Parte III



— Quem é você e o que faz a mando da Feiticeira Branca? — ela perguntou de modo incisivo olhando-o nos olhos.


— Meu nome é Alvo Dumbledore — respondeu confuso —, mas eu não faço nada a mando de ninguém, vim parar aqui por acaso.


— Eu disse — falou o fauno que se chamava Gulmus, com um risinho tímido. — Ele não é de Nárnia.


— De onde vem e como veio parar aqui? — perguntou Mythra sem se abalar.


— Ah... Inglaterra. Vim por uma sala mágica que há na minha escola, Hogwarts...


Começou a contar, e eles demoraram a entender.


— E isso que vocês confiscaram é a minha varinha, o instrumento pelo qual eu posso fazer magia.


— Então você é um mago e um filho de Adão, que veio parar em Nárnia por acaso — concluiu o coelho, que se chamava Herman.


— É. E vocês, quem são? O que é Nárnia, afinal?


— Nárnia é toda a extensão de terra gelada que você pode ver. Nárnia é isso — falou Mythra com desgosto.


— Mas não foi sempre assim, é claro — emendou Gulmus. — Na verdade é assim há três anos. Desde que a Feiticeira Branca saiu das sombras e instaurou a ditadura e o inverno. Ela esperou que o povo livre de Nárnia estivesse se sentindo tão feliz e seguro que se esquecesse de que ela ainda vagava... O último rei, filho de Adão, morreu sem deixar sucessores, há muito tempo. Fomos um povo selvagem e livre por anos, regidos apenas pelas leis do Imperador de Além-Mar e pelo espírito de Aslam.


— Que não se dignou a aparecer nos últimos anos — disse Herman com amargura.


— Ele há de voltar na hora certa — retorquiu Gulmus com uma esperança cansada.


— Achei que a hora certa seria quando virássemos foragidos em nossa própria terra — resmungou Mythra.


— Mythra...


— Vocês não me disseram quem são — observou Alvo.


— Eu sou Mythra, estes são Gulmus e Herman. Somos os Conspiradores da Rainha — disse isso com uma nota de desafio. — Nosso grupo já foi maior, se quer saber. Mas agora temos um mago ao nosso lado. Isto é, você está do nosso lado, não é?


O olhar dela era um pouco ameaçador, mas Alvo foi sincero.


— Claro. Se ela oprimiu seu povo... Desculpe, Gulmus disse que ela “instaurou a ditadura e o inverno” há três anos. É inverno há três anos?


— E cada dia é mais curto, e cada noite é mais longa, e a cada minuto é mais frio.


— Mas como isso é possível?


— Magia, é claro — disse Herman, desconfiado.


— Mas não se pode manipular o clima de forma constante e por tanto tempo.


— Ela pode. Que tipo de mago é você? — perguntou Mythra com os lábios crispados.


— As leis da magia são diferentes em seu mundo? — perguntou Gulmus gentilmente.


— Ao que parece... — respondeu Alvo, distraído por um raio de luz avermelhada que entrava pela caverna. — Que luz é aquela?


— O Sol, é claro. O do seu mundo é diferente?


— Sim, é amarelo — disse ele, estranhamente deduzindo o que aquilo significava. Nárnia devia estar num universo muito mais antigo.


— Então você é um jovem portador de um tipo de magia primitiva — disse Mythra decepcionada.


— Ao que parece — respondeu Alvo, sentindo-se péssimo. 


-


A grande raposa cinzenta deslizou suavemente para dentro da sala onde a rainha repousava.


— Notícias, Timothy? — perguntou a mulher sentada no trono de cristal e diamantes, cujo manto azul-marinho junto aos cabelos negros reluzentes faziam contraste com todo o aposento claro.


— Receio que sim, Majestade — disse mansamente a raposa, algo pomposa. Era dos poucos em quem a rainha tinha plena confiança. — Há um intruso em Nárnia. E se juntou aos Conspiradores.


Intruso? — os olhos da rainha se estreitaram, e seus lábios crisparam-se. — De onde obteve essa informação?


— Da fonte. É um filho de Adão, ainda não adulto, os Conspiradores o raptaram pensando que fosse como a senhora, Majestade... ou estivesse a seu mando. Ele carrega uma vara similar à de Vossa Majestade, porém menor e mais escura. Chamam-no de Mago.


— Mago?


Se fosse possível, a mulher empalideceria, mas já era tão branca que isso não aconteceu. Ela apenas ficou completamente imóvel por um longo momento, e depois disse com voz impassível:


— Eu o quero. Capturem-nos e os tragam aqui, o garoto com vida.


— Ouvir é obedecer, ó Majestade — disse Timothy, fazendo uma reverência e virando-se para sair.


Quando estava à porta, porém, a voz da rainha em tom triunfante o alcançou:


— Tenho uma ideia melhor, Timothy! Reúna a Polícia Secreta, quero falar com todos os meus leais soldados.


-


N/A:



  1. Fui pesquisar e a cronologia não bate, se alguém ficou interessado. O ano correspondente à criação de Nárnia, na Terra, seria 1900, então quando Dumbledore tinha 14 anos Nárnia nem existia. :/ Sorry.

  2. O modo como Nárnia passou às mãos da Feiticeira Branca foi inventado por mim preenchendo as lacunas, já que não é especificado na saga.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.