Revelações



 Capítulo IV – Revelações


   Na saída do Tribunal das Almas, uma garota morena esperava Nico Di Angelo. Era sua meia-irmã (por parte grega, não romana) Roxanne Prince. Ela carregava uma mochila estufada e usava um vestido de renda preta, justo e acinturado por um espartilho de couro preto. Não esquecendo a espada de ferro estígio pendendo ao lado do corpo. A carinha de anjo enganava a quase todos, menos o irmão e Annabeth.


   – Ni, amor da minha vida, já está na hora.


   – Eles já chamaram?


   – Mandaram uma mensagem de Íris.


   Nico assentiu. Ele não precisava pegar nada, pois já deixava suas coisas no local do destino, enquanto Roxanne tinha um quarto enorme para guardar suas tralhas no palácio – era a filha “queridinha” de Hades.


   – Meu pai. – Nico fez uma reverência.


   – Paizinho.


   Ambos deram as mãos e se dissolveram em sombras.


   Quando abriram os olhos, viram-se no convés de um navio de guerra grego com cabeça de dragão, o Festus, encarando uma garota loira de olhos tempestuosos e um centauro branco, ambos parecendo preocupados.


                                            *         *         *


   – Graças aos deuses vocês chegaram – disse Annabeth, correndo para abraçar os irmãos.


   – O que aconteceu? – perguntou Nico.


   – A situação não está nada boa por aqui. Venham até o convés principal. – Quíron saiu trotando, acompanhado pelos três.


   Chegando ao convés principal, os quatro se depararam com a maior bagunça. Semideuses correndo de um lado para o outro, sem nem ao menos notar um centauro no meio do caminho. Estava tudo desarrumado.


   – Que diabos aconteceu aqui? – perguntou Roxanne.


   – Outro monstro marinho. A viagem está sendo difícil, terrivelmente difícil. – Eles foram até um garoto debruçado sobre mapas náuticos, que ergueu a cabeça. Era Percy, filho de Poseidon. Ele acenou, indicando que sabia de sua presença.


   – Como estamos? – perguntou Annabeth.


   – Faltam quase dois milhões de milhas náuticas*. Estamos pouco depois da metade do caminho, mas os ventos e as correntes não estão ajudando...


   – Você não pode fazer nada, Percy? – indagou Nico.


   – Estou tentando, mas mesmo assim... – disse desanimado – ... e se os monstros continuarem atacando desse jeito, será ainda pior.


   – Qual é a previsão dos ataques pararem? – Roxanne observava o mapa atentamente quando perguntou. Annabeth franziu o cenho.


   – Acho que enquanto estivermos em cima da velha Atlântida, – respondeu apontando – não deve parar. Ainda há muito poder concentrado aqui.


   Duas moças se aproximaram. Uma era ruiva, a outra tinha olhos multicoloridos.


   – Roxy! Finalmente! – a garota de olhos coloridos estava animada.


   – Oi Piper! Como você está?


   – Ótima.


   A ruiva, chamada Rachel, dirigiu-se a Quíron.


   – Clarisse está criando problemas de novo.


   – Aaah, me deixe acalmá-la, por favoor! – exclamou Roxy com raiva.


   – Mas nem pensar.


   Nico foi categórico.


   – Humpf, deixe estar, qualquer dia abro essa droga de chão e mando ela para o Cérbero de presente.


                                              *         *         *


   A situação estava feia mesmo. Clarisse estava no auge da revolta quando conseguiram apaziguá-la.


   E ainda assim só porque o barco começou a tremer agourentamente. Todos pararam e olharam aterrorizados para o chão ou para o casco.


   – Que foi isso? – perguntaram a um garoto desarrumado que subia da sala de máquinas, seguido por um ciclope, Tyson.


   – Não sei, não foi lá embaixo – respondeu Leo.


   – AAAAH, céus, olheem!!! – quem gritava era Drew, do chalé de Afrodite.


   Uma serpente marinha, verde luzidia e venenosa saiu do oceano, esguichando água e veneno.


   – Arqueiros, prontidão! – berrou Clarisse.


   Era algo que nunca tinham visto antes. O bicho tinha quase cinco metros de comprimento e olhos apavorantes, grandes e alaranjados. Quanto mais eles olhavam, pior parecia.


   De repente, todos começaram a cair mortos a torto e a direito, porções de semideuses.


    – Que está acontecendo? Por que estão morrendo?! – Percy parecia em pânico.


    Os arqueiros preparavam as flechas, e assim que miravam, caiam mortos. Um deles atirou às cegas e acabou acertando um companheiro. Outro tentou se posicionar perto da amurada e mirar através do reflexo do ser hediondo, enquanto outros o atacavam como podiam. O que ninguém esperava era que o filho de Apolo em questão virasse pedra. Uma estátua mais perfeita que as da Medusa, que deu arrepios em Percy.


    – COOORRE NEGADAA! – gritou Roxanne, e se mandou para debaixo do convés, seguida por uma verdadeira multidão de semideuses, principalmente filhos de Afrodite, de Hipnos e outros deuses menores.


    – Espera Roxy! VOLTA AQUI! – gritou Nico – VOCÊ TEM QUE AJUDAR! Mas ela já tinha ido. “Quando a situação fica preta, ela é sempre do tipo vou vazar, valeu!”, pensou ele com raiva.


    – Nico, a gente não tem tempo para isso, não faz... CLARISSE, NÃO! Jason, filho de Júpiter, gritava. A menina tinha tentado acertar o monstro, que agora avançava nos corpos, observando um escudo espelhado, quando, numa fração de segundo, ele olhou o escudo e por muito pouco não a petrificou. Porém, ela conseguira feri-lo e a serpente urrava de dor.


    – Os olhos! – berrou Annabeth – Não encarem os olhos! Guiem-se pelo som! Ela fechou os olhos e começou a atacar. Foi avançando rapidamente por entre os guerreiros, seus reflexos eram excelentes; ela conseguiu cravar a espada em algo.


    – Annabeth, para! – ela abriu os olhos e percebeu que enterrara a espada no mastro. Ela sacou a faca de bronze. – Por que ele não se dissolve?


    – Sei lá! Vou distraí-lo! – Percy sentiu o poder dos oceanos fluindo. Tentou mover as correntes para afundar o monstro. Não conseguiu. Então, concluiu ele, era a hora das ideias loucas.


    – AAAA! Berrou e pulou no pescoço da serpente. Depois de muito esforço e experiências de quase morte, ele conseguiu cavalgar o bicho até ficar ligeiramente atrás do seu alcance de visão e perfurar os olhos bulbosos do animal, que ficou espumando desnorteado de dor e finalmente pôde ser abatido.


    Todos se reuniram ao redor do monstro, até os desertores. Nico passava carão em Roxanne.


    – Que demônio era esse?


    – Sei lá, nunca vi...


    – Quíron, nunca vi na vida referências a algo remotamente parecido com isso. O que é?


    O velho centauro parecia alguém cujos piores temores se concretizavam.


    – Reunião de conselheiros. Agora.


                                              *         *         *


    Estava escuro. Tudo eram trevas naquele lugar. Não havia som, tampouco temperatura. Só o vazio. E a sensação do maligno por perto. Tudo parecia parado, mas ao mesmo tempo em contínuo movimento.


    Dor. Muita dor. E a ausência corpórea, uma consciência esparsa, fraca, que mal bastava para sentir. Pensar então era impossível. Apenas... existia.


    A isso Voldemort fora reduzido. Chegar até aquele lugar fora um suplício, reduzido a menos que nada, mas agora que estava ali, ele se encontrava no limbo, no limiar da existência, mas não sozinho. Pois lá havia uma presença maligna, como todo o resto que o cercava naquele maldito abismo. E essa presença era antiga, ancestral e mais consciente que ele.


    No meio da ausência de sentidos, uma gargalhada afiada ecoou sonoramente.


    – Será verdade o que andam dizendo? – a voz vinha de lugar algum e era gélida com faca raspando em pedra. – Que o bruxo mais maligno que já existiu foi enviado para o fosso, junto com os piores demônios e os seres mais poderosos da história?


    Nenhuma resposta. Nem poderia haver. Subitamente ele se sentiu mais consciente, mais uno. Era o poder do Senhor do Tempo, Cronos.


    – Há, vamos formar uma boa dupla. – riu-se o titã.


                                               *         *         *


    Todos aguardavam silenciosamente em torno da mesa redonda. Os representantes dos chalés, conhecidos como conselheiros, estavam impassíveis. Os presentes eram Jason, Chalé 1, Zeus (mais precisamente no caso dele, Júpiter), Thalia, líder das Caçadoras de Ártemis, Percy, Nico e Roxanne, representando Hades. Por direito e convenção, todos os filhos dos Três Grandes podiam participar.


    Will Solace, de Apolo, Clarisse de Ares, Annabeth, de Atena, Piper, de Afrodite, Leo, de Hefesto, Katie Gardner de Demeter, os irmãos Stoll de Hermes e muitos outros estavam ali também, além de Grover, Tyson e Rachel. Ela era o Oráculo, logo precisava estar presente. Quíron pigarreou.


    – Hoje obtive a prova de que estamos lidando com mais de um inimigo. Gaia é poderosa, mas estamos velejando no mar. Aqui ela não é tão forte, e aquela criatura não foi enviada por ela. Essa besta nem mesmo deveria existir, mas o fato de ela ter tentado nos matar... – ele deu uma risadinha de desgosto – ... é mais que conclusivo que ela existe.


    Roxy deu um bufo de indignação. Quíron ignorou.


    – Não sei se perceberam, mas aquilo não era um monstro comum. Ele não foi dizimado pelo bronze celestial.


    – Verdade! Nós o feríamos com o bronze e ele não evaporava, ele sangrava! Deveria se desintegrar ao toque do bronze celestial, ou do ouro imperial, não é? – observou Travis Stoll.


    – Sim e não, Travis. Se fosse um monstro grego comum, grego, de origem no Tártaro, deveria. Mas o fato é que ele não é.


    Houve uma explosão de murmúrios. Como assim, não era um monstro comum? Quíron elevou o tom de voz:


    – Acalmem-se, por favor. O que quero dizer é que esse monstro foi criado por alguém. Sua essência não é tartárica, é mágica.


    – Mágica? Você quer dizer que foi criado ou enviado por Hécate? – questionou Crystal Rosetti, conselheira do Chalé de Hécate. Seus olhos lilases  eram intimidantes e fogo esverdeado começou a brilhar em suas mãos.


    – Oow espera aí Crys, a gente não tem culpa. – advertiu Connor Stoll.


    – É, então vê se segura tua onda aí garota. – cuspiu Clarisse.


    As chamas se avivaram nas mãos dela e um jato saiu voando e atingiu a parede, fazendo um rombo na parede a dez centímetros do rosto de Clarisse. Esta sacou a espada e avançou furiosa, e o que era para ser um conselho de guerra civilizado virou um pandemônio. Todos gritavam, brigavam entre si ou tentavam separar as brigas. Com algum esforço Quíron e o pessoal do “deixa disso” apartaram o tumulto. Mas não as discussões, que eram acaloradas, todos tomavam partido. Após muitos minutos assim, Roxanne perdeu a paciência e deu um jeito.


    – CALA TODO MUNDO A BOCA! JÁ!!


    Todo mundo calou a boca.


    – De forma alguma estou acusando Hécate. Estou dizendo que a velha lenda, a lenda sobre os herdeiros e abençoados de Hécate é real. Os bruxos existem.


    Um silêncio sepulcral, quase opressor, recebeu suas palavras. Todos conheciam a lenda. Ao menos a maioria.


    – Hã, será que alguém podia explicar melhor?


    – Percy, essa história é tão antiga quanto os deuses egípcios, como Ísis, a deusa da magia deles. – respondeu Jason – Mas não existem provas de que ela seja real.


    – Você quer dizer que não existiam provas. Aquele monstro, até onde eu sei, é uma das maiores aberrações do mundo dos bruxos, chamado basilisco. – corrigiu Quíron. Annabeth o mirava como quem diz, “não pode ser tão ruim”. Percy odiava aqueles olhares de Annabeth, e isso só contribuiu para que ele ficasse mais irritado.


    – Sim, mas qual é a lenda??


    – Dizem que na primeira linhagem de semideuses, os filhos de Hécate eram diferentes dos outros. Mais poderosos. Quando começaram a ter filhos com mortais, como todos nós, seu sangue começou a se diluir, como o de outros meio-sangues filhos de outros deuses. E esses filhos de Hécate ficaram aterrorizados com a diminuição do seu poder no todo. Eles não queriam se enfraquecer. Assim, tomaram a decisão de casar entre si, para não misturar o sangue com o dos mortais. Tudo deu muito trabalho e problemas, mas eles tomaram o cuidado de evitarem se casar entre irmãos e primos. Como seu parentesco era apenas divino, bem, deuses não tem DNA.


    – Então não houve mutação genética. – concluiu Nico em voz alta.


    – Exato, continuou Annabeth, eles conseguiram fazer isso por tanto tempo que disseminaram o sangue bruxo, se aperfeiçoaram e desenvolveram seus poderes, o suficiente para sobreviverem. É claro que hoje não devem precisar mais disso, e provavelmente, passou-se tanto tempo que não devem existir registros históricos que confirmem isso. Mesmo entre semideuses, com o tempo e a passagem de boca em boca, provavelmente os detalhes foram ficando confusos e se perderam, mas não a essência. Contudo, era apenas uma lenda difusa, em que poucos de nós acreditávamos, um mito.


    – Como eu disse, hoje obtive provas da veracidade da “lenda”. Lembro bem dos tempos antigos, era muito mais consistente a história, mas como você disse, minha querida, a essência ainda é a mesma. E naquela época os heróis acreditavam muito nela. – Quíron afirmou, o rabo balançando nervoso.


    – Também há uma parte desse relato que nos conta sobre os escolhidos de Hécate – disse Crystal – Nossa mãe, por algum motivo, escolhe alguns determinados mortais para serem abençoados com poderes mágicos, de mesma intensidade que os bruxos, como ficaram conhecidas as gerações seguintes aos filhos diretos de Hécate, aqueles que mantiveram o sangue mágico puro. Também, por uma razão que ainda é desconhecida, ela retira os poderes de alguns, pois Hécate ainda tem supremacia sobre todos aqueles que praticam magia.


    Mais silêncio.


    – Agora, o único problema é saber se esses tais bruxos são amigáveis ou não. – falou Annabeth – Realmente não precisamos de mais nenhum inimigo.


    O Conselho se encerrou.

*aproximadamente 3.704.000 km

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Nossa! Por onde começar?
  Esse cap foi realmente cheio de novidades. Primeiro, gostaria de esclarecer: não sou A Roxy Prince. Ela é baseada quase que por inteiro na minha (doidinha) amiga Nathallya Black. Todas as reações da Roxanne na fic foram pensadas de acordo com o jeito que a Nath agiria. Uso esse nome porque eu adoro ele na verdade ( :3 ) e porque foi minha primeira personagem original. A Crystal também é personagem original, mas todos os outros são de PJ.
   Bem, vamos à historia. Vocês puderam perceber que as coisas não estão nada faceis para o pessoal do Acampamento, e com a formação da Equipe Rocket do mal Cronos/Voldemort não vai melhorar nada né? Eu bem que disse que não era uma boa ideia colocar aqueles dois juntos! E é claro, a parte mais importante do cap: a existência dos bruxos. Ai vai o "link" entre o Olimpo e Hogwarts, as respostas para o que os Inominaveis sempre tentaram descobrir no Dep. de Mistérios: qual é a razão para os nascidos-trouxas e os abortos. E também, convenhamos, os sangues puros não apareceram do nada né?
  De importante, acho que é isso. Vou tentar postar o proximo cap amanhã ou depois, tentar postar tudo que ja tenho pronto até o fim das férias né, aproveitar... também assim que der incluo umas imagens do visu da Roxy e da Crystal
    Comentem bastante, por favor!
Bjs Roxanne Prince 

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Comentários (2)

  • Sarah Weasley.

    "Corre negada!". kkkkkk, aai, como eu ri com essa! Ei o efeito dos olhos do basilisco é parecido com o da medusa né! Embora os dela não matem, ser transformado em estátua acontece nos dois casos! Crédo, voldemort e Cronus, aaf, o Cronus sozinho já fez um estrago imenso! Eu heim! kkkk, estou amando essa fic! Saudade de ler o percy e ando lendo sempre o Harry! bjs, fic fantástica maninha do Nico!kkkk.

    2012-11-02
  • Gemeas Potter

    Amando aqui... Cronos querendo unir forças com o tio Vold... tadinho dos nossos hérois! Mas enfim, to amando a fic, mas acho que deveria ter um pouco mais de romance né? kkkkk amo romances misturado com aventura, e acho que vc sabe fazer isso perfeitamente, como vi nos dois primeiros capítulos! Esperando ansiosamente o próximo cap... beijjão =*

    2012-01-06
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