O Esconderijo



Kevin subiu as escadas e foi para o seu quarto. Sentou em sua cama e pegou o álbum debaixo da cama. Folheou as últimas páginas, olhou foto por foto até encontrar uma outra que ele ficou com vontade de ver. Era uma bela foto: ele, Nathan e seus pais estavam em passeio a um parque de diversões. Nathan segurava um grande panda de pelúcia e Kevin segurava um pequeno chocalho.

Naquela época, Kevin devia ter dois ou três anos. Era triste para Kevin, saber que os melhores momentos de sua vida estavam distantes no passado. Claro que ele era um garoto triste. Havia perdido tantas coisas na vida, que já esquecera o verdadeiro sentido de vencer. Kevin abraçou o álbum de fotografias e começou a chorar silenciosamente. Ninguém era obrigado a sentir o mesmo que ele.

De repente, a porta de seu quarto abriu. Em um só impulso, Kevin amarrotou o álbum nas cobertas e limpou o rosto, cheio de lágrimas.

-Kevin. - era Nathan. - Eu... Vim dar boa noite... Durma bem. -Boa noite, Nathan. - sua voz estava trêmula. - Obrigado pelo bolo.

Nathan sorriu e logo, fechou a porta.

Kevin levantou de sua cama e se olhou no espelho que havia na parede do quarto. Ficou se olhando: ele era parecido com Nathan, mas seus olhos tinham cores mais claras e ele possuía muitas olheiras.

Ele desceu as escadas e viu que Nathan já estava dormindo. ( Nathan sempre dormia no sofá, já que ele dera seu quarto para Kevin). Kevin não pensou duas vezes. Pegou as chaves de Nathan e saiu de casa. Kevin e seu pai tinham um "esconderijo" perto do parque do bairro, era casinha de madeira abandonada, onde os dois haviam encontrado e decidido ser o cantinho para eles papearem. A casinha era enfeitada, pintada de azul claro e dentro, havia bonecos, que Kevin gostava tanto de brincar.

Mesmo depois dele ter morrido, Kevin continuava a frequentar a casinha, apenas para relembrar os momentos bons. Kevin já havia passado pelo parque e logo, estaria chegando ao esconderijo. E lá estava ele: um pouco danificado pelas chuvas que ocorriam nos últimos dias, mas não estava feio.

De repente, Kevin sentiu um leve aperto no peito.
_______________________________________________________________________________________________

Nathan havia acordado a poucos minutos, devido a um pesadelo. Ele já estava acostumado com pesadelos, já que eram quase toda noite. E sempre com o mesmo sentido, que Nathan nunca revelou pra ninguém.

Bebia seu chá, sentado na mesa da cozinha. Ele estava envolvido no seu único cobertor, que ele gostava tanto. Nathan sempre arrumava algum tempo para pensar em seus pesadelos. O seu maior segredo estava envolvido no sentido daqueles pesadelos. E isso era algo torturante. 

A cada gole do chá que estava muit quente, ele olhava para o vaso de flores murchas de cima da mesa. A cada dia, uma pétala caía. 

Então, Nathan ouviu um estrondo. 

Não soube decifrar de onde vinha o barulho. Largou o cobertor no chão e foi para o quarto da mãe, mas quando chegou, viu que ela estava dormindo. Então Nathan subiu as escadas, pensando que o barulho poderia ter vindo do quarto do irmão. Chegando lá, ofegante, tomou um tremendo susto ao ver que ele não estava ali.

"Como ele sumiu? Será que dormi por muito tempo?" - pensou.

A cama de Kevi estava amarrotada de cobertas, e Nathan tirou no meio daquela confusão, um album de fotografias, que estava aberto em uma página em especial. Fazia tempo que Nathan não via aquele albúm, na verdade, muitos anos.

Na página aberta, uma foto estava com gotas de água ( surpreendentemente, Nathan adivinhou serem lágrimas ), a foto era quando toda a família estava em um parque de diversões. Logo, Nathan notou o quanto Kevin sentia falta daquela época. Ele pensou em chorar, mas não tinha tempo: precisava encontrar seu irmão e saber de onde havia vindo aquele estrondo. 

"Ótimo, Kevin fugiu. Aquele barulho devia ter sido ele, batendo a porta!" - a mente de Nathan se revirava, com tantas preocupações. 

Novamente, outro estrondo. 

"Ele voltou!" -disse para si mesmo.

Desceu as escadas correndo, mas sem fazer barulho. Ele olhou rápido: algo acabara de abrir a porta dos fundos da casa. Mas algo disse para Nathan que não era Kevin, não era coisa boa. 
Nathan correu para atrás do sofá, totalmente nervoso. Ele escutou um guincho, e depois outro e depois outro. O som parecia chegar cada vez mais perto. Nathan se encolheu. Ele sentiu garras fincando suas costas. 

Em um só impulso, Nathan se levantou e bateu as costas na parede, fazendo as garras o soltarem. Ele olhou para trás e tomou um susto: era uma criatura medonha, lembrava um esquilo um pouco maior, era preto e tinha dentes grandes, havia garras ao invés de pés. A criatura colocava as patas na cabeça, e voltava a guinchar. Ela abriu seus olhos vermelhos e lançou um olhar furioso para Nathan. 
Nathan correu para perto de um armarinho, abriu a gaveta e tirou uma lanterna dali. Voltou para a criatura e a golpeou na cabeça com a lanterna. A criatura foi lançada para o outro lado da sala. 
Nathan se aproximava lentamente do corpo da criatura, que parecia estar desmaiada. Quando estava a um passo de distância, ergueu a lanterna, caso a criatura atacasse. Ela não se movia. 

O pior de tudo era que Nathan, de certa forma, sabia o que era aquilo. A criatura sempre aparecia nos seus pesadelos. Nathan sabia que ela estava relacionada com a magia, com o mundo bruxo. Nathan sabia que tudo aquilo era real. Ele mordeus os lábios. 

"Meu Deus... Onde está Kevin?" - Nathan pensava. - "Essa criatura fez alguma coisa com ele?"  

-Droga. Droga. Droga. - murmurava Nathan. 

A criatura guinchou. 

De alguma forma que Nathan não soubera explicar, a criatura correu para um canto e abriu asas enormes, parecidas com as de um morcego. Ela começou a voar com dificuldade, em direção a Nathan. 
Nathan começou a dar passos para trás, sempre com a lanterna erguida. 

-Onde está Kevin Frake? - berrou a criatura. 


Por um instante, Nathan se entiu aliviado, pois a criatura não havia feito nada com Kevin. Mas ficou preocupado pois a criatura sabia de seu irmão. Mas como?

-Não sei de quem está falando! - mentiu ele, surpreso por causa que a criatura sabia falar.

-Sei que está mentindo. - a criatura voava, cada vez mais próxima de Nathan. - Sei que ele mora aqui!
E você o conhece! Seu cheiro é parecido com o dele... Mas nãoe é ele! Kevin deve ter 11 anos agora! e você tem... 15 anos, não? 

Nathan tentou golpea-la com a lanterna, mas ela desviou e raspou uma das garras na parte direita do rosto dele. O ferimento ardia tanto, que Nathan quase largou a lanterna.

-Vamos ver quem morre primeiro? - disse Nathan.

-Não quero te matar... Quero apenas saber onde Kevin Frake está. Depois que você dizer, não correrá perigo algum.

E Nathan tentou golpea-la novamente, mas não conseguiu.

-CHEGA! - vociferou a criatura. - Se não quer dizer, eu mesmo procuro! - e ela começou a voar pela casa.

Nathan colocou a mão no rosto. Sentiu os três riscos que a criatura havia deixado em seu rosto. Um pouco de sangue pingava, e ardia tanto que Nathan se sentiu fraco demais. Ainda tinha sono, e queria saber onde Kevin estava, antes daquela criatura.

Correu para o quarto da mãe, pois não queria que a criatura encostasse um dedo nela. Tirou a chave debaixo do tapete e trancou o quarto. Agora, ela estaria a salvo. 

-Nathan - era Kevin, ofegante. - Você não sabe o que aconteceu lá fora. 

-KEVIN? - murmurou Nathan, furioso e ao mesmo tempo aliviado. - Onde você estava?

-Olha, sei que sair no meio da noite não foi certo, mas não tenho tempo pra explicar. - dizia Kevin. - Lá fora, perto do parque florestal do bairro... Havia criaturas estranhas. Pareciam esquilos, mas pretos e com asas de morcego, Nathan! 

Então a criatura reapareceu, vindo do andar de cima.

-Kevin Frake. - disse a criatura. - Então você está aí. 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Dani_Ela

    Acompanhando e adorando a fic! E cá estou eu aqui, morrendo de pena do Kevin! ;( Ótima história, viu? Esperando próximos capítulos...Dani. 

    2013-07-01
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.