A Caminho de Hogwarts



Capítulo 3 – A Caminho de Hogwarts


 


Se aprendi alguma coisa sobre Harry Potter naquela viagem, foi que o pobre coitado não tinha a mínima idéia do que era ser um bruxo. Não sabia o que era um sapo de chocolate – apesar de, anos mais tarde, a especiaria vir a se tornar um dos seus doces favoritos – e não sabia o que era quadriboll – o que viria a ser uma das suas grandes paixões. Ele também não sabia que não era comum – ou aceitável – pronunciar o nome de Voldemort.


E também não sabia como era ser de uma família grande e pobre, ter que usar as roupas de seus irmãos e viver sempre às sombras deles. Tentei explicar a fama dos meus irmãos e mesmo que eu fosse bom em alguma coisa – qualquer coisa – nunca teria todos os créditos.


Enquanto falava isso, pensei no xadrez bruxo. Quero dizer, eu sou o melhor da minha família, mas a onde isso me levaria?


“Ali vai Gui Weasley, foi Monitor Chefe e hoje trabalha em negociações internacionais por Gringotes. Oh, e aquele ali é o Carlinhos, trabalha com dragões e era Capitão do Time de Quadriboll da Grifinória. Aqueles dois ali são Fred e Jorge, gêmeos brilhantes e extremamente divertidos. E aquele ali... Ronald Weasley, ótimo em xadrez bruxo


Coloca tudo sob uma nova perspectiva, hum?


Quando a mulher dos doces chegou, dispensei-a murmurando que trouxera um sanduíche de casa, mas Harry a impediu e comprou uma sacola cheia de doces – entre eles os sapos de chocolate.


Harry ficou genuinamente surpreso com o sumiço de Dumbledore da figura, para o meu divertimento, mas quando ele me explicou que os quadros dos trouxas não se movem, quem ficou surpreso fui eu.


Como podemos ser tão parecidos, mas tão diferentes?


Harry pegou uma caixinha de feijão de todos os sabores e alertei-o sobre os riscos de comê-los. Para demonstrar, peguei um da caixinha e comi. Não tive muita sorte: couve-de-bruxelas.


E ficamos comendo feijõezinhos, tentando encontrar ao menos um que agradasse o nosso paladar. Harry tivera bem mais sorte que eu, mas também foi vítima de sabores exóticos, como, por exemplo, pimenta. E depois ficou ofegando, como um cachorro exausto.


Então, a porta da cabine se abriu e um menino de rosto redondo entrou.


Eu o reconheci como Longbottom, meus pais e sua avó eram amigos.


- Desculpa, mas vocês viram um sapo? - e de todas as coisas que eu poderia esperar, aquela não era uma delas.


Quem quer um sapo?


Se eu tivesse um, tentaria me livrar dele o mais rápido possível.


Assim que o menino saiu, verbalizei meus pensamentos para Harry, mas depois me lembrei que eu também tinha um animal de estimação atípico e patético. Puxei-o do bolso do casaco e mostrei para Harry.


Puxei minha varinha que estava caindo aos pedaços, o pêlo de unicórnio já estava saindo da ponta da varinha, e comentei para ele que queria transformar o Perebas em amarelo para que ele ficasse um pouco mais interessante.


E foi então que ela apareceu.


Hermione Jane Granger, onze anos, voz insuportável, cabelos cheios, dentes grandes e incrivelmente sem graça.


Não foi amor à primeira vista, como muitas pessoas acham.


Não mesmo.


Entrou no nosso compartimento alguns minutos depois de que o garoto saíra, nos fazendo a exata mesma pergunta e, claro, trazendo o garoto a tiracolo.


- Já dissemos a ele que não vimos o sapo - respondi, impaciente, e percebi que ela olhava para as minhas mãos.


- Você está fazendo mágica? Quero ver - disse, imponente, ocupando um dos assentos vagos, enquanto Neville – o garoto gordo que perdeu o sapo – continuava em pé, na entrada do vagão.


Pigarreei, preparando-me.


- Sol, margaridas, amarelo maduro, muda para amarelo esse rato velho e burro - fiz um aceno com a varinha... e nada aconteceu.


É claro que Hermione Granger não podia ficar só num silêncio compreensivo, como o de Harry. Nãããão, ela tinha que começar a falar sobre como ela tinha lido todos os livros requisitados para aquele ano e como ela tinha tentado alguns feitiços e como eles tinham dado certo. Então, se apresentou e perguntou pelos nossos nomes.


Nos apresentamos e ela, rapidamente, se interessou por Harry, já que ele era Harry Potter e ela tinha lido sobre ele em não sei quantos livros. Os olhos de Harry estavam arregalados em perplexidade e fiquei satisfeito pelo fato de que a reação dele em relação a ela era bem semelhante à minha.


Ela tagarelou algo sobre querer ir para a Grifinória – o que fez com que eu gemesse por dentro, porque só de pensar em ter que aturá-la nas aulas, meu corpo se contraía em desânimo, ficar cinco minutos do lado dela já estava me deixando tonto com toda aquela animação em relação a estudo. Depois acrescentou que Corvinal não fosse tão ruim.


Quando ela saiu, senti-me aliviado. Mas logo voltei a entrar em pânico em relação à Seleção. Eu já tinha esquecido daquilo, mas além da dor de cabeça, a garota também me trouxe mais uma coisa com o que me preocupar.


Expliquei para Harry um pouco sobre as casas. Ele concluiu que Sonserina era a casa de Voldemort, e que Grifinória era, de fato, a melhor das casas. Depois, comentei casualmente sobre a tentativa de assalto ao banco de Gringotes, mas que não deu em nada, já que quem quer que tivesse tentado fazê-lo saíra impune.


Foi quando chegamos ao assunto quadriboll que cheguei à conclusão que o garoto era um caso perdido. Quando lhe perguntei qual era o seu time favorito e ele disse que não conhecia, fiquei tão aturdido que imaginei que não fosse ser capaz de falar.


Assim que consegui falar, não parei mais.


Falei sobre tudo, as regras, os melhores jogos e falei sobre alguns que fui assistir com meus irmãos. Estava animado mostrando as qualidades do esporte, quando a porta se abriu e três meninos entraram na cabine.


Eu não tinha como ter certeza, mas imediatamente o associei com Lucius Malfoy, um crápula que trabalha no Ministério, embora não no mesmo departamento que o meu pai. Já sabia que ele tinha um filho, é claro, mas nunca tive o imenso prazer de conhecê-lo.


Até agora.


- É verdade? - o loiro perguntou, cruzando os braços - Estão dizendo no trem que Harry Potter está nessa cabine. Então é você?”, Harry respondeu com um ‘sim’, enquanto observava os amigos do garoto.


É. Aparentemente, eu era invisível.


Ótimo, porque eu realmente não queria a atenção daquele garoto. De verdade, você percebe quando um garoto é mimado e arrogante só pelo jeito que ele age. E se Malfoy não era mimado e arrogante, então eu não sabia quem era.


Então, o garoto falou sobre seus amigos e por fim se apresentou. Draco Malfoy. E, claro, minha vontade de rir foi tanta que soltei uma tossidinha, tentando abafar a risada.


- Acha meu nome engraçado, é? - ele perguntou, parecendo extremamente desdenhoso para alguém com um nome tão ridículo.


Claro que eu achava o nome engraçado. Ninguém em sã consciência daria um nome desses para o filho. A não ser, claro, como um tipo de vingança maléfica. “Você mijou na minha cara, não é, James? Por isso vou mudar seu nome para Draco, para que todos se divirtam às suas custas e você nunca possa ter uma infância normal”. Bem-feito.


- Nem preciso perguntar quem você é - prosseguiu - Meu pai me contou que na família Weasley todos tem cabelos ruivos, sardas e mais filhos do que podem sustentar - abri a boca para retrucar, mas ele voltou sua atenção para Harry, que encarava a cena parecendo chocado - Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso - e estendeu a mão para Harry.


Nesse instante, suspendi minha respiração. Se Harry apertasse a mão dele, então não seríamos mais amigos. Ele se afastaria com o trio e só se relacionaria com os ricos e poderosos. E eu não queria perder o amigo que eu tinha acabado de fazer. Observei, aliviado, quando ele apenas observou a mão do outro garoto, e depois disse: “Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado”.


Ele não chegou a corar, mas um certo rosado coloriu suas bochechas. Recuou a mão, e disse, lentamente:
- Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry. A não ser que seja mais educado, vai acabar como seus pais. Eles também não tinham juízo. Você se mistura com gentinha como os Weasleys e aquele Rúbeo e vai acabar se contaminando.


Levantei-me, furioso, e ordenei que o loiro repetisse o que tinha falado. Ninguém fala da minha família como se nós fôssemos um saco de lixo. O loiro deu um sorriso satisfeito e perguntou se eu queria brigar. Harry, de maneira corajosa, retrucou que era o que faríamos se eles não saíssem do nosso vagão, ao que o garoto respondeu que não estavam com vontade e insinuou que levaria a nossa comida.


Claro, e depois a minha família que fica com os restos dos outros.


Um dos amigos grandalhões dele, Goyle, esticou-se para pegar uns sapinhos de chocolate que estavam próximos de mim, mas pulei na frente da comida, impondo-me, apesar do fato do garoto ser pelo menos dez centímetros mais alto que eu. Eu estava pensando se ia bater nele ou sair correndo e berrando o mais alto que pudesse, na esperança de que os gêmeos me ouvissem e viessem ao meu socorro, quando Perebas pulou e mordeu o dedo de Goyle com tudo.


O garoto começou a fazer movimentos circulares com o braço, tentando se livrar de Perebas. Depois de alguns círculos, Perebas cedeu, soltando-se de um arco e chocando-se contra a janela. Assim que o rato se soltou o trio sumiu e Hermione Granger os substituiu.


- O que aconteceu? - ela perguntou, enquanto observava o caos que estava a nossa cabine e pareceu preocupada ao me ver abaixando para pegar o Perebas.


- Acho que apagaram ele - falei para Harry, assustado, mas depois analisei-o melhor - Não... não acredito... ele voltou a dormir - resmunguei, perplexo.


Harry perguntou se eu já conhecia Draco Malfoy e me contou sobre um incidente. Aparentemente, ele o vira na loja da Madame Malkin. Foi a minha vez de comentar o que eu sabia sobre aquela família e só quando terminei, lembrei-me que Hermione Granger ainda estava ali, nos observando.


- Podemos fazer alguma coisa por você? - perguntei, no meu tom de voz mais entediado.


Ela disse alguma coisa sobre nós termos que trocar de roupa, porque tinha falado com o maquinista – sempre adiante no dever de casa, notem – e nós íamos chegar em breve. Depois, repreendeu-nos por termos brigado – ao que eu respondi que foi Perebas quem brigou e não a gente. E depois, muito polidamente, pedi que ela se retirasse para que nós pudéssemos nos trocar.


Em resposta, ela choramingou sobre o comportamento dos outros estudantes e, para finalizar com chave de ouro, falou que meu nariz estava sujo.


Quando ela saiu, lancei uma cara de desgosto para a porta, enquanto nos trocávamos, pensei que as chances de ela arrumar algum amigo agindo daquele jeito mandão e superior eram poucas.


Foi quando a voz de Rúbeo Hagrid invadiu o compartimento, informando que tínhamos chegado a Hogwarts, que senti o nervosismo tomar conta de mim.


Continua...

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