Parte V



Enquanto Alvo e os Conspiradores se esgueiravam por entre arbustos espinhentos na caçada habitual por provisões, ele ficava cada vez mais carrancudo, pensando em por que fora parar ali e como poderia chegar a descobrir algo se tudo em volta parecia o mesmo e se tinha que ficar se escondendo... Perdido em seus próprios pensamentos, ele tropeçou no que pareceu uma bola marrom felpuda e quente, e quando saltou para trás ela se desenrolou, revelando um esquilo de olhar penetrante. Ele correu, sem dar maior atenção a Alvo, até Herman, e os dois se encolheram cochichando entre si. Em questão de segundos, o esquilo voltara a correr, na direção oposta, e logo desapareceu na branquidão da neve.



— A Feiticeira — disse Herman, antes que alguém perguntasse qualquer coisa — já sabe que temos o Mago.



Mythra fez um ruído de raiva e Gulmus grunhiu de frustração. Alvo apenas esperou por mais informações. Então Herman prosseguiu:



— Aquela é Sonya, Mago, nossa informante da corte. Uma amiga, na verdade. Ela sempre nos livra de morrer nas garras da Polícia Secreta... Bem... alguém nos viu quando o capturamos. E a princípio...



— Acho melhor termos essa conversa num lugar fechado. Ainda que isso não faça tanta diferença assim — murmurou Myhtra, e já começou a seguir a direção que, Alvo começara a divisar, dava para a caverna onde eles dormiam.



Chegando lá, Herman continuou a falar.



— Bem, a princípio Sonya diz que a Feiticeira quis a nossa captura, mas que depois disse ter uma ideia melhor e se reuniu a portas fechadas com a Polícia Secreta. E, bem, ninguém escuta atrás das portas revestidas de gelo do palácio.



— Podíamos encontrar outro esconderijo antes do amanhecer. Não estamos mais seguros aqui.



— É claro que não estamos seguros em lugar nenhum, Gulmus — retorquiu Mythra.



— Concordo com Gulmus que o lugar é uma preocupação imediata — interpôs Herman. — Mas também acho que se tiverem que nos encontrar, é melhor que seja logo. Enquanto ainda temos o Mago — acrescentou naturalmente. Alvo não fazia ideia do que dizer.



— Não que ele realmente faça alguma diferença — resmungou Mythra.



Alvo fingiu não ouvir enquanto acendia, agora com maior facilidade, um fogo mágico numa pequena fogueira para aquecê-los. Ele não sabia se era a prática ou o número de tentativas que fazia sua magia dar certo ali — e esperou que não fosse isso, ou precisaria de uma eternidade se preparando para lutar contra a Feiticeira Branca.



-x-



— Ele é um filho de Merlim — disse a rainha com desprezo. — Uma variação da linhagem de Adão que tenta se igualar a mim. Como vimos, ele não tem grande poder fora de seu mundo, ou já teria me desafiado.



A Polícia Secreta escutava atentamente. Ninguém ousava perguntar qual era o plano, afinal. Qual era a ordem.



— O plano — prosseguiu a rainha — é atacá-los. Batalha sangrenta. Para que sirvam de exemplo. Temos sido coniventes há tempo demais; Nárnia não tolerará mais conspirações nem intrusos. Muito menos um garoto autodenominado Mago.



— E quando vamos atacá-los, Majestade? — perguntou o enorme lobo negro que se chamava Robert, o chefe da Polícia Secreta.



— Ao amanhecer. Assim, ao meio-dia já posso transformar suas carcaças em pedra às vistas de todos. Não deve ser difícil para vocês, mas estarei lá também, e interferirei se for preciso.



Fez-se silêncio por uns instantes na sala. A Feiticeira continuou:



— Vamos começar enviando um recado. Deve ficar bem claro que não se conspira contra a rainha de Nárnia.


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