Eu Odeio Você



N/A:



Algumas considerações a serem feitas:



Riddle, aqui, baseado em minha versão UA/Crossover, devido a um erro no processo com a concepção de sua primeira Horcrux (em minha trama, o diário, usando a morte de seu pai, feita após sua formação em Hogwarts), sobrevive após ter seu diário perfurado por Harry Potter, e começa a participar dos anos letivos do Trio por intermédio de um acordo que Dumbledore estabeleceu com ele. As narrativas que descrevem esta divergência do canônico podem ser encontradas em minha extensão (cujo link se encontra na bio do meu perfil). Futuramente penso em publicá-las aqui.



Ele também possui mais habilidades do que o mostrado nos livros (meus head canons).



"Autumnus Hieme" mescla tanto narrativas propriamente ditas, em forma de prosa, quanto diálogos puros entre Riddle e Ginny no decorrer do ano letivo (5º ano de Harry); diálogos estes desenvolvidos por mim e pela player da Ginny pelo Twitter.



Para discriminar de quem é a narrativa ou fala, identifiquei o autor das mesmas com o respectivo user do Twitter ou simplesmente o nome dos personagens. As prosas estão adequadas ao estilo de rpg narrativo (como os de fóruns online). Portanto, podem ter um caráter "bate-e-volta".



 





 



Tom Riddle



@_TRiddle



Enfim a calmaria começava a se dispersar pelos corredores pelos quais Riddle caminhava naquele momento. E ele precisava de um sossego para repor os ânimos.



A recepção de boas-vindas aos calouros e o discurso no Salão Principal marcaram o começo daquele ano letivo com pinceladas de enfado e desagrado: Dolores Umbridge, Subsecretária Sênior do Ministro da Magia, havia sido nomeada pelo Ministério como a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas e nas entrelinhas de todo o extenso besteirol discursado por ela entre pigarros irritantes, uma voz infantil enjoada e sorrisos cínicos, jazia o recado de que o Ministério da Magia a enviara para que se fosse abafada qualquer declaração acerca do retorno de Voldemort, que, se popularizada, conduziria o mandato de Cornelius Fudge à ruína.



Isso ainda traria muita dor de cabeça para todos em Hogwarts.



Dolores Umbridge… A mesma bruxa que incentivara a condenação de Harry apenas por ele usar de magia em ambiente não-mágico em um caso de extrema necessidade.



E por falar em Harry…



Assim que a cerimônia noturna no Salão Principal se findara, Rony e Hermione, agora com obrigações inerentes a monitores, seguiram para fora do recinto com os recém-chegados a fim de lhes mostrar os inúmeros locais do castelo, capazes de fazer com que os que adentravam a área pela primeira vez se perdessem e talvez não retornassem mais caso não fossem inteligentes o suficiente.



Enquanto isso, Harry seguira monótono para o Salão Comunal da Grifinória. Riddle não fizera questão alguma de acompanhá-lo. Para falar a verdade, o sonserino andava cansado e com pouca paciência para a aura ranheta que Harry vinha carregando há algumas semanas. Por um lado, conseguia compreender o porquê: boicotes e desvalorização às suas palavras provenientes até dos conhecidos mais próximos - como Tom constatara nos olhares tendenciosos à Harry no Salão -, o baque pelo testemunho da morte de Cedrico e o horror do retorno de sua contraparte e a falta de notícias durante todo o período que se arrastara na casa dos Dursley, o que lhe proporcionou um sentimento de isolamento pior do que nunca.



Por outro, o herdeiro de Slytherin achava uma falta de necessidade que Harry choramingasse pelos cantos e chiasse o tempo todo em seus ouvidos - não somente com palavras, mas também com olhares, expirações exasperadas e reclamações - sobre tudo o que sofreu, em especial revirando tópicos do passado e o culpando pelas sequelas que sua contraparte havia deixado em sua vida; atribuições das quais Riddle não tinha responsabilidade alguma, uma vez que ele não detinha controle sobre as ações independentes de Voldemort.



Potter não fazia ideia do que era o verdadeiro sofrimento. Do que era enfrentar a genuína escuridão e uma jornada de revolta e incompreensão sem nunca haver alguém para apoiá-lo de fato.



E não era por isso que Riddle ficaria reclamando pelos quatro ventos. Em hipótese alguma.



Claro, ele tinha sua maneira de lidar com as inconveniências e com os que ousavam derrubá-lo, mas jamais se permitiria se lamuriar para os outros, expondo pontos íntimos com forte potencial para derrubar suas barreiras e o tornar vulnerável; fraco e patético.



E não era porque ele há muito já não trilhava o mesmo caminho que sua contraparte percorreu que ele havia deixado de buscar o poder e a invencibilidade...



Então Riddle deixou escapar uma respiração pesada assim que seus olhos se focavam na figura distante que vinha de encontro à ele: os cabelos longos e flamejantes denunciavam a aproximação de Ginny Weasley.



Será que não conseguiria ter um pouco de paz?



Desde que retornara na noite do confronto na Câmara Secreta, os dois não trocaram uma palavra sequer. Riddle a evitava e sabia muito bem que, da garota, não poderia esperar o contrário.



Na época, durante o primeiro ano letivo dela, ele gradativamente a envolvera e manipulara com palavras amigáveis vazias a fim de lhe extrair a energia que lhe libertaria em definitivo - energia esta que calhou de ser com exatidão o que ele necessitava -, até chegar ao ponto de dominar sua mente e fazê-la quase extinguir os nascidos-trouxas, além de atrair Harry para uma armadilha.



Não era de se surpreender que ela não quisesse sequer vê-lo.



Só que Tom considerava por completo dispensável ter qualquer tipo de contato com a garota. Especialmente uma que vivia despejando tolices românticas e do cotidiano de uma pirralha em sua cabeça.



Mas pelo visto parecia que essa condição estava prestes a ser alterada.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



Ginny havia passado o banquete de cabeça baixa, falando apenas o necessário com todos a sua volta. A ruiva ergueu seu olhar para a nova professora, o desprezo queimava em seus olhos como se premeditasse a dor de cabeça que todos teriam aquele ano. Seus olhos encontravam os de Harry vez ou outra, apesar de seus sentimentos, ela sentia pena do garoto, como se sua vulnerabilidade passasse para ela.



Weasley sabia que uma de suas mais profundas frustrações era não ser levada a sério e odiava ver um amigo tão próximo se sentir do mesmo jeito. Por outro lado, não se sentia confortável em intervir, tendo em vista que Riddle sempre estava por perto.



Em seu primeiro ano ela se sentiu determinada a mostrar seu valor perante a grifinória e toda sua família, mas era difícil para ela sair da sombra de seus irmãos tão "brilhantes". A insegurança a dominava gradativamente, mas como se por um belo acaso do destino, a garota havia ganhado um amigo para despejar tudo o que afligia seu coração.



Tom Riddle, ela o considerava um amigo, um confidente. Ginny confiava cegamente no garoto em seu diário, não reconhecendo a si mesma enquanto sua mente era envenenada aos poucos. Por meses tudo parecia bem, até que os sussurros em sua mente se tornaram altos, autoritários e certeiros como tiros, cada ataque feito na escola a corroía por dentro. A culpa havia se transformado em pedras amarradas em seus pés, entrar na câmara secreta foi o último passo para que as pedras a afogassem.



Enquanto a vida se esvaía de seu corpo e Harry lutava contra o basilisco tudo o que a mais nova conseguia sentir era raiva e medo. Raiva de si mesma por ter sido tola, por ter colocado aqueles que ama naquela situação, e a troco de quê?



Era o que Ginny pensava enquanto todos saíam da mesa, seus pensamentos voavam longe e ela não havia percebido que estava sozinha.



"Sozinha" havia se tornado uma palavra comum para ela, a presença de Riddle causava arrepios tenebrosos em sua pele, ela tinha pesadelos gritantes durante a noite. Sua imposição e arrogância estavam presentes até no modo qual ele andava, fazia pouco caso da garota e aquilo a irritava.



Ela não esperava um pedido formal de desculpas, muito menos uma expressão de arrependimento no rosto sonserino. Tudo o que Ginny queria era parar de ser aquela garota assustada.



Ela se levantou da mesa disposta a tomar coragem. Durante o último verão ela não havia mudado apenas por fora, sua falta de expressão havia a ajudado a esconder todos aqueles sentimentos. Ela andava pelos corredores com a postura ereta e o queixo erguido, um traço tipicamente irritante dos grifinórios. Se Tom havia significado algo para ela, aquilo havia ficado no passado.



Seus pés a forçaram a andar até o garoto, não era difícil notar a ruiva e suas vestes antigas no corredor, seus olhos o avaliaram do pé a cabeça com um ar desdém. O sorriso ladino da garota fez seus olhos castanhos brilharem, entregando que estava caçoando dele internamente, apesar de saber que o mais velho não se afetaria com tal atitude.



- Boa noite, Riddle.



Ela acenou com a cabeça ficando lado a lado com o mesmo e cruzou os braços enquanto ambos olhavam pela janela. Era a primeira interação entre eles em muito tempo, ela esperava não se abalar como sempre fazia. "Ele é apenas um fantasma" ela repetia internamente para si mesma.



Tom Riddle



@_TRiddle



Traumas eram capazes de deixar sequelas, cicatrizes dos mais variados tamanhos e profundidades; fossem ardentes como carne viva em chamas ou secas feito um traço permanente e imperfeito desenhado pelo tempo.



Eles eram a força-motriz que moldavam e construíam um indivíduo. E, como resposta a tal fator determinante, poderiam fazer com que este estagnasse, sucumbisse ou se erguesse com uma garra furiosa.



Riddle havia passado por muitos traumas; alguns dos quais preferia em seu âmago fingir que não aconteceram ou distorcer a realidade - ao mesmo tempo condenando os que considerava culpados pela sua infelicidade - de maneira que ele não se sentisse miserável consigo mesmo. A começar pela sensação que sempre tivera, desde que se entendia por gente, de que algo que deveria ser seu por direito e dignidade havia lhe sido arrancado bem antes que pudesse se entender como uma pessoa dotada de consciência, raciocínio e emoções.



Uma vida marcada pelo constante apedrejamento do abandono, da negligência e da rejeição. Era julgado muito antes de ter noção do que era e de definir as diretrizes para sua vida: ninguém jamais buscou compreender seu lado, entender os porquês ou saber se estava bem. Pelo contrário: o temiam por perceber nele um detalhe sutil o qual desconheciam, não sabiam lidar e preferiam lhe tratar com olhares tortos, indiferença e palavras cruéis como adagas afiadas a cortar os ossos. Sua mãe havia preferido se submeter vergonhosamente à morte a acompanhar seu crescer; seu pai abandonara a ele e à sua mãe como se fossem algo asqueroso e inutilizável somente por descobrir que ela era uma bruxa.



A verdade é que jamais pôde confiar nos outros a não ser em si mesmo.



O mundo lhe ensinara muito cedo que tudo que se distancia dos padrões da sociedade deve ser punido, rechaçado e aniquilado.



Mas ele se recusara a deixar que os outros o esmagassem e o pisoteassem contra a terra. Riddle se levantara da lama e começara a empregar árduos esforços para sobrelevar seu império, jurando aniquilar tudo e todos que se afoitassem entrar em seu caminho e lhe apontar o dedo sacramentando o que ele poderia ou não fazer, desafiando-o.



Haviam pedido por um monstro, portanto provariam com tremendo arrependimento de sua cólera. Qualquer indivíduo que cruzasse consigo seria usado e descartado, pois ele nunca se renderia à fraqueza dos sentimentos e do apego...



Então naquela noite fora arrebatado por um violento baque.



A presa de seu basilisco penetrara ardente e dolorosa em seu diário, que, naquele instante, funcionava como uma fonte, uma extensão de si mesmo. Sua mente, seu corpo e toda a sua base pareciam derreter em um fogo infernal por uma eternidade até a intuição lhe dizer com um silêncio incapaz de ser abafado por seus gritos agonizantes que tudo estaria acabado em milésimos de segundos, quando enfim se pulverizou e tudo imergiu em escuridão e uma mudez existencial…



Mas ele se reergueu tal qual uma fênix como se a morte fosse um detalhe tão aquém de seu ente.



Ele sabia agora que, quando concebera sua Horcrux, uma ligação ainda fora mantida com seu corpo, o preservando, além da que fora estabelecida indevidamente entre ele e seu diário, porém ainda desconhecia as causas que conduziram àquele erro na concepção… Tudo o que conseguia se lembrar daquele momento nitidamente, como se estivesse o assistindo à sua frente, era do turbilhão confuso em que sua cabeça se encontrava, juntamente com uma série de questionamentos, reflexões e considerações que o capturaram inevitavelmente com um baque.



Acreditar em destino selado simplesmente não fazia mais sentido para Riddle e ele podia enxergar naquele momento, com as poucas informações que obtivera através do contato com Ginny e Harry, o quanto o fragmento de sua alma estava se debandando tanto para o viés da estupidez pela busca impensada dos objetivos que ambos tinham em comum: Voldemort - o nome do alter-ego que criara para si e o qual sua contraparte oficialmente carregava em uma jornada rumo às trevas que fora barrada de Riddle a tempo - centralizara todos os seus tabus, impasses e objetivos em um garoto tão comum quanto qualquer outro, atribuindo-lhe como consequência um rótulo divino inteiramente longe de corresponder à realidade, subestimando os adversários, a capacidade intelectual e astuciosa de seus servos, seus peões no tabuleiro de xadrez, e se perdendo em um orgulho e discursos prolixos ao invés de usar-se da praticidade para findar os obstáculos.



O maior inimigo de Voldemort era ele mesmo.



Riddle também sabia que, por ter parado no tempo, há muito se distanciara da imagem de horror que sua contraparte construíra através de anos de terror, dominação e inserção cada vez mais irrefreável e irresponsável nas Artes das Trevas e que, embora recluso, ainda exercia temor. Então qual crédito ele teria, com relativamente pouca experiência nas artes obscuras e a aparência encantadora (ainda que esta lhe causasse repulsa por ser à imagem e semelhança de seu pai trouxa) se fosse atrás de cada Comensal que conhecia - os que com ele frequentaram Hogwarts - a fim de restaurar o grupo e reiniciar um reinado de escuridão?



Nenhum.



E ele jamais desperdiçaria energia daquele jeito patético. Tom não se rebaixaria a ir atrás de seus servos se eram estes que deveriam buscar a seu amo, a quem juraram serventia e lealdade eternas.



Além disso, o sonserino não apreciava dividir o que era seu.



Ele se conhecia perfeitamente para ter noção de que, mesmo não declarada, haveria uma competição e um jogo de astuciosa manipulação tanto por parte dele quanto por de sua contraparte no que tangia à obtenção do poder e da invencibilidade. Um iria usar o outro para depois apunhalá-lo pelas costas.



Uma dor de cabeça a qual ele não tinha disposição nem paciência para enfrentar.



E por último, mas não menos importante… Era que sua intuição lhe indicara, sussurrara, que se abrir para um recomeço era o caminho mais inteligente e ajuizado a se seguir.



Um recomeço no ponto de partida; no primeiro lugar que pôde considerar como um lar…



Afinal, não lhe restara um grão de dignidade e alternativa em mãos; esvaíram-se com a ventania.



Por isso ele retornara a Hogwarts e concordou com o acordo que Dumbledore lhe propôs, por mais contrafeito que se sentisse em ter que, sem palavras, praticamente pedir por uma oportunidade para o homem com o qual travava uma grande adversidade e de ter que tomar atitudes que iam de desencontro à sua pessoa.



Mas uma árvore que se mantém rígida durante a tempestade se quebra.



Orgulho em demasia era tolice. E Tom poderia perfeitamente buscar o poder e a invulnerabilidade por outro viés;  um mais escorregadio, calado e astuto, no entanto mais individualizado…



Através do conhecimento e da experiência.



Até que Riddle não poderia reclamar do que vinha vivenciando até o presente em suas passagens pelo mundo trouxa, bruxo e pelos anos letivos em que acompanhava Harry, Rony e Hermione. O pouco contato com a reconexão com o mundo não-mágico já estava proporcionando a ele novos conhecimentos científicos e do cotidiano, permitindo-lhe que pusesse em prática nossas possibilidades de estratégia e expansão de seus poderes. Ele também não precisava depender da aprovação alheia e deveria admitir que relações como a amizade eram capazes de lhe trazer benefícios e suporte extra incondicional, se necessário. O Trio, ainda que soubesse de seu pior lado - porém sem entender os pormenores que o guiaram até tal -, já o tinha aceito pelo que era naturalmente com o passar dos anos, assim como ele aos poucos começou a estimar os momentos de descontração, conversas significativas e perrengues com os três; sempre mantendo uma postura sóbria…



Seus pensamentos, outrora distantes, logo retornaram à órbita assim que a garota de cabelos flamejantes e brilho determinado no olhar parecia se aproximar dele com um semblante que o importunava e, dessa vez, lhe soava que não se desvencilharia como antes… O que havia acontecido?



Certamente boas intenções não brotavam da Weasley mais nova…



O sonserino estreitou os olhos e, pouco antes de ela se aproximar o suficiente para distinguir as feições de seu rosto, ele já havia novamente assumido sua máscara de impassividade e de poucos amigos, como quem observava o mundo abaixo de si com julgamento e desdém. Sua desconfiança crescera ainda mais quando ela lhe dirigiu à palavra e se manteve ao lado dele, fitando a noite afora chuvosa, fria e escura através da janela.



Se Ginny fora até ele esperando que ele se ajoelhasse diante dela e lhe pedisse perdão pelo sofrimento que lhe causara em seu primeiro ano, já poderia enfeitiçar a si mesma com um Riddikulus e pintar seu rosto com uma maquiagem de palhaço.



Porque ele não se arrependia do que fizera e jamais o faria: era uma questão fundamental de sobrevivência e orgulho para ele se libertar do diário e concluir a tarefa inacabada de seu ancestral, fundador da Sonserina.



Além do mais, Ginny havia sobrevivido. Por qual razão ela insistiria em tocar em uma ferida que não poderia se abrir mais?



E Tom, por ter retornado e conseguido por outras circunstâncias o que antes intencionava ao extrair a energia dela, já não possuía mais motivos para tomar uma decisão que a prejudicasse… Mesmo se o desejasse, estava sob a vigia rigorosa de Dumbledore.



… Seria muita petulância da garota imaginar que Riddle perderia seu tempo com uma pessoa que era apenas mais uma...



O herdeiro de Slytherin não respondeu de imediato; todavia não se delongara tanto ao fazê-lo; apenas tempo curto e suficiente para dar a impressão de que estivesse considerando se ela mereceria uma resposta ou não.



— Ora, que curioso, Ginevra… — arqueando uma das sobrancelhas, ele inclinou a cabeça para o lado de modo imperceptível, ainda encarando pela janela, e pôs as mãos nos bolsos — resolveu finalmente aceitar que não sou apenas uma miragem de sua cabeça?



Então Riddle virou o rosto para a ruiva; o semblante de tédio estampado em sua face.



— O que você quer? Se veio pedir qualquer favor patético, pode girar em seus calcanhares e choramingar por ajuda alheia.



Ginny Weasley



@O7WEASLEY



A ruiva o olhava pela visão periférica vez ou outra enquanto prendia sua respiração, apesar de sua expressão neutra ela conseguia "escutar" as engrenagens em suas cabeças. Talvez os dois estivessem pensando alto demais.



A tempestade e seus trovões gritantes do lado do de fora do castelo pareciam mais calmas do que o rumo daquela conversa. Seus pelos se arrepiaram levemente com sua voz, ela admirava a coragem dele de lhe dirigir a palavra.



- Weasley - ela o corrigia ainda evitando olhar em seus olhos, um sorriso surgindo no canto de seus lábios.



- Você me parece bem real, Riddle. Só vim lhe dar um caloroso boa noite, algum problema?



Soou de forma cínica enquanto acenava para algumas pessoas que passavam no corredor. Em um movimento súbito se virou de frente para o garoto, nunca tinha o olhado de perto realmente, aqueles que podiam ver a cena de longe poderiam achar que a weasley mais nova procurava algo em seu rosto, mas era apenas sua curiosidade falando estupidamente alto. Ele não parecia alto e assustador como ela se lembrava.



Tom Riddle



@_TRiddle



— Seu nome é Ginevra — ele tornou seu corpo de frente para a garota, dirigindo-lhe através de um semblante sério palavras calmas, diretas e frias emolduradas sob sua voz grave e suave. — Seja de uma forma ou de outra, eu a chamo como bem me convier.



Quem Ginny pensava que era para lhe dizer como e o que fazer ou não?



Que garota… pateticamente petulante.



Ele conseguia captar as nuances quase imperceptíveis que se propagavam pelo ar, ah, como conseguia… A respiração que taciturnamente hesitava; o calafrio que eriçava cada fio de cabelo da Weasley mais jovem, ocultado pelo escudo da audaciosa coragem… Admitia sem pudores para si mesmo como aquele temor que ela ainda sentia dele, porém tentava viciosamente dissipar, o deliciava em seu âmago.



Riddle sempre saboreou o pavor que era capaz de implantar nos outros, mesmo sem intenção nem o menor esforço. O medo era uma emoção, um instinto animal primitivo que prevenia o ser humano de cair numa armadilha ou de cometer um ato estúpido que aniquilasse sua existência, mantendo-o em uma zona confortável e segura. E, através desse instinto que refreava o comportamento humano e diminuía suas defesas, Tom podia perfeitamente manipular e persuadir o outro a seu favor.



E deter o controle sobre tudo e todos em suas mãos era algo que combinava de maneira primorosa com sua pessoa.



Então suas sobrancelhas se fecharam em irritação e desconfiança diante do descaramento, da ousadia do olhar castanho como quartzo fumê com variações de um rubro amarelado vivo da ruiva estabelecendo contato direto com o oceano cinzento, penetrante e gélido de seus orbes e com a inapropriada aproximação resultante do movimento de Ginny.



Sentia como se estivesse sendo desafiado pela garota que, ele notara absolutamente bem com o passar dos anos, porém escolheu ignorar até o momento o fato por este lhe soar irrelevante, havia crescido de forma inegável; não tanto em termos de altura comparado consigo, mas ainda assim… E um requinte de valentia em sua aura; tão tímido e apagado quando a conheceu…



Ele não gostava da tonalidade sutil com que ela o estava desafiando. Mas jamais deixaria sua compostura se esvair.



— Ah, é mesmo? — Tom diminuíra o volume de sua voz, aumentando, em contrapartida, ligeiramente um teor de ameaça e acusação. — Então por quê tenho a impressão de que você não veio até mim só com a finalidade de me desejar um boa noite “caloroso”? — ele se aproximou tenuemente da ruiva, semicerrando os olhos. — Não sou idiota, Ginevra. Diga logo o que quer.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



- Você perdeu o direito de me chamar assim. - Ela fala franzindo o cenho com tamanho ultraje e retrucou ofendida.



Encarou seus olhos se movendo na direção da garota, queria ser capaz de ler seus pensamentos. Mas pensou o quão repulsivos poderiam ser, ela não precisaria daquilo, não se importava.



Sua feição era dura, um tanto severa, como quando alguém chamava a atenção da garota por algo que ela havia feito. Ginny se perguntou se ele sabia sorrir ou expressar suas emoções de forma menos evasiva. Não se deu conta que estava encarando o garoto a tanto tempo, às vezes o lado curioso da ruiva a metia em problemas. . .mas seus olhos despertavam um misto de emoções estranhas em si.



- Sim, é mesmo. - ela falava sincera, porém sua voz soava um tanto robótica, como se a garota tivesse ensaiado diversas respostas para tal situação.



O tom de sua voz fria a incomodava, Weasley estava acostumada com gritos mas seus ombros ficaram tensos.



- Você sempre presume as coisas, eu estava apenas sendo gentil. - Ela fala subindo o tom de sua voz suave e da um passo a frente ficando centímetros de distância de seu rosto.



- Esqueça, tenha uma lindíssima noite. - Ela revirou os olhos e fechou os punhos com força até que os nós entre seus dedos ficassem brancos, por um momento havia esquecido que o mais velho provavelmente faria o mesmo caminho até seu salão comunal.





Tom Riddle



@_TRiddle



— E desde quando você começou a pensar que tem o poder de determinar meus direitos, Ginevra? — o herdeiro de Slytherin ergueu uma das sobrancelhas, transbordando um enfado quase insensível e traços do que parecia ser uma zombaria.



A garota não poderia achar realmente que detinha o poder de lhe dar ordens, de como deveria ou não agir. . .



Ninguém impunha limites a Tom Marvolo Riddle.



Será que ela havia batido a cabeça, tido um lapso de memória, e esquecido com quem estava lidando?  



Não. Ela não esquecera. . . A tensão camuflada pelas palavras contidas e repentinamente pouco fluidas era outro detalhe que denunciava que a ruiva mantinha pelo menos um pé atrás em relação à ele.



Um sorriso enviesado se formou no canto de seus lábios. E um brilho ardiloso e sugestivo tamborilou em seus olhos por ínfimos segundos.



Riddle conhecia o impacto que provocava na mais nova.



— Não parece.



Porém ainda assim. . .



Ela não o temia como antes. O medo cozinhava dentro dela, era inegável, mas para que tenha num súbito ido falar com ele. . . Riddle se via desconfiado das reais intenções de Ginny - já que uma pessoa não caminharia até a fonte de seus traumas por livre e espontâneo agrado - e, de fato, aporrinhado, como se insistentemente cutucassem sua pele com pequenos espinhos, pela ousadia circundante em sua aura, em seu esgar e palavras atrevidas; traduzida pela tonalidade quente de seus cabelos e pela faísca do caramelo de suas íris. . . Ao mesmo tempo em que se aborrecia em seu âmago por sentir ter tido seu poder questionado, era incapaz de refrear a curiosidade que agora crescia dentro dele de maneira inconveniente.



Queria saber o que a motivara a ir até ele.



— É claro que eu presumo — ele cruzou os braços, respondendo com um volume de voz mais baixo e mais controlado do que o da jovem Weasley. — Ninguém é genuinamente gentil, Ginevra.



Tom recuara sutilmente, como reflexo, quando a ruiva se aproximara. No entanto, continuava a uma curta distância do rosto da garota.



Fitara seus olhos vivos mais do que nunca e, pela primeira vez, sentia emanar dela o que parecia ser um leve e tranquilo aroma de peônias.



Então suas feições se assumiram menos carregadas; menos repelentes. Inexpressivo ainda. Contudo, sem a presença da dureza anterior e, agora, contendo uma curiosidade taciturna e genuína em sua voz macia.



— Só fiquei. . . curioso quanto à abordagem inesperada e quanto à razão de falar comigo após tantos anos me evitando, Weasley.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



— A partir do momento em que é meu nome escorrendo pelo seu veneno de cobra. - Disse em um tom ríspido demais até para ela.



Riddle despertava todos os sentimentos que ela mais detestava, a garota odiava se sentir triste ou com raiva o tempo todo, desejava que aquela situação fosse tão fácil de ser resolvida quanto suas tarefas do primeiro ano.



Ponderava sobre a situação a sua frente, toda a coragem que havia reunido seria suficiente? Ela genuinamente esperava que sim. O sonserino parecia inabalável a toda e qualquer palavra que saía de seus lábios, a jovem weasley sentiu vontade de suspirar com o esgotamento que sentia, como se tudo aquilo sugasse todo o resquício de energia em seu corpo.



— Ninguém é, mas nem todas as ações precisam ser mal intencionadas, Tom- Riddle, eu quis dizer Riddle. - Ela responde no mesmo tom para que não chamassem atenção nos corredores com tamanha "gritaria".



A ruiva encarou os lábios frios porém levemente rosados do Sonserino enquanto o mesmo falava, como se aquilo a distraísse de seus olhos azuis. Um sentimento estranho passou por seu corpo, não longo o suficiente para que ela pudesse ligar, mas curto o suficiente para que pudesse perceber que ele havia recuado. Ponto para a grifina.



Como se acordasse de um transe ela o olhou séria e assumiu uma postura um tanto diplomática, se sentando de modo infantil na janela para que pudesse ficar levemente mais alta que o garoto.



Seus dedos enfeitados com pequenos anéis feitos de flores naturais conservadas com feitiços se moviam por sua mão enquanto ela tomava coragem para falar. Sabia que era um sinal de que estava nervosa, mas as flores a acalmavam.



— Vim oferecer um acordo de paz. . . preciso aprender a lidar com isso na prática, e acima de tudo, estou cansada de ter que ficar longe deles só porque você precisa ficar de guarda, como um cachorrinho. Não precisa falar comigo, só...tolerar o que aconteceu no passado e tentar esquecer aquilo.



Pelo bem do grupo como um todo.



Ela fala as últimas frases mais para si mesma do que para ele.



Um vento forte entra pela janela, fazendo com que seus cabelos cor de cobre voassem no rosto dos dois, ela se apressa para fechar a antiga vidraça emperrada notando as gotas de chuva molharem o resto do corredor. Resmungando alto com sua tentativa falha, havia esquecido sua varinha em sua mala, logo ficando com a capa inteiramente molhada pela chuva.



— Maldita janela! Pode me ajudar? E nem faça essa cara.



Outros estudantes corriam pelos corredores, como se os trovões fossem o sinal da hora de dormir, ela suspira frustrada e com frio, olhando Ridlde como se ele tivesse culpa até pelo mal tempo na Escócia.





Tom Riddle



@_TRiddle



— E o que tem de problemático em seu nome ser proferido por mim? — o sonserino replicou com uma tediosa impaciência por ela se mostrar prolixa para tocar na própria ferida, utilizando-se ao invés disso de ataques verbais indiretos à ele. Então, encrespando o canto dos lábios de maneira maldosa, provocou, frisando mordaz e tranquilo a última palavra. — É bom que meu veneno concede um ar interessante a seu nome. Ginevra.



Não importava quem fosse, Riddle odiava que se referissem a ele pelo seu primeiro nome; Tom. Não porque era um nome muito comum no passado - e ele, desejando se distanciar de tudo que o ligasse aos que eram triviais, já que estes o rechaçavam das piores formas e ele se recusava ser nivelado à mediocridade, desgostava e evitava desde criança utilizá-lo -, mas sim devido ao fato de carregar o mesmo título de sua figura paterna trouxa; a qual ele tanto desprezava substancialmente por ter abandonado sua família, tornando-se o estopim para que ele deixasse sua identidade real de uma vez para trás e iniciasse um novo legado das cinzas, a partir do anagrama de seu nome de batismo.



Por isso que ele corrigia a todos que começassem a chamá-lo de “Tom” para se referir a ele por seu sobrenome, sem explicar suas íntimas razões.



Um tanto controverso de sua parte, uma vez que era o sobrenome de seu pai. . . No entanto, este se mostrava distinto, pouco conhecido, além de conceder a ideia de afastamento pessoal entre ele e os demais.



Ainda assim, por incrível que soasse, ele nunca se incomodou tanto por Ginny o chamá-lo de “Tom”.



Talvez pela interação que tiveram há muito pelo diário, por ser fruto de uma máscara que ele vestia naqueles tempos a fim de continuar a ludibriando, porque aquilo sempre soou como ingenuidade por parte da ruiva. . . O sonserino não saberia dizer com clareza.



Mas ele pensou ser um tanto quanto interessante que ela tivesse bambeado naquele instante, chamando-o por ‘“Riddle” numa tentativa tardia de frágil distanciamento?



De todos os modos, optou por não compartilhar seu deleite.



— Só acredito em ações bem-intencionadas quando testemunhar uma, Weasley.



O sonserino tornou a cruzar os braços e acompanhou com um brilho repentino e efêmero no olhar e um entretenimento genuíno no discreto sorriso irrefreável e enviesado a inocência no gesto da ruiva enquanto a mesma se posicionava na janela simplesmente para ficar à sua altura e tamborilava compulsiva e em nervosia ansiosa por ser reprimida os dedos ornamentados com singelos anéis de flores, porém tão significativos.



Ele sempre achou aquele traço da ruiva um tanto quanto. . . peculiar.



Parecia dançar tão compassado com a malícia atrevida da garota e que somente agora ele reconhecia em consciência. . .



. . . Por quê tal fato lhe repercutia tão insuportavelmente impróprio e ao mesmo tempo tão. . . vicioso?



Ao ouvir com atenção a proposta da ruiva, sentiu seu sangue ferver e borbulhar em raiva reprimida ao ser tachado de “cachorrinho” com tamanho descaso e atrevimento, empregando um árduo e mudo esforço em manter a compostura impecável como se aquele comentário abusado viesse de alguém tão irrelevante a ponto de igualmente o ser.



Aquilo teria volta. Ah, se teria. . .



Não era como se ele estivesse sendo obrigado a acompanhar o Trio desprovido de domínio de si próprio. Aceitar aqueles requisitos fora uma escolha sua, pelo que melhor julgou ser conveniente, e, àquela altura, há muito já não lhe era um sacrifício fazê-lo.



Ele verdadeiramente gostava da companhia de Harry, Rony e Hermione.



— Tolerar o que aconteceu no passado, Weasley? Há! — ele deixou uma risada de gozação escapar. E acrescentou calmamente com sua habitual sinceridade sem escrúpulos. — Não sou eu que sempre tive problemas com o que aconteceu entre nós; para mim não faz a menor diferença se eu a manipulei e quase me apropriei de sua vida. . . Se alguém aqui guarda ressentimentos até hoje como uma criança birrenta a não aceitar o “não” de seus pais não sou eu. É você. — uma breve pausa se seguiu.



A todo momento que falava, mirava diretamente os castanhos da jovem Weasley, sem se desviar.



Ele apreciava o contato direto quando conversava com alguém.



Porque captar os olhos era como captar a alma.



— Por mim — o sonserino deu de ombros — não vejo problema algum se deseja estabelecer paz.



Então uma ventania súbita invadiu o interior do castelo através daquela janela, arrastando consigo rajadas das águas frias e provocando uma careta em Riddle por ser também golpeado com os cabelos calorosos de Ginny, fazendo-o ser acometido tanto pelas chicotadas desencadeadas pelo movimento rápido das longas mechas da ruiva quanto pelas ondulações macias das mesmas, alternadas com o comportamento anterior.



A chuva também o encharcara. Porém, diferentemente da garota, ele não se incomodava tanto com o banho inesperado que recebera. . . Aquelas águas provenientes diretamente dos céus o remetiam ao agradável e nostálgico aroma de terra após receber as primeiras gotas de chuva.



Assistindo brevemente com certa irritação a mais nova tentar fechar a janela emperrada sem sucesso, o sonserino gesticulou direto e certeiro com o indicador e médio na direção dos vidros, cerrando-os imediatamente sem qualquer espécie de contato físico.



Uma risada abafada e baixa repercutiu de dentro de Tom. Ver Ginny ensopada como um gato escaldado simbolizava a perda de seu pedestal para ele, como se a natureza tivesse-a castigado por confrontá-lo; algo do qual ele sequer necessitara empregar esforços ou se preocupar em fazê-lo.



Mas. . . seria covardia que ele a deixasse molhada.



O que ele faria poderia ser realizado com a varinha se não estivesse indisposto a manuseá-la.



Então fez uso da telecinese mais uma vez. Aperfeiçoada com o passar dos anos, era capaz de muito mais do que apenas mexer em objetos sem manuseá-los.



Poderia manipular a matéria até certo ponto.



Paulatinamente, a água que deixava Ginny desconfortável evaporava, assim como a que finamente cobrira parte de seu corpo e do largo parapeito. Era possível visualizar o tênue vapor d’água abandoná-los até que não tivesse mais nenhum resquício a ser retirado.



Ainda havia alunos se deslocando apressados pelos corredores, no afligimento de chegar logo aos salões comunais após o susto tomado pelos trovões que rugiam como se fosse o fim do mundo. O herdeiro de Slytherin encostou o corpo à parede, encarando Ginny em um sereno divertimento e ignorando por completo aqueles que passavam diante deles - fosse longe ou perto; os demais se assemelhavam a insignificantes figurantes no recinto.



— Vê, Ginevra? É o que acontece quando você não se precavê com sua varinha; um instrumento de ataque e defesa. . . Achei que já deveria saber disso.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



— É um privilégio a ser conquistado, um presente para pessoas claramente íntimas. Você não é uma delas. – Weasley sentiu suas unhas machucarem a palma de sua mão, uma grande força era aplicada em seus braços para que ela não perdesse a calma com a arrogância de Riddle. — Vou tirar esse sorriso do seu rosto, Tom. – sorriu com os dentes perfeitamente alinhados ao pronunciar seu nome tão lentamente.





A garota admitia para si mesma que perderia alguns argumentos com o mais velho, apesar do tempo e falta de prática com o garoto ela sentia que seu consciente a faria voltar no passado. Ambos se conheciam bem, não tanto quanto ela gostaria, o que a tornava vulnerável sempre que ele tocava em tópicos sensíveis demais a seus ouvidos. Entretanto, se em algum momento, tão raro quanto aquele, ela achasse uma brecha para irritá-lo profundamente. . .assim o faria.





— Sim tolerar. . . – a mais nova revirou os olhos quase bufando de raiva, as noites mal dormidas do último mês e a raiva que o garoto causava estavam quase a atingindo seu limite de estresse diário. — Eu não guardo ressentimentos, se guardasse eu não teria vindo até você. Se eu guardasse ressentimentos eu diria que perdoaria seu orgulho. . . se não tivesse ferido o meu. – um simples dar de ombros, vindo dele, era o mínimo que receberia e o máximo que esperava.





Sentia a temperatura de seu corpo cair gradativamente com a água gelada, a ponta de seu nariz atingindo um tom de vermelho. Seu corpo entrou em estado de alerta quando o sonserino praticou magia, esperando fielmente que a janela fosse alvo de seus feitiços e não ela mesma. Suas orbes castanhas o encararam do mesmo modo, seus braços se cruzando enquanto seus pensamentos voavam longe.





Uma pequena onda de calor atingiu seu corpo a fazendo sorrir e murmurou um “obrigada” inconscientemente. Enquanto fechava os olhos, suas roupas e seus fios secavam gradativamente. quase tão agradável quanto se encobrir com uma manta grossa durante uma noite de inverno. A Weasley mais nova relaxava seu corpo contra a janela enquanto seu cabelo ruivo caía como uma cortina por sua capa, seus pés balançavam de modo infantil durante sua distração revelando meias coloridas por trás do salto preto.





— Não me faça perder a paciência com você, eu não sou sua aluna e você não é meu professor para de me ensinar lições assim, “Mr. Darcy”- Ela sorriu irritantemente e tirou seus sapatos ao descer da janela, ele jamais entenderia a referência que ela havia feito sobre seu livro favorito. — Boa noite. – deu passos curtos pelo corredor, os monitores se preparavam para a primeira ronda e ela falhava em encontrar um caminho seguro rumo ao salão, ficando calada atrás de uma coluna enquanto pensava sobre qual rota seguir.



 



Tom Riddle



@_TRiddle



— Se a questão orbita em torno de intimidade, lamento informar que detenho o mundo interior de sua cabeça na palma de minha mão, Weasley — Riddle virou uma das mãos e bamboleou os dedos de modo a consumar suas palavras; o esgar malicioso em conjunto.





O sonserino se embrenhara pelas ondulações dos sentimentos e visões de mundo da ruiva até o final do primeiro ano letivo dela, portanto tinha em mente mais ou menos o que poderia esperar das expressões de sua identidade. . .





— Não me queira ver sem meu sorriso, Ginevra — ele respondeu tranquilo frisando com nitidez as palavras, como uma espécie de aviso velado, e semicerrando os orbes em uma eutimia traiçoeira que também jazia sobre seus lábios encurvados a mostrar com sutileza o branco de seus dentes.





Se não fosse esse acordo com Dumbledore, ele. . .





Não. Não a machucaria. Mas lhe ensinaria uma lição.





As nuances que o punham em uma espécie de pedestal arquitetado pelo ego e que se traduziam no esgar inicial haviam se alterado indesejavelmente, deixando um sabor cáustico no paladar de sua memória: ele captara pelas entrelinhas todas as intenções audaciosas da jovem Weasley ao pronunciar seu nome com provocação. Só que ele mantivera o controle mesmo que esta lhe incomodasse como ácido a roer a pele, porque ele jamais concederia à Ginny o desfrutar da vitória.





Ele a conhecia com maestria o suficiente para abalar suas estruturas. . . Mas como pôde ignorar e subestimar a insolência singular dela em cutucar a serpente em seu próprio ninho? Talvez tivesse concebido em demasia o princípio de que ela não seria estúpida o bastante para sair de seu casulo tecido pelas pinças do medo e dos traumas a fim de reptá-lo.





Da mesma forma que se aprazia com o corpo trêmulo daqueles que tinham pavor de seu ser, enfurecia-se quando tratavam sua ameaça com pouco caso.





Então por que infernos havia uma pequena, ínfima parte de si, que afligia-se por mais?





. . . Maldita inclinação a sempre admirar a bravura.





Tom não retrucou, permitindo que a sentença dela se dissipasse pelos ares. Apenas de instigar-lhe a impaciência já era o necessário para que o desdém perambulasse pelas curvas de sua face em recreação. Agora, qualquer sinal de incômodo que a garota sentisse por ele seria uma vitória, um lembrete de com quem ela estava lidando.





Ele não havia ferido seu orgulho?





Há! Então que ela pusesse esforços em remediá-lo.





Riddle queria só ver; se todo aquele descaramento não passava de um impulso momentâneo. . .   





Mas ele não pôde deixar de notar com taciturna e um tanto quanto inusitada e simpatizante atenção o modo sereno como ela sorria e baixava por um curto tempo suas defesas como se estivesse em um local seguro para se expressar sem que houvesse gente para reprimi-la; ou a combinação jovial entre as vestes da escola e suas meias de um espectro de cores em explosão que se rebelavam diante da predominância preta tradicional de seu uniforme.





Isso tudo devido ao fato de Tom ser detalhista. Captar e analisar os sinais contidos nas minúcias de um indivíduo ou objeto era inevitável para ele e eram nelas que residiam os segredos para que o herdeiro de Slytherin desvendasse uma fresta a qual ele poderia decorar e construir como bem entendesse.





Nada mais.  





Sua única reação fora esboçar um levantar tênue de têmporas e um olhar intenso e tedioso frente ao comentário da ruiva antes de ela girar nos calcanhares e seguir seu destino pelo corredor, em verdade sem saber que rumo tomar quando se encontrava bem mais adiante parada atrás de uma coluna.





“Mr Darcy”. . . Weasley acreditou realmente que ele não fosse compreender a referência à literatura de Jane Austen? Ainda mais ele, que conviveu por tanto tempo no mundo trouxa e ainda o faz, tendo contato com uma gama de obras e produções artísticas e tecnológicas não-mágicas.





Tolinha.





O sonserino começava a fazer seu pacato caminho por aquele corredor único e agora soturno, devido ao horário avançado, e preferencialmente decidiu que ignoraria a garota quando se aproximasse de onde ela estava.





No entanto, um estalar suspeito e fino de sapatos, mesclado com outro de natureza mais abafada, encurtava sua distância com determinada agilidade.





Conforme as vozes pertencentes àqueles sons chegaram aos seus ouvidos, seus orbes se abriram em alerta.





Sabia que ela seria vista.





Num súbito ele se apressou na direção da ruiva, tocando seu ombro e levando o indicador aos lábios numa menção de que ela deveria permanecer quieta. E, recuando tanto a ele quanto ela até as costas atingirem a parede, tão logo fez uso de uma técnica de magia antiga que conjurava a invisibilidade, por muito pouco escapando.





Ambos ficaram imperceptíveis aos olhos das figuras que passavam naquele momento diante deles: eram o rabugento Argus Filch ao lado de Dolores Umbridge.





O velho zelador parecia mostrar as dependências para a nova professora de DCAT.





— . . . quero que a partir de agora os monitores façam rondas pela Ala Oeste, pelas masmorras e pelos depósitos do quinto andar. Não é para haver alunos fora dos dormitórios a partir das nove e meia da noite. E quero que me reportem diretamente a partir de agora quaisquer alunos que infrinjam as novas regras.





— Com todo o esforço suas ordens serão cumpridas, Srta. Umbridge — o zelador assegurou com a pompa de um bajulador iludido. — Que prazer pela chegada de alguém que finalmente colocará disciplina neste castelo; Dumbledore nunca escuta minhas reclamações!





— É para isso — ela exibiu um risinho nojento — que estou aqui, Sr. Filch.





O olhar enfadonho do sonserino acompanhou os dois com asco, que não tardaram a desaparecer pelo corredor.





Madame No-r-r-a não andava ao lado de seu dono, o que era raro. Provavelmente fazia rondas por outros espaços e atalhos, pelos quais um ser humano normalmente teria dificuldades de adentrar.





Assim que julgou que a área havia se tornado segura de novo, Tom desfez o feitiço e largou o ombro da ruiva, virando-se para encará-la com um nó de irritação que cintilava pelo seu semblante.





— Precisa de um mapa para se guiar até o dormitório, “Elizabeth”? — ele devolveu na mesma moeda. — Mais um pouco de devaneios atrás da pilastra que não oculta nem uma sombra e você seria pega por esses dois. . . — ele sacudiu a cabeça quando tornou por uns instantes seu rosto para o caminho pelo qual Umbridge e Filch haviam passado.





Então suspirou com um leve exaspero e acrescentou baixo para si mesmo, porém não tão baixo para que a ruiva não pudesse ouvir. — Essa porca rosa imunda ainda vai conseguir tirar a paciência de todo mundo aqui.





Fitando Ginny de forma mais impassível e quase serena, disse por fim. — É melhor retornarmos ao Salão Comunal. . . — e ergueu uma das sobrancelhas — vai voltar comigo ou sozinha? Você é quem sabe o que quer.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



Havia confidenciado todos os seus segredos mais profundos a ele, por mais que tentasse, sua personalidade não havia mudado tão bruscamente quanto sua capacidade de controlar emoções.





Ginny ainda permanecia com as mesmas maneiras, hábitos peculiares e expectativas em relação a tudo e todos. Seu amadurecimento havia apenas criado uma barreira entre seus mais profundos desejos e sua vulnerabilidade, os encobrindo consideravelmente. Torcendo que para que a astucia em sua auto confiança não falhasse em momentos desesperadores como aquele, ela tornou a erguer o queixo como não se importasse.





Sua falta de habilidade em filtrar as ações do mais velho a colocavam em uma posição delicada, poderia provoca-lo até seu limite apenas para provar que poderia, e o faria em qualquer oportunidade pois adorava o deleite de ter a última palavra em uma discussão. Por outro lado, ainda temia a fúria de Riddle tão amargamente em seu coração, se sua voz falhasse ou seus olhos marejassem assim que seus escudos baixassem saberia que ele a consideraria fraca novamente.





A Weasley mais nova jamais admitira em voz alta o medo que o garoto instalava em seu corpo, seus olhos azuis pareciam tão frios quando o lago negro aquela noite, sua voz imponente poderia facilmente a tirar do sério. Em outras circunstâncias ele seria alguém que ela admiraria, seu modo impecável de dedução a deixava primitivamente curiosa, sua vontade de se mostrar e aprender a dominava quando se fixava em algo interessante, e ele era.





Se a garota estava ciente das divergências nas personalidades de ambos porque insistia em estar ali? Talvez ela tivesse perdido a noção do perigo. . . talvez sentisse falta da adrenalina que sua presença causava, fosse boa ou ruim, sentia que ele ficaria perto.





Naquele momento o tecido colorido de lã deslizava sob o chão fazendo com que a ruiva andasse de um modo engraçado e um tanto desastrado. Seus olhos se semicerravam em direção ao fino movimento, não haviam tantas opções a serem seguidas, raiva subiu em um tom vermelho por seu rosto ao avistar o traje cor de rosa e a voz irritante. A grifina saltou levemente de susto ao ter sido pego de surpresa, pronta para resmungar alto ou socar a pessoa que a importunava até tornar seu olhar lentamente a mão que a segurava.





Inconscientemente prendeu sua respiração, como se o mínimo esforço pudesse comprometer sua posição, como se o garoto fosse a machucar e então permaneceu em silencio. Assim que a os adultos se aproximaram ela arregalou os olhos e segurou a capa do sonserino com força. . .mas por algum motivo eles apenas continuaram andando e conversando.





"Vaca rosa" ela disse sem som enquanto escutava atentamente a conversa entre o zelador e a nova professora. A intervenção do ministério em Hogwarts certamente iria causar dor de cabeça em todo o corpo docente e discente do castelo. Sentiu vontade de pular em ambos se a mão do garoto não estivesse eu seu ombro, sentindo um leve formigar no local. Ginny mal havia percebido que suas mãos tremiam quase tão sutis quanto o feitiço que Riddle havia feito, ela estava nervosa. Por fim soltou sua respiração quando eles finalmente haviam passado e se afastou do mesmo.





— Não. . .seu, seu. . . -. Ela fala desviando o olhar para seus pés e limpa as bochechas extremamente coradas como se tivesse sido pega no flagra por sua pequena referência bibliográfica, talvez ele tivesse aprendido mais sobre os trouxas ou apenas lido sua mente.





— Você me ajudou porque quis. - Ela olhou curiosa e sorriu brevemente por seu comentário, uma expressão de deboche escancarada em seu rosto.





— É você quem está voltando comigo, e não o contrário. Provavelmente devem estar indo dormir agora. – Ela fala distraída e segura seus sapatos próximos ao corpo enquanto andava lentamente. Queria perguntar o motivo por atrás de um ato tão benevolente, mas estava sonolenta demais para iniciar uma discussão agora.





Tom Riddle



@_TRiddle



Tom permitiu que um esgar sarcástico e mordaz curvasse inescrupulosamente seus lábios; o céu cinzento de suas íris constituindo um cenário contínuo e caótico nas ventanias silenciosas em conjunto com o solo cornalina dos de Ginny.





— Foi um mero ato de caridade à uma mísera alma que nada me custou e que, sem o qual, você estaria em uma tremenda enrascada. . . e sequer começamos o ano letivo!





A tensão, a quase imperceptível tremedeira, o balbuciar e o rubor que subiu pela face da ruiva deixando-a tão vermelha quanto um tomate foi tudo o que ele precisou. Parecia que nada do que ela fizesse daquele momento em diante seria capaz de aniquilar sua paciência ou seu orgulho e serviu-lhe tão somente para que suas visões sobre a jovem Weasley se conservassem intactas em quase sua totalidade, excluindo detalhes tão ordinários em sua composição que, de fato, não vinham e nunca viriam ao caso.





Não importava o quanto ela tentasse escorar as emoções e pensamentos que a tornavam vulnerável sob o manto da indiferença e ironia: ela era e sempre seria a garotinha fraca e estúpida que tagarelava em demasia sobre seus sonhos tolos e otimistas e ele faria questão de lembrá-la de se recolher a seu devido e insignificante lugar todas as vezes que ela cogitasse por a ponta dos pés fora de seu círculo.





Ginny era patética.





Era isso. Apenas isso.





Sabia que estava sempre certo, mas sua questionadora excentricidade o fazia esforçar-se a fim de testar os limites de Ginny de todas as formas que poderia, somente para vê-la se inflamando tanto quanto suas mechas incandescentes e assim provar mais uma vez seu ponto. . .  





— Que se saiba, é de senso comum dizer que quem guia é a pessoa que sabe o caminho — o herdeiro de Slytherin comentou com o olhar tranquilo à frente enquanto caminhavam pelos corredores — e, uma vez que você nitidamente se encontrava mais perdida que gnomo de jardim após ser arremessado, então eu estou lhe fazendo o favor antes que se perca mais uma vez — ele se virou para a garota por uns instantes, dando-lhe um sorrisinho alfinetante.





— E eu não acho que estejam — ele expôs seus pensamentos à ruiva sem a sombra picante que há pouco temperava suas palavras. — Era possível perceber pelo olhar de Umbridge que ela estava só começando a diversão agora. . . — e se voltou para Ginny; a expressão séria, porém longe de ser tensa — talvez ainda permaneça um bom tempo circulando pelas entranhas do castelo até encontrar algo que a entretenha ou a falta de a faça se recolher com um sabor amargo nas próprias expectativas.





Tom reparava como a ruiva, ainda só de meias, andava ligeiramente desengonçada como instantes atrás antes de se esconder na pilastra.





“Humpf. Elegante como um pato”, ele sorriu em deboche mentalmente.





Uma atitude singularmente espontânea por parte dela, da espécie que não se importava se outros fossem julgar.





E, com isso, a sensação de tranquilidade sentida durante o curto tempo em que tocou o ombro macio e quente de Ginny lhe afagava a cabeça e a mão até agora.





Mesmo depois de já não mais fazê-lo.



 



Ginny Weasley



@O7WEASLEY



— Não preciso da sua caridade. Prefiro ser pega e lidar com a situação frente a frente do que dever algo a você e a sua enorme arrogância. Pelo menos começaria o ano em grande estilo e não teria que gastar meu tempo com a sua “ilustre” companhia — Disse de modo ignorante enquanto andavam, não se importando de ser ingrata com Riddle ou agradecê-lo com todas as palavras. A Weasley mais nova jamais controlaria os desejos em sua curiosidade, e muito menos os desafios impostos à sua frente. Talvez por aquele motivo ela tivesse ido falar com ele.





Ao fazer aspas com as mãos revirou seus olhos castanhos durante longos segundos. Seus esforços para parecer menos vulnerável perto do garoto haviam falhado, quase como se conseguisse presumir o quão convencido ele se sentia, ela apenas tornou a andar à sua frente. Um sorriso ladino ensaiou em seus lábios, ela sabia quando estava sendo observada e gostava da atenção, bons ou não, se seus pensamentos ousassem ser sobre ela, saberia que tinha incomodado ou atraído sua curiosidade de alguma forma e estava primitivamente satisfeita.





Riddle iria subestimar sua conduta de todas as formas e ela já esperava por aquilo. Mesmo que não intencionais, seus pequenos sinais de fraqueza a levariam a algum lugar. Ele não seria o primeiro e nem o último a presumir quem ela era e como agia, aquilo não a intimidava mais. . . não como ele gostaria. Ginny rebateria todas as provocações do mais velho, mesmo que o pequeno passeio tivesse a pegado de surpresa, sua presença ainda era cheia de segundas intenções e atitudes suspeitas demais para o que ela considerava normal.





— E como o bom mascote da grifinória que você é. . . sabe perfeitamente o caminho. Muito bem totó — Respondeu no mesmo tom e ergueu as sobrancelhas, seu olhando sendo guiado até a gravata do garoto antes de dar ênfase na última palavra. Considerou sua provocação pensando no duplo sentido da palavra gnomo e bufou antes de voltar a caminhar, tocando seu ombro distraidamente como se ele tivesse a machucado.— Faça o que quiser, só não ouse tocar em mim outra vez. Ambos ficaram em silêncio durante alguns minutos até que sua voz fria ecoou pelos corredores chamando sua atenção.Odiava concordar com ele então apenas acenou com a cabeça sem ânimo enquanto pensava sobre o que haviam escutado da nova professora. Começou a cantarolar “ Here comes the sun” em uma tentativa de fazer o tempo passar mais rápido e arregalou os olhos, fazendo suas pernas pararem bruscamente, quase escorregando sobre o piso de pedra ao se virar para ele. — Nossos monitores iriam dar a senha assim que o primeiro ano entrasse e agora teremos de acordar a escandalosa que guarda o quadro sem ao menos saber se ela vai nos deixar entrar. . .merda. — Passou as mãos por seus fios cor de cobre exasperadamente. Uma risada irritante foi ouvida por trás do ombro de Tom, Ginny se aproximou do mesmo com raiva sem ligar para a proximidade de ambos, dando um soco inútil no ar como se tentasse afastar algo em suas costas e estreitou seus olhos em direção ao teto depois de alguns segundos. — Deixe-nos em paz, pirraça. Se mais alguém nesse castelo me estressar hoje eu juro que não respondo por mim! a menos que. . . você por acaso sabe a senha nova do meu salão comunal?



 



Tom Riddle



@_TRiddle



— Agradeço pela sinalização. Algum requisito a mais, “Vossa Majestade”? — Riddle rebatera com um sorrisinho, sem perder a postura e frisando o tratamento irônico do qual fizera uso. — Farei questão de me lembrar disso da próxima e. . . — arqueou o cenho — lamento informar ser tarde demais. Já está me devendo, Weasley.





Riddle caminhava taciturno, refletindo enquanto ainda lhe era permitido o quanto Ginny o acusava de orgulho e arrogância em exacerbo, mas conseguia ser quase tão orgulhosa quanto ele em sua tenacidade de se provar. Um esgar insinuante e mordaz se delineou em sua mente, tanto pela hipocrisia da mais nova quanto pelo pensamento de ela deter tal singularidade.





Só que expressando-a de forma imprudente e nada discreta.





A sensação prazerosa de estar detendo o controle da situação através de uma singela intimidação e da provocação à Weasley mais jovem logo evaporou novamente: seu corpo parecia estar sendo pinicado por centenas de insetos ao ouvir o despeito de Ginny quanto à ele ser, em palavras mais ofensivas, um "servo sem cérebro da Grifinória".





Ela acreditava estar falando com algum dos irmãos dela?!





Porém Riddle não emitiu um comentário sequer, mantendo a expressão impassível e evitando com todos os esforços rebatê-la, ainda que fosse sua vontade fazê-la engolir os insultos até engasgar, se asfixiar e se debater chorosa por ajuda.





Se ela acreditava que ele era uma piada por, de certa forma, ter aceitado limitar seus instintos mais perversos por conta de um acordo com Dumbledore. . . então ela veria quem iria rir por último.





Seus longos anos aprendendo a arte de dominar as emoções para que se tornasse imprevisível aos demais, ampliasse seu talento na área da mente e, especialmente seu orgulho próprio impediram-no de esboçar uma reação que fosse, escolhendo ignorá-la porque ele não daria à ela a satisfação de desestabilizá-lo e o desprezo era uma das melhores respostas.





Não a melhor.





Porque ele ainda era um autêntico sonserino.





E, mesmo sabendo que métodos fisicamente dolorosos e um pouco de humilhação psicológica não seriam eficazes na garota (além disso, ainda que desejasse, não poderia utilizar-se deles), ele aguardaria o momento certo para revidar com sutileza.





Agiria exatamente como uma serpente ou um crocodilo, que acumulam energia, suportando em silêncio as provocações externas, para fazer um ataque preciso e potente sem que o alvo preveja.





Weasley provocara a cobra. Agora aguentaria a picada.





— Pode ficar tranquila que não me darei mais a esse desprazer de ter contato com suas bactérias — continuou olhando para a frente como se tivesse feito pouco caso do comentário dela. — Irei tão logo desinfectar minha mão quando retornar ao dormitório.





Sua testa se franziu em ligeira irritação com a voz da ruiva invadindo seus ouvidos, mas ele  disse sucinto. — Ainda bem que você não faz parte do coral da escola. . . Seus talentos musicais seriam um tremendo insulto ao legado que ele carrega.





Ele retribuiu o comentário da ruiva com um esgar tenuemente debochado. — E depois dizem que sou deselegante, tsc, tsc. . . Só posso concluir que se trata de despeito à minha pessoa, não acha?





Riddle expirou o ar irritado pela cantoria estúpida, porém o fez de uma forma que não ficasse claro para a garota.





— Isso, Ginevra, cante mais alto. Quem sabe assim Umbridge e seu capacho não voltem para pegá-la. . . Me lembrarei de arrancar meus ouvidos pela manhã — resmungou baixo enquanto seguiam pelos corredores; seus passos ecoando discretamente. . .





Os corredores haviam ficado um pouco mais escuros e desertos até a chegada dos dois ao retrato da Madame Gorda. Um sorriso maldoso se formou no rosto do sonserino, sem permitir que a garota o visse, ao ouvir as preocupações de Ginny.





Sua cabeça processara rapidamente. Sabia o que fazer.





A risada provocativa e exagerada às suas costas acusava a presença de Pirraça, fazendo o sonserino se virar.





O Poltergeist geralmente conseguia tirar a paciência de todo mundo, mas Riddle não se incluía naquela estatística. Sabia o quanto sua personalidade incessante ansiava por novidades com as quais se entreter e, por Tom costumar fornecê-las a fim de desviar sua atenção e nunca demonstrar irritação por suas brincadeiras, nunca teve problemas com o mesmo.





Porém com Ginny era diferente, como Riddle podia notar agora que ela se aproximara de si e um tênue perfume de peônias era captado por seu olfato.





Pirraça havia dito não saber a senha e, de forma jocosa, que ela não deveria ser tão descuidada quanto à própria Comunal e que já, já seria alvo de detenções. . .





— Está sabendo já da carne fresca que chegou à Hogwarts, Pirraça? — Riddle perguntou pondo as mãos nos bolsos, mudando o tópico do assunto. — A nova professora de DCAT é uma funcionária do Ministério e andou fazendo amizade com Filch agora pelos corredores — ele cedeu a informação de uma maneira verídica e convincente.





As feições de Pirraça se expandiram em enorme interesse.





— Aproveite que ela ainda esteja fazendo ronda pelo castelo para lhe dar as boas-vindas. . . Eu não perderia esta oportunidade de recepcioná-la enquanto está conhecendo melhor os cabelos ranhentos e os dentes amarelados de Filch, se é que me entende.





O Poltergeist soltou uma risada esganiçada, de quem visualizava a pegadinha ocorrendo ao vivo, e disparou pelos corredores afora.





E o silêncio se fez mais uma vez.





— Sabe, Ginevra — Riddle começou, quebrando a mudez e olhando vagamente para o nada, fingindo que pensava. — Eu sei a senha nova do Salão Comunal. Hermione me disse antes de deixar a mesa para acompanhar os primeiranistas pelas dependências do castelo. . .



Então ele a olhou com suas íris cinzentas e sugestivas e uma fina linha de um sorriso simples, mas cínico em suas entrelinhas. — Mas eu não vou dizê-la a você. Como foi que me requisitou alguns minutos atrás. . . ? — levou os dedos ao queixo e fitou por um segundo ou dois o teto como se tentasse se recordar de algo. — Ah, sim. "Não preciso da sua caridade. Prefiro ser pega e lidar com a situação frente à frente do que dever algo a você e a sua enorme arrogância."



Ele voltou a encará-la, já estando muito próximo do quadro da Mulher Gorda. — Portanto acredito que seja mais apropriado deixá-la aqui fora, não? Esperando a boa vontade de algum monitor - isso é, se ainda há algum pelos corredores, porque a essa hora basicamente estão todos recolhidos. . . Ou, quem sabe, talvez algum professor a encontre fora da cama e só assim você poderá começar o ano letivo como deseja, "em grande estilo".



Seu sorriso se alargara feito quem saboreava o último sapo de chocolate. — Então. . . Tenha uma boa noite, Ginevra.



Tom tamborilou os dedos no ar em uma espécie de "tchau" mordaz e adentrou o Salão Comunal sem alardear a Mulher Gorda - que, pela ausência e falta de aparição repentina pelo escândalo de Pirraça, deveria estar se embebedando de vinho nos quadros das escadarias -, fazendo uso da intangibilidade - uma técnica mágica em que o bruxo diminui a densidade do próprio corpo para ser capaz de atravessar objetos - para atravessar o retrato sem que este se abrisse e permitisse a entrada de Ginny consigo.



Seguiu sem tardar para o dormitório, degustando o doce e refinado sabor da vingança.



De fato seu padrão era bem simples para o que ele estava acostumado. Mas às vezes o sofisticado se encontrava na simplicidade e na sutileza, para a qual o legítimo herdeiro de Slytherin não tinha apenas o dom, como também especialmente a obrigação de exercê-la.



Ainda mais se fosse para fazer alguém se lembrar de quem ele era.



Sobretudo Ginny.





Ginny Weasley



@O7WEASLEY



- Muito gentil da sua parte, me poupar do sofrimento que seria ser tocada por você - Ela fala com nojo e revira os olhos para seu comentário. Cantando ainda mais alto.



- Se minha cantoria irrita você, faço questão de cantar todos os dias apartir de agora. Espere a playlist do café da manhã, idiota.



A garota olhava frustrada para o quadro, de todas as pessoas e situações que poderia se meter. . . teria escolhido logo aquela. Seus olhos fitavam a conversa tão atentos quanto seus ouvidos. Riddle parecia se entender bem com fantasmas ou seja lá o que Pirraça realmente era.



" Previsível, só estando morto ou louco para aguentar ele."



- Sim, Tommy. - Seus braços se cruzaram enquanto seus dentes rangiam de raiva em direção ao garoto e sua expressão cínica enquanto o mesmo falava.



- Hermione e você são amiguinhos demais, aquela traidora. . . você- Tom Riddle!



Seu pescoço de inclinou para frente enquanto seu delicado rosto se franziu em choque, suas pálpebras batendo tão lentamente quando a risada nervosa que saía de seus lábios, os braços da Weasley mais nova foram postos em sua cintura como quando Molly bronqueava seus irmãos. Bingo. Ele havia a deixado sem palavras.



Ginny respirou fundo com cada palavra, não se daria por vencida e acharia um jeito. Mas o convencimento de Riddle e sua coragem em usar as próprias palavras da garota contra ela faziam seus poderes perderem o controle, fazendo com que uma pequena geada de neve caísse pelo corredor.



- Eu odeio você, isso não vai ficar barato. . . ah não vai mesmo.



Ela seguiu seus movimentos tão atentamente e suspirou, praguejando e amaldiçoando Riddle de todas as formas. Ginny se apressou em ir até a enfermaria para passar a noite na mesma, dando a desculpa que não conseguiria dormir sem uma poção do sono. Ela de fato não conseguiria, não pelos pesadelos, mas por pensar que o sonserino havia ganhado um ponto.



Riddle iria pagar.



 


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.