A Carta



   

    "Hoje você ficou fora o dia todo, e eu estou aqui solitário com uma perna quebrada. Vicky estuda, aprende mais sobre nosso mundo e até mesmo (por mais que deteste imaginar) paquera pelos corredores de Hogwarts. Louis está desgnomizando o jardim do Chalé como tantas vezes eu e meus irmãos no unimos na Toca para tal tarefa (seu cabelo dança platinado pelo brilho do pôr do sol).
 


  Eu não suporto ficar parado, querida, você bem sabe, mas o acidente naquele cofre em Gringotes promete me deixar de “molho” por muitas semanas. Então a vejo disposta a sair para trabalhar e levantar uma renda extra à nossa família enquanto o afastamento remunerado não é lá aquelas coisas.
 


     E eu fui surpreendido novamente...
 


  Novamente porque, desde que te conheci, quebrou tantos paradigmas dentro dos meus preconceitos e surpreendeu-me um leque de vezes, sendo impossível não me pegar refletindo sobre isso.
 


   É, querida, já deve ter percebido que estou aqui na cama elaborando essa carta de amor.
 


   Como todo Weasley (com exceção da capciosa Gina) qualquer declaração é uma tormenta de palavras desordenadas, acompanhadas de gagueiras, exageros e suor palmar, portanto estou muito seguro em utilizar uma pena e um pergaminho para me expressar.
 


    Quero começar pelo dia em que lhe conheci. Foi em Hogwarts, lembra-se? Era tempo do Torneio Tribruxo e eu e minha mãe fomos dar uma força para Harry. Ali meus olhos cruzaram com os seus. O fato de ter ficado hipnotizado na beleza daquela garota estrangeira, alguns anos mais nova que eu, não me foram surpresa. Rapidamente descobri sua descendência veela e entendi meu frenesi... mas não entendi ser correspondido.
 


    Imediatamente perfurado nesses seus azuis safira fascinantes, meu coração pulsou daquele modo clichê, natural para um homem enxergado no olhar de uma bela mulher. Achei que tinha se interessado por meu estilo largado, os brincos de dentes pontudos, o rabo-de-cavalo. Mais tarde você confessou que sim!
 


    E partimos para nosso primeiro encontro, reiterando minha constante emoção de quem ter a iniciativa de continuar procurando algo entre nós ser você. Te levei para um restaurante impopular, sendo tudo o que meu salário mínguo poderia pagar. Tive seu sorriso naquela noite, uma leve carícia nas costas da mão, finalizado pelo (aquilo que me soou tão sincero) agradecimento à refeição e a companhia.
 


     Não houve beijo, logo achei que falhei em algum ponto. Para minha proteção deduzi que tinha sido um sonho e trouxe nosso encontro como algo casual, sem possibilidades de futuro.
 


    No fim daquele ano atribulado fui contatado por você outra vez. Tão linda e tão pálida surgiu no meu trabalho inesperadamente interessada num estágio. Alguns meses depois, nos beijávamos escondidos da tirania da Sra. Weasley, já que não seria muito compreensivo da parte dela o primeiro filho assumir um namoro.
 


   Realmente, querida, o quão desbravadora você foi perante a resistência da minha mãe! Previ as duas se atracando ferozmente, seu gênio forte confrontando-a e nossa relação sendo um pouco mais difícil. Fiquei contrariado e sem fé em alguns momentos. Então, corajosamente, resolveu no seu encanto feminino conquistar Molly Weasley um dia de cada vez, e engolir desaforos e indiretas dolorosas em prol de estar comigo nas horas vagas.
 


   Minha mãe se envergonha por trata-la mal daquele modo até hoje, desta forma você ardilosamente reteve a vantagem de uma eterna vítima... Ahh, minha Fleur!
 


   Nosso amor se formou numa época conturbada para o mundo em que habitamos, não demorou então para mais problemas surgirem: minha decisão de integrar a Ordem e o acidente grotesco entre mim e Greyback. No primeiro caso, você relutou, fez alguma chantagem e nos abdicamos de carinhos. Por fim entendeu meu ímpeto guerrilheiro, mas não sem antes partir um pedaço de mim com um choro delicado e compreensivo.
 


    O segundo caso foi aquele do qual tive a prova máxima de quem era na verdade Fleur Delacour. Até então a enxergava como uma bela amante, uma garota romântica, um amor inesperado do qual eu gostaria de estar, contudo sempre pairava a sombra da veela enigmática nascida e crescida para a burguesia, para a felicidade enlatada, para o conto de fadas sem percalços.
 


    Sei que nunca lhe confidenciei isso, sobre o que achava da gente, de você, até aquele momento, mas não desconfio nem por um segundo de que já saiba.
 


    O caso foi que o ataque do lobisomem me transformou em outro alguém. Um acidente daquela proporção afeta sua essência e todas aquelas pessoas a sua volta. Houve agressão verbal e física (sei que não me culpa por não estar no meu estado normal, eu sei, querida), houve o desespero, a confusão mental, isso sem falar na crise de identidade e da depressão existencial.
 


    Em tudo isso, por todas as ocasiões que ataquei a cozinha como um animal, buscando por carne crua e fresca e me lambuzando depravadamente no sangue escorrido, você aguentou firmemente, ainda que ficando chocada tantas vezes.
 


    Procurou formas, estudou maneiras, de amenizar minha dor e toda a irracionalidade adjunta, criando estratégias cabíveis ao nosso dia-dia e regredindo a fera dentro de mim a um lobo domesticado.
 


   Fleur, te admiro tanto por não ter desistido de mim ali.
 


    Quando veio a guerra de fato, você grávida, eu em missões suicidas, renovou seu heroísmo e me incentivou a ir para as frentes de batalha, (e tudo ficou somente entre nós) mas por meia dúzia de vezes chorei abraçado a você e a Vicky, aconchegada na sua bela barriga, dizendo não querer mais lutar. Eu seria lembrado como um deplorável covarde se não tivesse me obrigado a seguir a Ordem... Dentro da sua cabecinha dourada passando todo o medo e terror de me perder.
 


   Eu não recuei na minha vida porque tive uma mão entusiasta, buquês perfumados de frases motivadoras, e um sorriso esplendoroso me esperando nos batentes das portas das quais eu adentrava, totalmente entregue.
 


   Nós encontramos mais problemas depois do casamento e da vivência, no Chalé das Conchas. Nunca pode ser somente a beleza e alguns beijinhos de “bom dia” e “bom trabalho” que vão fazer uma relação perdurar intacta.
 


      Os filhos com certeza ocupam um grande espaço do qual antes era apenas de nós dois, embora sejam nossas eternas loucuras! Me envergonho de ser um marido ciumento nesses momentos, agir com uma birra não condizente com minha idade e realizar sutis, mas cruéis, chantagens naquele início, quando as crianças eram tão pequenas.
 


   Você poderia ter acabado tudo nos nossos primeiros anos como marido e mulher e ainda assim teria o apoio até de minha mãe, tamanho andava sendo meu egoísmo!
 


   Sei que já me perdoou, mas eu acho que nunca o farei por mim.
 


   Nesse tempo havia mais de uma pessoa para consolar e compreender, e como um maestro predestinado para orquestrar, intercalou entre todos nós, procurando resolver nossos problemas sem nunca responder na mesma moeda. Eu te feri e você procurou não fazer o mesmo...
 


   Está entendendo?
 


      Eu achei, naquele nosso primeiro encontro ser o lado do par a estar apaixonado inexoravelmente, iludido na beleza e no momento. Mas o momento passou, porque a euforia sempre passa e quem continuou no barco, sem pular, sem se afogar, sem naufragar, me amando cada vez mais e mais foi você!
 


    Enquanto me proclamavam corajoso por superar a Ordem, GreyBack, a morte de um familiar, o reinício num país sem muitos dos meus antigos e queridos amigos e lugares de infância, quem me sustentava e teve de aguentar a verdadeira carga foi você, minha querida!
 


    Droga, estou chorando ao escrever essa parte! Espero que Louis não resolva entrar!
 


   Vivemos tão bem desde então. Meu amor sendo renovado a cada ano numa bateria inesgotável provinda do seu coração.
 


   Não sei quanto aos meus irmãos, meus amigos, e todos que conheço e já conheci na minha existência... Só sei que eu sou feliz! Um homem feliz!
 


    Tenho ao mesmo tempo a mais linda amante e a mais completa companheira.


 


Gui.

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Comentários (2)

  • Sheila Costa

    Cá estava eu, Sheila, tendo que trabalhar e sem vontade. Então, decidi verificar o que andam escrevendo sobre os shippers dos personagens secundários das fics. Encontrei uma bárbara do Malfoy/Greengrass (que coincide com muitas coisas que eu já pensava de como seria a vida de Draco) e encontrei a sua de Gui/Fleur. Onwwwww! Imagino a Fleur forte para suportar tudo e não tinha pensado assim em crises de agressividade e fome de sangue no começo...rs Andei pesquisando porque a Dominique entra em breve na minha história e vou revelar algumas coisas de Malfoy tb. É incrível como não temos cadastro (e um vácuo enorme) sobre alguns shippers, então, eu pensei em um pequeno projeto e queria saber se você topa._____________Quando eu participava do Forum Grimmauld, eu frequentava a seção de fanfics. Nessa seção, todo mês tínhamos uma disputa de drabbles (ou dobble drabbles) com determinado tema estabelecido e regras. Então, uma banca de examinadores verificava as fics postadas e davam pontos. 1, 2 e 3 lugar ganhavam brasão ouro, prata ou bronze e fazíamos um ranking geral. Podemos fazer algo assim na FeB, o que acha? Juntamos mais alguns bons comentaristas de fics e fechamos isso mensal. Podemos até ter um voto popular com peso de 1 ponto....rs O que acha? Se tiver algo assim já me avisa que tentamos reativar.Obs: vi você postando em algumas fics incompletas u.u porque a minha você só vai ler completa?? u.u Tá quase lá, anyway...rsBeijos 

    2014-01-10
  • Lana Silva

    Uma carta maravilhosa, acredito bastante no que disse, quem viveu algo realcionado com um amor, com toda certeza vai entende melhor, eu achei lindo. Realmente, Fleur se mostra mais do que todos acham que ela é, acho que o relacionamento dela com Gui é algo que foi superado, ela ficou ao lado dele em todos os momentos, mesmo quando - talvez - outra mulher poderia abandoná-lo, ou não compreendê-lo. É bonito e raro um amor assim, eu nunca tinha lido uma Fleur/Gui antes e gostei bastante do ship. Algo novo pra mim, como leitura e eu espero sinceramente que você escreva uma deles dois um dia desses...Beijoos!

    2014-01-04
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