Capítulo Único




 


Inappropriate


Rowena crispou os lábios ao encarar o sorriso no rosto de Salazar. Um garoto de cabelos castanhos choramingava ao ver os furúnculos nascendo em sua mão. A bruxa fechou o punho, procurando pela mesa principal o responsável pela casa de Gryffindor, mas seu próprio fundador estava ausente, dando margens para Salazar praticar suas traquinagens. Suspirou raivosa. Godric deveria entender que apesar de viver cercado por crianças não era uma delas. E que deveria estar ali para protegê-las. O que ele já não fazia havia alguns dias.


Ao avistar os cabelos encaracolados e loiros de Helga, Rowena caminhou decidida até a bruxa. Helga a encarou sorrindo, mas sua expressão logo se tornou preocupada ao perceber a irritação latente na expressão da amiga.


“Algum problema?”.


“Posso te pedir um favor?”.


“Claro, o que foi?” soou ansiosa.


“Fique de olho em Salazar” resmungou “Fique de olho em Salazar em relação aos alunos de Gryffindor. Não o deixe chegar perto deles”.


“Ele está azarando os alunos de novo?!”.


“Eu o proibi de usar a varinha nas crianças. E agora ele está misturando poções nas refeições deles!” suspirou “E ele só ataca os alunos de Godric”.


“No início essa rivalidade era engraçada, mas agora...” Helga olhou tristonha para o bruxo de vestes negras, que, sorrindo de uma maneira fora do comum, observava o burburinho de alunos que se aglomerava em torno da mesa da casa dos leões “Onde está Godric? Salazar não faria isso com ele aqui”.


“É exatamente isso que eu quero saber!”.


“Não seja muito dura com ele...”.


“Eu vou apenas dizer o que ele merece escutar” resmungou “Faz dias que Godric some. Até agora ele anda dando as aulas, mas e se começar a sumir delas também? Eu preciso descobrir o que ele anda aprontando. Ele pode ser bastante diferente de Salazar, mas há uma boa razão para os dois serem amigos. E essa razão é a facilidade que os dois têm para fazerem coisas erradas e arrumarem problemas”.


“Eu vou ficar de olho nele, não se preocupe”.


Rowena assentiu com um meneio da cabeça, caminhando para fora do grande salão. Alguns alunos corriam pelos corredores e pararam quando a viram, corando furiosamente. Alunos de Hufflepuff e Slytherin. Ela não conseguiu evitar sorrir ao ver que eles se respeitavam (o que era comum para os alunos de Helga, mas não tanto para os alunos de Salazar).


“Não precisam ficar com medo” começou, voltando-se para uma garotinha com um brasão de cobra bordado nas vestes “Vocês são do primeiro ano, certo?” observou a menina assentir, desconfiada, como todo bom aluno de Slytherin “Viram o Professor Godric por aí?”.


“É o terceiro ano que tem aulas com ele” a menina respondeu como se aquilo fosse a coisa mais óbvia “Tem alguns alunos do terceiro ano na biblioteca”.


“Obrigada”. Rowena sorriu, começando a procurar por algum aluno que tivera aula com Godric para informa-la do paradeiro do bruxo. Ela ainda não sabia decorado de qual ano cada aluno era, até porque era muitos. Às vezes era fácil identifica-los pelo tamanho e associar com a idade, mas uns eram muito desenvolvidos para suas idades, outros pouco. Os únicos que sabia de qual ano eram pertenciam a sua casa. Decidiu perguntar para algum deles.


As escadas que ela mesma encantara não se moveram uma única vez enquanto subia os andares. Ela sorriu, pensando que elas também queriam ver Godric levar uma boa bronca. Quando dobrou em um dos corredores avistou um grupo de alunos de Ravenclaw, entre eles um garoto que reconheceu ser do terceiro ano. Caminhou depressa até eles, que pararam de conversar enquanto Rowena se aproximava, uns até mesmo fazendo reverências para ela.


“Não precisa, querido” sorriu para o garoto que terminava a mesura “Vocês tiveram transfiguração está manhã, certo?” os observou assentir, solícitos “Algum de você sabe onde o Professor Godric está?”.


“Ele estava conversando conosco até poucos minutos atrás” uma garota respondeu, sorrindo satisfeita por ajudar a diretora de sua casa “Ele subiu para o quinto andar”.


“Quinto andar?” estranhou “Falou o que ia fazer lá?” os alunos menearam a cabeça negativamente, e ela resmungou algo para si mesma “Obrigada, queridos”.


Deixando o grupo de alunos para trás, Rowena ganhou mais uma vez as escadas, subindo de dois em dois degraus e tendo cuidado para não tropeçar na barra das vestes. O que Godric estaria fazendo no quinto andar? Não havia salas de aula lá. Com um mau pressentimento, acelerou o passo.


Ao chegar ao andar desejado, olhou de um lado para o outro. Pensou até em chamar o bruxo pelo nome, mas decidiu pegá-lo de surpresa. Ele precisava se assustar para parar de deixar seus alunos desprotegidos à mercê do humor negro de Salazar.


Andou o mais cuidadosamente que podia, evitando fazer barulhos. E logo seus olhos brilharam ao observar as cores vivas das vestes de Godric em contraste com o cinza das paredes. Estava pronta a perguntar o que ele estava fazendo ali, quando reparou melhor nas ações do bruxo. Godric andava exatamente igual a ela, como se quisesse evitar que alguém escutasse seus passos. Rowena franziu o cenho, desconfiada. Godric não era um dos bruxos mais cuidados que conhecia, muito pelo contrário, ele tinha a fama de impulsivo.


Escondeu-se atrás de uma estátua de guerreiro e o observou melhor. Ele parecia nervoso, olhando de um lado para o outro e avançando lentamente. Ela poderia até pensar que algo perigoso estava ocorrendo, pois Godric não ficaria parado com um monstro por perto ou algum outro desafio de bravura. Mas ao olhar para o rosto dele ela sabia que nada de perigoso estava acontecendo, porque sua expressão era idêntica a de uma criança quando apronta escondida dos pais. Exatamente a mesma expressão que Salazar tinha no rosto ao azarar os alunos.


Resmungou baixinho. Só esperava que ele não estivesse fazendo o mesmo com os alunos de Slytherin.


Algo pareceu ter chamado à atenção do bruxo, pois ele acelerou o passo, ainda cuidadoso, avançando pelo corredor. Rowena fez o mesmo, tomando cuidado de andar colada com a parede, pois se Godric tencionasse olhar para ver se alguém o seguia, a bruxa poderia muito bem se esconder entre as reentrâncias da parede.


Observou que ele encarava uma porta, temeroso. Reconheceu ser a porta do banheiro dos monitores. Ao pensar que ele poderia estar espiando alguma aluna, Rowena sentiu seu rosto esquentar de raiva. Estava pronta para gritar com ele ali mesmo, quando Godric entrou dentro do cômodo com uma agilidade felina.


A morena prendeu a respiração, ainda com o pensamento de Godric estar bisbilhotando a vida de uma das alunas, e seu desejo de desmascará-lo tornou-se ainda maior. Mas sua típica prudência a fez pensar que além de constranger a aluna (que nunca mais conseguiria encarar Godric como professor, muito menos continuar em Hogwarts) ainda havia o perigo da repercussão negativa que a ‘aventura’ de Godric poderia trazer para ela. Aquilo irritou Rowena ainda mais, que sentiu vontade de afogar Gryffindor no lago de Hogwarts, para deixar a lenda de que ele se transfigurava em um polvo gigante ainda mais digna de aceitação.


Resolveu entrar no banheiro e tirar Godric dali antes que qualquer aluno que fosse o objeto do ato inapropriado de Godric pudesse vê-lo.


Pé ante pé, Rowena seguiu até o cômodo, o coração começando a acelerar. Odiava qualquer tipo de risco a ser corrido, para ela, tudo deveria ser minuciosamente preparado e calculado, com diversos planos reservas. E ali ela não tinha nem ao menos um plano principal estudado em todos os mínimos detalhes.


Ao chegar perto da porta, notou que Godric deixara uma fresta aberta. Observou o bruxo escondido atrás da estátua de um sereiano, bem na entrada do banheiro dos monitores. Percebeu vozes dentro do banheiro. Decidida a puxar Godric para fora dali o mais depressa possível, Rowena esgueirou-se para trás da passagem, chegando bem próxima ao bruxo. Mas antes que pudesse abrir a boca para chamar a atenção dele, Gryffindor se virou depressa, a encarando com um sorriso de canto. Ela teria gritado pelo susto. Se bem que sentira sua garganta se distender em um grito, mas não escutara som algum. Observou que Godric apontava sua varinha direto para o pescoço da bruxa. Ele a calara.


“Achou mesmo que eu não percebi que você estava atrás de mim?” sorriu, brincalhão “Percebi quando você pisou nesse andar. Tenho ouvidos de caçador, esqueceu?” continuou sorrindo, exibindo uma fileira regular de dentes muito brancos.


“O que faz aqui?” ela sussurrou irritadiça, depois de quebrar o feitiço silenciador com a própria varinha “Não tem vergonha de espiar alunos?”.


“Eu não estou espiando alunos!” defendeu-se.


“Não?!” soou debochada, segurando nas vestes dele e tencionando a puxá-lo para fora dali.


“Não” segurou a mão dela “Estou espiando professores”.


“HÃ?!”.


“Fale baixo, você quer que eles me descubram?!” resmungou, puxando-a para perto antes que ela tivesse tempo de argumentar.


Rowena estava prestes a deixar sua impaciência fluir e esbravejar com ele, revelando o esconderijo dos dois. Godric a segurava pelos ombros, passando uma das mãos por cima deles. Os dois estavam um tanto agachados, apertados atrás do magro sereiano de pedra que não tinha tamanho suficiente para esconder os dois.


“Olhe”.


Ele murmurou próximo ao ouvido da bruxa, que um tanto abobada, voltou os olhos para o lugar que Godric indicava com a cabeça. Seus olhos se arregalaram tanto que o bruxo riu baixinho.


Mais a frente, sentados na borda da banheira, um casal conversava. Um casal com uma considerável diferença de idade, ele provavelmente na casa dos 90 e ela na casa dos 30. Casal esse que era composto nada mais nada menos por Sir. Willoughby e Lady Anne. Ambos aristocratas bruxos, amigos de Salazar. Que não por acaso lecionavam em Hogwarts as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas e História da Magia, respectivamente.


“O que...?”.


“Eles estão namorando. Faz um mês mais ou menos” Godric informou, em tom de riso “Percebi quando um dos alunos, um Hufflepuff, derrubou sem querer sangue de salamandra no vestido dela. Eu vi e tentei ajudar, mas ela insistiu em consultar o Professor Willoughby. Eu vi tudo. Tudo bem que ele é especialista em magia negra e ela é meio paranoica, mas nem um hipogrifo confiaria nesse cara, ele mal enxerga! E era só sangue de salamandra, não há nada demais nis...”.


“Vamos sair daqui!” o cortou logo, tentando se mover, sem sucesso.


“Ficou louca? Não vou jogar um mês de árduo trabalho fora!”.


“Você chama isso de árduo trabalho?” sibilou “Seu trabalho é proteger os seus alunos! Sabia que Salazar está envenenando as refeições deles com poções para furúnculos?!”.


“Depois do que eu descobrir hoje terei Salazar na minha mão!”.


“O que? Vai contar pra ele que os dois amigos sangue-puro deles estão se encontrando em um banheiro como dois adolescentes?” debochou.


“Exato” sorriu largo, vitorioso.


“Perdão?”.


“Vou fazer isso. Vou contar que eles dois estão aqui, que se escondem aqui há um mês. O grande dia pode ser hoje!”.


“Grande dia de que, Gryffindor?”.


“De ver se o grindylow ainda funciona!”.


“De o que?”.


“Você sabe, o grindylow dele...” sorriu, arteiro “Aquilo, Rowena. Quero ver se ainda funciona”.


“Mas...” a bruxa sentiu seu rosto esquentar, as pontas de suas orelhas certamente deveriam estar escarlates. Nenhum homem nunca havia mencionado aquele tipo de assunto com ela. Não sabia o que dizer, o que apenas deu margem para Godric continuar sua explicação.


“Não tem outra explicação pra uma mulher jovem como ela ficar andando com um homem que deve ter três vezes a idade dela!” resmungou, parecendo ter uma parcela de inveja em sua fala “Ela tem tanto dinheiro quanto ele, então eu descarto essa possibilidade. E é uma bruxa famosa, não tem porquê precisar da influência dele. Então a única suposição é que o grindylow do cara ainda consegue nadar!” sorriu.


“Isso é... Isso é ridículo!” resmungou, ainda constrangida “E nojento!”.


“Fala isso porque você ainda é pura e não conhece as artimanhas da carne” sorriu, encarando-a nos olhos, o que deixou Rowena ainda mais envergonhada, se isso fosse possível.


“Vamos sair daqui...”.


“Você não me ouviu? Eu preciso descobrir isso. E se funcionar, eu preciso saber como ele faz isso. Isso não é só um desafio para trouxas, é um desafio para nós bruxos! Chegar nessa idade com as coisas funcionando... Se eu descobrir como ele faz isso, Salazar não vai descansar até descobrir também. E eu vou tê-lo na minha mão, me obedecendo até que eu revele o segredo que salvará nossas velhices. Não é genial?”.


“Você... É nojento” ela fez uma careta.


“Obrigado pela parte que me toca”.


“Vamos sair daqui, agora! Seu plano é estúpido e nós não temos o direito de espiar a privacidade alheia!”.


“Eu esperei um mês pra finalmente ver se ele dá uma resposta e agora você quer me tirar daqui?”.


“Quero e vou!” soou decidida, já constrangida demais para permanecer ali. Com um movimento rápido, sacou a varinha e murmurou um feitiço, apontando para as pernas de Godric que, com um tremor inicial, passaram a se mover sozinhas a medida que Rowena as ordenava. Gryffindor a encarou assustado, enquanto a bruxa os conduzia sorrateiramente para fora do cômodo.


Quando já estavam nas escadas, Rowena terminou o encantamento. Godric bem que tentou subir correndo os degraus, mas as escadas mudaram de lugar, frustrando o bruxo. Ravenclaw apenas sorriu, erguendo a varinha.


“Você tem ouvidos de caçador. Mas quem tem cérebro de feiticeira sou eu!”.


“Isso não vai adiantar, amanhã eu vou voltar naquele banheiro, você querendo ou não!”.


“Ah, não vai não, porque eu vou interditar aquele banheiro e arrumar aula extras para Sir. Willoughby e Lady Anne”.


“Você é uma estraga prazeres” resmungou “Literalmente”.


“Você que é um idiota. Ficar espiando a intimidade de um velho pra descobrir algo que você nem precisa! Você nem está na metade dos trinta ainda, Gryffindor!”.


“Preocupações masculinas, você nunca entenderia” cruzou os braços na altura do peito, logo abrindo um sorriso maldoso “Não, certamente você entenderia. Algum dia”.


“O que quer dizer com isso?” o encarou desconfiada quando chegaram no quarto andar.


“Espero não ofender a sua pureza”.


“Mais do que você já ofendeu me expondo naquele banheiro?”.


“Eu não expus você a nada, a senhora que foi lá de bom grado me espionar” sorriu largo “De qualquer forma, um dia você vai se preocupar com isso. Quando for o grindylow do seu marido que não conseguir mais nadar”.


“Godric!” corou, sem conseguir disfarçar o constrangimento.


“Por que você cora toda vez que falo nisso?” riu, arteiro “Você é uma mulher bonita, um dia vai ter que...”


“Vá cuidar dos seus alunos” bradou impaciente “Vá!”.


Gryffindor sorriu, contemplando a bruxa rubra até a ponta das orelhas.


“Certo, certo” ergueu as mãos para o alto “Mas... só pra você saber... Acredito que vou ser um velho saudável, se isso for do seu interesse” piscou, dando meia volta e seguindo para o fim do corredor, até uma escada que o levaria de volta até o grande salão.


Rowena permaneceu parada no meio do corredor, o rubor nas maças de seu rosto suavizando. Ao lembrar-se das últimas palavras de Godric, levou a mão inconscientemente até a face, pensativa. Ao perceber o que fazia, corou novamente, xingando-se baixinho.


 FIM



 


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NOTA: Primeira Godric&Rowena! Como já deve estar claro pela minha lista de fanfics, meu casal preferido dos fundadores é Salazar&Helga, mas é legal escrever com o Godric, muito. E eu acho que ele e a Rowena combinam. Aos que buscavam cositas calientes devido ao título da fic, sinto decepcioná-los, mas eu já escrevi o que tinha que escrever de perversões em outros fandons, eu gosto demais dos fundadores pra fazer fics apelativas de sexo e essas coisas com eles. Como essa fic teve mais vizualizações em menor dempo do que as outras, o que pode significar que talvez mais gente acesse ela, aproveito para mostrar uma foto dos atores que eu me baseio para fazer os fundadores (fotos essas que, todas elas, não me pertencem).


Jonathan Rhys Meyers e Henry Cavill atuam em "The Tudors" e desde lá eu me apaixonei por eles. Ambos, sem conseguir escolher entre um ou outro. Então quando os vi representando em fanpics o Salazar e o Godric, respectivamente, achei que combinou muito. A Katie McGrath também participou de The Tudors, mas em uma ponta. Lá ela tem uma cena picante com o Jonathan. E eu já não gostava de Salazar&Rowena antes, depois de vê-la como Rowena em alguns fanpics e de ver a cena de The Tudors passei a gostar menos ainda. Confesso que da minha Helga, representada pela Billie Piper, eu nunca assiti nada sério, só alguns fanvideos dos fundadores na net. Mas eu vou com a cara dela. Acho que esses atores (esse argumento não vale muito para a Billie, considerando que eu nunca assisti nada dela) combinam muito com os fundadores que representam e combinam como casal. Espero que tenham gostado da história. Está sendo muito agradável retomar minhas ideias perdidas para os fundadores e escrevê-las. E vem Godric&Salazar por aí. Sim, você leu certo. Pra quem leu a minha Godric&Helga "Embrace Me" vai ser no mesmo estilo, mais amizade do que romance.


E aí vai a foto dos fundadores: (esq. pra direita: Billie Piper como Helga Hufflepuff, Jonathan Rhys Meyers como Salazar Slytherin, Katie McGrath como Rowena Ravenclaw e Henry Cavill como Godric Gryffindor):


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