Negando as Evidências



Burned



We were dueling with sparks



Now we’re juggling fire



Flame still starves in the dark



Never beaten or tired



Doesn’t dim with age



It can’t be blown out



Still alive with rage



Feeding on your doubt



It doesn’t think



And it can’t feel



Driven to the brink



Craving its next meal



Anger scorches your soul



Many have learned



If you play with fire,



you’re bound to get burned



 





  • Lynnia.







 



A virada do milênio tivera tanto significado para o mundo bruxo quanto para o mundo trouxa, se não mais. Todos os astrólogos traziam imensas previsões: enquanto alguns falavam de grande fortuna, outros deixavam-se contaminar pelos medos e superstições trouxas, e falavam como se o mundo estivesse acabando. Ao fim do dia 31/12/1999, nada acontecera, nem para ótimo nem para ruim, e a partir do dia 1º de Janeiro, a vida continuara como sempre fora.



Quanto às festas, bem… O mundo bruxo sempre gostou de desculpas para uma boa festa e, com uma monarquia estabelecida, a pompa foi ainda maior. As cortes dos sete países deram imensas festas começando seis dias antes e, na virada em si, a Mansão Slytherin foi inundada de pessoas para a festa final. Um baile de máscaras, com direito a artistas e fogos de artifício. Todos estavam presentes, todos menos a governante da França. Seus emissários haviam feito o que podiam para apaziguar o Lorde e a Princesa das Trevas, para quem a insolência de Bellatrix, há quase um ano se recusando a aparecer em todas as ocasiões especiais e/ou oficiais… estava fora de controle. A desculpa da vez: a lei que tramitava no parlamento francês. 



— Milorde… — Rabastan tentara, e Voldemort apenas levantara a mão, negando com a cabeça. 



— Meu problema não é com você, Lestrange. — ele ajustou a gravata brilhante que Rabastan usava, os olhos vermelhos cintilando por trás da máscara, e aproximou os lábios da orelha do outro bruxo, que engoliu seco, sem conseguir entender se por medo ou excitação. — Mas diga à sua suserana que minha paciência está muito perto do fim. — definitivamente medo. — E que da próxima vez que ela for oficialmente convidada e não aparecer, eu vou trazê-la arrastada pelo cabelo acusada por insubordinação. E você sabe qual crime desobedecer diretamente as ordens de um monarca caracteriza? — Rabastan assentiu rapidamente. — Então que Bellatrix saiba que eu já passei do ponto em que tinha receios de acusá-la de traição. A Bellatrix pode fazer o que quiser da vida solitária que ela escolheu, mas a Duquesa de Bordeaux ainda responde a mim, e não vai mais me expor publicamente. Estamos entendidos? 



— Sim, majestade. 



— Ótimo. — ele sorriu e bateu nos ombros de Rabastan, que ficou ainda mais apavorado. — Aproveite a festa, meu caro Rabastan. 



— Obrigado, majestade. E… hm, — ele virou um embrulho de dentro do paletó. — Bellatrix comentou que hoje também é seu aniversário e a França tomou a liberdade de presenteá-lo. — Voldemort riu-se e pegou o embrulho. Abrindo e olhando rapidamente o conteúdo de dentro, ele rolou os olhos e riu ainda mais, negando com a cabeça. Evidentemente, o presente fora escolhido por ela. — Milorde? 



— Diga à “França”, Rabastan, que se ela tirou o tempo de escolher pessoalmente um presente, que crie a coragem de entregá-lo cara a cara. — ele devolveu o embrulho a um Rabastan horrorizado, que balbuciou alguma coisa, enquanto Voldemort suspirava cansado e fazia menção de se afastar, mas parou abruptamente e pegou o embrulho de novo da mão do outro bruxo, que ainda estava congelado. — Por Merlin, eu odeio aquela mulher. Agradeça àquela filha da puta por mim, e dê o recado de mais cedo, o presente não muda em nada. — e saiu andando, em busca de Melinda, enquanto Lestrange se segurava para não perguntar se também devia estender a parte sobre odiá-la. 



— Pai…? — Melinda estava conversando com Oliver, quando foi arrastada pelo braço até um canto escuro, onde o pai tirou a máscara rapidamente, a irritação tão evidente em sua expressão que Melinda quase quis fugir. — O que diabos?



— Sua mãe. — ele respondeu, simplesmente, passando as mãos pelo cabelo. — Melinda… — ele mordeu o lábio inferior e respirou fundo. — Eu juro que não sei quanto mais consigo ser paciente com ela, não enquanto ela se aproveita de todas as oportunidades para me provocar.



— Isso é…? — ela apontou na direção do livro, boquiaberta. 



— Um presente de aniversário dela. — ele respondeu, entre dentes. 



— Quanta consideração. 



— Demais, uma pena que ela não se lembra disso quando me expõe publicamente ao recusar todos os meus convites. — com um soco na parede ao lado da filha, Voldemort quase a matou de susto. — Como monarca, eu não posso admitir. 



— Eu sei. Já admitiu até demais… — ela respondeu, triste, pegando o presente das mãos dele. — O que vai fazer? 



— Mandei um ultimato via Rabastan, mas…



— Mas?



— Vou mandar um oficial. — ele completou, e Melinda fitou os sapatos. — Caso ela ignore, vou ser obrigado--



— A agir, eu sei. — ela se recostou à parede, triste. — Ela está te colocando numa situação impossível e… Você tentou. — engolindo seco, ela sorriu fraco. — Até mesmo Bellatrix Lestrange precisa ser colocada em seu lugar. Até porque, ter esse lugar foi escolha dela. Não precisa se desculpar comigo, pai. Faça o que tiver que fazer. E… o que é isso?



— O primeiro livro de artes das Trevas que eu emprestei pra ela, quando ainda era tutor daquela insolente... — ele começou a rir, e Melinda não entendeu. — Olhe a primeira página. 



Melinda tirou o livro do embrulho e percebeu que ele parecia muito, muito antigo. Abrindo a capa, ela deu um grito e quase derrubou tudo no chão. Escrito em tinta estava Tom Marvolo Riddle riscado e logo abaixo… L.V. O olhar de horror que ela estendeu ao pai era quase hilário. 



— Não! Não pode ser! 



— Digamos que ela nunca devolveu, e eu nunca pedi de volta. — ele assentiu incrédulo, e recostou-se do lado da filha, que ainda olhava horrorizada para o livro.  — Então tecnicamente virou dela, e quando ela foi presa, ficou com todas as outras coisas que Lucius escondeu.



— E a tia Cissy tem enviado pra ela tudo o que acha na casa, desde que começou a se livrar das coisas daquele desgraçado. — Melinda escondeu a cabeça no livro. 



— E sua mãe achou que seria uma piada maravilhosa me devolver, depois de quase trinta anos. — Voldemort pegou o livro de volta e o folheou um pouco, encontrando inscrições que ele não conhecia, na letra dela. Mais ao fim do livro, um cartão, que em algum momento ele leria. Ele já sabia o que ia dizer: Parabéns, não pude ir, mas Rabastan representa todos meus desejos de aniversário e do novo ano. Ou algo raso do tipo. Presentes significativos, cartões cheios de desculpas e clichês, típicos da Bellatrix deste último ano. — O que eu faço com ela, Mel? — ela apenas negou com a cabeça e encostou-a no ombro do pai, pois também adoraria saber. 





 



Paris  - 03 de Janeiro de 2000 



 



A dor de cabeça que Bellatrix sentia era apenas um dos sintomas daquela infindável discussão. Desde novembro do ano anterior, uma petição de alunos de Beauxbatons levara o parlamento Francês a uma série de discussões sobre o direito que os pais trouxas de alunos bruxos tinham ou não de visitá-los na escola. 



O fato era: as famílias bruxas os visitavam o tempo todo, e tinham a localização da escola, para os alunos mestiços o benefício se estendia apenas ao progenitor ou tutor mágico, e para os nascidos trouxas ninguém podia visitá-los. 



Bellatrix havia se dado ao luxo de ignorar a maioria daquelas discussões, pelo menos no passado recente, porque tudo não passava de um enorme jogo de xadrez político para o qual sua paciência se esgotara. Naquele momento, a carta em suas mãos lhe importava mais do que o que fosse que aqueles homens estivessem discutindo. Ela havia imaginado que Voldemort não lidaria bem com sua falta à virada do Milênio, mas o ultimato em suas mãos a assustava ainda mais do que o recado de Rabastan, mesmo que ainda não tivesse aberto o envelope. 



Bellatrix tinha completa consciência de que estava ficando sem tempo, e ultrapassando os limites da insolência, mas a enorme verdade desconfortável era que ela não sabia como agiria quando se encontrasse frente a frente com Voldemort novamente. Era um eufemismo dizer que ela não conseguia confiar em seus próprios instintos. 



Os homens a seu redor continuavam a gritar e, ainda que alguns parecessem perceber o distanciamento dela, ela não conseguia se comportar de outra maneira. Dobrando o envelope e colocando-o escondido em suas vestes, ela trocou olhares com Rabastan e levantou-se, chamando a atenção de todos para si. 



— Meus caros, — ela se pronunciou com uma expressão neutra. — creio que seja o momento de fazermos uma pausa, que tal? Os ânimos estão exaltados demais e faria bem a todos. Continuaremos em uma hora? — descendo de seu lugar e indo na direção da porta, sem dar-lhes importância, Bellatrix andou rapidamente até a porta de saída do Ministério, arrependendo-se imediatamente. 



A Paris dos anos 2000 era movimentada à beira do caótico e, quase que imediatamente, ela atraiu os olhares de diversos passantes, que não entendiam a presença de uma mulher de vestido longo e tiara no meio da rua. E foi somente então que ela percebeu que estava sem capa e, xingando baixinho num misto de francês e inglês, ela voltou para dentro do prédio para pega-lá. De capa, ela estranhamente não chamava tanto a atenção. Ela teria que agradecer ao intenso inverno por esconde-la. 



Um banco de praça foi tudo o que ela precisou para tornar-se praticamente invisível. Apertando o papel entre as mãos e respirando fundo, Bellatrix usou a adaga que carregava consigo para abrir o selo da carta oficial - daquela vez, sangue não seria necessário. Uma parte dela esperava que as palavras fossem oficiais, escritas por uma pena de repetição rápida, mas ela reconheceria a caligrafia em qualquer lugar. 



 



“Bellatrix,



 



Eu e você temos um acordo, e quaisquer implicações pessoais serão respeitadas até o fim, mas sabe melhor do que eu que não posso deixar que nossos entendimentos e desentendimentos interfiram em nosso trabalho. 



 



Afinal, não é este um dos motivos pelos quais nos separamos? Sermos capazes de trabalhar juntos? Com o tempo, eu esperava que você passasse a se sentir confortável e retornasse a seus deveres. 



 



Como isso não aconteceu, não vejo opção a não ser reforçar que a partir de hoje, farei grande diferença entre meus convites e convocações a você. 



 



Convites são livres. A próxima convocação que for ignorada, irei pessoalmente a Bordeaux te lembrar o respeito que me deve. Não posso e não vou deixar que você, de todas as pessoas, me pinte como fraco perante aos demais. 



 



L.V.”



 



Uma parte dela esperava que aquela atitude dele teria chegado meses antes. Após quase um ano, ela precisava admitir que Voldemort havia sido extremamente paciente, muito mais do que ela seria. No passado, ela também havia esperado que com o tempo poderia retornar a seus deveres sem problemas, obedecendo a uma ou outra convocação para não deixar que as coisas escalassem exatamente ao ponto em que estavam. Engolindo seco, ela amassou o papel e o viu se desfazer no ar, com um sorriso percebendo que o pergaminho sabia que a mensagem havia sido completamente lida. Sempre tão precavido. 



Ao longe, ela ouviu alguém chamar seu nome e, sem nem mesmo olhar, soube que era Rabastan, possivelmente enviado por alguém do Ministério para levá-la de volta. Com um risinho cansado, ela entendeu a situação em que Voldemort se encontrava: ela havia ordenado a pausa de uma hora, e eles decidiam que vinham buscá-la? Insolentes, exatamente como ela. O que diabos acontecera com ela? Com a Bellatrix que sempre fora? Seu coração enchia-se de vergonha e de desespero ao mesmo tempo. Como ela conseguiria voltar a seus deveres sem…? Sem se render e cair nos braços dele novamente, era a questão presa em sua garganta, que ela tentou afastar. Não, aquilo não dava certo, nunca daria e o Halloween de 1998 era um ótimo lembrete disso. 



— Eu disse uma hora. — Bellatrix disse ao sentir Rabastan sentar-se a seu lado. 



— Eu sei, mas aqueles idiotas estão impacientes. — ele estendeu uma garrafinha de metal a ela, que riu e abriu-a para tomar um pouco. Absinto. Sério, Rabastan? De todas as bebidas…? — E eu não queria beber sozinho. 



— Você acha que a lei vai passar? 



— Sim. 



— Imaginei. — ela suspirou, e deixou a cabeça cair no ombro do amigo, que depositou um beijo no topo de sua cabeça, por cima da capa. — Nunca vou entender porque eles discutem por eras. 



— Nós éramos mais eficientes, — ele abaixou a voz. — Os Comensais, eu digo. 



— Muito mais! Não me lembro de termos tido mais de uma hora de discussão sobre qualquer coisa. — Bellatrix sorriu e se afastou, devolvendo o frasco a Rabastan. — Talvez seja por isso que ganhamos a droga da guerra. 



— Ganhamos? — ele questionou, sarcasticamente fingindo-se de chocado. — Porque tudo o que eu vejo é um bando de ex-Comensais em cargos oficiais entediados até o ponto do desespero. — Bellatrix rolou os olhos, enquanto ele bebia. — Pelo menos fora da Inglaterra. 



— O que você quer dizer com isso? — a curiosidade de Bellatrix parecia sincera.



— Que eles se divertem mais na capital do que nós aqui. — ele respondeu, simplesmente. — Até porque o Lorde das Trevas ama uma festa, então parecem os velhos tempos em muita coisa. — Bellatrix engoliu seco e forçou um sorriso. 



— É… eu sei. — ela pegou a garrafa de volta. — Que ele ama uma festa. — as mãos dela tremiam ao levar a bebida aos lábios, e Rabastan franziu o cenho — Especialmente nos últimos tempos… — o suspiro que ela deu não podia ser normal. Algo estava errado. 



— O que você quer dizer com isso? 



— Digamos que… — ela negou com a cabeça, e apertou o metal entre as mãos. — As pessoas na capital fazem muita questão de me manter perfeitamente informada de exatamente o quanto ele está se divertindo na minha ausência. — as palavras saíram engasgadas, e Rabastan não teve tempo de reagir, antes de vê-la se levantar e andar de volta na direção do Ministério. — Vamos, precisamos acabar com essa palhaçada logo. — o tom dela era muito perigoso, um tom que ela provavelmente havia aprendido com o motivo de sua raiva, e Rabastan se segurou para não perguntar mais. 



A raiva dela era clara, mas o motivo por trás ainda mais óbvio: aquele típico e incontrolável ciúme que ela sempre sentira em relação a Voldemort, e ele em relação a ela, que parecia estar apenas sendo alimentado pela distância e pelo fato de que tecnicamente ela não podia sentir nada do tipo. Qual direito ela tinha? Ela escolhera aquilo. Vendo-a se afastar, Rabastan deixou-se sentir triste por ela por apenas um segundo, até o sentimento ser substituído pela constante vontade que ele sentia de esganar os dois por serem tão… Eles. 



 



A votação foi novamente adiada e levou mais algum tempo para ser finalizada. Precisamente? Três meses. Apenas no final de Março, os votos foram contados e Bellatrix assinou a lei com extremo incômodo. No próximo feriado de Páscoa, em Abril, os pais trouxas pela primeira vez conheceriam Beauxbatons, e o que aconteceria a partir daí só o tempo diria. 



— Você parece incomodada, madame. — Gabrielle a acordou de seus devaneios, mexendo o chá que possivelmente já estava frio com pouco interesse. — É sobre a tal lei? — Bellatrix levou alguns segundos para perceber que estavam conversando em Inglês, e não Francês. Ela não queria ser entendida. 



— Sim… — a bruxa mais velha confirmou, levantando-se de sua poltrona para ir sentar-se ao lado de Gabrielle no sofá. — Mas nada disso devia te preocupar, Gabie querida, deixe isso para nós que somos azarados o suficiente de ter que lidar com política. 



— Você se esquece de que me fez Alta Inquisidora de Hogwarts, quando decidiu ficar o tempo todo na França. — Gabrielle colocou o chá de lado, e cruzou os braços. — E que passei o último ano espionando o diretor daquela escola. Estou bem envolvida na política. 



— Não. Você passou o último ano dormindo com o seu ex e dizendo que está fazendo isso para espioná-lo. — Bellatrix a corrigiu, e recebeu um tapa no ombro como resposta. — O que? É a verdade. Gabrielle, por Merlin, você passou todo esse tempo seguindo cada passo dele, indo a Hogwarts muito mais vezes do que uma inquisidora precisa, e não descobriu nada. Até eu, a esse ponto, preciso admitir que Snape não esconde mais nada. E olha que eu o odeio. Talvez seja a hora de você admitir para si mesma… 



— Admitir o que, Bellatrix? Que eu quero ficar com ele? 



— Sim, por mais que eu jamais vá entender… Parece cada dia mais realista.



— E você pode muito falar qualquer coisa de mim, não é? Eu vou admitir isso no dia que você for coroada rainha do Reino Unido. — a loira sorriu sarcástica, e Bellatrix rolou os olhos. — O que? Só você pode discutir comigo? De qualquer forma… eu não consigo tirar de mim a ideia de que ele esconde algo. Mesmo que você estivesse certa… — ela fitou as próprias mãos por um momento. — e eu quisesse estar com ele. — o olhar reprovador de 



 foi igno



rado. — Não consigo confiar, não depois de tudo… Levaria anos até. — a loira respirou fundo e escondeu o rosto nas mãos. — Eu não sei, algo está errado. 



— O que está errado, Gabie… — Bellatrix virou-se na direção dela. — É que você está obcecada em encontrar algo, e se segura nisso porque não quer se afastar dele ainda, porque não consegue. E está tudo bem, de verdade, só não se frustre por não achar nada. E… se prepare para quando ele descobrir. 



— Severus tem zero moral para me criticar por algo. — Gabrielle devolveu com raiva. — Eu nunca seria capaz de machucá-lo mais do que ele me machucou, mesmo porque ele nunca me amou. — ela deu de ombros, e Bellatrix tocou seu ombro em apoio. — Então eu vou continuar, até onde der. Talvez ter uma pessoa do círculo íntimo tão próxima, com o trabalho de vigiá-lo, esteja fazendo com que ele não tenha coragem de fazer nada, ou sei lá. — ela se levantou abruptamente. — Eu preciso de algo mais forte, onde ficam as bebidas? 



— Oh, minha cara, uma das grandes vantagens de se ser quem eu sou… — Bellatrix fez um sinal para que ela sentasse novamente. — É que eu não preciso saber. — pegando uma sineta que Gabrielle nem tinha visto, Bellatrix chamou um dos empregados e solicitou que lhes trouxessem um bar. A ordem jamais foi questionada. — Agora, como estão o resto das coisas em Hogwarts e… — ela ponderou por um momento. — Na capital? 



— Falando em pessoas que não tem moral para criticar as outras! — Gabrielle repreendeu, e Bellatrix cruzou os braços. 



— Minha pergunta é estritamente profissional, Ceresier. Digamos que recebi um intimato sobre minha falta de presença na capital e as implicações disso…



— Hm. Já não era sem tempo! — Bellatrix a fuzilou com o olhar. — E o que mais…?



— E num futuro muito próximo serei convocada e não poderei recusar. Por isso, eu preciso saber, como está tudo. É só isso. — os empregados chegaram com as bebidas, e elas só voltaram a falar quando eles se afastaram. 



— Sem rodeios, madame Lestrange, o que exatamente você quer saber? — a verdade era que nem a própria Bellatrix sabia.





 



Bordeaux - 20 de Abril de 2000



 



As histórias da capital que Gabrielle contara algumas semanas antes não eram muito diferentes daquelas que Bellatrix já conhecia. Aparentemente, os bons cidadãos que mantinham-na informada contra a sua vontade não mentiam. 



Nos dia seguinte, Melinda chegaria com Pandora e, provavelmente com mais informações sobre como tudo estava acontecendo do lado de lá do Canal da Mancha. Além de tudo, começavam a sair as notícias sobre as visitas a Beauxbatons, e ela realmente não queria lidar com tudo aquilo.



Subitamente, ela sentiu duas mãos em seus ombros, enquanto ela assinava alguns papéis em seu escritório, e não precisou olhar para saber quem era: Aaron. Por um momento, ela considerou tirar as mãos dele dali, afastá-lo e mandar ir fazer seu trabalho, afinal tudo o que ela queria era ficar sozinha. Contudo, a leve massagem que ele fazia pareceu interessante o suficiente para deixá-lo continuar. Talvez, apenas talvez, ela devesse se sentir mal por usá-lo como o usava, mas… Não era como se ele não soubesse, ou não tivesse sido alertado por diversas pessoas, incluindo a própria Bellatrix. Se Aaron Guillot gostava de ser um brinquedo em suas mãos, por que ela se recusaria a brincar? 



 



De todas as cenas que Rabastan Lestrange pensou que ia presenciar, aquela que se formava em frente a seus olhos era a última. Ele nem mais se lembrava o que diabos tinha ido falar com sua amada irmã postiça, e se arrependia profundamente de não ter batido na porta, mas eles eram família, não eram? De um jeito ou de outro, encontrar Bellatrix sentada na mesa com Aaron Guillot ajoelhado entre suas pernas era ouro. A expressão de completo horror no rosto dela e, principalmente, de Guillot, ao perceberem que ele estava ali, valeu cada viagem de ida e volta ao Reino Unido que ele teve que fazer em nome da Duquesa de Bordeaux. 



— Eu diria bom dia, mas… — ele levantou as mãos. — já vi que o dia de vocês está bem melhor que o meu. 



— Sua mãe não te ensinou a bater na porta, Rabastan? — ela desceu da mesa, arrumando o vestido, enquanto Guillot parecia querer se fundir com a parede. 



— Sim, em quartos, onde pessoas têm mais privacidade para… — ele gesticulou entre eles, e deixou os olhos pararem em Aaron, que estava pálido como um fantasma. — Pensem pelo lado positivo, fui eu! Imagina se tivesse sido a Melinda, ou pior, a Pandora? — ele se fingiu de chocado, adorando o desespero crescente de Aaron.



— Sr. Lestrange. — ele até tentou, mas Bellatrix levantou a mão para que ele se calasse e negou com a cabeça. 



— Deixe-o falar, Bellatrix! Que rude você só querer que ele tenha uma única função para a boca! — ele desviou do peso de papel que ela tacou na direção dele, mas o riso que se formava nos lábios dela não era nada compatível com o choque de Aaron. — Falando nisso, Guillot, talvez você queira… — Rabastan fez um sinal como se limpasse a própria boca, e achou que Aaron ia entrar em combustão espontânea. 



— Aaron, se poupe da humilhação, e deixe-nos a sós. — Bellatrix ordenou, enquanto o cavaleiro discretamente ouvia ao conselho de Rabastan e passava um lenço nos lábios. — E talvez meu querido irmão postiço possa me dizer o que ele veio fazer aqui. 



— Pior que nem lembro mais. — ele confessou. — No momento estou chateado demais com você, Bella querida, — Rabastan se aproximou sensualmente dela, olhando-a de cima a baixo. Mais uma vez, ela usava um daqueles vestidos leves que pareciam frescos demais, mesmo para a primavera francesa. — porque eu esperava um convite, sabe? 



— Você nunca vai me deixar em paz sobre isso, vai? — ela andou em volta da mesa e sentou-se nela, cruzando as pernas lentamente, e percebendo os óbvios olhares de Rabastan e Aaron seguirem o movimento. 



— Não. Porque se você estava à procura de um amigo com benefícios, eu devia ser o primeiro da lista! — Rabastan parou na frente dela, que segurou sua lapela, fingindo arrumá-la com um sorriso divertido. 



— O problema, meu querido, é que eu estava procurando apenas a parte dos benefícios. — ela respondeu, ignorando que Aaron ainda estava lá. — Eu e você… As coisas poderiam se complicar, e eu te amo demais pra isso. 



— Eu sou o rei da não complicação, e você sabe disso. — a mão de Rabastan parou na coxa dela, que negou com a cabeça e tirou a mão dele de lá. 



— Você ainda não dormiu comigo. — ela disse, simplesmente. — Não consigo afirmar que saberia superar. 



— Convencida. 



— Realista. Olha o histórico… Digamos que pra homens que se envolvem comigo, nunca termina bem. — ela deu de ombros. — Além do que, você passa tempo demais com ele. Quer mesmo que ele veja essa memória? Sua mão na fenda da minha saia? Imagina se algo mais acontecesse… — as unhas dela subiram a coxa de Rabastan, que parecia mais amedrontado do que excitado àquele ponto. — É, imaginei que você não ia querer explicar. 



— Nope. — ele segurou o pulso dela. — Bem lembrado. Eu não estou escondido em Bordeaux como certas pessoas. — ele olhou na direção de Aaron, que rolou os olhos. — Não que você seja propriedade de ninguém, é claro, mas eu tenho amor ao meu…  Ao meu tudo. Quem sabe no futuro, quando ele se importar menos e não considerar que eu o estou traindo… — Rabastan deu de ombros, e Bellatrix fechou o sorriso. Ah, aquela tinha doído, e ele estava amando. — Ou, numa outra realidade, se um dia ele me chamar pra brincar com vocês. — Rabastan piscou e Bellatrix o empurrou pra longe. 



— Cala a boca, Rabastan! — ela desceu da mesa, cruzando os braços. 



— Seria meu sonho, mas nesse caso… — ele segurou o rosto dela, que arqueou a sobrancelha. — É você quem não dividiria, não é? Nossa, que possessiva!



— Chega, Rabastan! O que você quer? 



— Eu já disse que não lembro! Mas chegou algo pra você, não tem remetente, mas... — ele estendeu um envelope branco, e Aaron tomou da mão dele imediatamente. — Hey, não é seu!



— Eu sou o cavaleiro dela. — Aaron disse, sério, levando o pacote até a mesa. — E nós não sabemos o que é isso, ou de quem veio, e pode ter todo tipo--



— Tá, tá. — Bellatrix o interrompeu, cansada. — Faz logo sua coisa insuportável de proteção. 



— Ah, é. Essa é a função dele. — Rabastan piscou, e tomou um tapa de uma Bellatrix bastante irritada. 



— Um dia você ainda perde a cabeça por atrevimento, e ele por ser um porre com essas merdas. — ela cruzou os braços. — Como se eu não soubesse me defender. 



— Tecnicamente, uma lei muito polêmica acabou de ser aprovada e você assinou, eu entendo a lógica disso ser um pacote amaldiçoado. — Rabastan começou, e ela pressionou dois dedos contra os lábios dele, negando com a cabeça. 



— Você não. Eu já tenho que aguentar essa criatura e o Lorde das Trevas achando que eu vou ser morta a qualquer momento, você também não. — aquilo era uma ordem. — Guarda pra você. 



Aaron fez uma série de feitiços ao redor do pacote, checando tudo quanto era tipo de possível ameaça. Levou vários minutos até que ele se desse por satisfeito, e Rabastan começou a entender a impaciência de Bellatrix. O que ele não sabia era que o real problema começaria depois que Aaron liberasse o pacote para ser aberto, insistindo que ele e Rabastan o abrissem com Bellatrix ao longe, apenas por garantia. Os dois homens desejavam não ter feito isso, e mais ainda que tivessem sido capazes de controlar suas expressões ao verem o que tinha dentro.



— O que foi? — ela perguntou com os braços cruzados, sem obter resposta. — Eu perguntei… Ah, quer saber? — ela passou pelos dois, empurrando-os para longe da mesa, e cambaleou dois passos para trás com o susto que tomou. Dezenas de fotos enchiam a mesa, movendo-se silenciosamente, enquanto o ódio começava a borbulhar dentro de Bellatrix. 



— Ah, é isso? — ela tentou disfarçar. — Não é novidade, eu recebo fotos desse tipo há meses. — Rabastan se lembrou do discurso dela sobre ser informada sobre as diversões de Voldemort. — São criativas, as pessoas. Até em documentos oficiais do ministério já chegaram. Fico feliz, hm, que ele esteja se divertindo. Por mais que ele esteja exagerando com todas essas mulheres, é claro, ele… Ele é um homem livre. — e, então, ela percebeu a diferença. 



Aquelas fotos mostravam apenas uma mulher. Loira, por volta de seus trinta e poucos anos, não muito alta, de rosto comum. Mais do que isso, elas mostravam diversas ocasiões diferentes, com outras pessoas presentes, Comensais, autoridades, Melinda. As outras fotos sempre mostravam Voldemort com alguma mulher aleatória, em um canto qualquer, semi escondido, e nunca mesma mulher em duas ocasiões diferentes. De repente, ela não estava respirando com a realidade do que estava vendo. 



— Rabastan… Quem é a mulher das fotos? 



— Ninguém importante, Bella, como você mesma disse, várias dessas chegam. 



— Nunca com a mesma mulher. — ele apertou os olhos ao ser encarado por ela. — Quem é ela, Rabastan? O que você está escondendo de mim que um estranho está tentando me contar?



— Bella… 



— Responde a droga da pergunta! — ela voltou a olhar para as fotos, tentando reconhecer os lugares, datas, ocasiões. Merlin, aquelas fotos se passavam durante meses. Ela nunca havia visto aquela mulher antes e, mesmo assim, todos nas fotos pareciam conhecê-la. 



— É… a Srta. Madeleine. — ele finalmente respondeu, mesmo que a resposta não dissesse nada a Bellatrix. — Madeleine Bernard. 



— Você sabe muito bem que o nome dela não significa nada pra mim, e que não foi isso que eu perguntei. — quando ela havia pegado um copo de uísque de fogo? Nem Aaron nem Rabastan sabiam. — Quem é ela? Pra ele? 



— Aaron… — Rabastan disse na direção do cavaleiro. — Eu acho que você devia sair daqui. 



— Eu não vou a lugar algum! 



— Fora. Agora! — Rabastan reforçou. — Você não quer estar aqui quando eu responder a essa pergunta. 



— Eu não recebo ordens de você! 



— Deixe-o ficar, se quiser… — Bellatrix respondeu, rindo-se quase histericamente. — Não é sua culpa, nem minha, que o Sr. Guillot não tem amor próprio. — ela deu de ombros. — Se ele quiser assistir a isso, que assista, eu não me importo. E não precisa mais responder a pergunta, você já respondeu. Ela é… — ela não conseguiu finalizar, e bebeu rapidamente quase a dose inteira do uísque.



— Amante dele, só isso. — Rabastan corrigiu, rapidamente. — Nada além disso, ela nem título tem, é só mais uma das dezenas de vagabundas com quem ele dormiu nos últimos meses… — o som do copo se espatifando do outro lado da sala calou Rabastan. 



— Amante dele. — ela repetiu. — Amante oficial, já que todos vocês a conhecem por nome. — ela estava rindo de novo, e negando com a cabeça. — Você não vê, Rabastan? Não é só mais uma das dezenas, porque ele parou nela. Há quanto tempo…? 



— Desde… Eu não sei exatamente, Bella! — Rabastan respondeu, quase desesperado. — A primeira vez que eu a vi… - ele parou de falar, e Bellatrix franziu o cenho. — Foi na festa da virada do milênio. — ele confessou, e Bellatrix apoiou-se na mesa. — Eles foram apresentados naquele dia, se não estou louco. E, depois disso, ela ficou. 



— A virada do milênio. — ela repetiu, a voz engasgada como se não pudesse respirar. Apenas ela sabia o que aquilo significava, talvez Rabastan tivesse alguma noção, e o quanto a machucava. Ela podia lidar com ele se enfiando na cama de qualquer coisa que se movesse, mas aquilo. — Eu... — ela se afastou novamente da mesa e fitou as fotos uma última vez. 



Num ataque de raiva, Bellatrix passou os braços pela mesa, jogando tudo o que estava nela no chão, o grito de ódio enchendo a sala, e fazendo com que os dois homens se afastassem. Não satisfeita, ela virou a mesa de madeira, num estrondo que, com certeza, chamaria a atenção dos demais empregados. 



— Bella…



— Eu sabia que esse dia ia chegar, Rabastan. — ela o cortou, andando novamente até o armário de bebidas, servindo-se tremulamente de mais uísque. — Sempre soube. — a voz dela estava embargada. — O dia em que ele se cansaria dessa brincadeira de gato e rato e decidiria seguir em frente. Sabe, — ela lambeu os lábios — ele me prometeu isso há um tempo, da última vez que nos vimos, que se… — ela negou com a cabeça e bebeu. — Que ele moveria sua vida. E eu tenho forçado a barra, não tenho? É evidente que ele se cansou. 



— Bella, você queria que ele se cansasse! — Rabastan jogou os braços pra cima. — Não era tudo o que você queria? Que ele seguisse com a vida dele, e desistisse de vocês? Porque vocês não dão certo…? — o tom dele era de uma empatia forçada, mas ela sabia que por trás disso tinham camadas e camadas de ironia e falta de paciência. — E você não pode falar nada, eu acabei de te pegar com a droga do cavaleiro que ele te deu, francamente.



— É diferente. 



— E como é diferente? Ele parou com uma, você parou com um. 



— É diferente porque Aaron não é importante. — ela deu de ombros. — E ele sabe disso. — Bellatrix apontou na direção de Aaron, que fitou o chão. — Eu sempre deixei muito claro que é ele por comodidade, podia ser você, Rabastan, ou qualquer outro homem. A mesma lógica que ele seguia quando estava levando qualquer uma pra cama. E mesmo naquela época… era diferente. 



— Por quê?



— Porque ele não é assim! — ela gritou, de repente. — Ele não é do tipo que sai por aí comendo a primeira que passa porque tem necessidades. De quantas mulheres você soube, Rabastan, que dormiram com ele? Antes, eu digo. — Rabastan balbuciou, e ela negou com a cabeça. — Elas existiam, mas nós não ficávamos sabendo, porque não é do feitio dele. 



— Até você. 



— Até eu. E mesmo eu… por Merlin, como tentamos esconder.



— Vocês eram péssimos nisso. — ele apontou, e ela sorriu amarga. — As coisas mudaram.



— Não. Ele estava tentando me atingir. — ela corrigiu. — Porque eu sei que ele não é assim, e ver isso tudo acontecendo machucava. — a confissão fez com que Aaron se afastasse.



— E então você decidiu atingi-lo também? 



— Não. — ela negou com a cabeça. — Não por isso. As vagabundas foram uma resposta dele a eu estar transando com o Aaron, porque é óbvio que ele sabe. — ela respirou profundamente e deixou-se cair sobre uma cadeira. — Mas eu não posso negar que eu tenha escolhido especificamente quem eu escolhi — Aaron olhou na direção dela, num misto de dor e raiva — por causa dele. Ele ter me forçado a ter um cavaleiro foi o motivo de nosso último desentendimento, e o porquê de eu ter parado  de ir à capital.  



— Bella… — Rabastan se aproximou. — Eu juro que quero te esganar.



— Com toda a razão. Entre na fila, pois o Guillot quer primeiro. — ela deu risada. — Eu te avisei, Aaron, para não levar nada disso a sério. Eu precisava aliviar a tensão, e fazer isso com você tinha o adicional de alfinetada, então estamos aqui. Mas não finja que não se diverte também. 



— Alguns de nós não fazem tudo pela diversão. — Aaron respondeu, irritado, fazendo menção de sair da sala. 



— Pior pra você. Eu te avisei para se ater à diversão, sempre deixei muito claro que você não era nada pra mim além de um corpo pra esquentar minha cama quando me dá vontade, se você se deixa iludir com bobagens, honestamente todo o choque e dor são merecidos. — Bellatrix sorriu ao final, vendo sair batendo a porta. — Ele gosta de se iludir. 



— Outro tonto que se apaixonou por você? Como meu irmão um dia?



— Só que esse foi bem avisado. Voldemort pode ser capaz de seguir com a vida dele e me superar, — ela soluçou, ignorando como ele ergueu as sobrancelhas, curioso por ela ter pronunciado aquele nome com tanta naturalidade — mas eu jamais vou conseguir, Rabastan. E é por isso que estou escondida. E eu sempre soube disso. É só que… ver… dói demais. - as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela, e Rabastan se aproximou, levantando-a da poltrona para abraçá-la. 



Levou vários minutos para que ela se acalmasse, aninhada nos braços do amigo, que em algum ponto levou-a para se sentar com ele no chão no canto da sala. Acariciando os cabelos negros, ele não sabia lidar com a visão da mulher mais forte que ele conhecia se desfazendo daquela forma. 



— Eu nunca vou entender vocês dois. Eu juro. Essa separação faz tão mal…



— A nossa relação faz mais mal. — ela respondeu, contra o peito dele. 



— Eu já não tenho tanta certeza. 



— Acredite… talvez essa tal de Madeleine seja o melhor pra todos nós. — ela mordeu o lábio inferior. — Se ela um dia virar…



— Ela nunca será rainha, Bella. — Rabastan parecia ofendido. — Madeleine Bernard é uma porta. Sem talento mágico algum, sem inteligência, uma clara alpinista social, que pensa que um dia será rainha. 



— Parece o tipo de rainha que ele quer… moldável, submissa, obediente e tonta. Um enfeite.



— Ele montou todo um sistema com leis e protocolos para ter uma rainha governante, não uma rainha consorte, Bella. — Rabastan retrucou. — Acha mesmo que ele quer uma rainha idiota? De enfeite? Ele quer dividir o poder, por mais que não saiba como, mas jamais dividiria com ela. Até porque… ele tem zero apoio pra isso. Todo mundo odeia aquela criatura. 



— Vocês também me odiavam, zero novidades aí. — ela deu risada, e ele a abraçou mais forte. 



— Tem novidade aí sim, porque depois que essa mulher chegou, você se tornou a figura mais popular na Corte. — Bellatrix se afastou dele, com um olhar incrédulo. — O povo clama por nossa rainha verdadeira. — ela riu com aquilo. — É sério isso! Eu estou falando dos ex-Comensais, inclusive! Todos nós sabemos que a futura rainha será uma rainha governante, e só queremos uma. 



— Pois vão ficar querendo. — ela sorriu triste, aninhando-se novamente no abraço dele, que resistiu à vontade de fazer uma piada. — Infelizmente a rainha que vocês querem não dá certo como esposa do rei, por mais que o ame mais do que é capaz de aguentar. Vocês vão ter que se contentar com a loirinha tonta… 



— Ele jamais a fará rainha. 



— E como você tem tanta certeza? Ela é oficial…



— Um enfeite oficial. — ele corrigiu. — E como eu tenho certeza? Porque ele tem o mesmo problema que você: não consegue superar uma certa morena insolente que se esconde na França. Madeleine Bernard é só mais uma distração e, possivelmente, uma maneira de te provocar. Bella, ele te conhece melhor do que você. Eu não duvido nada que ele soubesse que sua reação seria exatamente essa. 



— Bom… — ela agarrou a camisa de Rabastan, ainda escondendo o rosto. — Se esse for o caso, preciso admitir que ele venceu. Com todas as honras. — ela respirou fundo, e fechou os olhos. Rabastan não precisava ouvi-la dizer aquilo, porque a forma como ela estava quebrada era quase assustadora. 



 



Rabastan encontrou Aaron no corredor, horas e duas garrafas de uísque depois, quando Bellatrix já havia se retirado para seu quarto. Ele estava plantado no fim do corredor do quarto dela, exercendo sua função de cavaleiro. 



— Ei, Guillot… 



— Sim, Vossa Graça? 



— Posso te dar um conselho? 



— Todos parecem não resistir a isso. — Aaron cruzou os braços. — Deixe-me adivinhar? Estou arriscando a minha vida, o Lorde das Trevas vai me matar, qual a da vez? 



— Ela vai te matar. — Rabastan respondeu, simplesmente. — Lembra como eu me afastei? Como ela foi com você hoje? É porque ela é uma bomba esperando para explodir, e nada disso tem a ver com o Lorde das Trevas. Pelo menos não diretamente. Bellatrix consegue o que quer, sempre consegue, e não se importa com quem fica atropelado pelo caminho. Eu sei que vocês dois tem esse rolo de ‘sem compromisso’ e ‘consolo humano’, mas por quanto tempo você acha que consegue se manter afastado? Aaron… Ela é irresistível. Nem mesmo o homem mais poderoso do mundo conseguiu resistir, você acha mesmo que vai? É uma questão de tempo antes de você se apaixonar por ela como um idiota. Só que ela é incapaz de amar qualquer um que não seja ele. E, Aaron, quando a Bella não se importa… Ela é a pessoa mais cruel que eu conheço. Se afasta, pro seu próprio bem, porque ela não estava errada: nunca termina bem. — ele bateu no ombro do outro homem, que se afastou. 



— Obrigado pelo sábio conselho, Lestrange, mas eu sei me cuidar.



— Oh, Merlin, você não sabe… E não tem mais como escapar, não é? — o olhar que ele lançou ao cavaleiro era quase de pena. — Você já está fodido de apaixonado. Meus pêsames, desde já. 



— Pelo que, exatamente?



— Sua alma, meu caro, sua alma. — Rabastan se afastou, negando com a cabeça. — Mais uma pobre alma. — por mais que parecesse extremamente dramático, Rabastan sabia em seu interior que falava apenas a verdade. — Cuide-de, Guillot. E cuidado. — o cavaleiro nunca respondeu, enquanto o outro bruxo ia para seus aposentos. Nos poucos meses em que ele e Bellatrix se encontravam ocasionalmente, ele havia sido avisado por várias pessoas, por ela própria mais do que por ninguém. ‘Não se apaixone por mim, Aaron,’, as palavras dela sempre iam atormentá-lo, ‘porque eu com certeza não vou”, especialmente porque Rabastan estava certo de uma coisa: ele já estava perdido, e se odiava por isso, porque não era como se Bellatrix merecesse ou o tratasse como qualquer coisa além de um prostituto, alguém para esquentar sua cama de vez em quando. Ele era um idiota, isso sim, e sabia - por mais que nunca fosse admitir. 



 



A chegada de Melinda tinha sido tudo menos quieta. Não era como se alguém pudesse esperar que a chegada de uma princesa seria silenciosa e discreta, menos ainda com uma menina de três anos extremamente animada no braço. Pandora estava naquela idade em que tudo era dela, o mundo seu parquinho, e todos eram incapazes de repreendê-la devido à fofura - e especialmente em vista da distância do pai. 



— Vovó! — ela gritou, ao ver Bellatrix, que definitivamente não parecia ter idade o bastante para ter uma filha da idade de Melinda e, menos ainda, uma neta. 



— Vossa Alteza Real, — Bellatrix fez uma reverência para a filha, que rolou os olhos, e aproveitou para abraçar Pandora. — e mini alteza real. — a menina riu-se. — Bem-vindas a Bordeaux. É um prazer tê-las para Páscoa. 



— Mamãe disse que você tem cavalos! 



— Eu tenho mais do que cavalos. — Bellatrix confessou, fingindo segredo. — Temos cavalos alados. E unicórnios no bosque. — o queixo de Pandora caiu. — Mas esses não podemos montar. 



— Por quê? 



— Porque eles não deixam. — a menina emburrou, e Bellatrix se levantou, estendendo-lhe a mão. — Mas podemos seguir com os cavalos normais e com os alados, até porque unicórnios são mais bonitos de ver de longe. — a bruxa deu de ombros, e Pandora pareceu satisfeita. — Agora, as damas de companhia vão te mostrar onde estão todos os brinquedos. — ela passou a mão de Pandora para uma das mulheres silenciosamente paradas a seu lado, e observou-a se afastar. — Ela está cada dia mais inteligente. 



— Impossível de inteligente. Não dou três anos para começar a destruir as coisas com magia. — Melinda respondeu, puxando a mãe para um abraço. — E você cada dia que passa me dá mais raiva! — ela confessou. 



— E posso saber o motivo? — Bellatrix riu-se, com as mãos na cintura, e a filha a olhou de cima a baixo. 



— Você fica cada dia mais nova e não quer me contar como, por isso… — Melinda fez uma careta e seguiu a mãe chateau à dentro. — Um dia desses vou parecer sua mãe. 



— Até parece. Melinda, menos, você não tem nem vinte anos de idade. — Bellatrix repreendeu. — Quando tiver idade, te conto meus segredos. 



— Sabia! Existem segredos! Meu pai fica por aí falando que é um talento seu, mas eu sabia que tinha coisa escondida. O quão proibido é, dona Bellatrix? — ela cerrou os olhos e Bellatrix botou um dedo nos lábios em sinal de silêncio. 



— Quando você passar dos trinta. — ela piscou, e Melinda bufou. — E diga ao seu pai que elogios não o vão levar a lugar nenhum. — a amargura na voz dela era evidente, e a mais jovem tentou acessar a mente da mãe para ver, recebendo um tapa no ombro. — Fora da minha mente, Melinda Callidora! 



— Então me explica esse rancor todo aí, e nem tenta me dizer que é a história de sempre. — Melinda se jogou no primeiro sofá que viu e tocou a sineta, tirando os sapatos de salto. — Com champagne e macarons, é claro. — Bellatrix repetiu o gesto da filha, e se jogou dramaticamente ao lado dela. 



— Nessas horas eu vejo que te criei muito certo… ou muito errado. 



— Tecnicamente você não me criou. — Melinda apontou, enquanto os doces e a bebida chegavam, fazendo uma falsa expressão de tristeza. — Você me abandonou na porta alheia. — colocando a mão na testa para acentuar o drama, Melinda disparou a rir. 



— Tecnicamente eu salvei a sua vida fazendo isso. E, bem, eu acho que podemos dizer que ser um modelo a ser seguido, quase um tipo de heroína à distância que você queria imitar, também vale como ‘criar’. No fim, você saiu igualzinha a mim. 



— Metade igual a você, metade igual a ele. — Melinda corrigiu. — E, mesmo que nenhum dos dois tivesse a intenção de chamar minha atenção, podemos considerar isso como válido. — Melinda deu de ombros. — Eu acho. Pais do século. Chega de enrolação, qual seu último motivo pra odiar meu pai?



Bellatrix suspirou e virou a taça de champagne de uma vez. Ela realmente não queria ter aquela conversa com Melinda, mas a desvantagem de se ter uma filha legilimente era que ela ia descobrir de um jeito ou de outro. Mordendo o lábio inferior e forçando um sorriso, ela decidiu confessar: — Madeleine Bernard. — Melinda quase cuspiu a champagne. — Falando nisso… Obrigada por me contar, sweetheart. Foi bastante divertido saber por terceiros. 



— Mãe… — ela levantou as mãos. — Ele não queria que eu te contasse, você não queria que eu falasse dele…



— Ele não queria que você me contasse? — a voz de Bellatrix se levantou, e ela agradecia à forma mágica como a taça se enchia. — E eu posso saber o motivo? O que? Ele acha que eu vou ter uma crise louca de ciúme e vou lá quebrar o pescoço daquela… — ela se parou e bebeu mais. — Aproveite a oportunidade para me contar tudo o que sabe, porque eu estou cansada de ser a última a saber. 



Foi a vez de Melinda beber a taça inteira de uma vez. Pensando bem nas palavras, e tentando manter seu próprio ódio em relação a Madeleine sob controle, ela começou. — Eu infelizmente não sei muito mais do que as pessoas a nosso redor, por mais absurdo que pareça, mas ela surgiu na festa da virada. — Bellatrix assentiu. — E quando eu vi aquela droga de porta estava morando na Mansão Slytherin e--



— Morando?! — Bellatrix quase gritou, a taça em suas mãos tão apertada que qualquer um que visse ia temer que ela se quebrasse. Melinda simplesmente assentiu, claramente irritada. — O seu pai está louco? Perdeu o juízo? Põe o Aaron atrás de mim, o Oliver— ela parou, de repente, e olhou ao redor. — Onde está o Oliver? Eu não o vi… 



— Descarregando as malas, ou sei lá. Ele estava um pouco atrás de mim, quando o furacão Pandora te atacou. — Melinda esclareceu. 



— Depois o cumprimento propriamente. De qualquer jeito…



— Pera, e o Aaron? 



— Eu lá sei? — Bellatrix deu de ombros. — Ele não me segue a todos os lugares, Melinda. 



— Eu sei disso, eu só percebi que estamos as duas livres dos cavaleiros ao mesmo tempo. 



— Pois eles que se explodam, por mim nunca mais apareciam. E não desvie do assunto! — Melinda quase apontou que fora a mãe quem perguntara de Oliver. — Porque o ponto é exatamente esse: ele põe pessoas coladas em nós duas, e traz pra dentro da Mansão Slytherin a primeira vagabunda que se esfrega na perna dele? 



— Foi exatamente o que eu disse, mas a casa ainda é dele. E, mãe, ela não tem nada de especial, sabe… Chega a ser ofensivo. — Melinda fitou o colo, e Bellatrix franziu o cenho. — Digo, ele te substituir com alguém tão… comum. Não, ela é menos do que comum, ela é tão inferior.



As palavras de Melinda atingiram Bellatrix como uma faca afiada através do peito. Enquanto a filha explicava a falta de talento mágico, talento social, ou de qualquer tipo de Madeleine, Bellatrix sentia seu estômago embrulhar com a ideia de que uma bruxa como aquela, escória daquele tipo, estava tendo o mesmo privilégio que ela tivera de ser amante do bruxo mais poderoso da história. Era revoltante, era quase um sacrilégio. E Bellatrix sabia que a culpa era toda sua. 



— Eu só não entendo porque ele se presta a se misturar com gente como ela, eu perco diversos pontos de inteligência só de estar na mesma sala! — Melinda socou uma almofada. — Ela não é poderosa, nem inteligente, nem mesmo bonita. Nada explica.



Algumas coisas explicam, a mente de Bellatrix interveio. Era evidente que ele estava com raiva e que a raiva o levara a escolher alguém que era o completo oposto dela. 



Cada vez mais, Rabastan parecia estar correto quanto àquilo ser uma provocação, mas de um jeito ou de outro era a realidade dura que ela teria de aceitar. — Nada mesmo, — ela se ouviu concordando. — Bernard. Quem diabos são os Bernard? Ele precisava mesmo escolher a primeira vira lata que cruzou o caminho? Se era pra adotar uma cadela, que tivesse alguma procedência. — ela gostava de acreditar que era a champagne falando.



— Um pouco de Pedigree não faz mal a ninguém… — Melinda concordou, também tomando a champagne como se fosse água. — Pelo menos é puro sangue. 



— Se não fosse eu mesma iria até Londres descobrir quem se atreveu a colocar uma maldição Imperius no seu pai. — o horror na voz de Bellatrix era bem compreendido por Melinda. 



— Por um tempo duvidei… — um arrepio pareceu passar pelo corpo dela. — Tem limite pra tudo, até pra cair nas boas graças do povo… 



Melinda voltou seu foco para a taça de champagne e para o prato de macarons de framboesa em seu colo. Uma de suas coisas favoritas sobre a França era a comida. 



— E o que mais tem a me contar? 



— Eu quero queijo. Vários queijos. E geleia, talvez.



— É o que?



— Estou na França, mamãe, vou esbanjar. — Melinda se explicou e Bellatrix riu, apontando para a sineta. — E posso começar dizendo que eu odeio aquela mulher. Além de insípida e fraca, ela é presunçosa num nível não compatível com sua falta de tudo. Dá vontade de brincar de cruciatus pela casa. 



— E por que se segura? 



— Porque estou guardando pra você, cara mamãe. — Melinda respondeu, abraçada naquela que devia ser sua quinta taça. — Porque eu ainda tenho fé que um dia você vai chutar a porta da Mansão e tomar de volta o que é seu e daí ela vai aprender como uma cruciatus bem aplicada funciona. E porque é meu trabalho me fingir de legal.



— Não com ela. — Bellatrix piscou e Melinda começou a alternar risinhos histéricos com gargalhadas. — Pode me representar no caso, por enquanto… — ela deu de ombros, e fez um sinal para que Melinda ficasse quieta, enquanto os queijos eram entregues. A capa de Melinda também sumiu no processo, e a jovem ficou apenas com o vestido curto de seda que usava por baixo, já preparada para a primavera de Bordeaux. 



— Por enquanto? — ela questionou, colocando os dois pés em cima do sofá em animação. — O que isso quer dizer, madame Lestrange? Será que minhas teorias têm fundamento? 



— Se tem algo que a vida me ensinou é a nunca dizer nunca. Eu achei que nunca me separaria do seu pai, e aqui estamos. — Bellatrix puxou a saia do vestido, e colocou os pés pra cima do sofá macio como a filha. — Mas o que eu quis dizer foi que seu pai me deu um ultimato. Em algum momento nos próximos meses, ele vai me convocar de forma muito séria e eu vou acabar tendo que ir, se quiser manter minha cabeça no pescoço. E já que vou estar na capital… não vejo porque não aproveitar pra infernizar nossa querida Maddie. 



— Talvez devêssemos estender um pouco desse ódio todo ao meu pai? — Melinda questionou, e Bellatrix disparou a rir. — Não? Não. 



— Minha filha querida, eu já odeio o seu pai quase tanto quanto o amo, e ele me odeia de volta. — a risada dela estava quase histérica. — A tal da linha tênue. Por que você acha que nos esforçamos tanto em machucar um ao outro?



— Porque vocês não se superam e estão fugindo de resolver isso do único jeito possível…. 



— E qual seria? 



— Qual o único jeito que vocês sabem se resolver? Muitos orgasmos seguidos. Sem ofensa, vocês são péssimos em conversar. 



— Muita ofensa, dona Melinda! — Bellatrix bateu nela com uma almofada. — Mais respeito com seus pais. 



— Os mesmos pais que esqueceram de silenciar o quarto dezenas de vezes? — a jovem devolveu, morrendo de rir. — E por Merlin vocês são animados. 



Bellatrix teria ficado vermelha, se fosse capaz de ter vergonha na cara o suficiente para tal. A verdade era que criar e fingir tabus que nunca existiram não ajudava a ninguém. Então, ela simplesmente deu de ombros e comeu mais um macaron, formulando sua resposta. 



— Nós não éramos animados, Mel, nós éramos bons no que fazíamos. O escândalo do outro é só uma consequência de um trabalho bem feito, e você sabe disso. — Melinda quase engasgou com a champagne. 



— Não duvido. — ela parou de rir por um momento e fez uma careta. — Ah, a traumatizante imagem mental. 



— Traumatizante aonde? Eu sou um monumento, seu pai é quase um… — Bellatrix se parou, e negou com a cabeça. — Deixa pra lá. 



— Ele é quase o que? 



— Hm, nada demais. Apenas um homem atraente. Sempre foi. E os anos o deixaram quase etéreo. De uma maneira… — ela mordeu o lábio inferior, sob atento olhar da filha, que sabia o que ela queria dizer. — É como se pudéssemos ver que ele é imortal, poderoso. E, enquanto alguns os temem, outros… 



— Arruínam metros e mais metros de renda… — a maneira com Bellatrix deixou o queixo cair satisfez Melinda mais do que ela achava possível. — Só falei a verdade, sua respiração até mudou quando você… Descreveu. Muitas lembranças vividas, mami? 



— Eu não vou responder a isso. 



— Muitas mesmo. — Melinda afirmou. — Sabe que rolam uns boatos entre os Comensais…? 



— Algo me diz que eu não quero saber.



— Sobre os recordes de vocês. Mas não se preocupe, disso eu não quero saber. — Melinda a tranquilizou. — mas eu votei em números altos, porque tenho fé e porque só eu sei o que cresci ouvindo. Pelo menos esse tipo de trauma ele não me causa com a talzinha.



— Como assim? 



— Ele aprendeu a silenciar o quarto. E raramente eu o vejo com ela próxima, menos ainda cheio de mãos. Merlin sabe que o período Rabastan dele foi difícil. 



— Período Rabastan? 



— Sim, comendo tudo que se movia e consentia. — Melinda sorriu sarcástica e Bellatrix voltou a rir. — Imagens que nunca me deixarão. Mas com ela é quase…



— Insípido como ela?



— E frio. — Melinda completou. — Quase como… — ela mordeu o lábio, e gaguejou. 



— Como…?



— Ah, não tem jeito bom de dizer isso: pra mim a Maddie nunca tá com cara de quem foi bem comida. Sabe? Sempre acorda de mau humor. Sei lá. É estranho. Porque uma das coisas bizarras que eu não devia saber na vida mas sei é: meu pai sabe o que faz. Então o problema só pode ser ela. — Melinda deu de ombros, com a sensação de que talvez tivesse falado demais. De qualquer forma, não era como se o pai a tivesse proibido de falar algo, e tecnicamente ela o estava ajudando. Bellatrix mexia na própria taça interessada, analisando todas as armas que a filha entregara em suas mãos, com a certeza de que aquela seria uma incrível Páscoa. 





 



Mansão Slytherin - Alguns dias depois



 



No Reino Unido, a primavera era muito menos amena. O cenário já havia mudado no momento em que Melinda e Pandora pisaram a norte do Canal da Mancha, e à medida em que seguiam norte na direção da Mansão Slytherin, o tempo mudava mais ainda. A brisa gelada, contudo, era quase reconfortante, pelo menos para uma Princesa acometida pela pior ressaca que tivera em anos. Ela não fazia ideia de como ia manter qualquer tipo de compostura ao chegar na Mansão, mas sabia que ia ter que dar um jeito. Maldita champagne francesa, ou a empolgação dela e de Bellatrix nos últimos três dias.



Quarenta minutos depois, quando Melinda cruzou o hall da Mansão para encontrar o pai e, surpreendentemente, a tia, ninguém poderia dizer que ela estava de ressaca. Ela usava um vestido de veludo verde, com uma saia envelope cruzada, que acidentalmente criava uma fenda bem na frente, discreta e elegantemente encurtando o vestido, que deixava à mostra boa parte das pernas dela. O tubinho de mangas finas somente tornava-se apropriado para o tempo devido à renda mais escura, vazada e semi transparente que fazia as mangas e cobria o colo dela, terminando apenas no pescoço da jovem, onde a gola alta rendada era adornada por um laço do mesmo veludo do tecido, cravejado de onixes. Ela usava saltos pretos desnecessariamente altos, e os cabelos estavam presos em um coque alto e bagunçado. Ela havia escolhido não usar uma tiara durante a viagem, mas os brincos enormes compensavam a falta de jóias. A maquiagem toda era para esconder as olheiras, mas tudo em que todos conseguiam reparar eram os lábios de um vinho quase preto e os cílios imensos. Sua tentativa de disfarçar parecia ter funcionado.



— Uau! — Narcissa exclamou, andando na direção dela. — Alteza. — ela se lembrou de curvar-se rapidamente. — Quem olha acha que você está saindo, não chegando…



— A mamãe é sempre linda, vovó. — Pandora provocou, agarrando-se à perna de Melinda, que apenas sorriu e acariciou os cabelos loiros. — Vovô!!! — ela correu na direção de Voldemort, parando perto para fazer uma reverência desajeitada. Melinda, de onde estava, apenas abaixou a cabeça e, dando um rápido abraço em Narcissa, andou para se aproximar do pai. 



— E como foi a viagem, Pandora? — Voldemort perguntou, sentando-se em um dos sofás.



— Incrível! — ela se sentou no sofá ao lado dele, praticamente pulando para cima do móvel. — A outra vovó tem um cavalo! 



— Um só? — Melinda questionou, fazendo a menina rir. 



— Não! Ela tem um monte, nem cabiam na minha mão. E ela tem cavalo com asa! Eu voei num cavalo! E eu vi um unicórnio! — Pandora nem respirava, e Melinda sabia que o interesse de Voldemort na viagem não tinha nada a ver com cavalos. 



— Filha, — Melinda chamou. — eu tenho certeza que o vovô quer saber de tudo sobre os cavalos e tudo o mais, mas a vovó Narcissa logo vai para a casa dela… Não quer contar pra ela primeiro e passar um tempinho juntas? Faz tempo que não se veem. — ela sugeriu, com um sorriso e uma piscadela para Narcissa, que entendeu o recado e se movimentou na direção da menina, pegando-a no colo de maneira brincalhona.



— Vamos, bonitinha! — a loira a jogou por cima do ombro, enquanto Pandora ria descontroladamente e mandava beijos na direção de Melinda e Voldemort. — Unicórnio? Como assim? Me conta melhor! — Enquanto elas subiam as escadas na direção do quarto de Pandora, os sons animados da menina foram ficando mais e mais abafados. 



— Então… — Melinda lambeu os lábios e sentou-se no braço do sofá, cruzando as pernas mantendo a postura, apesar da ressaca. — O que quer saber? — os lábios dela se curvaram em um sorriso metade malicioso metade curioso.



Voldemort olhou na direção dela de maneira quase displicente e sentou-se de maneira mais relaxada, um copo de uísque de fogo voando até sua mão pálida e fazendo o estômago de Melinda revirar por um momento, por mais que ela tentasse esconder - o sorriso de lado de Voldemort lhe dizendo que falhara. 



— Nada demais, — ele respondeu. — Termos gerais. 



— E Merlin está vivo. — ela rebateu, balançando a cabeça. — Faça suas perguntas, majestade, ou não terá as respostas que quer. — ela riu-se por um momento. 



— Posso consegui-las se quiser, Melinda. — Voldemort deu um gole em sua bebida, em tom quase ameaçador, enquanto Melinda sentia a pressão em sua mente. 



— Pode tentar, majestade. — Melinda corrigiu. — Eu ainda fui muito bem treinada. E achei que não tínhamos o hábito de recorrer a esse tipo de invasões nessa família. 



Voldemort bufou, e olhou na direção de Melinda, que apenas sorriu de maneira doce, sua teimosia quase tão absurda quanto à do famoso pai. Melinda olhou ao redor, na direção de quaisquer guardas e empregados que estivessem por perto, apenas o olhar dela sendo o suficiente para que eles fizessem uma reverência e se retirassem. 



— Eu não posso trair a confiança de minha mãe… — Melinda começou, e Voldemort assentiu. — Mas ela parecia bastante curiosa sobre… — Melinda foi interrompida pelo som de saltos batendo apressadamente no mármore, e ela não precisou ouvir a animada voz para saber quem era. A expressão de Melinda mudou imediatamente, e ela suspirou, dando de ombros e se levantando. — E essa é a minha deixa. — Melinda se inclinou e beijou a bochecha de Voldemort, antes de passar reto pela mulher que vinha em sua direção, sem nem mesmo olhar. A única coisa que a princesa conseguiu ver com sua visão periférica foi a desastrada reverência que a inconformada Madeleine fez. 



— Agora não, Madeleine. — foi a última coisa que Melinda ouviu, antes de sumir escada acima. 





 



Mansão Slytherin - 03 de Junho de 2000



 



Por meses, aquela noite fora esperada, quase desejada por todos os convidados. Anualmente, para marcar a tomada do poder e criação da monarquia, os governantes dos sete países se reuniam com Voldemort para prestar contas de suas metas, da administração geral de suas regiões e, de certa forma, comemorar uma vitória que a cada dia mais eles questionavam, ainda que silenciosamente, o quão vitoriosos eles realmente eram. 



Aquela noite, no entanto, trazia ainda outra camada de curiosidade e tensão: os rumores referentes à Duquesa de Bordeaux. Não era novidade a que a insolência e extensivas desculpas de Bellatrix Lestrange estavam cansando o rei que, ainda que costumeiramente calmo e frio, havia em algumas ocasiões falhado em esconder seu descontentamento com a governante de seu segundo maior país. E, se os rumores estiverem corretos, sua candidata favorita a rainha precisaria aparecer hoje, ou… estaria fora da corrida pela coroa, de forma bastante literal. 



— Bellatrix preza demais pela própria cabeça — Rodolphus comentara, quando Killian Avery e Eric Rookwood demonstraram sua tensão de forma mais intensa, deixando a entender que temiam aquela noite se tornar um banho de sangue. Nos últimos meses, Rodolphus havia se aproximado dos dois, assim como de Anton Dolohov. Como os quatro eram responsáveis pelos países do Reino Unido e, constantemente sob o olhar atento de Voldemort, estavam aprendendo a conviver pacificamente e até ajudar-se, em algumas ocasiões. 



— Sua Graça não sobreviveu à Azkaban e a duas guerras para arriscar o próprio pescoço em uma aposta de que Sua Majestade não vai se livrar dela. — Rebecca Selwyn concordou, ajustando a capa e o vestido. — Teimosia tem limites, mesmo para alguém como ela. — a rapidez com que Rebecca pegou uma taça de champagne, servidas por bandejas flutuantes enquanto Voldemort e Melinda não se juntavam a eles, mostrava que ela não estava tão segura disso. 



— Isso até pode ser verdade, mas ela ainda não está aqui, Selwyn. — Rookwood apontou. — E honestamente eu acho um desrespeito sem tamanho…



— Meu irmão também não está aqui. — Rodolphus lembrou, e os outros concordaram. — Pode ser um bom sinal. 



A porta da Mansão se abriu e os cinco presentes se viraram na direção, mas sorriram quase desapontados quando um dos valetes anunciou a chegada de Jared Bulstrode, governante da Albânia. 



— A desculpa da distância acabou de se tornar nula. — Dolohov riu-se e todos se ergueram quando outro valete anunciou que os presentes deviam se dirigir à biblioteca e Voldemort e Melinda estariam logo junto a eles.

Jared silenciosamente se juntou ao grupo e, respeitando cada título, na ordem os cumprimentou, antes de todos se dirigirem à biblioteca, as fofocas morrendo em seus lábios quando as coisas pareciam ficar sérias demais. Cada um deles ainda usava a capa e coroa de veludo que haviam ganhado ao receberem seus títulos, assim como seus anéis, como era de costume em ocasiões oficiais. 



Um dos valetes os instruiu, na chegada à biblioteca, que podiam remover os trajes oficiais se quisessem, devido ao início de verão estranhamente quente para o Reino Unido. Rodolphus quase riu-se pensando que, provavelmente, Narcissa tinha algo a ver com aquilo - agora que ela ajudava Melinda a organizar tudo. Os seis presentes concordaram e entregaram as pesadas capas e coroas aos empregados, para guardá-las de forma segura. 



No meio, uma mesa com duas cadeiras em uma cabeceira, uma na outra, e três de cada lado estava montada. A cabeceira dupla claramente pertencente ao rei e à herdeira aparente, os brasões ornamentos na madeira deixando bem óbvio qual cadeira era de quem, enquanto as outras cadeiras tinham os brasões de cada país indentados na madeira. 



— Uma coisa que nunca faltou a eles foi cuidado ao detalhe. — Rebecca quase sorriu de canto, e seu próximo comentário morreu sua garganta quando a chegada de Voldemort e Melinda foi anunciada. Imediatamente, os seis se viraram para a porta e se curvaram. 



Melinda veio de braços dados com o pai, usando um longo vestido verde escuro, bordado em pedras pretas e com apenas uma manga, que ia até seu pulso em seu braço direito. Do outro lado, o vestido era sem alças, e tinha uma longa fenda. As jóias da menina seguiam o padrão do bordado de seu vestido, onixes enfeitando seus pulsos, orelhas e colo, assim como a tiara que ela usava, segurando para longe de seu rosto os longos e grandes cachos negros, que caiam soltos no lado de seu ombro que estava livre. 



A seu lado, Voldemort também estava sem seus pesados trajes oficiais, vestes negras que vinham até seu pescoço, pulsos e arrastavam-se ao chão traziam muito à lembrança os tempos de guerra, mas os tecidos e corte não deixavam de mostrar que se tratava da realeza, assim como a coroa toda negra que ele trazia, as sete pontas representando os mesmos países que cada um deles ali. 



— Boa noite. — os dois cumprimentaram, e foram recebidos com educados ‘Vossa Majestade’, e ‘Vossa Alteza Real’. 



— Espero que suas viagens tenham sido confortáveis. — Melinda complementou, e soltou-se do braço do pai, engolindo seco discretamente ao olhar ao redor da sala. Mentalmente, ela fez uma promessa de esganar a mãe antes que o pai a matasse. Lambendo os lábios, ela olhou para o relógio e sorriu. — Creio que ainda temos tempo para mais champagne, antes de tratarmos de assuntos sérios e indigestos, que tal? — ela perguntou para o sério Voldemort, quase uma estátua de gelo ao seu lado. Ele não precisou falar uma palavra para mostrar a ela que sabia perfeitamente o que ela estava fazendo: enrolando, ganhando tempo para uma Bellatrix que provavelmente não viria. De qualquer forma, ele daria esse último desejo à filha. Com somente um aceno de cabeça, ele cruzou a sala, dirigindo-se à mesa, enquanto Melinda bateu duas palmas e murmurou algo, mais bandejas aparecendo em segundos. — Fiquem à vontade. — ela quase nervosamente andou na direção do pai e pegou mais uma taça. 



— Se ainda temos tempo para champagne, estamos cada vez menos britânicos. — Melinda quase derrubou a taça e virou-se abruptamente para a porta, assim como os outros, que caíram rapidamente em reverências, por mais chocados que estivessem. Voldemort virou o rosto lentamente na direção da porta, onde Bellatrix estava parada, removendo a capa e a coroa como os demais. — Sete e cinquenta e nove, e todos já estão na biblioteca? — ela completou. — Um minuto adiantados. — ela quase riu, e fez uma reverência a Voldemort. — Majestade. - e depois à filha, que parecia horrorizada. — Alteza Real. — o relógio tocou as oito badaladas, e ela se aproximou dos demais. — Boa noite. 



Rodolphus fez uma nota mental de dar uns tapas na ex-esposa pelo susto, e virou a taça de champagne de uma vez, quase sufocado com a tensão. Rebecca Selwyn tentou não demonstrar que havia secretamente se divertido, e os outros estavam mal humorados, como sempre. Por que queriam aquela mulher como rainha, mesmo? Se tinha uma coisa que respondia aquela pergunta era a altivez com que ela se movia, o longo vestido negro arrastando-se lentamente atrás dela. Quase fechado demais para a mulher que o usava, via-se ao longe o teor profissional da escolha, ainda que os recortes e fendas o trouxessem mais para o estilo dela. Os cabelos estavam presos em um coque baixo, e ela usava uma tiara preta quase simples demais para ela - ou talvez eles se esquecessem de que ela ainda não era rainha. 



— As pessoas normalmente são anunciadas, Vossa Graça. — Voldemort comentou, quase frio. — É de bom tom, mas entendo que a duquesa não está acostumada a ocasiões oficiais. – ele alfinetou, sentando-se calmamente em sua cadeira. Bellatrix quase esperou que ele a cumprimentasse propriamente, mas ela talvez estivesse esperançosa demais. 



— Sinto muito, majestade. Da próxima vez, lembrarei de ser anunciada propriamente. Perdoe-me por imaginar que não seria necessário, sendo que somos apenas nove. — ela acenou com a cabeça, e virou-se para Melinda, os olhos de Voldemort queimando-a. — Alteza, minhas desculpas por interrompê-la. 



— Sem problema algum. — Melinda respondeu, quase aliviada, e puxou a mãe para um abraço que tinha apenas uma função: sussurrar no ouvido dela. — Você um dia vai me matar do coração. 



— Ops. — Bellatrix respondeu, e saiu do abraço com um sorriso. Melinda apenas suspirou e encaminhou-se para sua cadeira, sentando-se para que, seguindo o protocolo, os outros também pudessem. Bellatrix e os demais seguiram e tomaram seus lugares. Sentada na outra cabeceira, Bellatrix estava de frente à Voldemort, e suas teorias de que aquela seria uma longa noite se provavam cada vez mais corretas.



 



A reunião durou algumas horas, com um ano de assuntos para serem tratados não havia como ser rápida, mas, como de costume, mais drinks e aperitivos os esperavam na saída. Bellatrix riu-se ao notar como Melinda movia-se com naturalidade, coordenando tudo. Talvez Narcissa estivesse passando tempo demais com ela. 



— Ela faz bem o papel. — ela ouviu a conhecida voz de Voldemort a seu lado, e fechou os olhos por um momento. 



— Qual? 



— Todos, mas me refiro ao de anfitriã. — Voldemort respondeu, quase… cordial. Era estranho aquele comportamento tão profissional que ele mantivera durante toda a reunião e reprisado agora. — Bom, naturalmente, afinal ela é a anfitriã da Mansão Slytherin, desde que você decidiu se mudar. — não havia nenhum tipo de ataque na voz dele, muito pelo contrário, ele era quase frio demais, era quase incômodo. 



— Não foram os rumores que ouvi. — ela falou, antes que pudesse se controlar, ainda que sua voz fosse neutra. Ela virou-se para encarar Voldemort, que a olhava curioso, franzindo o cenho quase como se tentasse avaliar a reação. 



— E quem tem lhe contado boatos sobre a Inglaterra? — ele quase ria de lado, e a falta de resposta de Bellatrix deu-lhe mais prazer do que devia. — Eu fiz uma pergunta, madame Lestrange. 



— Vossa Majestade ficaria impressionado com a quantidade de seus servos que parece interessado em me manter à par. — ela retrucou. 



— Incluindo minha herdeira aparente, imagino. — ele assentiu. — E o que ouviu sobre a Mansão Slytherin, que até eu pareço não estar informado?



Bellatrix o encarou por alguns momentos, pela primeira vez naquela noite, fixando os olhos nos dele, e deu de ombros, sentindo-se corajosa o suficiente para ser direta. Talvez fosse o ambiente quase descontraído, com todos rindo e comendo, mas ela não resistiu.



— Ouvi que você desenvolveu um gosto por adotar vira-latas, majestade. — Bellatrix respondeu,de forma que somente os dois pudessem ouvir. — E, bem, sabe como vira-latas são. 



Voldemort, que até então parecia ser muito neutro, começou a mudar sua expressão, ficando progressivamente mais irritado à medida em que olhava para além de Bellatrix. Por alguns momentos, a morena imaginara que sua fala havia causado a reação, mas foi então que percebeu que não era para ela que o rei olhava. 



— Parece que não sou o único com um vira-lata. — ele quase grunhiu e andou na direção de Aaron Guillot, Bellatrix rapidamente o seguindo enquanto Aaron caía de joelhos, fitando o chão. 



— Majestade. Vossa Graça. 



— Não sabia que você estaria aqui, Sir Guillot. 



— Onde Sua Graça vai, eu vou, Majestade. — ele ainda não olhava nenhum dos dois nos olhos, e Rodolphus Lestrange e Melinda pareciam prontos para desmaiar. — Para proteção. 



— Oh, sim, é claro. Esqueci-me, Guillot, que é o empregado do ano. — Voldemort fez um sinal para que o cavaleiro se levantasse. — Que ninguém faz seu trabalho tão bem quanto você, eu bem ouvi que tem cuidado de maneira espetacular de nossa cara Bellatrix. — a voz dele era incomodamente calma, enquanto ele ajustava a capa de Aaron. 



— São… as ordens que sigo, majestade. Suas ordens. — foi então que Voldemort segurou-o pela lapela e o puxou para perto, rindo-se, a raiva borbulhando dentro de si enquanto ele tentava racionalizar tudo e puxar para longe todas as lembranças que via na memória de Aaron. — Minhas ordens nunca incluíram dormir com sua protegida, Guillot, mas… — ele quase soava com pena, por mais que a tensão fosse óbvia, enquanto todos observavam horrorizados. — creio que ajude, o mantenha na missão. E… — ele soltou Aaron, dando de ombros, e virando-se para Belatrix. — Não é como se você tivesse qualquer chance contra ela. 



— Como assim…? — Foi Bellatrix que perguntou, um pouco incrédula. — Não é como se eu o tivesse arrastado para a cama. 



— De todos os brinquedos que você podia arranjar… é evidente que seria o cavaleiro que eu te dei. — ele sussurrou somente para ela.  E ela percebeu, era quase óbvio demais, e Bellatrix sabia. Aaron no entanto parecia confuso e assustado, não entendendo o que os dois conversavam. E mesmo que pudesse ouvir… Ele não sabia que fora o motivo pelo qual ela deixara Voldemort por uma segunda vez, como sua vingança petulante e mesquinha era óbvia. — De todos os conselhos, Guillot, Rabastan tinha o melhor. — Voldemort disse novamente na direção de Aaron, pegou a mão de Bellatrix e beijou-lhe o dorso, enquanto Aaron percebia que o rei estivera em sua mente o tempo todo. — Informei a Oliver que solicitasse acomodações para você, Guillot, para a noite. 



— Noite? — Bellatrix perguntou, sua mão ainda presa na de Voldemort. — Oh não, não vamos… 



— Eu insisto, Vossa Graça. Não tem cabimento retornar para a França no meio da noite. 



— Mas Jared… 



— Não voltará para a Albânia, acomodações já foram organizadas. — não na Mansão Slytherin, ela imaginava. — Imaginei que gostaria de ficar com sua única filha, perdoe-me se me enganei. — Bellatrix engoliu seco. 



— Majestade, não… há necessidade, tenho muitas coisas para… — e então, um som quase irritante feminino encheu a sala. 



— Oh, meu Merlin. Meus olhos me enganam! — aquela mulher parecia animada demais para conhecer a única pessoa que podia acabar com seus sonhos de realeza. — Não pode ser! 



Madeleine desceu as escadas rapidamente, e Melinda rolou os olhos, enquanto Bellatrix apenas a encarava num misto de horror e nojo. A mão que Voldemort segurava jamais se moveu, e Melinda podia jurar que viu Bellatrix se aproximar inconscientemente. 



— Dez galeões que sua mãe vai surtar. — Rodolphus sussurrou, e pela primeira vez pareceu irmão de Rabastan Lestrange. 



— Por favor, Lestrange. — Melinda retrucou. — Vinte que ela acaba com essazinha sem tirar um fio de cabelo do lugar. 



Madeleine parou bem na frente dela, e estendeu-lhe a mão, ignorando todos os protocolos possíveis, num ato quase desesperado e claramente falso de tentar criar uma amizade. 



— Sou Madeleine Bernard, ouvi muito falar de você, é um prazer conhecê-la. 



Bellatrix desviou o olhar dela para Voldemort e ajustou a postura, ficando quase dez centímetros mais alta do que a loira, e portando-se com superioridade. 



— Eu imaginava, majestade, que as pessoas na capital estavam a par dos protocolos. Ou que tivessem alguma noção, ao menos, de seus lugares. — Bellatrix voltou a olhar Madeleine, de cima, e levantou uma sobrancelha. 



— Desculpe-me? — a loira engasgou, e olhou a mais alta num misto de confusão e irritação. — Madame Lestrange…



— Vossa Graça, Bernard. — Foi Rebecca Selwyn quem comentou, rolando os olhos, e recebendo um olhar de interrogação de Madeleine. 



— A forma correta de se referir a mim, Bernard. — Bellatrix respondeu, e ajustou o vestido. — Sua Graça, quando estiver falando na terceira pessoa, Vossa Graça quando fala diretamente comigo. Pelo menos na primeira vez. E, apenas depois de utilizar a forma correta de tratamento, ‘madame’ ou ‘milady’ se tornam aceitáveis. Para não ficar repetitivo. Oh! E, para se despedir, a forma correta relacionada a meu título retorna. — a mão de Madeleine caiu, e ela ficou sem saber o que fazer, olhando de Voldemort para Bellatrix diversas vezes, como se esperasse que ele intervisse. — Ademais… — Bellatrix deu um passo na direção dela, finalmente soltando a mão de Voldemort. — Você não dirige a palavra a seus superiores, Bernard, até que eles o façam. Você faz uma reverência, e espera. — ela explicou. — Protocolo básico. Vamos… você consegue. — Bellatrix sorriu e cruzou os braços.



Madeleine arregalou os olhos e olhou para Voldemort quase em desespero, a compreensão do que Bellatrix estava silenciosamente deixando fazendo-a ferver de ódio e humilhação. Ela soubera desde sempre que aquele dia chegaria, e que chances eram que Bellatrix tentaria fazer algo do tipo, mas nunca que Voldemort assistiria, quase… divertindo-se. 



— Não olhe para mim, Madeleine. — Voldemort lambeu os lábios e a olhou com frieza. — Sua Graça não está equivocada.



Sem apoio, Madeleine suspirou e fitou o chão, fazendo uma reverência quase mal criada. — Vossa Graça. — Bellatrix tocou o queixo dela, e a puxou para que se erguesse novamente. 



— Não foi tão difícil. Entenda algo, Bernard. — Bellatrix descruzou os braços. — Algo que os Comensais da Morte — Madeleine arregalou os olhos com a menção — me explicaram há muito tempo. — Bellatrix sorriu e aproximou-se quase desconfortavelmente da loira. — Eu sei, eu entendo como ninguém, o poder que ser amante do Lorde das Trevas te faz sentir por tabela, como você pode sentir o poder dele correndo por você toda vez que… — Madeleine estava congelada em horror, enquanto Bellatrix parecia quase ter nojo e reverenciar o que dia dizia ao mesmo tempo. — mas… Você não é o Lorde das Trevas, e dormir com ele não te traz nenhum poder real, na verdade, minha cara…? É o contrário. Prejudica a sua posição, pois todos te veem como um brinquedo, uma diversão, uma mulher usando a arma mais antiga do mundo para conseguir algo. — Bellatrix deu dois passos para trás. — E, acredite, você não vai conseguir nada, não assim, pelo menos. Então… poupe-se da humilhação, aproveite os orgasmos, e se ponha no seu lugar.



Bellatrix estava pronta para virar-se novamente para Voldemort, quando Madeleine esqueceu tudo o que havia planejado antes daquela noite, e tudo o que acabara de ouvir. 



— Perdoe-me, mas… Você conseguiu ser algo, madame. Não seria esse, então, um péssimo conselho? Ou apenas um enciumado? — e foi naquele momento em que Rodolphus Lestrange ganhou trinta galeões. 



O azar de Madeleine, e talvez um pouco de inocência, fora que ali estavam apenas os ex-Comensais da Morte e alguns empregados que sairiam de vista no primeiro sinal, e jamais falariam uma palavra. Então, casos como aquele seriam resolvidos à moda antiga. O clima mal teve tempo de pesar, antes que o corpo de Madeleine fosse arremessado contra o degrau mais próximo num baque surdo, e ela começasse a gritar, por mais que claramente tentasse não fazê-lo. Melinda suspirou, e Rodolphus Lestrange murmurou um “Eu disse”, que ela não precisava ouvir para entender. 



— Eu tento, sabe? Portar-me como esperado da minha posição, mas isso fica extremamente difícil, Bernard, quando aqueles abaixo de mim se recusam a portar-se como esperado da posição, ou falta de posição deles. — Bellatrix comentou, entre dentes, claramente ainda tentando se controlar, enquanto a mão direita dela se movia discretamente ao lado de seu corpo, sua varinha ainda guardada. Os olhos de Madeleine se arregalaram um pouco ao notar a ausência de varinha ou de palavras, enquanto algo a dilacerava por dentro. 



A loira gritou mais e se debateu nos degraus, agarrando-se à madeira, como se aquilo fosse ajudar. — O que…. ? — ela tentou comentar, e Bellatrix olhou quase horrorizada para Voldemort. 



— Ela… não sabe…? — Bellatrix suspirou e rolou os olhos, enquanto Voldemort tentava não parecer muito satisfeito com o que via. — Isso, Maddie, é uma maldição Cruciatus. — a loira ficou ainda mais pálida em meio aos gritos. — E o fato de que você não conhece essa dor, e que não só… inferiu que era isso? Você não fez pesquisa nenhuma? É um passatempo dos meus favoritos. — Bellatrix girou o pulso e Madeleine gritou mais. — Não se preocupe, eu estou pegando leve com você. Quero apenas te ensinar uma lição, não te mandar pro St. Mungos pela próxima década. 



Bellatrix fechou o punho e Madeleine se arrastou um pouco no chão, parecendo que não ia aguentar, até que a mão da morena se abriu, e a maldição cessou, deixando Madeleine caída no chão, ofegante e soluçando um pouco, tentando recuperar o ar e a dignidade. Bellatrix se ajoelhou e a puxou pelos cabelos. 



— Da próxima vez que você inferir que nós somos a mesma coisa, ou que eu consegui tudo o consegui usando as mesmas armas — Bellatrix olhou claramente para a virilha de Madeleine, e de volta aos olhos dela. — que você… eu não vou liberar a maldição e você vai passar o resto da sua vida no St. Mungus. Pesquise Alice e Frank Longbottom, vai entender. E não se engane, porque… ele? — Bellatrix olhou rapidamente na direção de Voldemort — Se fosse te ajudar, já o teria feito. Você é um brinquedo, Madeleine. Quanto a mim…? Essa é a razão pela qual consegui tudo o que consegui, porque eu não preciso nem da minha varinha para deixar você nesse estado, porque eu sou a bruxa mais poderosa nessa sala, e certamente nesse reino, depois do Lorde e da Princesa das Trevas. — Bellatrix se levantou e soltou o cabelo de Madeleine. — Se chama competência, e um dia talvez você aprenda. — ela girou nos calcanhares e suspirou na direção de Voldemort. — Nada? Nem recreativamente? — ela riu e Voldemort deu de ombros. — Bom, o relacionamento é seu. 



— Bella… eu tenho acesso às memórias de todo mundo. — e não era como se ela tivesse utilizado aquela maldição recreativamente no passado recente, também. — Menos. 



— Tudo bem, quando um não quer, dois não brincam. Estávamos falando, antes de sermos tão rudemente interrompidos? — ela ajustou as vestes dele, enquanto Madeleine se levantava. — Oh sim… Em qual quarto eu ficarei? — ela perguntou, e ouviu um grunhido de choque atrás de si, ignorando Madeleine completamente. 



— Pode escolher, minha cara, opções não faltam. — Voldemort respondeu, e ofereceu-lhe o braço. — Talvez seja hora de um tour? Para relembrar suas opções? 



Bellatrix riu-se e balançou a cabeça. — Se eu aceitar esse tour, os quartos não serão a única coisa que vou relembrar. — ela riu nervosa e apenas tocou no braço dele. — O antigo quarto que Narcissa ocupava quando ficava aqui está ótimo. 



— Como preferir. O tour continua de pé. 



— Ambos, imagino. — Bellatrix riu quase confortável demais e Voldemort beijou o dorso de sua mão. 



— Oh, isso sempre. — ele piscou e moveu-se para se despedir dos demais. 



Olhando por cima do ombro, Bellatrix observou Madeleine por um momento. — Está vendo, Maddie? Eu não sou uma ameaça. — ela comentou. — E sabe por que eu não sou…? Porque eu não quero ser. Se eu quisesse… você não teria chance. — uma parte de Bellatrix tentava ainda se convencer daquilo, enquanto ela ria e se afastava. Madeleine suspirou e ajeitou o vestido, o quanto ela estava deslocada ali ficando cada vez mais claro. 



 



A porta de repente se abriu, e uma figura encapuzada se juntou aos demais, o anúncio do valete sobre quem se tratava fazendo Melinda parar de respirar por um momento. Removendo a capa, Draco Malfoy virou-se educadamente para Voldemort com uma reverência. 



— Majestade. 



— Draco, seja bem vindo. — Voldemort respondeu, desvencilhando-se dos demais. — Espero que tenha feito uma boa viagem. Para quem não conhece, o Sr. Malfoy é nosso embaixador junto ao Congresso Mágico dos Estados Unidos. — Voldemort explicou, mas não era como se algum deles não soubesse quem era Draco. Mesmo Madeleine tinha suas informações. — Depois de muito tempo do outro lado do oceano… achamos uma folga para que ele fizesse uma visita.



Draco virou-se na direção de Melinda, que o observava ainda mais pálida do que o normal. — Vossa Alteza Real. 



Melinda respirou fundo, e lambeu os lábios. — Sr. Malfoy, seja bem vindo. — Melinda respondeu educadamente. — Espero que traga boas notícias do outro lado do oceano. — ela ofereceu-lhe a mão, e Draco pegou quase formalmente, beijando o dorso sob atentos olhares de todos. 



— Com certeza, mas não esta noite. — Voldemort interrompeu. — Tivemos negócios o suficiente por uma noite. 



— Neste caso, então, majestade. — Draco soltou a mão de Melinda, que acompanhou o movimento com os olhos, visivelmente incomodada. — Peço permissão para ver minha filha…? 



— A nossa filha está dormindo, Malfoy. — Melinda respondeu, trazendo a atenção de volta a ela. 



— Neste caso, alteza, imagino que um pai tenha direito de acordar sua única filha em uma ocasião especial? — Draco se manteve calmo, mas a pergunta alfinetava Melinda de formas que a incomodavam. Por mais que quisesse atacar Draco, ela não podia impactar Pandora daquela maneira. 



— Imagino… — Bellatrix tocou o ombro da filha. — Que Pandora adorará vê-lo, Draco. 



— É claro. — Melinda sorriu, a contragosto. — Ela está no quarto dela. — com mais uma reverência, Draco deixou a todos, e ouviu enquanto os governantes dos países e Aaron Guillot faziam o mesmo, deixando apenas Voldemort, Bellatrix, Melinda, e uma loira que ele não conhecia na sala. Devia ser, por suas apostas, o último brinquedo do Lorde das Trevas, mas ele tinha preocupações mais importantes.



Com a saída de todos, o clima na sala ficou ainda mais pesado. Bem no meio, Melinda permanecia congelada, com Bellatrix atrás de si e Voldemort alguns passos à sua esquerda. A uns três metros de distância, Madeleine observava sem saber o que fazer. 



— Por que não me disse? — Melinda olhou para o chão. 



— Porque imaginei que gostaria da surpresa. — Voldemort respondeu, soando cansado. 



— Não. Você gostaria. — ela levantou os olhos verdes marejados e olhou momentaneamente para mãe, antes de encará-lo novamente. — Eu não sou você, meu pai, e muito menos eu e Draco somos vocês dois. — ela indicou Bellatrix com a cabeça. — Vocês podem se divertir com esse jogo de gato e rato, de visitas esquisitas e convocações, com longos períodos de separação, e depois com ocasiões estranhas encontrando a pessoa que mais os machucou na vida. — ambos os mais velhos enrijeceram, e Bellatrix não se atreveu a protestar que isso não era necessariamente verdade. — Mas a diferença? Vocês gostam porque sabem muito bem que não passa de um jogo. A mamãe volta pra essa casa quando bem quiser. Ela sabe disso. Sabe que você vai recebê-la de braços abertos. E você sabe que um dia ela vai te perdoar e voltar, e se o showzinho dela com a vagabunda hoje disse alguma coisa, suas suspeitas são possivelmente reais. E eu? Eu tenho vinte anos de idade, eu até me divirto assistindo essa preliminar esquisita de vocês, porque eu sei que vocês ficaram separados por mais de uma década, que o relacionamento de vocês sobreviveu à morte e todas essas coisas poéticas em que esse jogo de vocês se apoia. Mas a Pandora tem quatro anos de idade. Ela não entende. E eu e o Draco... nós não sabemos se vamos sobreviver a isso como um casal. — uma lágrima escorreu no rosto dela. — Eu não sei se consigo perdoar, se consigo… entender, ou se um dia o Draco vai deixar de se sentir ameaçado por mim. E não comparem as situações, por favor. Porque… No fundo? A diferença é que vocês sabem, vocês tem essas respostas, nem que seja bem no fundo. A gente… não é uma questão de quando, é de ‘se’. — Melinda puxou a saia do vestido. — Com licença. — antes que qualquer um deles pudesse falar algo, ela subiu as escadas em direção a seu quarto. 



Bellatrix levantou os olhos lentamente na direção de Voldemort, que parecia tão perdido quanto ela, ou mais. — Nós devíamos…? — foi ele quem perguntou. 



— Não, ela precisa ficar sozinha. — Bellatrix respirou fundo. 



— Você… acha que é verdade? — ele limpou a garganta. — Que… 



— Não a impactamos? — Bellatrix riu-se, e balançou a cabeça. — Não. Isso é o lado orgulhoso que a Melinda puxou de mim falando e não querendo admitir. Mas a parte sobre diversão… 



— A minha necessidade de ter o controle da situação. — ele quase sorriu.  Eles se encararam por um momento. 



— Ela tem um ponto, sobre… idas definitivas. Elas são menos dolorosas aos envolvidos.



— Eu não posso tirar dele o direito de ver a filha, Bellatrix, mesmo que a minha sofra. 



— Pode avisá-la, da próxima vez. 



Voldemort balançou a cabeça, e deu de ombros. — Essa parte eu já entendi, não se preocupe. Leva um tempo… 



— Até o quê? 



— Aprender… a ser um pai solteiro. — Bellatrix não resistiu a rir, e cobriu o rosto com as mãos. 



— Poucos podem trapacear e literalmente ler a mente dos filhos. 



— Oh, não. Melinda e eu temos um acordo sobre privacidade agora. Ainda que ele provavelmente tenha mais a ver com ela ter medo do que vai ver na minha mente do que o contrário. 



— Ah não! Nesse caso, boa sorte. 



Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, até que Bellatrix deu alguns passos para trás. — Creio ser hora de… Enfim. Boa noite, majestade. — ela fez uma reverência, e subiu as escadas rapidamente, fingindo não ver Madeleine, e sem olhar uma segunda vez para Voldemort. 



— Então é assim que vai ser…? Quando ela estiver aqui? — Madeleine perguntou, nervosa. — Uma idiota assistindo enquanto eu perco o meu… 



— Seu…? — Voldemort riu de lado. 



— Rei, majestade. 



— Súditos nunca perdem seus suseranos, Madeleine, não se preocupe, mas também não se engane quanto à sua posição. Presunção é um defeito horrendo. Boa noite. — foi tudo o que ele disse antes de sumir escada acima.  



 



 



Bordeaux - 31 de outubro de 2000



 



Seis meses. Duzentas e noventa e oito fotos depois. Bellatrix se perguntava quantas horas ela levaria para queimar todas aquelas fotos. Fazia dezenove anos desde o pior Halloween de sua vida, e por algum motivo aquele parecia tomar o segundo lugar, por mais dramático que parecesse. A garrafa de uísque de fogo parecia se esvaziar sozinha à medida em que ela jogava as fotos no fogo de sua lareira, o frio do Sul da França quase gentil demais, fazendo-a lembrar-se que no Reino Unido fazia frio de verdade. No Reino Unido, ela estaria… 



— Provavelmente melhor do que aqui. — ela disse para si mesma, expulsando com o olhar mais um dos empregados da casa. — A não ser que seja para trazer outra garrafa… — Quem será que se daria ao trabalho de feri-la assim? Sua filha não o faria, ela tem o coração romântico demais pra isso. Ele…? Ela examinou uma das fotos, Madeleine no colo dele, sussurrando algo. Ocupado demais. 



A porta novamente se abriu, e ela estava pronta para jogar a garrafa, quando viu Gabrielle Ceresier e Rabastan Lestrange entrarem. Ela suspirou e jogou a garrafa no fogo, olhando de volta para eles com uma interrogação no rosto. 



— Misericórdia, é pior do que eu pensava. — Rabastan tentou não rir, e Gabrielle correu para sentar-se ao lado de Bellatrix. 



— Madame… 



— Gabrielle, você não tem uma festa de Halloween para estar? De Hogwarts e não sei o quê? — Bellatrix resmungou. 



— Isso foi bem mais cedo… — a loira retrucou, e mandou um olhar mal criado a Rabastan. — Uma ajudinha? 



— Divertido demais, me deixa aproveitar mais cinco segundos, Ceresier… 



— Lestrange! 



— Okay, okay… — Rabastan se aproximou das duas mulheres e, ignorando os protestos de Bellatrix, ajudou Gabrielle a arrastar a morena para o banheiro, enquanto a mulher mais jovem corria para abrir a água. — Você já foi mais digna, meu amor. 



— Vá à merda, Rabastan. — Bellatrix retrucou, e entrou de robe e tudo na água quente, rolando os olhos. — Eu estou bem. Já bebi muito mais do que isso na vida. 



— Meu receio, madame, não é a bebida… — Gabrielle confessou. — O que aconteceu?



— Halloweens mexem com ela. Longa história… 



— A noite em que o Lorde das Trevas foi morto. — Gabrielle respondeu. — Eu estudei história, Rabastan. — ela rolou os olhos. 



— Eu ainda estou aqui. — Bellatrix retrucou, se afundando na espuma. — Eu vou superar, faz parte. Eu não preciso de babás, e estou pronta pra expulsar os dois à força se precisar.



— Não, você não vai fazer isso. — Rabastan entrou na banheira com ela, de roupa e tudo, e Gabrielle lançou ao homem um olhar horrorizado. — Entra ou relaxa, loirinha. Vamos lá. O que aflige seu corazãozinho, mana?



— Vai arrumar alguém pra te comer, Rabastan! — Bellatrix rolou os olhos, mas não se moveu para sair da banheira. 



— Dentre os três, só a Gabrielle tem essa possibilidade no momento. — dessa vez, foi Gabrielle que protestou com um som indignado. — O que, gente? Ela não tem um relacionamento fixo com o Snape, ou eu perdi algo? 



— De acordo com ela, ela está só o vigiando… — Bellatrix sorriu de lado, e Gabrielle ficou pálida, e então vermelha.



— Madame, você sabe muito bem que é exatamente isso que eu estou fazendo. E, mesmo que não fosse, não fuja do ponto: você. 



— E mesmo que ela estivesse só vigiando, isso não muda a parte sobre transar, Bellatrix. — Rabastan piscou pra Gabrielle, que deixou-se rir, enquanto Bellatrix abriu a boca. — Estamos falando sobre transas reais, não seu brinquedo sexual ambulante, não conta.



— E não conta por quê? — Bellatrix estava quase indignada demais. — Como é que a Gabrielle "espionando" conta, e eu não?



— Porque você não quer transar com o Aaron. — Gabrielle respondeu, e Rabastan aplaudiu. 



— Eu gosto dessa menina! Aaron Guillot ou seus dedos teriam o mesmo efeito pra você, Bella querida. Se tivesse me chamado, talvez até contaria, eu nem ligo de você pensar no outro… meio sexy na verdade.



— Ugh… — Gabrielle fez uma expressão de horror. — mas ok, acho que isso me deixaria menos horrorizada do que o cavaleiro. 



— Eu vou proibir vocês de se falarem se for pra se juntarem contra mim. — Bellatrix quase riu, e engatinhou um pouco na banheira, até estar meio por cima de Rabastan. — Te chamar, você diz? É isso que você quer, irmãozinho? — Gabrielle segurou o riso, enquanto Rabastan afundava na direção oposta de Bellatrix. 



— Merlin me proteja… 



— Credo, Rab, eu sou tão ruim assim…? 



— Pelo contrário, mas Bella, misericórdia, eu não quero ser castrado. E eu não tenho muito juízo… pega leve. — ele delicadamente empurrou a amiga pelos ombros de volta ao outro lado da banheira. — E a Gabrielle tá certa, pode parar de desviar do assunto.



—  As fotos continuam a chegar… e ainda que esteja ficando velha essa piada, é exaustiva. — os dois sabiam de quais fotos ela falava. — Não combinou muito bem com a noite, só isso. 



Bellatrix jogou água no rosto e suspirou profundamente, olhando novamente para os dois após alguns segundos, quase como se procurasse o que dizer. Estranhamente, nenhum dos dois presentes estava acostumado com ela sem saber o que dizer: era perturbador. 



— Eu não sei o que fazer. — ela admitiu. — Não sei se devo… reclamar? O problema é que se a pessoa que está enviando for ele… 



— Você estaria caindo na armadilha. — Rabastan assentiu. 



— Sim. — Bellatrix lambeu os lábios e Gabrielle franziu o cenho. 



— Acha que ele faria isso? — a loira quase gaguejou. — Me parece tão… 



— Mesquinho? — Bellatrix sorriu. — Oh, minha cara, você não sabe o quão mesquinhos eu e o Lorde das Trevas podemos ser. — ela confessou. 



— Tipo transar com o cavaleiro? — Rabastan apontou, e Bellatrix deixou de sorrir. — O que? Todos sabem que você odeia essa história. 



— Ninguém sabe da missa o terço, Rabastan. — Bellatrix mexeu desconfortável no cabelo e afundou um pouco mais na água. 



— Pois estou pronto pra rezar, e garanto que a Srta. Ceresier também. — Gabrielle fez um sinal para que Bellatrix continuasse. 



— Eu não posso rezar a missa inteira, mas… Aaron, ele estar aqui sob ordens do Lorde das Trevas. — Bellatrix engoliu seco. — Eu não simplesmente não queria Aaron aqui… ele é uma das razões porque eu não estou em Londres agora. — Gabrielle não conseguiu conter o suspiro de choque que saiu de si, e Rabastan deixou o queixo cair. — O incidente em Hogwarts…



— Seu envenenamento… 



— Sim… a coisa toda abriu uma pequena janela, muito específica e frágil, para que certas conversas fossem reabertas e… ele…. As fechou ao apontar Aaron. Permanentemente. — foi tudo o que ela disse e Gabrielle olhou para Rabastan em completo horror. 



— Deixa eu ver se eu entendi: vocês… você considerou, mesmo que por um pequeno momento, voltar pra ele? Depois do envenenamento…



— Hábitos antigos são difíceis de matar, especialmente quando você quase foi morta. — Bellatrix respondeu. — Eu estava vulnerável, Rabastan, e não pensando direito. Na verdade o que o Lorde das Trevas fez foi uma benção disfarçada, pois me trouxe de volta para a realidade. 



— Ele sabe disso? O Lorde…? 



— Sabe, perfeitamente bem.  — ela deu de ombros e Rabastan bateu na água. 



— Pera aí, Bellatrix, explica essa história direito porque nada tá fazendo sentido, mulher. — Gabrielle também sentou-se na beirada da banheira, olhando de um para o outro num misto de horror e curiosidade. 



— Não tem o que contar, Rabastan! Eu já disse o que tinha que dizer.



— Você não se atreva a me contar fofoca pela metade, Bellatrix!



— Não é fofoca pela metade! Eu tive um momento de fraqueza, uma… 



— Recaída? — os olhos do homem quase brilharam, e ela respondeu jogando água. 



— Menos, Rabastan. — Bellatrix balançou a cabeça enquanto Gabrielle tentava não rir. 



— Vossa Graça, me perdoe, mas a história está um pouco mal contada, algumas lacunas… 



— Gabrielle, eu te aconselho a não tomar conselhos ou exemplos de Rabastan. Menos, você também. — ela suspirou. — Eu considerei. Por alguns momentos… considerei dizer o sim que ele tanto queria. — os outros dois fizeram barulhos que fizeram Bellatrix querer afogar ambos naquela banheira. — Porém, meu amado ex-... ex-... seja lá o que foi meu… me lembrou rapidamente do porque eu não queria dizer sim, e Aaron é só a prova viva de minhas reclamações. 



— E sua maneira de reivindicar é… transando com o problema? — Gabrielle não resistiu, e quase foi parabenizada pela coragem.



— Não, loirinha… mais do que isso. Ela reivindica e dá o troco ao mesmo tempo. Faz o Lorde das Trevas pensar e ferver ao mesmo tempo. Juro, Bella, você é maluca! Perdeu o juízo? Se ele sabe que forçar o Aaron sua garganta abaixo foi o motivo, ou um dos motivos, porque você engoliu esse sim mais uma vez… — Rabastan suspirou. — Então ele sabe que você está fazendo de propósito. 



— Ah, mas é evidente que sabe. Ele me conhece. — ela quase soou inocente. — Eu podia transar com quem eu quisesse, mas ninguém…



— Enfurecia o homem tanto. Sério, Bella, você algum dia na vida teve juízo?



— Ela foi convocada, Lestrange. — Gabrielle relembrou, e o homem fingiu ter ficado arrepiado. Bellatrix apenas deu de ombros e afundou mais na banheira.



— Ele se… — Bellatrix mordeu o lábio. — interessou por mim assim mesmo, sem juízo e louca.



— Mas na época você tinha respeito por ele. — dessa vez foi um chute que Rabastan levou. 



— Eu respeito o Lorde das Trevas mais do que todos vocês juntos. 



— Convocada, Bella. Preciso soletrar? Soletra pra ela, Gabrielle, que ela talvez entenda. 



— Eu que nunca vou entender esse jogo de gato e rato. — a loira suspirou e riu-se um pouco. — Só pelo amor de Merlin toma cuidado, uma hora… A paciência dele vai acabar. É o que a Mel fala o tempo todo, que já está pra acabar. 



— Você ganhou tempo aparecendo lá e dando um showzinho com a vagabunda, mas…



— Peraí, vocês vieram me consolar ou me criticar? Isso virou um julgamento que horas? Porque eu preferia minha garrafa de uísque. — Bellatrix olhou para a janela e engoliu seco. — É ele, não é? 



Rabastan olhou entre as duas mulheres e deu de ombros. — Não sei, Bella. Eu não digo que ele não seria capaz, mas…. — ele perdeu as palavras por um momento. — tem uma centena de pessoas que poderiam estar fazendo isso. 



— Talvez a própria vadia? 



— Madeleine tem muito a perder se eu perder a paciência, Gabie… acho difícil. — ela lambeu os lábios e olhou direto para a loira. — Melinda…?



— A Mel? Não, jamais! Ela não faria isso. 



— Ela é uma das mais interessadas em me arrastar de volta…



— Concordo com a loirinha, não o suficiente pra te machucar, Bella. 



— Machucar é uma palavra meio forte, Rabastan. 



Rabastan nem se deu ao trabalho de retrucar ou de rir, apenas o olhar de incredulidade dele foi o suficiente para Bellatrix se calar. — Melinda não faria isso.



— Jamais. — Gabrielle reforçou. — Quanto à Sua Majestade, não é impossível, ainda mais sabendo da história toda. 



O problema era: Gabrielle e Rabastan não sabiam da história toda, e nem poderiam saber. Bellatrix tentou afogar as lembranças daquela noite na Câmara Secreta, da manhã no quarto, dos planos… e de mais uma traição. Ou pelo menos fora como ela entendera. Uma voz no fundo de sua cabeça se perguntava quanto tempo ela suportaria até explodir.





 



Ministério da Magia Francês - Novembro de 2000



 



Uma série de joelhos se dobraram quando ela passou, às pressas, no meio da madrugada, o terno de couro abraçando suas curvas num inverno que nem tão frio assim era. Bellatrix fora chamada logo cedo às pressas, após um incidente deixar o Ministério da Magia da França em polvorosa. 



Aaron e Rabastan mal podiam acompanhá-la enquanto ela flutuava Ministério adentro, em passos tão largos que era impossível entender como ela se mantinha nos saltos. Ela estava furiosa. O que era tão importante assim? 



— Vocês podem me explicar o que diabos aconteceu? — Bellatrix abriu a porta e os dois homens atrás de si quase tropeçaram quando a mulher, num susto, caiu de joelhos. — Vossa Majestade. — a voz dela mal saiu quando ela fitou o chão. — Eu não esperava… — ela se calou e ouviu Rabastan e Aaron repetirem o gesto. 



Dessa vez, Voldemort deu passos lentos na direção dela, e ofereceu-lhe a mão. — Vossa Graça nunca espera me encontrar em lugar algum. — a voz dele era neutra, mas com uma pontada de irritação. — Sinto desapontá-la. — o olhar dele jamais desviou para o decote dela, e Bellatrix começou a temer. 



— Isso não é… Não, sua presença não me desaponta, Majestade. — o ministro da magia estava quase feliz demais com o desconforto de Bellatrix. — Só me surpreende que tenham o acionado antes de me acionar. Eu não vejo a necessidade… 



— Seu Ministro discorda. — foi tudo o que Voldemort disse. — E eu tenho métodos muito rápidos de viagem, quando necessário. — ele havia aparatado tão longe, ou voado? — Aparentemente, os esforços de integrar Beauxbatons com os alunos nascidos trouxa não foi o sucesso antecipado, mon chéri. — Voldemort entregou-lhe uma carta e diversas fotos. 



Bellatrix respirou fundo ao ler as palavras de Madame Maxime, tremendo levemente e evitando contato visual com Voldemort. 



“Eu achei que havíamos superado isso. Bella, Bella, precisamos conseguir ao menos trabalhar juntos”, os lábios dele nunca se moveram e mesmo assim as palavras ecoaram claras como uma manhã de verão, ainda que todas as suas paredes mentais estivessem ativas - ela nunca fora boa em deixá-lo pra fora, a não ser que estivesse ativamente tentando. Ela podia sentir os olhos vermelhos queimando sua nuca. 



 Bellatrix engoliu seco e devolveu os papéis a ele, verde e vermelho se misturando pela primeira vez desde que ela entrara naquela sala. “Normalmente, eu tenho tempo de me preparar psicologicamente, majestade”, foi sua resposta silenciosa. Os olhos de Bellatrix passearam pelo rosto dele até se fixarem nos olhos do homem mais uma vez, algo por trás deles que ela não conseguia decifrar. Preocupação? Irritação? Ela olhou ao redor. Ele viera sozinho? Bom… ele não tinha cavaleiros. Naquele pensamento, Voldemort desviou o olhar dela, agora claramente irritado. 



— Então o pai de um nascido trouxa falou mais do que devia depois de uma festa, e alguns adolescentes decidiram botar a palavra dele à prova e achar Beauxbatons…? Convocaram o Rei da Inglaterra pra, literalmente, lidar com um bando de adolescentes bêbados? — ela balançou a cabeça. — Eu poderia ter lidado com isso. Nada que Veritasserum e um Obliviate não resolvam, ministro. 



— A maior preocupação, madame, — o ministro começou. 



— É se outras pessoas também sabiam, eu sei . — Bellatrix o cortou. — Não é meu primeiro tango, ministro. Eu era especialista em fazer as pessoas falarem. — ela sorriu friamente, e o ministro pausou por um momento, digerindo o que suas palavras implicavam. — Posso conseguir a verdade sem Veritasserm, inclusive. 



— Não creio…. Ser ideal, madame. Esses métodos….



— Exatamente, porque nenhum de nós acredita se tratar de mais do que uma besteira adolescente. 



— Mas devemos nos certificar. — Voldemort entrou na conversa. — Eu posso entrar na mente deles… 



— Majestade, — Bellatrix interveio, balançando a cabeça negativamente — Não há necessidade de perder seu tempo—



— Eu já fiz a viagem, minha cara, não seria um problema. Muito pelo contrário… — ele se aproximou, de forma que apenas ela pudesse ouvir. — Não tive a oportunidade de dar uma olhada nos arredores, inspecionar meu território. — Bellatrix arqueou uma sobrancelha e abriu e fechou a boca algumas vezes antes de optar por ficar quieta. Afinal, ele estava certo, ela era apenas a guardiã de algo que não era dela. “Porque não quis”, ela ouviu ecoar e olhou para o chão. 



— Ainda acho utilizar sua legilimência em um bando de adolescentes arruaceiros um absurdo, milorde, e… uma exposição desnecessária. Se me permite, — ela lambeu os lábios — seria uma honra grande demais para um bando de trouxas bêbados. Eles não merecem ser interrogados pelo rei em pessoa. — ela riu um pouco, e Rabastan a encarou curioso. 



— Como quiser, Bella, mas eu não irei embora de volta à capital até que esse assunto esteja resolvido. — ele olhou para o ministro. — Imagino que precisarei de um hotel. — ele deixou no ar e o Ministro da Magia olhou de maneira quase crítica na direção de Bellatrix, e nesse momento Rabastan deixou de temer por sua vida por um instante.



— Majestade, isso seria sem propósito algum! A Corte tem uma sede na França. — Rabastan comentou, e Bellatrix nem disfarçou ao olhar na direção dele em horror. O homem engoliu seco na hora que viu a forma como a ex cunhada o olhava. 



— Oh, Lestrange, eu jamais incomodaria nossa amada duquesa, eu bem sei como uma visita real pode alterar as dinâmicas de uma casa… além do que, — Voldemort parecia se divertir ao encarar Bellatrix, que estava quase corada de nervoso, enquanto Aaron Guillot parecia ter se fundido a uma parede. — a sede fica em Bordeaux, teríamos longas viagens todos os dias até resolvermos isso tudo. Na verdade, idealmente… nós dois precisamos de um hotel aqui em Paris, não concorda, Bella? 



— Mas Majestade… um hotel… sua segurança. — para um homem morto, Rabastan sorria demais. — Vejo que veio sozinho. 



— Eu sou toda a segurança que preciso, Rabastan, e estou parado ao lado da pessoa mais qualificada para me defender. Tem uma razão pela qual ela é minha general, ainda que ela esteja mortalmente calada. 



— Concordo, majestade. Um hotel em Paris é a melhor opção. Aparatar todos os dias ou viajar seria um desperdício. 



— Temos acomodações oficiais no Ministério. — o ministro relembrou, e Rabastan sorriu. — Não são luxuosas o suficiente para realeza, mas… estamos na França.



— E é mais seguro do que qualquer hotel. — Voldemort concordou. — Ótimo. 



O Ministro da Magia fez uma careta e olhou para os presentes com certo desconforto, parecendo se lembrar de algo. 



— Mmm… temos… uma das acomodações ela é… conjugada. 



— Dois quartos interligados? Na França? Oh ministro, vocês nunca mudam. Nem precisamos dizer que já sabemos onde Sua Majestade e Sua Graça vão ficar. Afinal… segurança, planos, informações… 



Voldemort olhou na direção de Rabastan quase como se considerasse rir, enquanto Bellatrix o fuzilava com o olhar.



— O que foi? Vocês dividiram uma cama e diversos outros móveis e superfícies por décadas, horrorizando e inspirando a todos nós… uma portinha entre dois quartos não é nada demais. 



— É claro, Rabastan… porque eu e Sua Majestade já não ficamos no mesmo quarto, não é mesmo? Nada ali é novidade pra ninguém…  — Bellatrix respondeu, e se arrependeu imediatamente de sua brincadeira.



— Na verdade, de um ponto de vista de segurança isso é brilhante, Bella! — Rabastan respondeu. — Assim eu e Aaron podemos ficar no conjugado com acesso a vocês. Nossa… como pessoas bem resolvidas facilitam a vida dos outros, obrigado por ser tão aberta. Duvido que Sua Majestade tenha qualquer problema com isso.



— Nenhum. — ele parecia satisfeito demais. 



— Majestade, sua… a Srta. Madeleine pode não gostar… — Bellatrix tentou. 



— Madeleine não diz o que eu posso ou não fazer, Bellatrix, e isso será estritamente profissional, não? — ele estava se divertindo demais, e Bellatrix estava pronta para assassinar várias pessoas naquela sala. — Devo temer por minha segurança e integridade física e moral durante a noite, Bella? 



— Jamais. 



— Então estamos resolvidos. Além do que… duas décadas e meia depois, a duqueza sabe muito bem que terá a cama inteira para ela. — ele olhou para o ministro. — Eu raramente durmo, então não tenho necessidade de chegar nem perto de uma cama. — ele riu de canto. — A não ser que escolha estar. 



Bellatrix pausou e fechou os olhos por um momento, lutando contra todas as lembranças que imediatamente encheram sua mente. Algumas explosivas, outras… delicadas. Noites de prazer, e acordar nos braços dele com seus olhos observando-a. Quantas vezes ele realmente precisou dormir e quantas… escolheu? 



— Então estamos acertados. — ela concordou, e Aaron fez apenas um som revoltado, que ganhou-lhe um olhar de repreensão. — Algum problema, Aaron?



— Eu…? Nenhum, madame. — ele desviou o olhar. — Eu e o Sr. Lestrange seremos ótimos… colegas de quarto. 



— Nunca como esses dois aí, mas vamos tentar, Aaron. — Rabastan provocou e até Voldemort o olhou repreensivo dessa vez. — O que? Vocês estão acostumados a dividir coisas e planos e a fazer estratégias… Ou era mentira?



— O que? — Voldemort analisou mais uma foto enquanto Rabastan criava coragem.



— Que vocês… 



— Nós o que, Rabastan? —  Bellatrix perdeu a paciência e cruzou os braços. — Desembucha e pergunta qualquer que seja o absurdo que quer perguntar. 



— Era verdade que vocês planejavam as coisas na cama? — O ministro da magia levantou e foi se servir de mais uísque. — Durante a guerra? 



— Você não acha que está passando dos limites, Rabastan? — Voldemort não tirou os olhos da foto. 



— Perdão, majestade, vou me calar. 



— Melhor assim. Além do que, pra que gastar sua lista de perguntas absurdas e completamente fora da linha com uma obviedade dessas? — ele pegou outra foto e Bellatrix o olhou horrorizada. — O que foi? Pelo amor de Merlin, Bellatrix, isso é novidade pra quem? — ele a encarou, em sincera dúvida. — Ainda mais o Rabastan. Ele me viu atracado com você no meio de batalhas, a conclusão é meio óbvia. Se nós tínhamos tempo para nos agarrar no meio de uma chuva de feitiços, se aquilo… — ele desviou a voz e pegou outros papéis.



Rabastan poderia ter comentado sobre como todos sabiam que a violência era como uma preliminar para eles, mas preferiu ficar quieto. Ele já havia feito o que precisava e se arriscado demais, afinal era com Bellatrix que ele moraria após o retorno do Lorde das Trevas à Inglaterra, e ela não estava nada feliz. 



 



Às cinco e vinte e sete da manhã, após 3 rondas de aurores serem finalizadas ao redor de Beauxbatons e outras localidades bruxas importantes na França, todos chegaram à conclusão de que - pelo menos até melhor averiguar - o grupo de adolescentes encontrado por Madame Maxime fora isolado. Na manhã seguinte, eles ainda teriam que interrogar os ditos adolescentes, que estavam sendo transportados para Paris, e dariam um fim naquilo tudo, mas por enquanto precisavam dormir. Pelo menos os mortais. 



As acomodações do ministério estavam longe de não serem luxuosas. O que os franceses consideravam simples, era o normal da elite britânica, e a ideia fazia Bellatrix rir sempre. Rabastan arrastou Aaron para dentro do outro quarto, mal dando-lhe tempo de protestar, enquanto Voldemort e Bellatrix tomavam conta do quarto principal. 



O silêncio que imediatamente tomou conta da acomodação era cortante. Muito tempo se havia passado desde que os dois haviam estado sozinhos dentro de quatro paredes. Bellatrix não queria pensar desde quando, temendo que seus pensamentos a levariam direto a Hogwarts e aos infelizes acontecimentos daquela ocasião. 



Um leve riso amargo a fez perceber que Voldemort estava dentro de seus pensamentos aquele tempo todo. Girando em seus calcanhares, ela o encarou mal humorada, colocando as mãos na cintura. 



— Eu agradeceria privacidade, majestade. 



— Se quer privacidade, volte a treinar Oclumência, Bellatrix. — foi tudo o que ele respondeu, voltando a mexer em alguns papéis que estavam sobre a escrivaninha. — Ter a minha Legilimência sempre ligada não é privilégio seu. 



— E aparentemente tê-la desligada é privilégio apenas da Melinda. É mesmo, havia me esquecido.



 — É um privilégio da minha família, sim. É você quem se esquece que escolheu não fazer mais parte dela. — ele ainda não a encarou ao continuar. — Não pode ter apenas os privilégios sem os ônus, Bella, ou escolher quais privilégios quer manter e quais não. Eu os dou, eu escolho. 



Caso a tivesse encarado, Voldemort notaria que ela fervia de ódio, mas ele podia prever as palavras antes dela mesmo falar. 



— Engraçado mencionar que não faço mais parte de sua família, e mesmo assim colocou Aaron Guillot atrás de mim como se eu fosse. — ela cruzou os braços e suspirou. — Mas imagino que escolha os ônus também. 



— Ah sim, esqueço-me de que você escolheu não fazer mais parte da minha família para se livrar de Guillot. — ele sorriu de canto enquanto a enfurecia a mexer em mais papéis. — Aquela foi uma escolha para a segurança de todos e… Eu não ia te dar essa vitória, Bella, afinal… sim, sou eu quem escolho os ônus também. Isso é uma monarquia, sempre foi, mesmo antes dos títulos, e você sabe muito bem disso. Além do que, — ele finalmente a encarou friamente. — você parece ter se acostumado rapidamente a Guillot.



Bellatrix respirou profundamente e deu de ombros. — Ele não é de todo mal. — isso arrancou uma risada irritada de Voldemort. — Imagino que entenda, majestade, o conceito de ensinar um parceiro do básico ao avançado… tem sido seu foco recentemente, se bem me recordo? — ela levantou a sobrancelha. 



— Se imagina que usar a falta de habilidades de Madeleine vai me atingir, Bella… — ele riu-se — você já foi melhor em ler e insultar pessoas, mas provavelmente é só o ciúme te cegando. 



— Ciúme? — a voz dela subiu duas oitavas quando ela riu. — Eu não preciso disso. Eu escolhi— 



— Então porque te incomoda tanto? A burrice, falta de habilidade mágica… o que mais? — ele se apoiou na mesa e pareceu pensar. — Ah, é.. As fotos. 



Bellatrix foi pega desprevenida com aquilo. Ela sabia que se ele estava em sua mente tinha acesso àquelas memórias ou, no mais distante dos casos, alguém havia lhe passado a informação ou dado de bandeja em uma memória. Rabastan? Gabrielle? Possível. 



— Muitas pessoas podem entrar na lista de informantes, Bella, tem muita gente interessada em me contar o acontece no meu reino, então nem adianta começar sua caça às bruxas. 



— Então quem está mandando? 



— Isso eu não faço ideia, portanto… alguém com pouco contato comigo. Rita Skeeter? Algum outro jornalista? Pelo menos você foi esperta o suficiente pra não… reagir em público. — ele cruzou os braços. — Imagino que era a ideia de quem enviou. 



Bellatrix engoliu seco e arrumou a própria roupa. — E tinha tanta certeza que eu… reagiria? 



— Poupe a todos nós e respeite nossa inteligência, Bella. Qualquer pessoa com meio cérebro sabe que você sempre foi possessiva e que detesta sentir que perdeu. Então fosse ciúme ou raiva de ter “perdido” na competição de quem superou primeiro, você iria reagir. Nós terminamos um relacionamento de duas décadas de forma bastante pública, — ele riu de canto e se aproximou dela. — e se a Bellatrix que todos nós conhecemos estivesse viva aí dentro em algum lugar, Madeleine já não estaria respirando, ou qualquer uma das pessoas naquelas fotos. — ele disse, a alguns passos dela. — Confesso que esse receio motivou a rapidez com que foram substituídas a princípio, — Bellatrix sentiu-se tremer sobre os saltos enquanto tentava controlar os próprios pensamentos — mas sua maturidade com a coisa toda me deixou confortável em explorar opções. 



— Ah, uma exploração. Por isso iniciou na lama? — Bellatrix viu um flash de algo que ela não reconheceu nos olhos dele, e Voldemort apenas aproximou-se para sussurrar no ouvido dela. 



— Bella… Bella… todos nós aprendemos lições com nós dois. A mais importante delas foi sua partida que me ensinou: não vale a pena. — ele passou por ela em direção ao outro lado do quarto. 



— O que não vale? — ela girou nos calcanhares. 



— Arriscar minha própria segurança, paz e o absolutismo de meu reino. — ela engoliu seco, mas ele nem mesmo olhava para ela. — Madeleine jamais me questionará, porque sabe que é descartável. Não importa o que eu faça, ela permanecerá ao meu lado. Ela sabe que qualquer mulher a substituiria. — ele finalmente a olhou. — Você jamais pensaria isso, porque é extraordinária e sabe disso. Bem, nós dois sabemos como meu totalitarismo e seu amor próprio terminaram bem. 



— Engraçado dizer isso, majestade… — ela riu amarga. — Porque é uma mentira. 



— Como…?



— Porque extraordinária ou não… — ela soltou os braços ao lado do corpo. — Eu fui substituída por qualquer mulher. 



Voldemort rolou os olhos e cruzou os braços, recostando-se a uma das poltronas. — Foi? Porque eu não consigo ver como meu relacionamento com Madeleine se assemelha ao nosso… Em frente alguma. 



— Eu era sua consorte, ela é sua consorte…



— Você era muito mais que minha consorte, Bellatrix, não seja ridícula. — ele quase riu. — Você governava comigo, tomava decisões por mim quando eu não estava, liderava mais missões do que todos os comensais juntos, usava uma horcrux minha no seu dedo, foi a mulher que eu escolhi pra ter a Melinda… por Merlin, o ciúme te cega tanto assim? Ou é a frustração de nunca ter conseguido subir o último degrau que faltava? Bom, esse último foi escolha sua. 



— Porque você nunca ia me deixar ser igual a você! — ela explodiu. — Aaron é a prova viva disso! 



— Eu sou imortal, Bella! Você e Melinda não são.



— E eu ia ser? — ela disparou. — Como eu ia ser sua rainha, sua igual… sem isso? — Voldemort respondeu apenas com um sorriso lateral, quase como se ela tivesse feito exatamente o que ele queria. 



— Agora nunca vamos saber, Bella, mas fique tranquila… Ela não será. — Bellatrix apenas engoliu seco novamente. — E tecnicamente também não é minha consorte. 



— É tão sua consorte quanto eu era no início… — ele riu, divertindo-se. 



— Nem você acredita nisso, Bella, não seja dramática. — ele a observou por alguns segundos enquanto ela rolava os olhos. — A não ser…? 



— A não ser…? — ela colocou as mãos na cintura e ele se aproximou novamente. 



— Está realmente enciumada, Madame Lestrange? Eu estava te provocando até agora, e usando seu orgulho contra você, mas… não é a Madeleine que te incomoda, é? Não… quem e o que ela é são só sal na ferida. — Bellatrix desviou o olhar. — A constante lembrança de que ela não é nem de longe tão inteligente ou poderosa te incomodam, você a acha indigna de estar próxima de mim, quanto menos… — ele parou a alguns passos dela e balançou a cabeça. — Bella, Bella… você realmente achou que eu ia fazer um voto de celibato quando você decidiu se esconder desse lado do Canal? Só me lembra uma coisa: Você fez?



— Achei que não precisava disso, milorde. — ela disparou de volta. — Como o resto de nós mortais. 



— Sua memória lhe falha, Bellatrix? — ele gesticulou — Existem muitos Comensais traumatizados por causa… — ele mesmo se parou. — Você disse ‘precisa’, e não ‘quer’. — ele quase deu risada e balançou a cabeça.  — Então é daí que vem o ciúme. — Bellatrix bufou e deu passos largos em direção ao quarto, murmurando sobre como era impossível conversar com ele. 



Voldemort segurou para si qualquer comentário sobre como ela não estava dispensada, afinal a noite já rendera mais do que ele havia esperado. Servindo-se de um pouco de uísque de fogo, ele ouviu enquanto ela arrancava a roupa e se jogava debaixo das cobertas, bufando e cobrindo-se - possivelmente até a cabeça - do outro lado do quarto. 



Após alguns minutos, ele andou até próximo da cama e apoiou-se na parede, observando-a antes de agir. Ela ainda estava acordada, ele podia sentir. Voldemort pensou por um momento, até tirar o casaco e deitar-se no lado vazio da cama. O movimento na cama fez Bellatrix sair de debaixo das cobertas. 



— O que aconteceu com "a duquesa sabe que ela terá a cama inteira para ela"? — ela esbravejou, e Voldemort apenas se aconchegou mais, dando de ombros. 



— Entramos novamente na questão de ‘precisar’ versus ‘querer’, Bella. Eu não preciso dormir, mas posso querer, escolher dormir. — ele deixou os olhos caírem para o colo dela, agora coberto apenas pela lingerie, mas rapidamente voltou a olhar nos olhos dela. — Ou apenas te observar dormir, afinal de contas estamos em um momento tenso, e seu cavaleiro está no quarto ao lado e não pode prestar seja quais forem os serviços que ele te preste. 



Aquilo foi o suficiente para atiçar o ódio que vinha borbulhando dentro de Bellatrix, e ela sentou-se na cama, virando-se para ele e agarrando alguns dos travesseiros. — Que seja! Eu durmo no sofá, então. — ela fez menção de se levantar e ele a agarrou pelo braço. — Me solta. 



— Não, eu não solto, porque você está sendo absolutamente irracional, Bellatrix. — ela tentou se soltar e a mão dele só apertou mais. — Então ou você deita de volta, ou eu vou te amarrar nessa cama. 



— Cárcere privado agora? 



— Você costumava gostar. 



Ele mal terminou de falar quando sentiu a mão livre dela ir de encontro com seu rosto, sem que ele tivesse nem notado que ela tinha soltado os travesseiros. Bellatrix olhava para a própria mão como se apenas agora tivesse notado o que tinha feito, e respirava fundo quase como se aguardasse a reação dele. 



— Eu acho… — Voldemort ainda não a encarava, mas parecia estranhamente calmo, quase… impressionado? — que nós dois precisamos ter novamente uma conversa muito importante sobre consentimento, Bella. — num súbito, Bellatrix sentiu-se ser puxada e jogada na cama ao lado dele, que a segurou contra o colchão, mas sem se deitar completamente por cima dela — Porque se vamos partir direto pra sacanagem, precisamos acordar isso. — a mão dele se fechou quase delicadamente ao redor do pescoço dela — A não ser que você realmente tenha tido a intenção de me machucar… — o rosto dele se aproximou do dela — mas duvido que logo você, que sempre foi a mais leal, a mais fiel… faria de propósito. 



— Nunca… — ela respondeu, num fio de voz, um pouco distraída demais pelo peso dele em cima de si, que não era suficiente, a proximidade não era suficiente. — Como é que era mesmo? Você costumava gostar. 



Bellatrix não sabia exatamente o que estava fazendo, mas algo sobre o cheiro dele, a proximidade, o toque dele estavam desligando as suas defesas. Ela devia ter ficado no quarto com Rabastan, e o riso de Voldemort fez ela ter certeza de que ele ouvia tudo. 



— Bella, Bella… quanto mais eu te conheço menos eu te entendo. — a mão dele apertou um pouco e ela mordeu o lábio para não gemer, e percebeu que ele não estava exatamente a segurando mais. Ela podia sair, se escolhesse, nem a mão no pescoço iria impedi-la. 



— Somos dois. Mas você também costumava gostar… do mistério, da maluquice. — ela ainda não se moveu. 



— Sem dúvida. E você do perigo… sempre mais atrevida do que devia. — ele a observou de cima a baixo e acenou com a cabeça. — Era só você ter conjurado roupas. — ele comentou, e ela franziu o cenho — Para dormir, Bellatrix. — a mão que estava no pescoço dela subiu para a nuca e perdeu-se nos cabelos negros — E decidiu ficar assim… 



— Velhos hábitos. — ela quase se convenceu das próprias palavras. 



— Sei. Bom… acho que nosso jogo de gato e rato já rendeu o suficiente por hoje, não acha? — os dedos dele se emaranharam mais nos cabelos dela até que ele conseguiu puxar de leve e ela não conteve o suspiro quase tímido que a atingiu. — Vou te deixar dormir, minha cara. Boa noite. — ele fez menção de se afastar, e a mão dela tocou o ombro dele quase num impulso. 



— Peço desculpas, majestade… não fui muito profissional hoje. — foi a desculpa que ela arranjou para mantê-lo ali. — Talvez tenha me deixado levar por minhas emoções, eu… aprenderei a me controlar. 



— Se eu desgostasse de suas emoções ou achasse que elas te fazem não profissional, eu teria dito. — ele respondeu, observando a mão dela que ainda estava em seu ombro. Bella, Bella… o que ela estava fazendo? — Te prometo que direi quando passarem do limite. — ela riu. — E para deixar bem claro, tapas são aceitos apenas na cama. 



— Por isso eu tive um passe livre hoje? 



— Sabe muito bem o que eu quis dizer com cama, mas… vou deixar você escapar nessa tecnicalidade por hoje, até porque eu sei muito bem que cutuquei a onça. Até eu mereço, às vezes. Enfim, boa noite. — dessa vez, a mão no ombro dele ativamente o segurou ali e Voldemort franziu o cenho. 



— Não precisa… ir. — ela lambeu os lábios. — É mais confortável aqui e nós dois somos adultos e sabemos… nos comportar. 



— Ah sim, vindo da mulher que escolheu ficar de lingerie quando podia ter conjurado roupas decentes. 



— E quando eu fui decente? — ela pareceu quase inocente e ele grunhiu. 



— Bellatrix, eu juro que eu estou tentando aqui. 



— Tentando o que? 



— Fazer o que você quer. 



— E o que eu quero? 



— Distância. 



— Ah… sim. E eu estou dificultando seu trabalho? — a mão no ombro dele apertou um pouco mais e Voldemort balançou a cabeça. — Eu conheço essa cara… Sim, eu sou completamente maluca. 



— Ainda bem que você sabe. — ele concordou, mas também não se moveu. 



— Mas você também é, milorde… Ou já estaria do outro lado da sala. — ela sorriu e deu de ombros. — Eu tenho metade do seu tamanho e metade da sua mágica… eu não estou te segurando aqui, pelo menos não à força. 



Voldemort aproximou o rosto do dela e a observou por alguns segundos, os olhos percorrendo o corpo dela enquanto Bellatrix arfava ainda que tentasse esconder. — E não é distância que você quer? Se não é… o que você quer, Bella? — o rosto dele voltou a se alinhar com o dela, e Bellatrix sorriu. 



— Achei que soubesse ler meus pensamentos… — a mão que estava no ombro dele subiu delicadamente para nuca, as pontas dos dedos e das unhas tocando-o ali de forma quase torturante. — Que me conhecesse melhor do que ninguém para saber. 



— Eu ainda quero ouvir. — ele fechou os olhos por um segundo. — Eu não vou encostar em você sem ouvir, Bella. — ele a encarou novamente e Bellatrix assentiu. 



— Me beija. — ele mal precisou ouvir o final da frase para grudar os lábios nos dela, que imediatamente puxou os cabelos da nuca dele e o trouxe para mais perto, abrindo os lábios para dar mais espaço a ele.



Voldemort ajustou-se na cama, deitando-se completamente por cima dela, que encaixou uma das pernas ao redor do quadril dele, gemendo contra seus lábios com o contato, com a maneira que seus corpos se encaixavam quase como segunda natureza. Uma das mãos dele agarrou a coxa dela com força o suficiente para marcar, quase como se estivesse se assegurando que ela não ia a lugar algum. 



Em algum lugar da mente de Bellatrix, uma voz gritava que aquilo era uma péssima ideia, mas ela não conseguia raciocinar mais. O cheiro, o gosto e o toque dele eram o suficiente para tirá-la completamente do eixo e fazê-la esquecer todos os nãos e porquês. Tinha um motivo que a levara a se mudar para a França, a manter a distância, e o motivo era bem claro naquela cama: ela jamais saberia resistir a ele, não por muito tempo. 



As duas mãos dela puxaram a camisa dele para fora da calça e se enfiaram debaixo do tecido, arranhando e marcando a pele dele. Voldemort soltou uma risada contra os lábios dela e quebrou o beijo, apenas para descer pelo maxilar dela, passando pela orelha e pelo pescoço, até achar o ponto que a fazia gemer alto. Mordiscou ali rapidamente antes de sugar a pele dela com força, até ter certeza de que havia deixado uma marca, assim como ela deixava nas costas dele naquele exato momento. 



Os primeiros raios de sol já começavam a atingir o quarto, afinal haviam ficado a noite inteira presos com aquele maldito problema em Beauxbatons, mas isso não pareceu incomodá-los, pois Bellatrix tinha finalmente se livrado da camisa dele e perdido seu sutiã em algum canto, e o contato das peles deu um curto circuito em sua mente que silenciou quaisquer vozes.



Quando os lábios de Voldemort chegaram aos seios dela, Bellatrix esqueceu o próprio nome e agarrou-se aos lençóis, apoiando-se nos cotovelos para reclamar quando ele passou quase direto por ali. Então, ela observou enquanto ele fazia o caminho até o abdômen, passando direto pela calcinha de renda, para mordiscar as coxas dela.



— Isso ainda conta como ‘me beija’? — ele provocou, sugando a parte interna da coxa dela, que gemeu e assentiu. 



— Eu não especifiquei localidade. — isso o fez rir e subir mais os beijos, até beijá-la por cima da renda e ouvir seu nome deixar os lábios dela quase em desespero.  



Bellatrix agarrou-se ao cabelo dele e deixou o desejo tomar conta de seu corpo, rebolando contra os lábios dele, que apenas moveu a lingerie para o lado e foi direto ao clitóris dela, que xingou baixinho, mas foi ele que ficou ainda mais afetado ao perceber o quão molhada ela estava, gemendo contra a pele dela antes de se perder no gosto dela, sua língua e lábios agindo quase como segunda natureza, buscando o ritmo e pressão que ele sabia que a tiravam do eixo. Bellatrix choramingou e mordeu os lábios quando ele fechou os lábios ao redor do clitóris dela e sugou quase torturantemente, enquanto dois de seus dedos brincavam, quase pedindo permissão, e apenas um olhar foi o suficiente para que eles a penetrassem curvados para tocar o ponto que a fazia gritar. 



Voldemort não tirava os olhos dos dela, mas não era como se ele precisasse, pois ele podia sentir cada sensação, ver o turbilhão que passava pela mente dela enquanto o prazer tomava conta e deixava a consciência de Bellatrix em último plano. Ela estava chegando perto tão rápido que era quase embaraçoso, mas com ele… ela não ia se segurar. 



Foi então que ele parou num impulso, ignorando os protestos dela, para beijá-la mais uma vez, gemendo ao perceber que ela lambia avidamente o próprio gosto dos lábios e da língua dele, agarrando-se a ele, e ele só podia imaginar o quão pronta ela estava. — Se você for me parar e pedir pra esquecer tudo isso, vai ter que ser agora, Bella. — ele puxou o cabelo dela e Bellatrix sorriu contra os lábios dele. — Porque se você me deixar continuar, eu não respondo por mim mais. 



— Até parece… — ela o beijou e mordeu o lábio inferior dele. — Se eu pedisse, você pararia na hora, não importa quando fosse. — a mão dela o tocou por cima da calça e Voldemort rolou os olhos. — Eu te conheço, confio em você… talvez eu faça um teste. 



— Cruel… que mulher cruel. — ele a beijou mais uma vez e Bellatrix enfiou a mão dentro da calça dele, gemendo profundamente ao senti-lo em seus dedos, a saudade e o desejo falando mais alto que a racionalidade dela. 



— Você costumava gostar. 



— Eu ainda gosto. — ele puxou-a pelo cabelo para mais um beijo profundo, as línguas explorando cada canto enquanto Bellatrix abria a calça dele e se livrava da própria calcinha, aproveitando-se da situação para inverter a posição deles na cama e pressionar a quadril contra o dele, os gemidos de ambos se misturando enquanto ela encostava as testas. 



— Eu sei que gosta… e eu amo ver o que eu ainda faço com você depois de todos esses anos… sentir como eu te deixo fora de controle, como você precisa do meu corpo no seu tanto quanto eu… — ela pressionou os quadris mais contra ele dele, que agarrou os cabelos dela mais uma vez. — saber que seu autocontrole tira férias, que você quer, escolhe, mas não consegue ignorar o que faço com você… E isso é só meu. — ela o beijou mais uma vez. — Sempre vai ser privilégio meu e de mais ninguém… porque ninguém mais te deixa assim, deixa? Não mente. — a voz dela tremeu um pouco e Voldemort a beijou mais uma vez, agarrando-a pela cintura para mais uma vez inverter as posições, pressionando-a contra a cama e segurando os pulsos dela. 



— Se você precisa desse circo todo apenas para alimentar o seu orgulho ferido e aquietar sua insegurança, Bella… eu não te conheço mais. — ele suspirou cansado. —  É isso que você quer? Me ouvir admitir que você me deixa o mais humano que já fui em décadas…? Que perco meu controle constantemente? Que você ainda é especial? Pronto. Satisfeita? Da próxima vez só pergunta. — ele se afastou e se levantou, fazendo-a se sentar na cama. 



— Não vai embora… por favor. 



— Por quê? Pra você provar seu ponto de que eu não resisto a você? Ah, vai se foder, Bellatrix. 



— Não! — ela levantou a voz um pouco e ele parou para encará-la. — Não é por isso. — ela arrumou o próprio cabelo. — Eu não quero brigar, é tudo que estamos fazendo desde não sei que horas. — ela pegou a camisa dele que estava perdida na cama e a colocou, fazendo Voldemort engolir seco, a imagem dela usando as roupas dele reacendendo tudo o que as palavras dela tinham quase conseguido apagar. — Estava melhor quando estávamos nos resolvendo na cama, como sempre. 



— Nunca resolvemos nada assim e você sabe disso. — ele quase sorriu. 



— Eu sei, mas era bom pra esquecer. — ela se ajoelhou na cama e o beijou suavemente no canto da boca. Voldemort a segurou pelos ombros e a afastou um pouco, acariciando o cabelo dela. 



—  Sim, e amanhã eu vou embora e você decide ficar aqui de novo e todos nós vamos nos sentir péssimos. Eu não quero isso, Bella. Uma série de recaídas sem continuidade e… eu sei que você não quer também. É só que você é tão ruim de resistir a nós quanto eu sou. — ele a pegou pelo cabelo de novo. — E você não precisa de… seja o que for que isso foi. Por que você quer provar empiricamente coisas que eu já te disse com todas as palavras? Que eu estava literalmente te dizendo há vinte minutos? 



— Porque elas são difíceis de acreditar. — ela confessou. — Sem ver. — ambas as mãos dele foram para o cabelo dela e Bellatrix fechou os olhos. — Eu não devia ter me de— Voldemort beijou-a mais uma vez, um beijo calmo e rápido e negou com a cabeça. 



— Vamos fingir que ninguém passou dos limites, afinal estamos aqui a trabalho. — Bellatrix assentiu. 



— Te convenci a voltar pra cama? — ela perguntou e ele suspirou. 



— Você é o demônio quando quer, sabia? 



— Sabia. Mas estou te chamando como amigo. — com isso ele riu. 



— A gente já tentou amizade, deu bastante errado. — mesmo assim ele se deixou puxar. 



— Ah sim, a gente acabava na cama, ou quase. — ela deu de ombros e se aconchegou na cama. — Mas é uma noite só, numa cama enorme… e eu estou sozinha, sem proteção.  



— Misericórdia… — ele rolou os olhos e se jogou do outro lado da cama. — Nós vamos ser a morte um do outro. 



— Um dia, num futuro distante… mas por enquanto… boa noite, majestade. 



— Boa noite, vossa graça. — ele pegou a mão dela e beijou o dorso, antes de fazer um movimento com o pulso que fez uma barreira de travesseiros entre os dois. — Pronto, agora a madame não tenta mais nenhuma gracinha. 



— Ah, como se eu fosse te assediar. — ele ouviu Bellatrix gargalhar. 



— Estou te protegendo da sua versão que está subindo pelas paredes, Bella. 



— Eu não tenho uma versão dessas! — ela puxou um dos travesseiros para poder olhar pra ele. 



— Claro que tem, você estava praticamente implorando por… — ele tomou uma travesseirada e levantou ambas as mãos. — Ok, agora eu parei. Estou te protegendo da sua versão apaixonada, satisfeita? A Bellatrix racional vai me agradecer amanhã. 



— Bem… pois a mistura das duas odeia essa parede. — ela chutou os demais travesseiros. — E se ela não pode te ter… — ela deitou no peito dele, que não protestou mas fechou os olhos. — Vai dormir mais segura assim… Acha que está perto o suficiente pra me proteger?



— Sempre. — ele disse contra o cabelo dela, sentindo-a relaxar aos poucos. — Boa noite, Bellatrix. 



— Boa noite, milorde.





 



Bellatrix acordou por volta do meio-dia, percebendo que Voldemort ainda estava debaixo dela, parecendo adormecido enquanto ela se localizava. Por Merlin, ela estava ficando louca. No que ela estava pensando? A noite anterior explodia em sua cabeça, e ela nem podia culpar o álcool. O cheiro e o toque dele então a trouxeram de volta para a realidade, e ela constatou que isso era pior que o álcool. 



— Meu Deus pareço uma viciada… — ela disse pra si mesma, e quase morreu de susto ao notar Rabastan parado na parede oposta, os observando. O pulo dela na cama fez Voldemort abrir os olhos calmamente, enquanto ela arfava. — Perdeu o juízo, Rabastan?! — ela sentou-se na cama e arrumou os cabelos. — Ficar espionando assim. 



— Bom dia, majestade e vos–….? — ele olhou de um pro outro. — Ou são majestades agora? — ele brincou e Voldemort o fuzilou com os olhos, também se ajustando na cama. 



— É bom você ter um motivo pra ter invadido assim, Lestrange.



— Eu não quis interromper nada…



— Nada aconteceu, Rabastan. — Bellatrix o cortou. — Não o que você pensa. Dormimos juntos por uma questão de segurança. 



— E foi assim que a camisa que antes estava em Sua Majestade foi parar em você? 



— Você queria mesmo que sua irmã querida dormisse numa roupa de couro, Lestrange? Num terno de couro? Ela dorme de verdade, precisa descansar, eu não. Alguns de nós ainda somos cavalheiros.  — ele respondeu simplesmente, e Bellatrix quase quis agradecer. 



— Já ouviram uma coisa bacana chamada conjuração? — ele questionou quase como se fosse óbvio e os outros dois bruxos reviraram os olhos. — Ok, não tá mais aqui quem falou. Ainda não explica porque estavam dormindo abraçados, mas cada um com seus defeitos né… 



— Ah, não fode Rabastan! — Bellatrix esbravejou e levantou da cama. — Você tem dois segundos pra falar, porque se você está acostumado a ficar de palhaçada comigo, com o Lorde das Trevas não vai ficar. Nós temos coisas sérias para resolver, então desembucha. 



— Eu vim avisar que trouxeram os suspeitos para interrogatório, aí vi meu casal favorito todo aconchegado bonitinho e fiquei com dó de acabar com isso. — ele fez um bico e Bellatrix suspirou cansada — Poxa, meu sonho se realizando, queria manter viva a ilusão de que se resolveram e transaram a manhã inteira.



— Se isso tivesse acontecido, Rabastan… — foi a vez de Voldemort levantar-se da cama e ajustar a própria roupa. — Você saberia. Eu faria questão de deixar seu colega de quarto bem informado dos desenvolvimentos. Não se preocupe. Agora… pode nos dar licença? Bellatrix precisa se trocar para interrogar os suspeitos.



— Ah como se tivesse alguma novidade aí pra mim… — Rabastan comentou e foi imediatamente fuzilado com o olhar por ambos. — Ok, foi uma ordem, entendi. É só que ela não tem lá muito pudor lá em Bordeaux. Estou piorando né? Nos vemos no ministério.  — ele saiu e um silêncio tomou conta do quarto.



— Ele quis dizer… 



— Não importa. — Voldemort deu alguns passos na direção oposta. — Vou te deixar à vontade. 



— Ele me deu banho. — Voldemort parou. — Ele e Gabrielle. No Halloween… eu não estava bem. Ele só achou engraçado fazer uma piadinha com isso agora. 



— Você não me deve mais satisfações, Bella. — ele sorriu de canto. — Mas… mesmo que devesse, eu sei que se quisesse já teria revirado Rabastan do avesso mais vezes do que ele jamais sonhou. — ele a olhou por cima do ombro. — E eu soube… sobre o episódio. 



— Claro que soube. — ela disse para si mesma. — Bem, e na verdade o Rabastan nem me quer tanto quanto ele pensa. — Voldemort girou nos calcanhares. 



— Você não vê a mente dele. 



— Não vejo, mas garanto que geralmente você está presente. Ele nos quer, não a mim. Ele mora comigo… se quisesse mesmo, já teria tentado. Ele não quer transar comigo, quer um ménage à trois, isso explica a obsessão dele de bancar o cupido, está é advogando em causa própria. 



— Mal sabe ele… —l Voldemort deu risada. 



— Que você jamais toparia? — ela começou a se trocar. — ah, ele sabe. Às vezes eu provoco… e ele sai correndo de medo do que você faria com ele se ele relasse um dedo em mim. Todos eles acham que você vai sair numa crise de ciúmes matando todo mundo. — ela rolou os olhos e retirou a camisa, andando nua e entregando-a a ele, que a olhou de cima a baixo. — Obrigada. 



Bellatrix foi encontrar o resto de suas roupas enquanto Voldemort vestia a camisa. — E como sabe que eu não vou fazer isso? 



— Aaron está respirando, e não faz seu estilo. Faz mais o meu. 



— Madeleine está respirando… 



— Eu ainda tenho juízo e orgulho. E ela ainda está… não faço promessas. — ela o sentiu virando-a para si. 



— Bella… — as mãos dele ainda estavam no ombro dela. — Você sabe que não precisa matar ninguém. — uma das mãos desceu pra cintura dela. — É só você… — os lábios dele tocaram a orelha dela, que fraquejou nos braços dele. — dizer sim… que aceita ser minha de novo… e eu mesmo acabo com ela se você pedir. — Bellatrix estremeceu nos braços dele. — Uma palavrinha… — ele se afastou. 



— Se ela importa tão pouco, por que a manter? 



— Porque não tem como você me manter e me afastar ao mesmo tempo, Bella. Enquanto você insiste que não quer… tenho minha diversão, e vou mantê-la. 



— Assim como eu tenho a minha…



— Aaron Guillot não é uma diversão, é vingança. — ele retrucou, seco. — Mas, que seja. Você está fazendo para me incomodar, eu estou fazendo para te incomodar. É justo, ao menos todos sofrem. 



— Nossa, como somos saudáveis. — ela colocou o paletó e ele notou que ela nunca tirara o colar com a horcrux.



— Isso nós nunca prometemos a ninguém. — ao notar que ela estava pronta, ele a ofereceu o braço.



Bellatrix aceitou o braço dele e eles se dirigiram para fora do quarto. Diversos aurores os esperavam com informações, suspeitos, localidades, e Bellatrix percebia-se cada vez mais próxima a ele, sentando perto, rindo perto, encostando a cabeça no braço ou ombro dele enquanto conversavam e, por vezes, sentindo vontade de voltar para aquele quarto e dizer quantos sins ele quisesse, esquecer todos os motivos pelos quais eles não funcionam e ser feliz. 



E talvez tenha sido por isso que ela tenha sido tão rápida em seu trabalho, dispensando opiniões e dispensando fatos, louca para que ele fosse logo para casa, para que a tentação se afastasse dela, e nem mesmo ela conseguia garantir que aquela fora a melhor investigação que ela tinha feito. Talvez Voldemort confiasse demais nela, talvez ela devesse ter sido mais profissional, não ignorando todos os sinais vermelhos escondidos por trás dos inocentes adolescentes invasores, mas em sua pressa em se poupar da tortura…  ela cometeria o maior erro de sua vida, e sofreria as consequências por não saber ficar perto dele sem querer dizer sim, e por fugir tanto desse sim. 



— Espero não ter que ser chamado de madrugada mais vezes… — Voldemort pegou a mão dela, que se curvou. — Bella… estamos seguros de tudo? Sei que insistiu em interrogar, mas eu podia ter… 



— Esses trouxas não merecem sua legilimência, milorde, e nunca vi nem bruxos contornarem meus meios. Fique tranquilo, caso eu entendesse que precisava, teria te chamado. 



— Confio em seu julgamento, ou não teria te dado a posição que dei, mas… não estou brincando, Bella, da próxima vez que eu for arrastado para cá por algo que podia ter sido evitado, você terá um problema. — a ameaça velada foi contornada pelo beijo rápido que ele depositou nos lábios dela, enquanto Aaron Guillot desviava o olhar. 



— Sim, majestade. Bom retorno. — ela se curvou de novo e beijou o anel dele, que a puxou de volta para ficar de pé e beijou o dorso da mão dela lentamente. 



— Até a próxima, Bella. — mas a próxima não seria tão agradável.



 


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