou também que fazia algum tempo que não o chamava de Potter. “O que está acontecendo com você, Lily?”, pensou ela. Certamente não era a mesma que girou o vira-tempo há um tempo. Aquela Lily NUNCA ficaria sozinha na mesma sala que James por mais de 2 minutos sem começar a gritar. Aquela Lily NUNCA chamaria Potter de James, e NUNCA ficaria olhando para ele pensando em como seria namorá-lo. Aquela Lily certamente NUNCA conversaria com James Potter como se fossem amigos de infância, e NUNCA aceitaria dar aulas para James. Afinal, era JAMES POTTER! O menino que aquela Lily considerava uma terrível mistura de prepotência, arrogância, babaquice, idiotice, criancice, insistência e chatice. Aquela Lily consideraria a hipótese de se jogar um penhasco muito atrativa ao ser obrigada a sair com James. Não era possível que aquela menina sentada ali fosse realmente Lily Evans. Foi então que James levantou os olhos do livro e disse:


-Você quer acabar com isso mais cedo ou mais tarde?


-Mais cedo, eu acho. -respondeu ela calmamente. -Estou cansada.


-Então eu acabei.


-Mentira, você nem passou da primeira página! -disse Lily levantando a sobrancelha.


-Achei que você tivesse dito mais cedo... -disse ele sorrindo marotamente.


-Certo. -respondeu sorrindo de volta.


-Eu estou ouvindo direito? -perguntou ele com uma voz falsamente surpresa -Lily Evans está aceitando uma mentira? Quebrando uma espécie de regra?


-Eu estou vendo direito? -perguntou ela de volta, com uma voz igualmente cheia de falsa surpresa -James Potter e Lily Evans na mesma sala sem discutir nenhuma vez?


-Realmente -disse ele. -Nenhuma discussão. Até parece que você se rendeu ao meu charme! Você demorou demais!


-Eu quero aumentar esse recorde, James, não me faça brigar com você. -disse Lily que não estava verdadeiramente chateada com o comentário, e sim divertida.


-Olha, os fatos estão todos ao meu favor! Os sinais são muito evidentes, Lily, minha cara -continuou ele balançando a cabeça negativamente -Você não usa o meu sobrenome há algum tempo ao se referir a minha bela pessoa...


-Impressão sua. Eu te chamo de Potter o tempo todo! -disse ela corando.


-Enganar é uma arte que leva tempo para ser dominada...E você ainda não chegou ao meu nível de experiência. Está mais do que claro que você está mentindo!


-Você deve mentir muito mesmo para suas namoradas quando elas descobrem que você as traiu! -agora havia uma nota clara de chateação em sua voz.


-Eu não disse mentir, disse enganar! Inventar uma história às vezes não faz mal a ninguém. Pode até magoar menos uma pessoa. E eu não traio minhas namoradas! Apenas faço um favor às minhas amigas, dando-lhes um pouco de James Potter.


-Nobre filosofia, se não fosse aplicada com esses fins. -disse Lily com a voz fria -Você é a própria arrogância! Se acha tanto...


-Não me acho nada! Eu sou! E tenho muitas meninas que comprovam! Nenhuma ficou decepcionada, isso eu te garanto!


-Não duvido disso, eu só...


-HÁ! -ele deu um salto da cadeira, triunfante -Você não duvida? Quer dizer que também gosta do material? Por essa eu não esperava: Lily Evans, a monitora mais certinha da história de Hogwarts, reparando nos meninos...E o mais surpreendente: eu sou um dos meninos em questão.


-Ah, cala a boca, Potter! Eu não quis dizer isso! -respondeu ela mais vermelha do que nunca, olhando para a direção oposta. Tentou esconder o rosto, mas ele notou e sentou-se novamente sem tirar o sorriso da cara.


Novamente os dois ficaram em silêncio. James olhava para os sapatos, depois para o teto, e passava a mão despreocupadamente pelo cabeço. Lily olhava pela janela, sentindo de vez em quando o olhar do menino sobre ela. Mas continuava imóvel, olhando para a lua que brilhava lá fora. Tinha escurecido estranhamente rápido. Era uma noite de lua cheia, e poucas estrelas brilhavam. Realmente era uma bela noite, dava uma sensação de paz. Suspirou.


-A lua está linda hoje... -disse Lily olhando pensativa pela janela.


-Não mais do que você -disse James.


-Você deveria ter aulas de cantada, em vez de História da Magia -disse ela sorrindo -Essa você já usou.


-Lily, meu bem -disse ele calmo, sem perder a pose -Você nunca vai ouvir nenhuma cantada de ninguém que eu não tenha usado. Já usei todas, absolutamente todas, com você.


-Ah, não -disse ela pensativa. -Gary Johnson usou uma comigo no segundo ano.


-Gary Johnson? -disse ele rindo -Aquele idiota da Lufa-Lufa que usava cuecas de corações?


-Eu sei que ele usava! E quando você viu a cueca dele, Potter?


-Ah, bom, Sirius tentou virar Snape de cabeça para baixo, mas atingiu Johnson sem querer! E quando VOCÊ viu a cueca dele? Bom, continuando...Que cantada ele te deu?


-Ah, você não vai querer saber! -disse ela corando.


-Vou sim!! Conta!!


-Então está certo. Só que se você rir eu te mato! -ele assentiu e ela disse devagar -Ele disse: “Lily, se eu pudesse te dava um dos corações da minha cueca”. Foi aí que eu soube que ele usava cuecas de coração!


James fez um esforço tremendo para não rir, mas não conseguiu. Ele estava realmente vermelho de tanto rir. Ela tentou ficar brava, mas não deu. Era engraçado, ela era obrigada a reconhecer. E os dois ficaram rindo juntos por um bom tempo. Até que ela disse:


-Você não ia desistir de mim?


-E vou -disse ele sorrindo -Força do hábito. Toda vez que vejo uma oportunidade eu te dou uma cantada. Estou acostumado a isso. Mas vou me controlar!


Ela abaixou os olhos e não disse nada. Era ótimo, ele ia parar de vez de dar em cima dela. Quer dizer, ele já tinha prometido fazer isso várias vezes antes, mas dessa vez parecia sério. Apesar de ela já ter pensado algumas vezes sobre como seria sair com ele, ou mesmo namorá-lo, era tudo que ela queria ter Potter fora do seu pé. Ele corria atrás dela desde o ano anterior, e ela sempre tivera certeza de que ele não era o cara certo. Mais do que isso: ele era o cara completamente errado!!! Tudo estava tão confuso! Lily sempre odiara James Potter. Era algo muito forte, e todos sabiam disso. Eram quase uma lenda em Hogwarts. Não havia um dia em que não houvesse uma briga, uma discussão, um vaso sendo destruído pela varinha furiosa de uma ruiva mais furiosa ainda. E agora ela estava lá, rindo com ele, conversando com ele como se fosse a coisa mais normal do mundo:


-Não é a coisa mais normal do mundo... -disse ela sem querer em voz alta.


-O que? -perguntou James olhando para ela confuso.


-Nada, só tava pensando em voz alta.


-Ah tá, tudo bem. -respondeu ele sem fazer mais perguntas.


Eles ficaram quietos novamente. Quando o silêncio estava muito mais do que constrangedor, James falou:


-Você não aceitou sair com o Johnson, aceitou?


Ela pareceu extremamente surpresa com a pergunta, e não contendo a risada, disse:


-É claro que não! Que tipo de idiota sairia com Gary Johnson?


-Tem razão, você não aceitou sair comigo. Mas tem louco pra tudo, né?


-Calma, James, ninguém é louco A ESSE PONTO! O cara era um total estúpido! Andava por aí falando com as paredes. Tá certo que no mundo dos bruxos tem várias coisas que eu achava estranhas, mas nem aqui as paredes ouvem e falam! -disse ela movendo as mãos muito rápido. Estava nervosa sem saber ao certo por que.


-Tem razão! Mas eu soube de uma menina que saiu com ele no mês passado!


-Quem???? -ela aproximou-se dele curiosa.


-Olivia Stewart, uma Lufa-Lufa do quarto ano.


-Não! Jura???? Aquela meio vesga? Que horror! -disse ela rindo sem parar -Como você soube disso?


-Tenho minhas fontes!


-Já sei, foi uma menina. -disse ela um pouco mais séria.


-É claro, né? Queria que fosse um menino? Sai fora, Lily!


-Você entendeu o que eu quis dizer.


-E você entendeu o que eu quis dizer. -respondeu ele sorrindo.


-Posso te fazer uma pergunta?


-Quantas você quiser. -respondeu ele sem deixar de sorrir.


-Exatamente isso! Esse sorriso! Como você sorri tanto sem se cansar? Você está sempre sorrindo! -perguntou ela muito curiosa, pois essa era uma pergunta que sempre a intrigara: qual era o segredo do incessante sorriso de James Potter?


-Ah, isso... -respondeu ele abrindo ainda mais o sorriso -É simples. Nem sempre eu sorrio. Só quando eu te vejo que me dá vontade!


-Ótima cantada. -disse ela satisfeita pela resposta dele, sem o demonstrar. Tentou manter o tom de voz frio e impediu seus músculos faciais de sorrirem.


-Melhor do que a do Gary Johnson certamente foi. Mas não foi uma das minhas melhores! Só que de fato, Lily, você me inspira. Me sinto até mais...Romântico... -continuou fazendo um tom fingido de romantismo.


-Belo show, só achei que você fosse parar com as cantadas. -disse ela triunfante. Ele não conseguia parar de dar em cima dela. E usando seu tom mais arrogante continuou-Vejo que me tornei indispensável na sua vida.


-Muito bom! Essa frase poderia ser minha! Veja, Lily, você é a minha alma gêmea! Acho que a gente tem que se casar!


-Como? -ela obviamente não tinha entendido o tom de brincadeira na frase, ou pelo menos demorou a entender.


-Ei, calma, Lily! Eu tava brincando! Não pretendo me casar tão rápido! Mas e você...Já pensando em casamento? Que precoce! -ele deu um risinho.


-Não, eu só...Ah, vá para o inferno, Potter! -maldita lerdeza! Era óbvio que era brincadeira, e ela sabia perfeitamente que nem James era louco o bastante para fazer um pedido de casamento, mas não era culpa dela se ela simplesmente demorava a entender as coisas! Pra que ficar fazendo essas brincadeirinhas com ela? Depois de tanto a perseguindo ele devia saber que ela era meio lenta às vezes. E agora ele ficava pensando bobagem. Passaram-se mais uns cinco minutos de silêncio, até que James olhou no relógio e disse:


-Já está tarde. Podemos ir.


-Não foi uma aula produtiva. -reparou ela.


-Eu gostei. Foi um tanto quanto...Reveladora...-disse ele contendo um riso.


-Eu já disse, Potter: vá para o inferno.


-Só se você for comigo...


-Ah, fica quieto! -disse ela sorrindo por dentro. Por que será que ela estava tão satisfeita? Quantas vezes ela tinha que repetir: aquele era Potter! Ela não gostava dele! Mas que confusão! Deu de ombros e se levantou. James já estava saindo, mas antes disse:


-A gente se vê semana que vem no mesmo horário?


-Claro.


E ele foi embora, deixando-a sozinha na sala com seus pensamentos.

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