Parte II



N/A: Atendendo a pedidos... Finalmente - e bota finalmente nisso - a continuação de Oceano saiu. Confesso que a parte da fic estava pronta há um tempinho, mas eu optei por planejar a fic primeiro antes de postar qualquer coisa. Mas, mesmo assim, peço desculpas pela demora.

O projeto inicial contém quinze partes, ou sendo mais precisa, quinze capítulos / mas acho que poderá ter mais... ou menos, a depender do meu estado de espírito. XD/. Os fatos serão narrados seguindo uma ordem cronológica, mas os espaços de tempo entre uma parte e outra serão ora longas, ora curtas. A próxima cena poderá ser dias ou anos depois.

Perdoem-me se os trechos referentes a HP 6 estão meio "errôneos", é que meu livro ainda está sequestrado e eu tive que apelar para o ebook traduzido por fãs que eu tenho aqui.

Agradecimentos a Ana Granger, Buneka, Daphne Black Potter, Lily Evan§, Larissinha, camila, Jéssica Tonks, Naná Potter, Gabriela Granger, Louie Evans, MARCELA, Eleonora, Danda Radcliffe, marikp, Vick*, Evoluxa Black e Samy Potter, Nicole Brooman, black000, Mary Silva, Douglas Lucenatataba, Tammie, JuU*,Lu Evans Potter¹, Letícia Cristina Duarte Lima, Mari, #_Srtá.Black_#, Déh , Larissa Potter, Pérola Black, *Manda**Evans*, Amanda Shinoda, Lily Evans, Julia Evans, pagi_15, Helena Garcia Siriani, bibiska Radcliffe e dedico essa parte à Mirtes, que me ajudou no desenrolar dessa continuação e me sugeriu algo a mais do que, inicialmente, tinha planejado.

Beijos para todos os que estão lendo e/ou comentam e vamos à nova parte. XD


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"-Eu não posso mais namorar contigo. Nós temos que parar de nos ver. Nós não podemos ficar juntos.
-Isto é por alguma estúpida e nobre razão, não é isso?

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"-Mas eu não posso... Não podemos... Eu tenho coisas para fazer sozinho agora.
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"-Pense no perigo a que você estará exposta se continuarmos juntos. Ele saberá, ele a encontrará. Ele tentará me pegar através de você.
-E se eu não me importar?
-Eu me importo. Pense no que eu sentiria se eu fosse ao seu funeral... e por minha culpa.
-Eu nunca desisti de você. Não, realmente. Sempre esperei...

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"-Nós poderíamos ter feito isso há tempos... meses... anos talvez...
-Mas você estava muito ocupado salvando o mundo mágico.

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"-Talvez, por isso que eu goste muito de você...

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"-Está aqui... está aqui para se despedir... suponho.
-Ginny...
-Eu sei, sou uma pessoa horrível, eu devia estar te dando força nessa hora e não chorando que nem uma idiota ... mas, Harry, eu... Da mesma maneira que você teme que eu morra, eu temo o mesmo por você...


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"-Eu te amo, Harry. Você sabe. Não posso simplesmente vê-lo ir ao encontro dele, sem ficar preocupada.

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"-Eu te amo, Ginny. Eu não consigo viver sem você.

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"-Quero que saiba que... esse foi o melhor momento da minha vida.
-Um dos... Virão outros e eu espero estar presente em todos eles.

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‘Um simples suspiro faz minhas forças desabarem, e uma mísera lágrima que caia dos seus olhos, me faz sentir uma dor incapaz de se expressar com palavras.
Ruiva, você pode não perceber... mas você não sabe o efeito que tem sobre mim. Você me tem em suas mãos e eu não posso fazer nada para inverter esse quadro.
Eu te amo, saiba disso. Sei que jamais vou te esquecer...’

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‘Adeus, Ginny.’”


Gina acordou com um sobressalto. Inspirou profundamente e sentou-se na cama de olhos arregalados. As primeiras lágrimas brotaram dos seus olhos e rolaram pela sua face. Novamente, aquele sonho, aquelas lembranças... Por que ela simplesmente não esquecia?

Fora apenas dois meses que havia se passado desde que eles estiveram juntos a última vez, mas, para a ruiva, era como se houvesse passado anos.

Anos penosos... Ela não mais conseguia fazer nada direito. Aquelas palavras ainda a atormentavam. Aquele adeus dito por carta, a possibilidade dele já estar morto...

Ela escorregou os pés para fora da cama e enterrou as mãos entre os cabelos, reprimindo um soluço que sacudiu todo o seu corpo. Por que a vida tinha que ser tão injusta com ela? Com eles? Por que raios ele havia sido escolhido pelo destino para derrotar aquele maníaco estúpido com essa sede de poder inimaginável? Por que ela nunca pudera mais ter um momento de felicidade ao seu lado sem que sofresse novamente todo aquele maldito inferno que estava sofrendo agora?

Não... Ela simplesmente não podia mais suportar isso. Simplesmente não podia. Gina não mais agüentava ter que abrir todas as manhãs o Profeta Diário com os olhos marejados a procura de uma notícia dele, contudo nunca achava... Estava cansada de fitar o céu quase todas as horas e não avistar nenhuma coruja no céu. Sim, estava cansada daquela vida...

Ela sentia que o ar lhe faltaria a qualquer momento, como se aquela ansiedade a sufocasse. Fechando os olhos, deixando as lágrimas fluírem de modo incontrolável por debaixo das pálpebras, ela torna a soluçar novamente.

-Harry, por Merlim, onde raios você se meteu? Eu não vou agüentar sofrer isso tudo novamente... – ela sussurrou, mas, como resposta, só lhe veio o silêncio da noite.

Gina solta um longo suspiro e levantou-se da cama, caminhando com passos meio relutantes até o banheiro da suíte, despindo-se calmamente durante o trajeto.

A ruiva reprimiu um gemido ao sentir a água fria bater nas suas costas. Levantando a cabeça, ela deixa os rubros cabelos serem molhados e os pingos d’água se misturarem às suas lágrimas.

Ela torna a fechar os olhos, tentando esquecer por breves minutos daquelas lembranças de tempos mais felizes, mas que, atualmente, viviam a atormentar-lhe a alma. Não que ela não mais o amasse. Muito pelo contrário. Era aquele amor marcado em sua pele e cravado em sua alma, que a fazia sofrer daquela maneira...

Ela abre o chuveiro, fazendo com que a água caia com mais intensidade sobre o seu corpo. Por que a visão de vê-lo morto vivia sempre a lhe atormentar? Desejava, com todas as forças, que a água varresse esse pensamento da mente dela e que escorresse pelo ralo para sempre...

Ergueu o rosto e segurou os cabelos, sentindo os pingos que caiam calmamente sobre a sua face. Com um longo suspiro, ela desce a mão pelos cabelos e volta o olhar para a pia, onde descansava um relógio de visor luminoso, que ela sempre deixava ali, para que nunca perdesse a hora.

Fechou os olhos e esboçou um sorriso triste. Eram quase cinco horas da manhã... da manhã do dia 31 de outubro.

Fechando o chuveiro, a ruiva respira de modo lento e profundo. Há anos, naquele mesmo dia, fora que aquela história toda começou... e, desde então, custava a terminar. Quanto tempo mais ela teria que viver naquele sofrimento? A idéia de ter que esperar por ele, a cada dia lhe parecia mais penosa e árdua de suportar.

Abriu a porta de box e abraçou a toalha, enxugando o rosto lentamente. Enrolou-a sobre o corpo de qualquer maneira e encarou seu reflexo atentamente. Estava mais pálida do que o normal e olheiras profundas, provenientes de várias noites mal dormidas ou em claro, a faziam crer que mais dia ou menos dia cairia doente.

Fechou os olhos para a própria imagem, como se estivesse fechando o seu próprio sofrimento e deu as costas para o espelho, voltando a ficar imersa no breu do quarto.

Sentou-se na beirada da cama, segurando a toalha firmemente entre uma das mãos.

Expirou forçadamente e deitou-se na cama irritadamente.

-Droga... Eu não agüento mais isso. – ela murmurou e desviou o olhar para o teto para a cama vazia ao seu lado. A mesma cama que lhe traziam tantas lembranças...

Gina sabia que a melhor coisa que ela tinha de fazer aquele momento, era sair daquela casa... sair daquele quarto. Mas simplesmente não conseguia... não queria.

Mesmo que aquele canto da casa lhe trouxesse aquelas lembranças à tona, ela simplesmente não conseguia sair dali... Mesmo que isso tudo a estivesse enlouquecendo aos poucos... Mesmo que tudo isso a irritasse às vezes... ela não conseguia sair. Ela não desejava sair... Por breves momentos era reconfortante imaginar que ele romperia por aquela porta e a tomaria em seus braços novamente. Era reconfortante imaginar o calor do corpo dele junto ao seu novamente.

Por outro lado, aquela espera estava a mata-la por dentro. O adeus dele estava a mata-la por dentro. Mas, por mais que quisesse esquecer aquelas emoções que variavam profundamente de raiva à nostalgia, de tristeza à alegria, de dor à saudade... era como se o universo conspirasse contra ela, a fazendo lembrar constantemente da existência dele. Era como se o perfume dele estivesse marcado em sua pele... a voz dele estivesse presa aos seus ouvidos... e que a mente não tivesse a capacidade de pensar em mais nada além dele.

Com um olhar melancólico, a ruiva fitou a silhueta da rosa, jamais esquecida, que repousava dentro de um vaso de porcelana. Gina esboçou um fraco sorriso, enfeitiçara-a para que jamais morresse... para que jamais se esquecesse daquela noite... apesar de que, ela sabia, jamais esqueceria: ela estaria para sempre cravada em sua memória.

Uma brisa entrou timidamente pela janela, esvoaçando as cortinas negras de modo lento e oscilante. Gina sentiu o vento passar pelo seu corpo e suspirou, ao mesmo tempo em que uma forte luz dourada iluminara o quarto, fazendo-a pular de susto logo em seguida.

Seu coração batia forte contra o peito e ela suspirou aliviada por aquela luz não ter sido verde. Mas, ainda assim, ficou alerta para qualquer som estranho que chegasse aos seus ouvidos.

A luz dourada tornou a cegar os seus olhos e Gina exibiu um ar intrigado. Levantou-se na cama calmamente e buscou o seu roupão que ficara jogado na cadeira da escrivaninha. A toalha escorregou pelo seu corpo no momento em que ela terminava de fechar o roupão e dava um firme laço com os cordões.

Pegou a varinha na mesa de cabeceira e apertou-a firmemente. O vento agora cessara e as cortinas tornaram a ficar paradas. Gina arrastou-a um pouco e espiou a rua de forma cautelosa. Algumas cabeças curiosas apareciam na janela de uma forma menos discreta do que a dela e, em algumas delas, as crianças apontavam maravilhadas para algo no céu.

Gina exibiu um fraco sorriso. Talvez os trouxas resolvessem comemorar o dia das bruxas muito mais cedo esse ano. Abaixou a varinha que, até àquele ponto se encontrava em posição de ataque e abriu mais as cortinas, fechou a janela sem dar muita importância e tornou a fechar as cortinas de modo quase entediado.

Respirou irritadamente e tornou a se sentar na cama. Gostaria que os trouxas parassem de dar aqueles sustos nela. Lembrou-se que, há alguns meses atrás, houve um tal de um campeonato de futebol e ela constantemente acordava assustada com a retumbar dos fogos de artifício que os trouxas soltavam, sem hora específica e em uma quantidade exorbitante... e que muitas vezes a fazia pensar que sua casa estava sendo atacada por um bando de diabretes, tamanho o barulho que eles faziam.

Tornou a deitar na cama, fitando o teto clarear tenuemente, devido à aproximação do amanhecer. Talvez, o melhor a ser feito, era tentar dormir um pouco. Teria um dia cheio no St Mungus pela manhã e era necessário uma boa noite de descanso... o que vinha ocorrendo com menos freqüência ultimamente.

Contentou-se então em ficar observando o teto do quarto, enquanto o som dos fogos ecoava em seus ouvidos, numa freqüência cada vez mais constante. Resmungou aborrecida, será que eles nunca acabariam? Será que ela não poderia ter seu merecido descanso – ou pelo menos, pudessem deixa-la pensar em silêncio ?

Ao que pareceu a Gina ser a décima queima de fogos, ela levantou-se da cama, um pouco irritada e se embrenhou por entre as cortinas, para observar a rua novamente.

Abriu a janela com um ar aborrecido e percebeu que o dia começava a raiar. Algumas pessoas envoltas em seus roupões saíram de casa e começavam a fitar o céu ao leste, de forma maravilhada.

Para descobrir o que eles tanto olhavam, ela tinha duas alternativas: debruçar-se completamente na janela, na tentativa de ver alguma coisa – o que seria completamente constrangedor se alguém estivesse olhando; ou sair de casa – e ser taxada de fofoqueira e curiosa.

Decidiu seguir a segunda opção. Até porque, não seria nada agradável ela acabar caindo da sua janela, e a sua queda ser assistida por desconhecidos.

Saiu de casa e se encolheu no roupão que usava, sentindo o vento frio cortar o seu rosto. Tentando ignorar o fato de que só agora lembrou-se que não estava usando nada embaixo do roupão, a ruiva virasse para o leste, a ponto de ver uma nova queima de fogos.

Não era bem os fogos normais que Gina costumava ver nos dias de campeonatos. E era isso que tanto deixava os seus trouxas-vizinhos extremamente maravilhados. Afinal, ela jurou ver que um dos fogos tomara a forma de uma cicatriz em forma de raio, antes de explodir em uma onda de chuvas de prata cintilantes.

Piscou várias vezes, a fim de assimilar os fatos. Respirou profundamente e meneou a cabeça, na tentativa de espantar os pensamentos que agora invadiam sua mente. Estava cansada. Era isso. Estava cansada e agora começava a ver “Harry’s” em fogos de artifícios trouxas. Talvez agora começasse a enxergar óculos redondos no rosto de todos os morenos de olhos verdes que aparecesse na sua frente. Realmente, ela precisava de uma boa noite de sono.

Deu meia volta, ignorando as exclamações surpresas de algum dos presentes. Certamente agora apareceriam fogos que tinham a aparência de cabelos arrepiados, se ela olhasse novamente.

-Corujas! – uma criança exclamou com a voz esganiçada. – Corujas, papai!

Gina sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir aquela palavra. Fechando os olhos, ela ergueu a cabeça, querendo e ao mesmo tempo não querendo fitar o céu. Abriu um dos olhos e avistou um bando de corujas sobrevoando o céu de forma apressada.

Um tênue sorriso brotou nos lábios da ruiva quando ela abriu o outro olho e seguiu uma das corujas com o olhar. Seus olhos ficaram marejados e ela sentiu o coração descompassado.

-Harry... – ela disse num murmúrio rouco. – Eu sabia que você ia conseguir...

Gina tornou a fechar os olhos, antes de morder o lábio inferior e encolher-se mais sobre o roupão. Passado breves momentos sem que ela se movesse, um longo suspiro escapa dos seus lábios, ao mesmo tempo em que ela deixa a mostra os olhos amendoados extremamente marejados.

-Só espero que você esteja bem... – ela sussurrou, no que uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto.


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Gina sabia perfeitamente que não estava em condições emocionais suficientes para uma jornada de trabalho no St Mungus mas, ainda assim, decidiu sair para o trabalho àquela manhã. Ansiava por notícias e, de certa forma, esperava encontra-las no hospital.
Um longo suspiro escapou de seus lábios quando ela colocou o feche da capa de modo meio mecânico. A garota ruiva que agora a encarava se encontrava extremamente pálida e com os olhos extremamente brilhantes, dando a ela um aspecto de felicidade melancólica.

Sua mente estava povoada de pensamentos e, por mais que ela quisesse torna-los desejáveis, eles se tornavam totalmente opostos a que ela ansiara. Flash de uma batalha, que poderia ser real ou não, dilaceravam-lhe o peito como um punhal que era cravado impiedosamente na sua carne. A visão de Harry morto após a batalha final se confundiam com o rompimento dele porta adentro, a tomando pelos braços e dizendo que a amava. Gina passou a mão pelos cabelos e segurou-os firmemente. Até mesmo o Harry que aparecia agora em suas visões parecia tão mórbido quanto o outro: o morto, a visão na qual ela rogava firmemente para não se tornar realidade.

Uma nova lágrima descreveu um trajeto singular sobre o seu rosto pálido e morreu no canto dos seus lábios. Como ela gostaria que ele estivesse bem...

-Talvez ele não esteja. Você já foi possuída por Voldemort. Você o conhece. A personalidade dele ainda está cravada na sua pele... Você sabe que Voldemort não permitiria que Harry vencesse de verdade... Ele poderia sair derrotado, mas também sairia vitorioso... de alguma forma.

A face pálida que agora o encarava parecera que adquirira um tom vil ao proferir aquelas palavras. Gina soltou os cabelos calmamente e inspirou profundamente, sentindo os olhos arderem mais uma vez.

-Mas... – a voz morreu em sua garganta e ela engoliu em seco. Ela sabia. Ela tinha certeza. Assim como Harry jamais desistiria dos seus objetivos, Tom Riddle – Voldemort – jamais desistira também dos seus. Ele não se entregaria tão fácil. E ele morreria satisfeito por causar um dano maior a Harry, se soubesse que a derrota era inevitável. Ele arranjaria uma maneira de deixar uma marca – uma outra marca – para que Harry jamais se esquecesse dele. Poderia não ser uma marca física – como a cicatriz que para sempre deformaria a perfeição do seu rosto, a cicatriz que o fazia ser o que era agora –, mas sim, uma marca mais profunda: uma marca em sua alma.

Harry não fora o único que havia sido marcado por Voldemort durante todos aqueles anos que se passaram. Muitas pessoas haviam perdido muito durante aquela guerra – ela havia perdido muito naquela guerra e não gostaria de perder mais nada...

Respirou profundamente e desviou o olhar do espelho, como se o seu próprio reflexo a enojasse. E, de certa forma, enojava. Sentia-se uma idiota, uma tola, uma fraca. Fraca demais para uma guerra, apesar de forte o bastante para suporta-la.

Mas, como ela poderia olhar para Harry novamente sem se sentir rebaixada? Ele havia se esforçado tanto. Lutado tanto. E o que ela fizera? Ficara o tempo todo enclausurada naquela casa, incapaz – não querendo ser capaz – de fazer nada para acabar com tudo aquilo. Ela ajudava a salvar vidas no St Mungus... mas, essas vidas teriam de ser realmente salvas se ela fizesse algo para que o que as puseram em perigo fosse extinto do mundo bruxo? Fechou os olhos com intensidade e sentiu as pálpebras tremerem.

-A guerra torna as pessoas mais egoístas e altruístas ao mesmo tempo... – ela murmurou, abrindo a porta do quarto penosamente, com o olhar extremamente baixo. Como se até o próprio nada a condenasse por agir daquela maneira. – Você deseja fazer de tudo para proteger a pessoa a qual ama, sem se importar com o que ela quer realmente. Você deseja fechar seus próprios olhos para tudo o que estava acontecendo ao seu redor, com receio de perder o que lhe mais era estimado, mas, ao mesmo tempo, você sentia a necessidade de agir, não se permitindo se esconder como um covarde e esperar que os outros façam o que você também deveria estar fazendo... – ela suspirou resignadamente, parando de murmurar aquela palavras por breves segundos. – Eu sempre tive medo de me transformar em uma covarde, que acabei agindo como tal. Eu queria fazer algo, mas não fiz. Por quê? – ela deu de ombros, pegando as chaves em cima da mesa de jantar e caminhando em direção a porta. – Porque eu tive medo...

Gina mordeu o lábio inferior. Ela não soube se teve medo de morrer ou o que a sua morte acarretaria para as pessoas na qual amava. No que ele sentiria ao receber a notícia da morte dela.

“ Pense no que eu sentiria se eu fosse ao seu funeral... e por minha culpa.”.

Sim, ela pensava. Todos os dias, todas as noites em claro. A todo momento. Numa atitude egoísta, ela achava que era a única responsável por Harry seguir em frente. A pessoa que, mesmo distante, dava forças a ele seguir até o fim. A mão imaginária que o ampararia quando ele não mais tivesse forças. Quando tudo ao redor dele se tornasse quase impossível de ser suportado. Seria a luz que o tiraria das trevas, mesmo que essa mesma luz estivesse envolta na sua própria escuridão.

“Eu sei que você não será feliz até vencer Voldermort.”.

Talvez aquela fosse a frase que ele realmente gostaria de ouvir. A frase que demonstrava que ela era compreensiva... Ela sabia. Sabia que ele jamais se contentaria com uma pseudofelicidade. Gina sabia que Harry jamais seria como ela: egoísta.

Abriu a porta de olhos fechados, como se estivesse com medo de encarar o mundo. Que o mundo a encarasse e a visse em sua verdadeira forma.

Harry sempre se importava com os outros. Gina sabia que ele jamais deixaria de se importar. Conhecidos, desconhecidos... ele não fazia distinção, desde que eles fizessem o que ele achava que era certo. Gina sabia que Harry tinha uma nobreza que ela jamais teria.

Pólos opostos... Ela suspirou profundamente. Talvez, fosse por isso que ela se sentia tão atraída... tão apaixonada por aquele rapaz de olhos intensamente verdes. Harry era tudo o que Gina admirava em uma pessoa e tudo que, ao mesmo tempo, ela gostaria de ser e sabia que não conseguiria ser. E isso a fazia pensar se ela realmente merecia o amor que ele nutria por ela.

Um pio de uma coruja a dispersou dos seus próprios pensamentos e ela piscou várias vezes, a fim de tentar entender o que estava acontecendo. Avistou um pontinho branco aproximar-se lentamente dela e permitiu-se curvar os lábios num tênue surriso.

-Edwiges... – ela disse num murmúrio, estendendo o braço, no que a coruja delicadamente em seu braço. Mas, para o agravamento da sua ansiedade e mórbida tristeza, ela não trazia nenhuma espécie de carta. – E o... – ela respirou profundamente, fechando os olhos por breves minutos para, logo depois, os abrir calmamente. – Você sabe onde o Harry está?

A coruja soltou um pio fraco e beliscou a orelha de Ginny de forma carinhosa. Talvez ela não soubesse... Franziu o cenho, confusa. Por que razão ela estaria aqui?

Seu lado emocional dizia que a coruja só estaria ali para anunciar a futurachegada de Harry. Porém, a razão lhe dizia que, como seu dono se encontrava desaparecido, a mesma resolvera encontrar a pessoa mais próxima a ele... A pessoa que ele desejava ver. Dizem que a maioria dos animais, principalmente as corujas, entendem seus respectivos donos mais do que eles entendem a si próprio. Gina sabia que Edwiges se encaixava perfeitamente nessa opção.

Gina fechou os olhos e acariciou a cabeça da coruja lentamente. Quase podia sentir os braços dele envolvendo-a pela cintura, por trás e a sua voz rouca sussurrando em seu ouvido... “O desejo meu de te ver novamente era tão intenso que Edwiges também sentiu essa necessidade...”.

Ela abriu os olhos vagarosamente e fitou as orbes amareladas da coruja com um ar meio tristonho. Edwiges soltou um longo pio e, dando uma última mordiscada carinhosa no dedo da ruiva e alçou vôo, partindo novamente em direção ao oeste.

Gina fitou a coruja sumir por entre os tetos das casas e num meneio de cabeça, voltou a atenção para a rua, ignorando os olhares curiosos dos trouxas presentes e tomou um caminho, aparentemente sem rumo, pela calçada.

Colocou as mãos no bolso da calça, os pensamentos ainda voltados para o que vivera até ali. Durante a guerra, por todos os lugares onde ela passava, as pessoas cheiravam a medo. Até mesmo os trouxas, envoltos numa vida por mais medíocre que fosse, sentiam que algo estranho pairava no ar. A descoberta da existência do mundo bruxo parecia cada vez mais algo inevitável, mas eles conseguiram controlar aquilo de uma forma devida.

Durante a guerra, a possibilidade de uma morte súbita tornavam as pessoas mais próximas e mais distantes ao mesmo tempo. A confiança e a desconfiança regiam, ao mesmo tempo, os relacionamentos – de qualquer âmbito – entre os bruxos. O medo e a coragem disputavam um lugar em seus corações. Sentimentos antagônicos... Era isso que trazia a guerra. Sentimentos antagônicos regidos por uma profunda desesperança no futuro e dilaceração dos próprios sonhos. As pessoas não mais se permitiam sonhar. Aquilo não era uma luta pela vida, e sim, pela sobrevivência...

Gina passou a mão de leve sobre os ruivos cabelos e ergueu um pouco o olhar. Era vista por todos, mas não via ninguém. Seus pés, tão acostumados àquele trajeto, a guiavam até o hospital de forma quase automática.

Apesar de se encontrar imersa nas suas próprias dúvidas, remorsos e tristezas; apesar de imersa na sua própria falta de capacidade e egoísmo... na sua própria inferioridade; Gina não pôde deixar de perceber o quão amena a atmosfera ao seu redor se encontrava. Era como se o mundo, de repente, houvesse se transformado numa fênix renascida das cinzas. Um animal acuado pelo que o espera por cima daquele monte de cinzas, mas ainda assim curioso. Alegre, mas ainda envolto nas cinzas de outrora... nas trevas de outrora. As cinzas grudadas sobre o corpo descoberto de penugem, como se não o fizesse esquecer do que havia passado antes, como se elas desejassem fazer com que isso jamais ocorressem. Talvez, o mundo seja mesmo assim: uma fênix. Nascendo e renascendo seus ideais, sua história, sua vida, seu povo.

Permitiu-se sorrir brevemente e de uma forma meio sarcástica. Por quanto tempo aquela paz duraria? Ou será que ela ainda nem foi alcançada?

A paz... E se ela tivesse que pagar um preço por tudo isso? Se eles tivessem que pagar um preço pela felicidade de muitos outros? Seria justo acabar com a felicidade dela para vê-la estampada no rosto dos outros? E ela estava sendo egoísta novamente... Mas estaria ela sendo a egoísta ou outros? O que fazia uma pessoa ter mais direito de ser feliz do que a outra? O que as fazia achar que tinham esse direito?

Respirou profundamente. Seria ele mesmo a única pessoa capaz de derrotar Voldemort? Podia ter sido qualquer outro... Poderia ter sido qualquer outro... Não o seu Harry. Aquela a dúvida a corroia por dentro, como um ácido que percorria as suas veias gradativamente. Os fogos lhe indicavam que havia sido uma vitória... de Harry. Sim, ele vencera. Mas, será que vencera com vida? Poderia ser esta considerada uma verdadeira vitória?

Voldemort. O responsável pela infelicidade, não somente dele, mas de muitos outros... Seria ela a próxima a ser atingida? Gina não suportava a idéia de perder Harry... Se isso ocorresse, o verdadeiro vitorioso seria Voldemort... Afinal, de que adiantaria tanta luta, tantas escolhas, tantas negações... para, no fim, ele estar morto também? Implicitamente, Voldemort conseguiria o que ele queria: que Harry nunca fosse capaz de se sentir feliz em toda a sua vida... Balançou a cabeça furtivamente. Não, deveria parar de pensar nisso. Tinha de parar de ser tão pessimista.

Parou de andar de forma quase brusca ao encontrar o beco no qual costumava utilizar para suas aparatações. Olhou para os lados com extrema cautela e entrou no beco de forma quase displicente.

Os olhos avelã da ruiva se fecharam lentamente antes dela suspirar e, num leve ruflar de capa, sumiu por completo, como se, por um momento, jamais tivesse estado ali.


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Os impetuosos raios de sol adentravam quase que timidamente através da densa copa das árvores de um bosque qualquer. A poeira dançava lentamente no ar, visíveis sobre os raios que incidiam sobre ela.
Um silêncio quase que acolhedor reinava por entre as árvores e o mesmo era quebrado pelo farfalhar das folhas secas espalhadas pelo chão em contato com um corpo que se arrastava penosamente por elas.

Um rastro de sangue era deixado a medida que o rapaz se arrastava pelo chão, arfando de dor. Os olhos se encontravam desfocados e as orbes extremamente verdes. Um verde estranho, mas ainda assim peculiar. A varinha ainda se encontrava inutilmente apertada em seu pulso, embora não houvesse mais nada a enfrentar. Havia acabado...

A cicatriz em forma de raio na testa se encontrava completamente vermelha e um suor frio descia lentamente pelo seu rosto. A cabeça latejava de tal forma que qualquer atividade lhe parecia difícil – impossível até – de ser realizada.

Entregue a dor que dilacerava-lhe todas as partes do corpo, ele relaxa os músculos, deixando-se cair nas folhas secas.

A umidade do chão, em contado com seu rosto extremamente quente, fez um arrepio involuntário percorrer todo o seu corpo. Estreitou os olhos, mirando tudo de forma desfocada... imperceptível. Aquela luminosidade verde ainda reinava em tudo ao seu redor, como se ainda há pouco ele houvesse lançado a maldição da morte derradeira e que deu um fim, de uma vez por todas, a pessoa conhecida como Lord Voldemort.

Com um esforço imenso, forçou o corpo para o lado, a fim de inverter a sua própria posição, ficando, agora, com o rosto em frente ao céu. Contudo, enxerga-lo perfeitamente lhe parecia quase que impossível no momento.

Sentia-se fraco...exausto... incapaz de continuar lutando em permanecer vivo. A dor que sentia lhe era tão dilacerante, tão profunda, tão intensa que, para ele, o fim da sua – agora inútil – vida lhe parecia a melhor – a única – solução.

Um pio agudo ecoou surdo em seus ouvidos e, logo depois, ele sentiu uma leve brisa cortar-lhe a face de maneira agradável e garras sendo cravadas de maneira gentil em seu peito. Piscou várias vezes, a fim de assimilar a situação e fechou os olhos lentamente. As pálpebras estavam tão pesadas...

-Ed...wiges... – sua voz soara rouca e devagar. O falar lhe era custoso.

A coruja piou em resposta e levantou vôo, no exato momento em que a cabeça de Harry pendeu levemente para o lado e a mão que segurava a varinha afrouxava o aperto de forma gradativa...


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N/A: Hohoho. Er... não teve um final de parte tão feliz assim, mas... hehehehe. Espero que tenham gostado.

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