cervejas amanteigadas no armár



A segunda vez foi impossível de conter e acabou deixando um bocejo longo escapar dos lábios. Por sorte Sirius não percebeu, ou fingiu não perceber, dando continuidade a sua longa história. Perguntou-se intimamente se não seria melhor deixar claro de uma vez por todas que aquela conversa não estava sendo bem apreciada. Por fim e como sempre, voltou à postura de quem estava apreciando bastante a conversa. Marlene já estava mais do que cansada de ouvir as histórias sobre os encontros macabros de Sirius e Alecto Carrow. Não pelas atitudes insanas da garota, por mais que desgostasse da Sonserina admitia que ela tinha um talento e tanto para vinganças, mas sim pela parte sentimental daquilo tudo.


- Essa menina é maluca! Quanto tempo você ficou preso? – não era como se já não soubesse. Havia contado os minutos que durou o sumiço de Sirius e Alecto na última aula de herbologia. Porém, jamais imaginara que Carrow havia preso o garoto no meio da plantação de visgo do diabo. – Mas você também não foi muito esperto... a varinha, Sirius? – o comentário saiu junto de uma expressão de decepção. Ele sempre foi um dos melhores alunos da sala, como deixou confiar a varinha com uma garota como Alecto?


- Você sabe que Alecto é muito boa em dar o bote, não sabe? – Sirius parecia se divertir com toda a história. O sorriso zombeteiro que pairava em seus lábios não parecia nem de longe a feição de alguém que caiu em uma armadilha. A dinâmica daquele casal em questão era um grande mistério que Marlene jamais conseguia entender. – De qualquer jeito não fiquei muito tempo por lá. Lembrei que havia comprado uns fogos de Dédalo e foi só estourá-los...


- Mas a sua varinha ainda está com ela? – o bom de ser apaixonada pelo melhor amigo era poder se preocupar sem ter que disfarçar. Para todos os efeitos era apenas preocupação de amiga.


- Está, mas por pouco tempo... – o tom pouco preocupado com que respondeu a pergunta deixava mais do que claro que já havia traçado um daqueles planos que só um Maroto tinha criatividade o bastante para armar. O que deixou Marlene um pouco mais calma. – Combinamos um encontro amanhã à noite, então pego minha varinha de volta amanhã mesmo. – o garoto abriu um sorriso largo ao mesmo tempo em que colocava as mãos para trás do pescoço descansando a cabeça na parede.


- Não acredito! Ela tenta te matar e você ainda quer dar uns passeios noturnos com a maluca? – como já foi dito, era mais do que normal Marlene usar o bode expiatório e melhores amigos para camuflar seu ciúme. Balançou a cabeça negativamente e deu um gole longo de sua cerveja amanteigada. – Você deve gostar muito dela... – a frase acabou saindo um pouco mais amargurada do que gostaria. Mas Sirius sempre foi egocêntrico demais para notar as reações das outras pessoas.


- Gosto mesmo é da situação. É fora do comum, você sabe como eu odeio mesmice...


- E você sabe da minha opinião. Essa historinha de romance de vocês vai acabar dando em morte... – não era exagero nenhum de Marlene. O visgo do diabo foi só uma de várias peças mal intencionadas que os dois se pregavam. Normalmente Sirius não chegava a extremos a ponto de colocar a vida de Alecto em risco e isso era algo que McKinnon admirava. Poucos podiam perceber, mas ele era de fato um cavalheiro. Até mesmo com garotas como Alecto Carrow, que não mereciam nem um pouco de gentilezas. – Ou vocês se matam de uma vez ou se declaram. Tenho certeza que ela só está esperando uma declaração sua... – podia ser apenas neura de ciúme, mas tinha quase certeza que a Sonserina nutria sentimentos por Black.


- E ai? O que você acha que aconteceria? – o tom zombeteiro e cínico de Sirius fez com que se acalmasse um pouco. Nem ele mesmo acreditava que algum dia Alecto seria uma garota romântica que estava apenas esperando a declaração de seu grande amor. – Acha que Alecto e eu passaríamos a andar de mãos dadas em Hogsmead? Acorda, Mckinnon. Somos de mundos diferentes, além do que, eu não combino com essas coisas...


A risada espontânea de Marlene acabou parecendo mais um alívio do que como se tivesse alguma graça do que ouvira. Mas imaginar Sirius Black numa cena romântica com qualquer garota era, de fato, algo engraçado de se imaginar. Apesar de o garoto estar sempre com alguém, eram sempre casos passageiros. E depois de anos gostando do melhor amigo, esses casinhos já nem preocupavam a garota, que sabia que no final do dia quem tomaria uma cerveja amanteigada escondida no armário de vassouras rindo de suas histórias, seria ela.


- E você combina com o que? Só uma louca feito ela para te aguentar... – falou dando pouca atenção para si própria. Mantinha-se entretida demais soltando o rótulo de sua garrafa.


- Somos amigos há anos e você me aguenta até hoje. Você se acha louca também?


- Ás vezes... – a resposta saiu visivelmente avoada. A bebida entra e a verdade sai, já dizia o poeta. Porém, não era a primeira vez que bebiam juntos. Já fazia alguns anos que mantinham o ritual das cervejas amanteigadas no armário de vassouras de quintas-feiras, e nunca deixou escapar nada sobre seus sentimentos. Marlene sabia se controlar muito bem. – Porém, me considero mais guerreira do que louca. Sabe, ás vezes não é fácil... – obviamente que não falaria, mas quando o garoto desembestava a falar sobre suas historinhas com Alecto era de fato pouquíssimo fácil de aguentar.


- Deixa de frescura, Lene. Você sabe que sua vida seria entediante sem a minha radiante presença... – aquele tom presunçoso de Sirius a irritava um bocado, tinha que admitir. Mas ao invés disso só revirou os olhos teatralmente.


- Baixa a bola, Black. Não sou uma Maria-Maroto...


- Não, você não é... – talvez tivesse sido só impressão, mas aquele pareceu o sorriso mais bonito que já vira surgir nos lábios do garoto. McKinnon sentiu as bochechas ficarem vermelhas, e decidiu que se questionada colocaria culpa do tom rosado de sua face na bebida. – Aliás, vai assistir ao treino de quadribol sábado? –foi aí que Lene agradeceu mentalmente por ele já ter emendado um assunto novo na conversa.


- Obviamente que não. James está meio maluco esse ano, não acha?


- Ele só quer ganhar a taça. Porém, aposto cinco galeões que o treino só começará efetivamente as 9:00. Já cansei de ouvir essa história de treino começando as 5:00, mas nunca vi de verdade... – James Potter era um dos caras mais engraçados de Hogwarts, só que quando o assunto era quadribol o menino mudava totalmente de postura e de um garoto brincalhão se tornava em um verdadeiro sargento. – De qualquer jeito, parece lá as 9:00, será divertido...


- Ás 9:00 acredito que ainda estarei dormindo. Meu plano é dormir até meio dia. Além do que, seu fã clube e do James já darão apoio o suficiente. Fique tranquilo que desamparados não ficarão...


- Parece que a cada ano que passa você fica menos minha amiga. Vou repensar nesse meu conceito de melhor amiga fêmea...


- Repense, faça um resumo e me envie por coruja. Sinto falta de uma boa leitura antes de dormir... ­– falou em um tom debochado. Não era a primeira vez que o garoto ensaiava um drama sobre o jeito que o tratava. – E se possível, também, gostaria que parasse com o dramalhão.


- Não é drama, são fatos! Lembra quando James nos apresentou? Foi amor a primeira vista, ficamos amigos no mesmo dia... – Lene abriu um sorriso lembrando-se do dia. Sua amizade com James já era bastante antiga, os dois cresceram na mesma rua. Então foram para Hogwarts juntos e pouco tempo depois ele a apresentou a um novo amigo, Sirius Black, amizade que se formou rapidamente e durou todo o período escolar.


- Verdade! A culpa é do James! Ele que te colocou na minha vida... – balançou a cabeça negativamente e fez cara de quem se arrependia amargamente do passado. Mas não conseguiu segurar a risada. – Brincadeira, Sirius! Mas acho que nossa amizade está bem melhor agora...


- Com essas respostas grossas? Acho que não, hein? Eu sou a única pessoa que você trata mal!


- É toda minha demonstração de afeto! – respondeu em meio a risadas. – Além do que, você também é o único que faz por merecer! Ainda não esqueci aquela cotovelada que me deu no olho ontem!


- Foi sem querer e eu já pedi desculpas. Quer mais o que? Um cartão? Flores? Chocolates?


- Chocolate me agrada muito...


Talvez pela risada alta que os dois davam, ou pelo barulho da garrafa de Sirius que caiu ao chão se despedaçando inteira. O caso foi que pairou um silêncio absoluto na hora em que o zelador da escola abriu o armário de vassouras e encontrou os dois com cervejas amanteigadas contrabandeadas na mão e visivelmente alterados.


- E ai, como vai essa força? – perguntou um Sirius debochado antes de serem encaminhados para a sala da professora McGonagall.

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Comentários (2)

  • Feather

    Obrigada, Lana! Fico feliz que tenha gostado do primeiro capitulo! É um grande incentivo para continuar! Obrigada mesmo. Quanto a relação do Sirius e da Marlene ainda vai amadurecer bastante, assim como a relação dele com a Alecto. Talvez você até mude sua torcida para a Alecto... rs

    2012-09-20
  • Lana Silva

    Amei o primeiro capitulo *-* A Marlene é totalmente apaixonada por ele mesmo, não sei se conseguiria ficar do jeito que ela fica, ouvindo tudo e não dizer nada, ou ouvindo e ainda dar conselho, apoiar...Sei lá, para suportar isso ou você tem que ser muito amiga, ou muito apaixonada...Acho que ela deveria se fazer notar, tipo só pelas coisas que ele fala dá pra saber que ele nunca vai querer um relacionamento serio. Bem eu gostei mesmo do capitulo e quero mais *-*beijoos! 

    2012-09-20
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