Chapter XIII



O domingo havia corrido normalmente, sem nenhum constrangimento de nenhuma das partes, provavelmente pelo fato de não terem se visto naquele dia. Nunca iam admitir que era pela vergonha, mas sim por compromissos inadiáveis, como ajudar os garotos com a tarefa de poções. Isso mesmo, a tarefa de poções. 



Mesmo que nenhum dos dois a estivesse fazendo. 



Ele com certeza não morreria por não ficar perto durante um dia, no máximo ficaria agitado pela manhã. E além do mais, ele a escutaria com certeza por ter tido a audácia de usar o charme contra ela. Ora bolas, ele queria acelerar as coisas? Ela sabia que ele precisava dela e imaginava como poderia ser angustiante a situação, mas ela com certeza não cederia antes de começar a tomar sua poção. 



Ele certamente poderia aguentar pelo menos um mês e meio. 



Com esse pensamento Hermione passou as primeiras horas da noite daquele domingo na enfermaria convencendo Madame Pomfrey a dá-las para a garota. Contrariada, cedeu quando a mais nova explicou que por mais que gostasse do veela, não teria um bebê tão cedo. 



No café da manhã de segunda feira eles haviam tido um desencontro novamente, desta vez não proposital, e certamente não se veriam na aula de estudo dos trouxas. Teria sido um dia pacato se não tivesse chegado a hora do almoço. Quando Hermione chegou o correio já havia sido entregue e uma grande comoção tinha se instaurado no Grande Salão. 



-Porque essa gritaria toda? - ela se referia aos risos histéricos da população feminina. 



-Você não vai acreditar, Hermione... - Simas fez um ar de completo mistério. 



-O que? - tinha acabado de se sentar e começado a se servir. 



-É melhor você mesma ler. Toma. - Rony entregou o profeta diário daquela manhã a ela. 



No momento que colocou os olhos na capa Hermione quase cuspiu a água que estava tomando. 



"MALFOY, A FARSA DE SANGUE. 



Durante séculos a Família Malfoy tem sido de enorme influência no mundo mágico em que vivemos. Quantas construções já foram bancadas por eles? Melhorias em nosso Ministério e até mesmo feitiços criados? 



Eles nos proporcionam sempre um pouco mais de toda sua inteligência e poder, visto que possivelmente fazem parte dos primórdios da bruxaria. Porém, toda magia sempre vem com um preço: é de conhecimento geral que todos eles são amaldiçoados, de certa forma: um único filho, um único menino e nada mais. Essa providência teria sido tomada afim de impedir brigas familiares sobre herança (uma gorda herança) e evitar a miscigenação de sangue. Porém todo este cuidado certamente não foi cumprido por alguém, pois é de domínio público que para nascer uma criatura mágica é preciso um cruzamento com uma anteriormente, ela simplesmente não surge do nada. 



Ora, porque Skeeter começou com toda essa aula de história neste furo de reportagem? 



Acreditem, meus leitores, é preciso que entendam a complexidade do assunto de hoje: fatos estranhos ocorrem naquela família e, após ouvir uma das recorrentes preocupações de Lucius Malfoy no Ministério, decidi ir atrás da verdade escondida e eis que tudo o que descubro é fascinante. 



Que eles tinham um terrível segredo nós já sabíamos, porém não fazíamos ideia que isso envolvesse a sua essência: o seu sangue. Ora, parece que o sangue Malfoy não é tão limpo como eles se gabam. O motivo? O atual herdeiro não é um bruxo apenas, mas sim um Veela puro. Lucius estava preocupado se seu filho conseguiria encontrar sua companheira a tempo, visto que ele não fazia a menor ideia de como era o processo. 



Embora esquisita, sua preocupação faz todo o sentido: sem a companheira, seu filho morre. E sem filho, a herança Malfoy acaba com ele. Nos resta saber a procedência desse gene, já que nenhuma Senhora Malfoy aparentava ser uma. Teria sido um bastardo em alguma geração passada? Se nós não sabemos, a própria família muito menos, parece ter sido ua grande surpresa para eles também. 



Agora, Hogwarts, se eu de fora consegui reunir todas as características da sua criatura, será que vocês também conseguiram ou apenas se distraíram com sua beleza estonteante? Jogo a possibilidade de uma de suas garotas ser a futura Senhora Malfoy, já que ele está a sua procura. 



Por favor, meninas, ajudem o Veela a encontrar sua outra parte, visto que lhe resta menos de três meses de vida. E por favor, Draco Malfoy, não morra. 



O destino da sua família está em suas mãos, mesmo que não haja mais a pureza requisitada.  



Rita Skeeter" 



-Ah não... - ela sussurrou, incerta do que aconteceria quando ele descobrisse. 



-Isso não é incrível? O maior escândalo da família Malfoy! - Rony comentava animado. 



-Pensei que seria o fato de serem comensais da morte, Ron. - Hermione tentou interferir. 



-Isso todo mundo sabe, agora, o sangue ser miscigenado? Isso é a morte para eles! 



"O SANGUE NEM É DELE!"  - Sua mente gritava numa tentativa de continuar com o controle da situação. 



-Eu sabia que tinha alguma coisa errada com ele. Agora sim faz sentido você ter defendido ele no outro dia. 



-Como? 



-Não tem problema, Hermione. Você não precisa se culpar por ter caído no charme dele uma vez, mas agora que sabe a verdade, é melhor tomar cuidado. - Harry adverte. 



Ela só sabia olhá-lo com uma cara estranha. 



-Harry, pelo amor de Deus, cala a boca. Do jeito que vocês falam até parece um pecado olhar para ele. - Gina defende a amiga mais numa tentativa de cutucar o ex namorado. 



-Acho que no caso ele é o pecado em pessoa... - Emília Bulstrode suspira um pouco afastada. 



Olhando mais atentamente, até as primeiranistas suspiravam por ele. Era óbvio que não poderia ser uma delas, mas com certeza não seria Hermione a contar. Ela procurava na mesa da Sonserina, mas nada dele. Preocupava-se que pudesse ter acontecido algo quando o vê entrar no Salão junto de Zabini. Ele rindo era encantador, porém naquele momento apenas complicou a situação para todas. 



Draco sentia-se incomodado com todos olhando para ele. Será que havia algo em sua capa? Tinha um bicho em seu cabelo? 



-Blás, eu entornei alguma coisa na minha capa? 



-Não. 



-Então porque tá todo mundo me encarando como se tivesse um bicho em mim? - ele sussurrava apenas para o amigo ouvir. 



-Não é como se tivesse um bicho em você, Malfoy, mas você mesmo ser um. - Nott explica ainda confuso com a situação depois deles terem chegado a mesa. 



-Como?! 



-Você é um Veela, Malfoy! Como não contou isso a gente?! 



Se ele já era naturalmente pálido, havia ficado quase transparente com a revelação. 



-De onde vocês tiraram isso?!  



-Ora, saiu no Profeta Diário hoje, Draquinho... Eu não me importo com o seu sangue, seu que ele é mais puro do que os outros! - Pansy se insinuava para ele. 



Ele estava apavorado com a descoberta do seu segredo, o que desencadeava o aumento desproporcional do chame veela para cima das garotas. Todos aqueles olhares no salão o encarando, os suspiros, o cheiro daquela mistura de hormônios o estava enlouquecendo. Sua vontade era de desaparecer, porém não queria demonstrar fraqueza ou fragilidade neste momento. Terminou o seu almoço com dignidade e se dirigiu até o Salão Comunal da Sonserina, porém não havia sido um caminho fácil. 



Hermione sentia um pouco de pena pela realidade ter vindo à tona tão de repente daquele jeito. Era mais um segredo de família que Rita Skeeter revelava, colocando Draco numa situação não de ridículo, mas sim de humilhação. Por mais que todas as garotas estivessem caídas por ele, os garotos certamente não deixariam a questão do sangue passar tão fácil, assim como sua virilidade em jogo. 



Ela havia prometido uma vez a repórter que se voltasse a mexer com ela, revelaria sua condição animaga. Rita Skeeter voltou a atacar (mesmo que não soubesse que a companheira fosse ela) e ela com certeza não deixaria barato. 



-É tão emocionante saber que qualquer uma pode ser a companheira dele! - Lilá dava pulinhos na cadeira, fazendo Rony revirar os olhos. 



-Eu não acredito que você vai cair nessa bobeira, Lilá! Deixa o garoto em paz! Se isso realmente for verdade, ele é muito capaz de encontrá-la sozinho! - Hermione controlava para não bufar com a empolgação da garota. 



-Até parece. Ele está carente, não percebeu? Ele precisa de companhia! 



-Mas não a sua... - Hermione sussurrou para o copo. 



Uma pena que a loira tenha escutado. 



-Certamente a sua também não, Granger. Quem você acha que ele iria escolher? Uma trouxa como você ou eu? Não perca seu tempo respondendo, já sabemos a resposta. 



-LILÁ! - Gina se irritou -  Não tem modos? 



-Eu apenas disse a verdade, Gina! A culpa não é minha se Hermione é rabugenta demais para estragar os meus planos! 



-Que planos? Os de senhor a futura Senhora Malfoy? - Hermione imitou uma voz de velha - Faça-me o favor, Brown! Existem coisas mais interessantes na vida do que caçar um casamento! 



Harry Potter notou como a amiga ficou na defensiva de uma hora pra outra. Diria até que parecia uma leoa protegendo seu filhote. Aquilo era muito esquisito. 



-Você só pensa dessa maneira porque sabe que ninguém iria te querer! Não conseguiu nem mesmo prender o Krum! 



-Fui eu quem dei o fora nele! 



-Ah, claro. Diz isso porque ele não está aqui para contar sua versão. 



Antes que explodisse Hermione soltou um grunhido e saiu a passos largos do refeitório. Ela não ligava de o charme afetar as mais novas, porém sabia que as garotas do seu ano cairiam em cima e ela não fazia a menor ideia de como lidar com a situação. 



*** 



Blásio havia acompanhado a enervante tarde de Draco. Sabia que as coisas não estavam nada satisfatórias para o loiro, que almejava sossego e discrição. Parecia que todos os seus esforços haviam ido por água abaixo desde a reportagem já que uma multidão de garotas havia brotado em seu pé. O que incomodava o garoto era o fato delas não tentarem isso por amor ou compaixão, mas sim pelo dinheiro. 



Tudo uma questão de negócios. 



Isso o tirava completamente do sério. Seu amigo estava à beira de um colapso nervoso no meio da tarde, chegando a perder o controle e rosnar para uma garota que saiu correndo do seu caminho. Haviam se separado por algumas horas, porém ao entardecer havia encontrado o loiro surtando na Sonserina. Todo aquele assédio estava acabando com o olfato veela. Não se surpreendeu quando sentiu seu braço ser puxado bruscamente pelo rapaz numa tentativa de fugir da situação. 



Agora, o impacto veio ao ser empurrado para uma sala totalmente desconhecida no castelo. Com certeza era o novo refúgio do amigo que ele tinha comentado. 



-EI! ELE NÃO É UM PROFESSOR! - Samuel se assustou. 



Draco não deu a mínima para o parente. Sentiu que podia perder o controle a qualquer momento, suas emoções estavam totalmente embaraçadas. 



-Eu não acredito que isso está acontecendo! O meu pai vai me matar! - ele estava apoiado nas costas do sofá, encarando a lareira acesa. 



-A culpa não foi sua, Draco. A Skeeter mesmo disse que ouviu do seu pai a informação. 



-Mas agora todos sabem que essa porcaria de sangue não é legítimo! 



-Ele só é um pouco alterado, também não é para tanto. Ele só está mais purificado, mesmo que isso tenha implicado miscigenação. 



-Ele não é miscigenado, ele nem sequer é meu. A herança de sangue da minha família não existe a pelo menos cento e noventa e três anos! 



-Como? - Blásio estava abismado com a novidade. 



-É uma longa história que se resumem em meu sangue e gene veela serem de outro bruxo. Meu tataravô adotou o filho dele quando morreu e acabou com a linhagem verdadeira. 



-UAU... Se isso cai nas mãos da Skeeter... 



-Eu sei, eu vou estar ainda mais ferrado. 



-Mas o problema maior agora não é o sangue da sua família, isso seu pai consegue uma ação para tentar apaziguar a informação. Você precisa focar nas garotas, Draco, o que fazer com elas. 



-Eu não tenho muito escolha, não é? Eu só vou reivindicar Hermione quando eu conseguir marcá-la. Eu preciso de segurança no meu relacionamento. 



-Mas essa situação toda pode te prejudicar, cara. Você não sente nada com todo esse assédio? 



-Um cheiro horrível... - Draco empalidece, um arrepio passando por sua espinha – Todos aqueles hormônios misturados confundem o meu nariz, me dão ânsia de vômito. A sorte é que nenhuma se aventurou em chegar um pouco mais perto, não sei o que pode acontecer. 



Draco havia começado a ficar inquieto, sem conseguir sustentar o olhar do amigo. Um barulho da parede se arrastando atraiu a atenção dos dois, deparando com Hermione estranhando a presença do moreno na sala. 



-Pensei que só nós pudéssemos entrar aqui. - Ela se encaminhou até a pequena reunião. 



-A tapeçaria veta qualquer um que tente entrar sem estar com um de nós dois. Ela não pode nos proibir de entrar no nosso próprio dormitório. - Num puxão rápido, Draco envolveu a cintura de Hermione, enfiando o rosto em seus cabelos, inspirando demoradamente o aroma da companheira. Ela não deixaria Zabini plantado vendo aquilo, portanto tratou de virar-se para ele, deixando o namorado abraçá-la por trás. 



-Eu deveria saber o motivo desse comportamento? 



-O olfato de cachorro dele pegou muitos hormônios femininos hoje e parece que estava o deixando enjoado.  



-Ah, isso. Acho que serão tempos sombrios até elas esquecerem isso. Você ronronou, Draco? 



O cheiro de Hermione passava toda a calmaria que seu corpo precisava. Se alguns soltavam gemidos espontâneos, ele ronronava ainda se deliciando em seus cabelos. 



-Me deixa quieto, isso já estranho o suficiente. - Sua voz estava mais rouca que o normal, mas certamente não era o veela falando. 



-Eu juro que ainda acabo com a Skeeter, ela transformou o meu último ano em um programa de televisão! 



-Programa de que? - os dois garotos perguntaram. 



-Uma tela mágica que transmite reality shows. Na verdade, Draco, você e eu estamos tecnicamente participando do The Bachelor. Talvez até um pouco da história da Cinderela. 



-Como? 



-The Bachelor se resume a basicamente a um monte de mulheres solteiras tentando conquistar um ricaço, e a Cinderela, bem, uma história onde um príncipe teve que experimentar várias mulheres até encontrar sua princesa. 



-Mas eu não preciso de nada disso, eu já encontrei você. 



-Mas elas não sabem disso. 



-Eu acho melhor deixar vocês dois sozinho, parece que Draco vai explodir de felicidade a qualquer momento por cheirar alguma coisa agradável. - Zabini se retirou quando percebeu o amigo começar a secar a namorada. 



-Alguma coisa daquela reportagem era verdade, bebê? 



-Só a parte que meus pais estão preocupados. Não se preocupe, ainda temos oito meses antes que o pior aconteça. 



-Eu me senti pressionada quando li aquilo, me desculpe. Não queria que fosse assim. Seria tão mais fácil se não tivesse que esperar por mim. 



-Mas aí qual graça teria? Nenhuma. Você não seria Hermione Granger se tivesse se entregado de primeira. 



-Provavelmente estou te dando dor de cabeça por isso. 



-Por qual motivo? 



-Porque você nunca precisa esperar por uma garota, pelo menos não muito. 



-Quem disse isso? - ele estava em choque. 



-Quem não diz isso, você quer dizer. Todo mundo sabe que você é o maior galinha desde James Potter. E é difícil eu admitir pra mim mesma que meu namorado já levou metade do sétimo e sexto ano para a cama. Nosso, como eu consegui isso. 



-De onde você tirou isso tudo, Hermione?! - Draco estava atônito com tudo aquilo. 



-As garotas comentam, Draco. 



-E você acreditou nisso? 



-Bem, eu só te conhecia de vista, não tinha como analisar seu caráter e personalidade além dos xingamentos, então... Sim. Porque? Os boatos não são verdadeiros? 



-Hermione, eu só beijei três garotas em toda a minha vida. Quatro com você. E eu nunca, nunca levei nenhuma delas para a cama. - Ele a olhava profundamente. Aquela conversa certamente levaria seu relacionamento pra outro nível. 



--Então quer dizer que você também é...? 



-Virgem? É, sou. - Ele estava levemente corado. 



-Não precisa ficar com vergonha disso, bebê. 



-Depois de toda essa ideia das minhas performances que você tinha na sua cabeça, eu preciso sim. 



Eles se olharam por um momento e desataram a rir. 



-Céus, quantas revelações hoje. Meu ego subiu duplamente depois disso. 



-Porque? 



-Saber que o garoto mais cobiçado da escola, literalmente no caso, só tem olhos para mim. E, bem, que vou ser a única da vida dele. 



-E eu o seu, por favor. - A última parte foi mais um pedido para si mesmo. 


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