Cap. Ùnico



 Pansy Parkinson fungou mais uma vez. Ela estava sentada em uma poltrona qualquer da Sala Comunal da Sonserina, com uma roupa de festa toda amarrotada, um sapato no pé e o outro no chão. O lugar estava todo vazio, já que toda a escola (ou pelo menos os alunos que ficaram para passar o Natal ali) estava em um Baile de Inverno arranjado por Dumbledore para animar os alunos.


 E havia dado certo, de qualquer modo. Afinal, já eram quase duas da manhã e todos ainda estavam na pista de dança. Todos, menos ela, que agora chorava sozinha, enrolada em um cobertor xadrez horrível que encontrara no dormitório. Poderia estar lá embaixo, se divertindo. Poderia, mas não estava.


 Pansy havia gastado uma fortuna no vestido branco de renda e mangas fofas, que deixava suas belas pernas a mostra. Havia gastado outra fortuna em seus sapatos pretos de salto. E outra fortuna na pequena bolsinha de couro preta. E para quê? Para ser chamada de estranha por uma loira qualquer que estava se agarrando com Draco?


 Aquele maldito! Havia tentado ficar bonita para ele! Pensava que tinham alguma coisa especial depois de uma semana juntos, mas caíra de cara no chão ao descobrir que Draco já estava se atracando com Astoria ao chegar ao baile. E, para piorar, tivera brilhante idéia de ir tirar satisfação com ele. Péssima idéia, é claro.


 Tola, era o que ela era. Era uma tola.


 A garota pegou um lencinho e soou o nariz de modo estrondoso, sem se importar. Estava frio ali, sem feitiço algum para esquentar o ambiente. A lareira ardia, mas ainda assim, Pansy quase podia sentir os ossos congelarem. Se tivesse sorte, morreria de frio ali e nunca mais precisaria ver Draco de novo.


 - Hei, hei, hei... – fez um garoto que entrou na Sala Comunal. Pansy levantou os olhos e viu que era Blaise Zabine. Ah, que ótimo. Agora sim fecharia o Natal com chave de ouro. – O que a princesa está fazendo aqui?


 Pansy revirou os olhos para ele e limpou as lágrimas.


 - Não estou com paciência agora, Zabine. – rebateu. Blaise era seu amigo, mas com certeza debocharia dela se soubesse que levara um fora. Ele sempre debochava.


 - Uau, a princesa sabe o meu nome? – surpreendeu-se ele, fingindo estar chocado. – Estou lisonjeado.


 A morena suspirou, cansada.


 - Agora não, Blaise. Sério. – pediu.


 Blaise se sentou ao lado dela, sorrindo.


 - A princesa deveria estar no baile. Deveria estar dançando com seu príncipe encantado.


 Pansy o encarou, se ajeitando para olhar para ele.


 - Eu não sou uma princesa. E não sei dançar.


 - Você é, com certeza, uma princesa. E só precisa de um bom príncipe para te guiar.  


 - Não vai parar, vai? – adivinhou, levantando uma sobrancelha. É, ele não ia parar. – O príncipe encantado não gosta de dançar com as plebeias. – disse ela, entrando no jogo. Discordar não o faria parar, de qualquer modo.


 - Então porque ele estava dançando com Astoria?


 - Ela não é uma plebeia.


 - Plebeia? – desconfiou ele. - Está se referindo à você? – Blaise perguntou.


 Pansy deu de ombros.


 - Parece que sim, já que não há nenhuma princesa aqui. – ressaltou.


 Blaise levantou o rosto dela pelo queixo.


 - Eu vejo uma princesa. – declarou. – Ela é morena, de olhos castanhos, bochechas rosadas e lábios e olhos molhados. Uma das mais bonitas que já vi.


 - Você fala como se já tivesse visto muitas princesas.


 - E já vi. Muitas. Mas todas elas viraram sapos quando as beijei.


 Pansy deu um sorrisinho.


 - Não acho que esteja parecendo uma princesa agora. Provavelmente já devo ter virado sapo. – respondeu Pansy, se libertando da mão dele. – As princesas usam belos vestidos, belos penteados, belos sapatos...


 - ... e costumam não chorar. – ele completou.


 - E os sapos costumam?


 - Você não pode ser um sapo. – Blaise discordou.


 - E porque não? Me sinto terrivelmente parecida com um.


 - Porque ainda não beijei você para que pudesse se transformar em sapo. Embora tenha certeza de que isso nunca aconteceria.


 - Não pode ter tanta certeza assim.


 - Tenho certeza de que é uma princesa. – garantiu Blaise. – Você beijou o Draco e ele virou um príncipe, não? – acrescentou, parecendo raivoso.


 - E agora estou chorando por ele. E princesas não costumam chorar.


 - Talvez chorem. – admitiu o garoto. – Mas não deveriam.


 Pansy sentiu os olhos arderem de novo. Não queria chorar. Não na frente dele. Se chorasse, estaria entregando as cartas, admitindo que aquilo a magoava. Mas ela chorou. Não teve como evitar. As lágrimas se tornaram pesadas demais para segurar, então caíram.


 - É porque sou uma plebeia. – concluiu ela. – Acho que as plebeias choram, não?


 Blaise limpou as lágrimas dela com o polegar.


 - Eu ainda vejo uma princesa. Então deve haver um bom motivo para ela estar chorando. – disse docemente. – Porque minha princesa está chorando?


 Pansy chegou à conclusão de que ambos provavelmente foram selecionados para a Casa errada. Desde quando sonserinos eram tão emotivos assim? Desde quando perdiam tempo falando de princesas?


 - O príncipe encantado não gosta de dançar com a plebeia. – repetiu ela.


 - Com a princesa. – Blaise corrigiu.


 - Se eu fosse uma princesa, ele dançaria comigo.


 - Então ele não é um príncipe.


 Pansy riu.


 - Então, quando eu o beijei, ele virou um sapo?


 - Não. – fez Blaise, indiferente. – Ele nunca foi um príncipe. Sempre foi um sapo. Só que muito bem camuflado.


 - Porque estamos tendo essa conversa? – perguntou ela, fungando.


 - Porque eu vejo uma princesa que fugiu do baile. Porque ela está chorando por um panaca que preferiu dançar com a plebeia. Por um sapo. – respondeu Blaise, parecendo raivoso novamente.


 Pansy riu de novo.


 - O penteado da princesa está estragado, o vestido está amaçado, a maquiagem está borrada, ela está sem um sapato...


 - ... e ainda assim é minha linda princesa.


 - Não me admira que Draco tenha preferido dançar com a plebeia. Ela está muito mais arrumada e bem mais bonita.


 - Essa foi a pior besteira que você disse hoje. – reclamou o garoto. - Astoria nunca esteve nem nunca vai estar mais bonita do que você.


 A garota se aconchegou mais ao cobertor horroroso, com frio. Blaise percebeu o movimento e lhe entregou o casaco. Pansy sorriu para ele.


 - Obrigado. – agradeceu, sincera, dando um sorrateiro beijo na bochecha de Blaise.


 - Seus lábios estão frios.


 - A princesa agora tem que ter lábios quentes? – ela levantou a sobrancelha.


 - Eu posso esquentá-los, se quiser. O sapo não quis, mas eu com certeza não me importaria. 


 Pansy se remexeu desconfortável e não respondeu. Ocupou-se em retirar o outro sapato e deixar que caísse no chão. Depois terminou de desfazer o que restava do penteado e usou o lencinho para retirar a maquiagem.


 - Porque não volta para o baile, Blaise? – perguntou ela, mudando de assunto, se aconchegando ao cobertor novamente.


 - Só se a minha princesa me acompanhar. Não gosto de dançar sozinho.


 - Já chega desse papo de princesas. – cortou Pansy, começando a se irritar. – Eu não sou uma princesa, o Draco não é um príncipe, Astoria não é uma plebeia e você deveria cuidar da sua vida!


 - Não, não, Pansy. – disse Blaise. – Você é uma princesa. Draco é que não é um príncipe e Astoria é menos do que uma plebeia. E estou tentando cuidar da minha vida, mas fica difícil quando minha princesa está triste.


 Pansy já não queria mais conversar. Terminaria de chorar no dormitório.


 - Sua princesa precisa ficar sozinha, ‘tá? – pediu ela, se desenrolando do cobertor. – Faça algo de interessante com seu tempo e volte ao baile. Vá atrás de outra princesa. Tenho certeza de que achará uma.


 - Já encontrei minha princesa. – revelou Blaise. – Ela está usando um vestido branco e amarrotado, mas ainda assim é uma linda princesa.


 - Não tem nenhuma princesa aqui, Blaise! – alterou-se Pansy, se erguendo do sofá. – Draco não me quer, Astoria debochou de mim como se eu não valesse nada e todos naquele baile devem estar rindo às minhas custas à essa hora. – e virou-se para ele. - Olha só para mim! Eu por um acaso pareço uma princesa agora?! – perguntou, apontando para si mesma.


 Blaise a olhou intensamente, como se a analisasse. Olhou o vestido da morena, o cabelo negro e bagunçado que caia pelos combros, o rosto inchado por causa do choro.


 - Você vai ser sempre uma princesa para mim, Pansy. Não importa a roupa que estiver usando. Não importa como estiver seu penteado. Não importa se estiver ou não com maquiagem. – replicou, se levantando e ficando em frente à ela. - Se Draco não sabe ver isso, o problema é completamente dele. O que importa é que eu vejo. – ele pegou a mão dela. – Posso não ser seu príncipe, mas você vai ser sempre minha princesa.


 Pansy o encarou, atordoada, sem saber o que dizer. Ele não podia estar insinuando que...? Podia?


 - E não ligue para Astoria. – acrescentou ele, mudando o rumo da conversa. – Fazer você chorar foi só um modo de mostrar o quanto ela gostaria de ter o seu sorriso. – disse, passando os dedos pelos lábios dela. – Seus lábios estão frios. – avisou de novo.


 Pansy sorriu e deu um beijinho nos dedos dele.


 - Talvez um dia eu deixe que você os esquente. – murmurou, retirando a mão dele de seus lábios.


 - Não hoje? – Blaise tentou, voltando a mão para os lábios dela.


 A garota retirou a mão de novo e deu um beijo na palma. Depois se colocou na ponta dos pés e encostou os lábios nos dele. Blaise fechou os olhos instantaneamente e suspirou, pensando em mil e uma maneiras de se ter a mesma sensação e falhando miseravelmente. Sua princesa o estava beijando. De leve, mas estava.


 Pansy sugou-lhe o lábio inferior de leve antes de se separar dele.


 - Feliz Natal, Blaise. – disse ela, dando as costas para ele e indo em direção ao dormitório.


 Blaise sorriu, passando os dedos pelos próprios lábios. Ele ainda a beijaria.


 


 


 N/A: o.o’ meio cedo para histórias de natal, não? Ainda falta um mês! Hoje: 25/11/12. Natal: 25/12/12. O.O’


 Mas, enfim, não custa postar, né? E comentar também não custa nada! Incrível!


 Gostou dessa? Entre em minhas outras fics. Não gostou? Ah, problema seu.


 


 

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Comentários (4)

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