O Resgate



Ron nem sequer pensou em procurar ou avisar os amigos, não porque se achasse bom o suficiente para efetuar o resgate sem ajuda, mas porque não podia suportar a idéia de demorar a encontrar Hermione. Pensava no que ela devia estar passando e sentia um nó na garganta, maior ainda por se considerar responsável pelo sofrimento dela.


Pegou um mapa da Inglaterra, porque pelo que Reed dissera ele teria que encontrar o povoado de St. Mary Mead, foi para a rua e alçou voo. Era madrugada de lua cheia, clara, sem nuvens, mas ele tampouco pensou em usar um feitiço da desilusão. Empregou toda a velocidade da sua Cleansweep e chegou logo ao tal povoado.


Seguindo as indicações de Wilfred, Ron caminhou cem metros a noroeste do povoado, para dentro do campo, com auxílio do feitiço dos quatro pontos. O poeta não mentira e nem errara: precisamente ao lado de uma pedra grande e redonda, havia uma aparente toca de coelhos, ou raposas, ou animais do tipo. Ron entrou ali e acendeu a varinha. Caminhou alguns metros de gatinhas, até chegar numa espécie de galeria onde o túnel de alargava. Aí ele se bifurcava, virando uma das partes para a direita – mas Ron seguiu em frente, como indicado. Andou por muito tempo, o mais rápido que conseguia. O túnel inclinava-se para baixo. Daí a pouco se bifurcou de novo e Ron virou a direita. Andou mais um pouco e enxergou uma fileira de janelas altas, bem pequenas e gradeadas. Correu para elas e pôs-se a escutar em uma por uma, procurando sinais de Hermione. Lá pela quinta janela, escutou o som de uma respiração pesada e murmúrios.


— Hermione? – chamou, baixinho. Teve resmungos por resposta:


— Já disse que não sou Hermione, meu nome é Marieta, Marieta Edgecombie! – choramingou a prisioneira. Ron reconheceu sua voz.


— Hermione, sou eu, Ron! – sussurrou, pressuroso. – Aqui na janela, Hermi, olhe! – ele pendurou-se na janela e passou a mão esquerda pelas grades. Houve um ruído de alguma coisa sendo arrastada e Hermione pegou a mão dele.


— Ron, querido, eles vão me matar! Descobriram quem sou, eu tentei não beber água, tentei, mas já estava morrendo de sede. Foi Veritasserum. A última vez que estiveram aqui, disseram que iam me matar amanhã, porque eu sou a primeira nascida trouxa que eles executam e querem fazer uma cerimônia! – contou a garota, rapidamente, desesperada. Sua voz estava rouca e fraca, como se viesse de muito longe. O coração do rapaz quase saltou pela boca, suas têmporas latejavam. Ele apertou a mão dela.


— Fique calma, eu estou aqui, não vou deixar ninguém tocar em você. Vou ter que te deixar por um instante, mas em no máximo quinze minutos eu te tiro daí – ela relutou em soltá-lo. Assim que o fez, ele correu de volta para o túnel principal. Ainda pôde ouvir o murmúrio de Hermione.


— Ron, cuidado!


Ele correu como louco o que faltava e começou a subir. Logo o túnel aplainou e terminou em uma porta. O rapaz abriu-a com um toque da varinha e saiu no tal vestíbulo, que estava escuro e silencioso. Examinando o mapa de Reed, descobriu a porta que dava para as masmorras e desceu a escada com a maior rapidez possível sem fazer barulho. Correu até a quinta porta de uma vez e bateu. Hermione perguntou de dentro, hesitante:


— Quem está aí?


Ron não respondeu, tentou abrir a porta com feitiço mas não deu. Frustrado, ele chamou:


— Accio chaves! – um minuto depois, um molho de chaves vinha voando em direção a ele. Se soubesse que seria tão fácil ele teria tentado isso primeiro. Ron pegou-as e foi testando uma após outra na fechadura, impaciente. Por sorte, a terceira abriu. Ele entrou na cela. Hermione estava encolhida em um canto. Fitava a porta, apreensiva, a respiração suspensa. Deu um longo suspiro quando Ron entrou. Ela estava um fantasma, muito magra, pálida quase até a transparência e descabelada; nitidamente fraca.


— Graças a Deus! – suspirou.


Ronald correu a ajoelhar-se ao lado dela.


— Você está bem? – perguntou, afastando os cabelos do rosto dela. Hermione cerrou os olhos e fez que sim com a cabeça. Abriu a boca para acrescentar alguma coisa, mas Ron interrompeu-a: – Conversamos depois; antes temos que sair deste lugar.


O rapaz tomou-a nos braços, e assustou-se por achá-la tão leve. Saiu rápido da cela e ia levando-a embora quando Hermione disse:


— Espera; vamos ver se há alguém nas outras celas.


Havia oito celas; Hermione ocupara a quinta; Ron sabia que nas quatro primeiras não havia ninguém. Bateu nas três restantes e descobriu-as vazias. Correu com Hermione até o vestíbulo, mas lá ela o deteve novamente.


— Ron, eu queria minha varinha... – ela pediu, timidamente.


Ele sabia que era arriscado permanecer mais tempo ali, mas podia entender o pedido. Apontando a varinha para o alto, tentou:


— Accio varinhas! Accio câmera! – lembrando das coisas que Reed também deixara lá.


Cinco varinhas vieram voando pela escada que dava para o alto da casa, seguidas de duas câmeras fotográficas bruxas. Ron pegou dentre elas a varinha de Hermione e perguntou qual era a de Reed, e qual sua câmera, pegando-as logo em seguida. Teria sido mais esperto levar tudo de uma vez, para deixar os outros desarmados, mas Ron e Hermione estavam muito tensos para pensar o óbvio. Uma luz acendeu-se no primeiro patamar e ele ouviram passos.


Ron disparou passagem abaixo, carregando Hermione. Vinham em seu encalço. Acertaram um ou dois feitiços nas paredes do túnel; Hermione jogou um neles também, apesar da fraqueza. Ron pegou do bolso um saquinho e derramou seu conteúdo por cima do ombro; era Pó Peruano de Escuridão Instantânea – seus perseguidores foram imersos em trevas. Por precaução, Ron ainda lançou atrás de si mais uns dois ou três feitiços escudo.


Saindo da passagem o mais rápido que conseguia (não deu para carregar a garota no trecho mais baixo), Ron apanhou a vassoura que ficara na entrada e achou melhor aparatar com Hermione. Apertando a esposa nos braços, foi parar num beco escuro. Ela só então falou novamente.


— Pra onde está me levando?


— Para a casa dos seus pais – isso parecera muito natural a ele desde o começo. Era de lá que ela tinha saído antes de ser capturada, por certo desejaria voltar pra lá. Mas não.


— Eu quero ir com você... pra nossa casa... Watton-at-Stone – ela disse, com firmeza, apesar de num fio de voz. Ron sentiu um formigamento de felicidade da cabeça aos pés. Anuiu, com voz trêmula:


— Ok – e desaparatou. Já eram cinco horas da manhã, não demoraria a amanhecer. O rapaz, chegando em casa, carregou a esposa fraca para o quarto e depositou-a na cama. Tirando os sapatos dela e ajudando-a a tirar o casaco, murmurou:

 


— Descanse, agora – e cobriu-a com delicadeza. Fez menção de se retirar, mas Hermione o deteve segurando sua mão.

— Você é... o melhor marido que alguém poderia ter. Eu te amo – murmurou ela, com visível esforço. Ron saiu do quarto, feliz e aliviado. Deitou-se no sofá da sala e dormiu até as oito da manhã, quando acordou para ir ao trabalho. 

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