A Bonequinha




A Bonequinha



-Mamãe! – Gritou a menina Bella, ao entrar correndo na sala – Venha ver mamãe!

Com um sorriso cansado a srª. Black levantou-se, amparando a enorme barriga grávida com a mão. Seguiu sua filha até o quarto que a menina dividia com suas
duas irmãs mais novas, Sissy e Corny. O quarto era pintado de um violeta claro em oposição com a cor escura do resto da casa, tinha uma cama e um beliche
com cobertores e almofadas roxas e era cheio de brinquedos de meninas bruxas: calderãozinho, varinhas que disparavam faíscas inofensivas, bonecas com vestes
verdes e negras, duas vassourinha e outras coisinhas encantadoras.


A srª. Black sorriu ao ver o que Bella queria lhe mostrar: ela e Sissy tinham arrumado sua irmãzinha Ana Cornélia, prendendo um monte de fitas prateadas
no cabelo acobreado da menina.


-Muito bom meninas! Corny está bonita – Sem querer ela disse isso naquele tom meio falso que os adultos usam com as crianças, mas é que Sissy e Bella pareciam
dois anjos, um louro e outro moreno. Só que Corny era tão estranha! Não que fosse feia, mas com quatro anos tinha quase a altura de Sissy, de nove, e tinha
sardas e cabelos cacheados, cor-de-cobre. Poucos Blacks eram loiros, quanto mais, arruivados! Na verdade Corny parecia uma fada, dessas que vivem a saltitar
por entre as árvores, alheias ao mundo humano, afora o fato dela raramente falar, passando a maior parte do tempo cantarolando com se fosse uma boneca
viva das irmãs.


- Viu mamãe! - disse Sissy chamando a mãe de volta do devaneio – viu como eu sou boa cabelereira?


-Eu também! – sorriu Bella, fazendo faíscas verdes saírem da varinha de brinquedo que segurava – Mas prefiro ser uma guerreira bruxa! – e brandiu a varinha
contra Meow, o gato persa, que ressonava em sua cestinha forrada.


Sissy apertou um dos laços no cabelo da irmã, que balançava as pernas na beirada da cama, os olhos grudados nos sapatos, cantando baixinho.


- O cabelo dela é ondulado, as fitas nem caem. Ela não é linda, mamãe?


A srª. Black sorriu:


- É sim filha! E você e Bella também são!


Bella parou de chatear o gato e disse, olhando fixamente para a mãe, meio aborrecida:


- Eu sou como todos na família, mãe! Branca, olhos e cabelos negros, baixinha! Sissy é loura e tem olhos azuis iguais ao do papai e Corny parece uma dessas
bonecas bebê, mas eu...


- Você é que nem a mamãe e a Andrômeda!


As três olharam para a menininha, o rosto empinado de um jeito decidido, sem entender. Corny sorriu e apontou a barriga da mãe:


- O bebê vai chamar Andrômeda. E vai ser igual à Bella. Só não vai ser triste como ela.


A srª. Black sentiu um arrepio. Era estranho ouvir uma criança tão pequena falar como uma sibila, embora duvidasse que a garota pudesse ser vidente. Sorriu
novamente para as filhas. Sissy agora ninava a irmã como se fosse uma boneca grande e bella tinha começado um desenho com seus lápis mágicos. Sabendo que
a crida estava atenta para com as meninas voltou para o tricô, em sua confortável poltrona, mas logo parou, passando a mão sobre a barriga. Depois da morte
de seu marido, tinha entregado-se a quem realmente amava – amor? Não... Apenas divertira-se um pouco – Seu cunhado, Abraxas Malfoy era um homem atencioso
para com as mulheres e agora carregava no ventre o resultado dessa atenciosidade. “Andrômeda”. Era um bom nome, e riu ao pensar no que sua irmã diria:
Corny, só por não parecer com ninguém da família não estava na tapeçaria dos Black. “Pelo menos abraxas é Sangue-puro”. Bocejou. Tinha esquecido como a
gravidez cansava.


***


A srª. Black acordou com um barulho de algo batendo na janela. Abriu os olhos derrepente. Era noite, suas filhas e a criada já deviam estar dormindo. Caminhou
até a janela. Havia uma coruja negra com uma carta. Abriu o vidro e a ave entrou planando até a borda da lareira, afinal ventava e estava muito frio do
lado de fora. A mulher soltou a carta da perna da coruja e voltou para a poltrona para lê-la. Vinha do largo Grimmauld, 12.


"Querida Lumiar:


Está tudo bem com você?


E com o bebê?


Sim, eu sei. Abraxas me contou e eu entendo. Ele é jovem, belo e viúvo como você, tem somente um filho, o menino Lucius. Faremos votos de segredo e prometo
que seu bebê estará na tapeçaria.


Mas, na verdade, mandei-lhe esta para pedir algo. Sabe que eu e meu marido temos somente dois filhos: Sirius e Régulus. Mas sabe que tenho um menininho,
o Mantorrás.

O sr. Black está ficando desconfiado, pois o garoto está ficando muito parecido com aquele parente português dele que nos veio visitar há uns anos atrás...
Meu marido está muito velho e naquela época andava insuportável! Aquele parente era meu alívio nessa vida rancorosa! Então lhe imploro, irmã: adote meu
menino e crie-o em sua casa. O sr. Black tem ficado muito esquecido. Tenho esperanças que esqueça o garoto. Mantorrás tem quatro anos, é muito inteligente
e poderá fazer companhia para sua filha menor (imagino que eles tenham a mesma idade). Sei bem que você adoraria ter um menino em casa.


Se aceita-lo, peço que jamais diga a ele ou a outra pessoa que ele não é filho do meu marido. Consegui enganar a família até agora, mas cada dia fica mais
complicado. Não posso evitar perguntas embaraçosas para sempre, não é?


Abraços,


Aguardo sua resposta,


Meena Black”



Lumiar releu a carta mais algumas vezes. Meio aturdida, não soube o que responder. O menino não lhe daria trabalho; a casa era grande e ela tinha muitas
criadas e elfos domésticos. Bella iria para a escola em setembro próximo, no outro ano seria a vez de Sissy e o bebê estava para nascer logo. Quanto à
Corny, bem, ela realmente precisava de companhia: não poderia ser a bonequinha das irmãs para sempre.

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