Capítulo Único



1 de Setembro –


 


“Summer has come and passed 
The innocent can never last 
Wake me up when September ends”


 


As primeiras tardes do mês de setembro sempre eram deprimentes a ela. Não sabia se era o vento frio, que soprava devagar e farfalhava as folhas do chão, ou o sol, que justamente naquele dia, parecia que nunca saía em sua magnitude total, deixando o dia morbidamente nebuloso. Rony também odiava aquele céu, mas por motivos bem distintos dos dela; ele não achava que os jovens e promissores alunos da Grifinória seriam capaz de treinar naquelas condições.


Muitos diziam que Hermione Granger havia se tornado uma pessoa fria e amarga, que não tinha prazer em sorrir. Na visão dela, algo completamente equivocado. Aquelas características se encaixavam bem em pessoas como Snape, por exemplo. Era bem verdade que ela não tinha o bom humor de outrora, contudo, sempre ria de uma piada bem colocada de Rony, ou quando se lembrava de uma situação engraçada de Harry, ou mesmo quando percebia uma inteligência fora do comum em alguns de seus alunos. O que ela não tinha era humor para as pequenas casualidades do dia, como o seu querido marido, que era capaz de voar em quaisquer condições metereológicas, pois era o único momento que ele realmente se sentia paz. Não tinha paciência para burocracias que nem mesmo entendia, como a principal cerimônia de Hogwarts, o primeiro ano letivo, onde os novos bruxinhos eram designados às quatro casas de Hogwarts.


Ao invés disso, Ron ia no seu lugar, afinal, ele também era professor de Hogwarts, e nem uma pessoa sequer seria capaz de sentir sua falta. Talvez Harry sentiria.


Seu quarto, graças ao bom Mérlin, era um dos melhores de Hogwarts. Bem iluminado e arejado, deixando todos os fantasmas - inclusive os de seu passado - da porta para fora. Certa vez, Ron havia tentado estragar tudo com aqueles pôsteres do Chudley Cannons. Ela já tentaram arrancar aquelas coisas horrendas, mas com o passar dos anos, Ron se tornara quase um especialista em feitiços anti-removedores. Culpa de Fred e Jorge, provavelmente.


Os olhos de Hermione permaneciam vermelhos, resquício da última discussão com Ron. Como seu marido tolo não entendia que ela não sentia a vontade em festas? Por que ele sempre tinha que insistir e o resultado era exatamente o mesmo durante todos aqueles anos? Não via graça nenhuma em permanecer em festividades que eram exatamente iguais de ano em ano, ainda mais quando ela não tinha motivo nenhum para comemorar. Era primeiro de setembro e por mais que fosse uma data feliz em Hogwarts, para Hermione era uma data de luto eterno, o dia do ano em que a morena se dedicava apenas a uma coisa: se lembrar de Harry. Por outro lado, Rony parecia muito capaz de esquecer que aquele dia, o dia em que Hogwarts se enchia de almas novas, era o dia que a alma mais importante do mundo partira.


Ignorando os pôsteres estúpidos, e ignorando até seu marido estúpido, Hermione arrumou uma última vez seus livros. Gostava que eles estivessem em perfeita simetria. Cuidadosamente, escolheu o livro que se encontrava embaixo de todos os outros e o tirou da pilha, sem desarrumar.


Hogwarts: uma história.


Horrivelmente clichê, e uma leitura por vezes repetida, mas a fazia relembrar tanto dos bons momentos que vivera entre as paredes daquele castelo, quando ela era feliz de verdade, com Harry e Rony, que, naquele dia, ele se tornava indispensável.


Dirigiu-se para a cama, deixando duas velas acesas em sua mesa de cabeceira. Sentada ali, com o livro pesado apoiado nas pernas, sentiu uma nostalgia nada gostosa. Passou a mão sobre a capa levemente empoeirada, suspirando.
Tomou coragem, e o abriu.


O capítulo não poderia ser mais apropriado. “Os grandes segredos e mistérios do castelo”. Ela sabia exatamente o que viria depois... Insinuações sobre a briga de Salazar e Godric, o posicionamento das fundadoras das outras duas casas, e por fim, a Câmara Secreta.


Pulou as páginas até as ilustrações da suporta Câmara, e viu anotações nos versos com a sua própria letra. Com os olhos cansados pela idade, teve que aproximar o livro de seu rosto, tentando fazer as letras entraram em foco.


Assim que o fez, um papel escorregou de dentro das páginas, flutuando levemente no ar e caindo na cama. Sua mão voou até o objeto, ávida. Era só uma foto. Boba, feliz, antiga, ela, Harry e Ron. Apenas uma foto, uma foto dolorosa de uma lembraça feliz.


Ouviu uma voz dentro de sua cabeça. Para sua decepção, não era a de Harry, e sim a de Rony. Podia distinguir cada sílaba perfeitamente. “Harry não ia gostar que você deixasse de participar da cerimonia de boas-vindas aos calouros, Hermione. Sim, não faça essa cara, eu sei que dia é hoje, eu sei que foi nesse dia que ele... Eu sei disso, mas fazem 19 anos, Hermione. Vamos. Você não precisa deixar de se divertir. Ele não ia querer isso. Harry ia querer que você fosse”.


Hermione era realmente uma mulher simples. Talvez fosse por isso que Harry tinha se interessado por ela. Num curto espaço de tempo se arrumou para a festa e não perdeu tempo em sair do quarto.


Hermione foi decendo pelas escadas lentamente. Uma parte de sua mente parecia duvidar que a morena seguia em direção a festa, sua mão estava suada e trêmula, a maquiagem era simples, o cheiro de seu perfume era suave, como todos os dias. Sequer sabia se estava bonita. Harry diria que ela estava linda e aquele pensamento lhe confortou, fazendo com que Hermione seguisse adiante.


Estava no último degrau da longa escadaria que ligava o longo corredor ao salão principal de Hogwarts, quando algo aconteceu. Um garoto magricela, de olhos verdes intensos e óculos redondos saiu do banheiro e caminhava em direção a festa. Não antes de lançar um olhar travesso e um sorriso singelo para Hermione.


Um frio correu pela espinha da melhor amiga de Harry. Ao menos o garoto não tinha qualquer cicatriz visível na testa.


– Ei, garoto! – chamou Hermione.


O calouro continuou seu caminho, se perdendo no barulho da algazarra proveniente do salão principal.


– Calouro! – gritou Hermione, andando a passos largos em direção ao garoto.


O menino se virou, um pouco alarmado, com o olhar de culpado. Não encarou Hermione, voltando seu olhar para o chão. A morena observou que o calourorinho tremia. Era, definitivamente, a cara do seu Harry.


– Se acalme, - disse Hermione, tentando ser simpática, - pode me dizer o seu nome? Por favor? – acrescentou.


O rosto do menino se encheu de alegria.


– Tom, - respondeu o garoto. – Meu nome é Tom.


Um vento gelado percorreu o estômago de Hermione.


– Tom? – repetiu Hermione.


O menino confirmou com a cabeça.


– Sim, sim. Tom Evans.


Se era possível, a sensação de Hermione piorou. Uma sensação de que estavam brincando com ela. Aquilo não era possível. Quais as possibilidades?


– Professora? Está tudo bem? A senhora é professora, não é?


Hermione voltou a si com certa dificuldade.


– Sou sim, - confirmou Hermione. – E estou bem sim, Tom. Obrigado por perguntar. É que você me lembra muito alguém.


– Espero que seja alguém querido, - disse Tom sorrindo.


Pela primeira vez, depois de muitos primeiros de setembro, Hermione sorriu sinceramente.


– Pode apostar que sim. Agora pode ir e aproveitar a festa.


O calourinho lançou um olhar recheado de curiosidade e alegria para Hermione e saiu correndo pelo corredor.


Uma corrente de novas energias perpassou pelo corpo de Hermione. Ela somou dois mais dois tão bem como Snape. Não poderia ser apenas coincidências. Aliás, Hermione não acreditava em coincidências. Tudo ocorria por alguma razão. Tinha que ir até a festa, simples assim.


Cada passo que dava ecoava em seus ouvidos, era como uma faca fincando seu coração. Colocou a mão sobre a porta. Repentinamente, Hermione sentiu um calor proveniente de lugar algum. A imagem de Harry sorrindo surgiu em sua frente, e a professora de Transformações jurou ter escutado um cochicho ao seu ouvido, lhe dando forças.


Hermione se virou com rapidez, procurando por Harry. O corredor estava vazio. Devia ter imaginado.


Com confiança e afinco, Hermione entrou no salão principal. Algumas cabeças se viraram para ela, embora a festa não tenha parado, embora os risos não tenham cessado. Ela não era Harry, que tinha aquela mania de calar multidões meramente com sua presença.


Com o canto dos olhos, percebeu que alguns alunos apontavam para ela deliberadamente. Caminhou alguns metros quando o primeiro conhecido lhe abordou. Era Neville Longbottom, agora professor de Herbologia.


– Que boa surpresa, Hermione.


A morena lhe retribuiu com um sorriso tímido que não perdurou dois segundos, seguindo seu caminho até a mesa dos professores. Logo percebeu o longa risada de Hagrid, os olhos de besouro colecionavam alegria por ver Hermione prestigiando a festa de inauguração do ano letivo. Até mesmo a diretora de Hogwarts, Minerva McGonagall, concedeu um sorriso surpreso a sua antiga aluna, ao vê-la por ali.


Contudo, Hermione logo arrependeu. Nos vinte minutos que permaneceu no salão, ficou perplexa com a ação de seu marido, que ao vê-la, acenou alegremente, mas o traste nem se deu ao trabalho de levantar da mesa da Grifinória, onde colecionava olhares dos admiradores do quadribol e das garotas interesseiras, para dar um abraço ou qualquer outro sinal de alegria por ver Hermione ali.


Trocou poucas palavras com Neville, algum diálogo com Hagrid e permaneceu ao lado de Minerva por mais algum tempo, esta parecia entender a vontade de Hermione sair dali. Hora de voltar para os seus aposentos antes que a primeira lágrima saltasse de seus olhos.


Dando uma desculpa, se levantou discretamente em direção a saída. Como gostaria de estar na posse da capa da invisibilidade de Harry naquela hora. Por pouco não voltou correndo para o quarto. Sentiu que algo interno tentava acalmá-la, em vão. Sua raiva era impermeável.


19 anos.


19 anos e centenas de noites mal dormidas, pensando sobre o mesmo assunto incontáveis vezes, revendo cada momento. Todos os dias, tudo que ela esperava era acordar e se deparar com o fantasma de Harry. Ou ouvir sua voz, ou qualquer rastro da sua existência, qualquer minimo detalhe que refrescasse sua memória e aplacasse sua saudade.


E agora, quando uma foto antiga aparece no seu livro favorito e um simples calouro que parece com o seu antigo amigo surge a sua frente, ela não consegue nem se controlar. Não, não estava preparada para aquilo, nunca estaria. Ver Rony se exibindo daquela maneira e sem lhe dar um minuto de atenção só piorou as coisas.


Hermione se acomodou sobre sua poltrona favorita. Sair dali, naquele dia, fora tolice. Para que? Para observar Rony se empanturrando com a comida do banquete, conversando com as alunas do sétimo ano e rindo tolamente para elas, enquanto desarrumava o próprio cabelo? Para desonrar a memória de Harry?


19 anos.


Estava eufórica. Seu coração batia tão forte que ela sentia que ele iria saltar-lhe pela boca. Se levantou e encostrou na porta, sentindo a umidade da madeira nas palmas das mãos.


Queria chorar, a dor lhe sufocava. Fechou os punhos, descontando as frustrações nas próprias articulações. Os nós dos seus dedos rapidamente perderam a vida, e suas unhas feriam a pele delicada de suas mãos.


– Sabe, assim você vai sangrar, e você não lida muito bem com sangue, lembra-se?


Aquela voz. Um calor encheu o peito de Hermione. O quarto parecia mais aconchegante do que nunca.


Hermione procurou se segurar em algo, entretanto não encontrou nada que pudesse se segurar. Seu coração disparou. Olhou a sua volta e lá estava ele. O mesmo sorriso, o rosto ainda jovial, o óculos, a cicatriz, o moletom vermelho que ela tinha dado de presente. Era ele mesmo, não havia dúvida. Ela olhou a sua volta mais uma vez. Se sentia jovem novamente. Aquilo sim parecia magia.


– Har-Harry? – perguntou uma Hermione abobada. Uma lágrima de felicidade escorreu pela sua bochecha.


O moreno veio andando calmamente até ela, como se tivesse todo o tempo disponível, como se o próprio mundo tivesse parado. Ergueu levemente a mão, e com as costas do membro, limpou a lágrima de Hermione. Os olhos da mulher se fecharam ao toque.


– É muito bom escutar a sua voz me chamando com essa intensidade, Hermione.


Outra lágrima escorreu. Os olhos de Hermione se abriram.


– É você mesmo? – perguntou Hermione.


Harry sorriu com mais força.


– Me abrace e você terá certeza.


Era o estímulo que ela precisava. Abraçou com força o seu melhor amigo. Sentiu a mão de Harry passando pelas suas costas.


– É você mesmo, - confirmou Hermione.


Dezenove anos haviam passado, mas aquele abraço... bom, aquele abraço ela jamais esquecera. E o cheiro? Até o cheiro permanecia idêntico. Dizer que era bom demais para ser verdade seria uma mentira desvairada. Harry estar ali lhe dando um abraço era perfeito demais para vir acontecer.


Hermione afastou ligeiramente de Harry e voltou a lhe encarar. Como ela amava aqueles olhos verdes, como ela amava tudo nele, como ela sentia sua falta. As palavras pareciam boicotar Hermione, que ainda tinha um olhar sonhador e bobo ao mesmo tempo. Harry, então a guiou pela mão, ela se sentou na cama e ele com um leve gesto com sua mão e sem nenhuma varinha a vista, fez uma cadeira confortável aparecer do infinto, sentando defronte a sua amada, encarando aquela íris castanha com toda a ternura que dispunha.


– E então? Não vai falar nada? – indagou Harry com simplicidade, o sorriso se alargando.


Hermione engasgou. Dizer o que? Ela esperava por aquele encontro há quase vinte anos.


– Vo... você... você está morto? – perguntou criando coragem. – Você não é um fantasma? Por que não apareceu antes? Como ainda pode fazer mágicas? Por que não mandou sequer um sinal? Você sabe o tanto que eu senti a sua falta? Você sabia das loucuras que passaram pela minha cabeça? Você veio me buscar? – finalizou esperançosa.


Lágrimas de alegria e frustração se fundiam e banhavam a face de Hermione.


Percebendo a tristeza da amiga, Harry puxou a cadeira para mais perto de Hermione e começou a lhe acariciar os cabelos. Um peso imenso parecia sair das costas da morena, que aos poucos ia se acalmando, mesmo contra a sua vontade. Era isso que Rony nunca aprenderia, fazê-la aplacar as frustrações nos momentos que ela mais precisava. E Harry conseguia com apenas um toque.


– Eu estou morto Hermione, nada pode mudar isso, essa foi a minha decisão, - começou Harry, - e não, eu não sou um fantasma, felizmente. Como você bem sabe, apenas bruxos puro sangue podem se tornar fantasmas e eu nunca tive medo de seguir adiante. Por mais que uma grande parte de mim tenha ficado para trás, com você, - disse Harry colocando a mão sobre o coração de Hermione.


Hermione deu um sorriso bobo. Estando morto ou não, Harry ainda conseguia sensibilizá-la como nenhuma outra pessoa conseguia, com aquela doçura fora do comum.


– Então o que...


– Eu sou exatamente? – completou Harry pensativo. – É uma ótima pergunta, embora eu não saiba como te responder. Pelo que Alvo me explicou e não cansa de me explicar, eu posso realmente vir até o mundo dos vivos com minha forma, mesmo estando morto, por causa do poder da minha mãe: a capacidade de amar. Segundo Alvo, - continuou Harry, agora corando um pouco, - essa capacidade de amar associado aos meus sentimentos por você, me dão essa capacidade. Então, como pode ver, eu não sei exatamente o que sou, posso dizer que, eu sou um idiota que posso vagar por onde quero e não sou um fantasma ou um inferi. Entende? A minha explicação, é um pouco diferente de Alvo. Eu preciso ver você. Simples. Não sei porque outros não tem essa capacidade, acho que a culpa é toda sua.


– Como sempre, você é único, - respondeu Hermione rindo, completamente vermelha. Vermelha de felicidade e de vergonha. Nunca alguém havia se delcarado para ela daquela forma.


Harry passou a mão pela face da amiga mais uma vez. E a cada toque do menino-que-sobreviveu, Hermione parecia rejuvenescer ainda mais.


– Eu amo você, - disse Hermione.


Harry balançou a cabeça confirmando.


– É, isso eu sei, é bom escutar isso quase todos os dias, - disse Harry rindo.


Hermione lhe deu um tapa no braço.


– Eu só gostaria de passar por essa dimensão, assim como você faz, - confidenciou ela.


– Não deseje isso, - disse Harry, o sorriso se resetando. – Bem, hora de responder  a sua segunda pergunta: o porquê de não ter aparecido antes.


Ele fez uma pausa e encarou-lhe ainda mais profundamente.


– Eu estou sempre por aqui, Mione. Sempre. Sempre ao seu lado. Assim como você sempre ficou ao meu lado. Eu vejo você dormindo todos os dias, acompanho suas aulas e não perco uma palavra, estou perto de você mesmo quando você reclama do tempo de setembro e quando você chora pelo comportamento de Ron e estive sussurando ao seu ouvido, te dando forças para você ir a festa. Eu nunca deixei de estar ao seu lado, mas ao mesmo tempo que você deseja a minha presença, você se fecha para que eu não apareça. Apareci agora porque você estava acabando comigo, é muito duro pra mim ver você sofrendo dessa maneira. O combustível que me traz até aqui é ver você feliz, ver você sorrindo, dando suas risadas, ensinando magia aos bruxos e se divertir com isso. E você tem feito cada vez menos. Se martirizando de uma forma desnecessária. Ainda que seja por minha causa, você acaba comigo quando fica triste. Para mim não há nada mais belo que o seu sorriso, Mione.


Harry suspirou antes de continuar.


– Do mesmo modo que você sentiu minha falta, eu também senti a sua, caso contrário, eu não estaria aqui. E em todos os momentos que você tinha a vontade de fazer uma loucura, eu estava por perto e te abraçava, tentando te acalmar.


Hermione arregalou os olhos. Agora ela sabia o motivo daquela sensação de conforto quando sentia que ia fazer o pior.


– E sobre a sua última pergunta, por que eu posso fazer mágicas? Talvez por que mesmo morto, eu continuo sendo um bruxo e minha melhor amiga me tornou um bruxo competente, certo?


Mais uma vez Hermione riu. Não conseguia se aguentar, estava feliz, como há muito não ficava.


– Eu vou sorrir do jeito que você gosta. Eu vou. É só me levar para junto de você, Harry, - respondeu Hermione. – Se o seu lugar é ao meu lado, nada mais natural que eu também esteja ao seu. Me leve com você. Aí sim, eu seria eternamente feliz.


A face de Harry se entristeceu e ele encarou o chão por alguns minutos. Parecia lutar contra si mesmo. Hermione se lembrou de como Harry era inseguro na infância. De repente um sorriso forte surgiu na boca do garoto e Harry segurou o queixo de Hermione.


– Eu adoraria, porém não posso. Existem coisas que você precisa aprender, Mione. E é principalmente por isso que eu estou aqui, por mais que isso possa parecer incrível e que a minha simples presença é passível de quebrar as leis da magia e do universo.


“O fato de eu amar tanto o seu sorriso me fez perceber algo inaceitável: você quase não sorri mais, Hermione. Eu sei que existem coisas que estão na sua dimensão, ao seu alcance que podem te fazer feliz. Eu sei que Ron às vezes tenta. Sei que você se priva, sei que você não se permite ser feliz...”


Hermione avançou e deu um beijo na face de Harry. Por um momento Harry hesitou. Depois, sorriu novamente para a mulher rejuvenescida a sua frente.


''Eu quero que você seja feliz, Hermione. Eu estou bem. Eu não preciso que você perca suas noites de sono pensando em como poderia me salvar, eu não preciso que você se prive de ser feliz, de sorrir, de seguir sua vida, eu não preciso que você procure por mim, porque eu sempre estarei aqui, do seu lado. Não se engane, isso é tão difícil pra mim quanto é pra você e eu sinto que nunca superarei isso. Eu nunca vou suportar não ter você, mas você precisa superar, por você, e por mim, porque você está viva e eu estou morto. Você tem vida pela sua frente, e desde que você seja feliz, eu estarei tranquilo. E tenha certeza, minha Mione, que ao chegar a sua hora, eu vou estar te esperando."


Lágrimas jorravam pela face de Hermione. Harry abraçou a amiga, o suficiente para fazê-la sentir melhor.


– Você está certo, Harry. Me desculpe.


As mãos de Harry escorreram pelas costas de Hermione.


– Você não precisa se desculpar, Mione. no seu lugar eu estaria do mesmo jeito e no meu lugar, você estaria me dando os mesmos conselhos.


Hermione sorriu.


– Nisso você tem razão.


Harry soltou Hermione, ela continuava a sorrir. Isso animou e muito a Harry Potter, era para vê-la sorrir que ele estava ali.


– Eu amo você, Hermione. Continue sorrindo, assim estarei em paz.


O garoto se levantou, Hermione sabia o que vinha a seguir.


– Você já vai?


Harry confirmou com a cabeça.


– Eu preciso ir, eu estou me sentindo fraco. Considere a cadeira como um presente para você e para Ron.


Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Hermione avançou até o amigo, lançou seus braços em volta do pescoço de Harry, deu uma última encarada naqueles olhos verdes e lhe beijou com todo carinho. Poderia ter ficado assim pra sempre, mas infelizmente, para sempre, sempre acaba.


Quando se soltaram, Harry observou que Hermione tinha um largo sorriso no rosto. Como ela era linda.


– Adeus, Hermione.


Hermione deu um passo na frente.


– Quando vou te ver de novo? Quando vou conversar com você novamente?


Harry deu uma risadinha.


– Eu já te disse, eu estou sempre ao seu lado, estou sempre escutando você, por mais que você não me veja, você sente minha presença. Para você me ver, basta que você abra sua mente, seu coração e me encontre.


– Como?


Harry deu as costas para a sua amiga.


– Você sabe como. Mande lembranças ao Ron, diga a ele que eu não perco nenhuma das piadas dele. Não se esqueça jamais: sempre ao seu lado.


Do mesmo modo que chegou, Harry havia partido. Em silêncio e discretamente. Outra lágrima escorria pelo rosto de Hermione, esta, contudo, não era de tristeza, era sim de alegria. O sorriso que Harry tanto amava brotou ainda mais largo no rosto de Hermione.


– Muito obrigado pela visita, Harry. Eu também amo você, - disse Hermione, sabendo que onde quer que Harry estivesse, ele estaria sempre escutando, ele estaria sempre presente.


No dia seguinte, Hermione acordou cedo e chamou seu marido preguiçoso. A alegria de Hermione era tamanha que Ron acompanhou a esposa, mesmo que o sono ainda pedisse que ele voltasse a dormir. Juntos, Hermione e Ron foram até o túmulo de Harry, localizado ao lado do túmulo de Dumbledore, ali mesmo em Hogwarts.


Com apenas um gesto de sua varinha, Hermione conjurou orquídeas, da mesma forma que tinha conjurado quando visitara o túmulo dos pais de Harry, naquela desastrosa ida a Godric’s Hollow durante a segunda guerra. Hermione sabia que Harry gostava muito de orquídeas desde então.


Quando voltaram para o café da manhã no castelo, Hermione observou que Ron estava calado.


– Você está bem? – indagou Hermione sorrindo.


Ron voltou seu olhar para ela.


– Estou. Acho que Harry deve estar muito feliz com a nossa visita.


Hermione riu.


– Sim, ele está. Eu sei que está.


Hermione mudou completamente. As aulas sempre rígidas, agora eram divertidas e os alunos se perguntavam o motivo da excelente professora olhar tanto para cantos vazios da sala e dar sorrisos que hipnotizavam os alunos e dava certa inveja as alunas. A sua ausência nos jogos de quadribol não ocorria mais, ela sempre ia nos jogos da Grifinória e às vezes, levantava sua cabeça para além do apanhador, como se enxergasse ali, algo que os meros mortais não podiam ver.


Os primeiros de setembro seguintes da vida de Hermione, não eram mais sombrios. Ela não se permetia sentir a dor do luto, como prometido. Lembrava de Harry em cada ato, em cada ensinamento  e em cada sorriso, sabendo que ele estava nas proximidades, feliz por ela estar bem. Lembraria de Harry com um sorriso saudoso e celebraria a sua vida, e não a sua morte. Voltou a participar dos eventos sociais de Hogwarts, aplaudia os novos alunos, e sentava com Ron e os alunos veteranos, escutava os casos de Hagrid e ria das trapalhadas de Neville. E Hermione sabia que onde quer que estivesse, lá estaria Harry, ao seu lado, mesmo que ela não pudesse vê-lo, ela podia sentir.


E, secretamente, Hermione contava os dias para finalmente se encontrar com o seu grande amor.


 


 


“Wake me up when September ends”


 


 


 


Gente, essa é apenas uma shortfic, escrita há uma semana atrás, numa tentativa de fazer a excepcional escritora Jéssica J a voltar a ativa. Começou com uma brincadeira as 23hs de uma quarta-feira do tipo “Jéssica, vamos escrever uma shortfic agora?” e para a minha surpresa ela topou!


O resultado está aí, a fic só não foi melhor porque a Jéssica não quis escrever a maior parte da fic, deixando a parte de revisão e outras coisas com esta besta que vos fala. Espero que vocês tenham gostado desse pequeno drama.


Um agradecimento especial a Jéssica, a quem eu tanto admiro, não só como escritora, mas também como pessoa! Uma pena ela ter afastado tanto da Floreios! Vocês podem perceber que a parte bem detalhada e bem escrita foi toda proveniente da cabeça dela!!


Todo comentário deixa um autor feliz, seja ele de qual forma for, então, por favor, comentem! 

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Comentários (8)

  • Coveiro

    Otima fic... parabens

    2015-08-14
  • Venatrix

     fic incrivel eu realmente amei.... parabens

    2014-04-06
  • Nina.Potter

    Adorei. Emocionante, sutil, encantadora. Tomara q vc continue escrevendo em rompantes noturnos ;D Bjs

    2014-03-01
  • Helen Black

    História linda é história que da vontade de você mesmo continuá-la <3 (mesmo não tendo nenhum dom que chegue, ao menos, perto da escrita HAHAH). Eu por exemplo odeio dramas, prefiro os finais felizes, afinal... quem gosta de tristeza né? Nem os, extintos, emos creio eu. E sim tenho preconceito, alias, tinha porque eles desapareceram o/ Eram estranhos e pareciam fazer questão de demonstrar que estavam infelizes, onde já se viu gente? Tem que mais é espalhar felicidade por aí mesmo! SER de fato, essencialmente feliz que aí as coisas boas vêm. E OLHA, não foi aquelas das minhas viagens né Tito? hehe Tem total fundamento nessa fic puro amô <3 Hermi precisava voltar a ser feliz, voltar a viver pra que as coisas boas viessem e vieram! *-* Preciso dizer também que essa fic me lembrou "Ps: Eu te amo", claro que não ficou manjado simplesmente porque eu só me dei conta que lembrava o filme depois que já tinha acabado de ler hehe Mas então né, demonstrando o quanto eu gostei dela, eu continuo meu raciocínio inicial que acabei perdendo ao longo das palavras sem muito sentido, então, raciocínio inicial, ok. Odeio dramas, mas esse drama fico no meu core assim como "Ps: Eu te amo" ficou, assim como uma outra fic super foda que eu li por aí também e que eu nao sei o nome... AH LEMBREI! "Recíproco Amor", acho que é isso. Anyway... Foi a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e LINDA! Opinião suspeita mas é de core, até porque se eu nao tivesse gostado eu falava, obvio (ao Tito obvio de novo) Porque dessa vez ele veio com um time BAO DEMAIS DA CONTA! Minha curiosidade me fez ir ver mais sobre essa outra lindona que escreveu a fic e não é que eu me deparo com "DO NOSSO JEITO"? OWNNNNN *-* É muito amor pra uma fic só! Acho que eu nunca comentei na sua fic, o que é um erro horrivelmente horrivel, aceite minha escravidao virtual de bom grado, eu mereço! Se bem que você largou de barriga também né, chega de vive! uahuahahua ALIAS, OS DOIS! Tito fica falando da florzinha mas tá na merda também! Enfim, xo volta pra fic (de novo). O Rony fanfarrão não me incomoda, mesmo incomodando a Hermi, ele é tão... Rony! Que eu nem ligo, é amor demais <3 Eu meio que surtei quando o Harry apareceu em carne, osso e magia, sério. Achei que ia rola um sentimento e fosse aparecer um James baby, tipo o que ela viu no corredor e talz mas ignore hihi Alias, o mini Harry que apareceu foi só os lance de pura magia ou coincidencia? Hmmmm xove, e o Harry né gente, num guento, meu core velho num guenta mais sas coisa! Mas se os 2 quiserem voltar a escreverem suas respectivas fics, eu abro uma exceção =DPra caba porque já deve tá chato bagarai, continuem lindos e fazendo brilhar esse monte de palavras juntas que dão vida a um mundo que eu particularmente sou apaixonada! E um beijo no core dos dois <3PS: Jéssica, desculpa o testamento, mas a culpa é do tito que pediu um comentário mega Helenildo. 

    2013-01-18
  • matthew malfoy

    Simplismente fantástico, incrível como em um único capítulo vocês nos deixam nesse êxtase. O capítulo foi profundo, maravilhoso, harmonioso, no fim das contas foi sensacional.A forma como escreveram mostra como o amor em sua forma mais simples é lindo, o amor dos dois supera qualquer barreira física ou não. Mostrou um outra face de nossos queridos personagens.O capítulo foi maravilosamente bem escrito, parabéns a Tito e Jéssica. Queremos mais. E estamos aguardando.Abraços. 

    2013-01-18
  • Jéssica J

    Tito, meu querido amigo, como eu poderia dizer não à você? A base da idéia foi sua, e é uma ótima ideia, não tinha como recusar... E nem vem, que nós escrevemos em exatas proporções e nossos talentos são nivelados. também admiro muito você, um homem de mil faces, um ótimo escritor,  médico, e amigo pra todas as horas! pode contar comigo pra escrever sobre nosso casal preferido, ou pra prosear sobre a vida meu querido! =DD

    2013-01-17
  • Annabel Evers

    Terminei de ler com lágrimas nos olhos... :/ Muito linda *-*

    2013-01-17
  • Always Potterhead

    Ameiiii simplesmente lindaaaa... :D

    2013-01-17
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