Pequenos Malfeitos



Capítulo dois – Pequenos Malfeitos 


   Tom Riddle contemplava a janela molhada de chuva, pensando nos pais. Na verdade ele apenas os imaginava, como seriam, por que o abandonaram. Tom nunca conhecera os pais, nem mesmo por fotos. Estava completamente só no mundo.


   Cinco anos passaram desde que Mérope Riddle pedira abrigo no orfanato Wool. Não deixou nada a não ser o desejo de que o garoto se chamasse Tom Servolo Riddle, falecendo em seguida. Por essa razão, Tom fora criado no orfanato, sabendo que a mãe morrera em seu nascimento. Ele achava isso um grande absurdo; como a mãe poderia simplesmente ter morrido, se lutar contra isso, placidamente?


    E ainda havia o pai. O garoto nunca se perguntara ou pensara muito no pai, afinal, se o deixara, deixara sua mãe à beira da morte, era o culpado por tudo o que se passou com ele. Mas um dia, no seu aniversário de cinco anos, prometera diante do túmulo da mãe que iria vingar a ambos.


   Nunca tendo sido procurado, o pessoal do orfanato especialmente aquela Sra. Cole que dizia tê-lo visto nascer, assumiram a responsabilidade por ele. Tom nunca gostara de Cole, apesar de todos os agrados que ela lhe dispensava. Sentia repulsa por ela, sendo incapaz de afeiçoar-se à mulher. Não, é claro, que ele tivesse tentado. Para ser bem confesso, somente era agradável com os outros quando convinha a seus interesses, sendo duramente repreendido por Cole, que desaprovava este comportamento.


   Tal era a profundidade das reflexões do jovem de apenas cinco anos de idade quando ouviu alguém o chamando. Suspirando, dirigiu-se à sala de recreação do orfanato onde, insensível aos brinquedos espalhados pelo ambiente, parou em frente à Caroline, outra empregada do orfanato.


   Caroline sempre tivera um pouco de receio em relação a Tom. Era um garoto engraçado, precoce, diferente. Quase nunca chorava, nem quando bebê. Isso geralmente significava que a criança tinha algum tipo de deficiência, mas no caso de Riddle parecia que ele possuía algo mais, um dom: a liderança, o controle, a intimidação. Tudo isso se explicava pelo incidente desagradável que ela acabava de descobrir.


   – Muito bem, Tom. Estive conversando com Gerard hoje de manhã e descobri algo muito interessante. Você pode imaginar o que foi?


   Tom estava muito quieto. Odiava que descobrissem algo sobre ele, ainda mais à custa de uma delação. Olhou com frieza para o garoto dois anos mais velho que estava à pouca distância com uma expressão extremamente embaraçada. Voltou sua atenção para a moça.


   – Não tenho a menor ideia. - disse calmamente.


   – Ele me contou que aquela gaitinha de boca que ele tinha, aquela que lhe irritava tanto, sumiu. Ele me disse que você o enganou e roubou a gaitinha. Caroline perscrutou o rosto do garoto em busca de uma prova concreta. O garoto ficou muito agitado.


   – É mentira, Srta. Macarthy, ele inventou isso! Tudo o que eu disse é que achava que era uma bela gaita, que gostaria de ter uma igual, e ele falou que então era minha!


   Gerard começou a chorar e gaguejou que não era verdade. Caroline se empertigou.


   – Você entregará a gaita de volta, Tom. Agora.


   Tom nem mesmo tentou argumentar. Sentia uma raiva escaldante, queimando-o por dentro. Sentiu algo despertar nele, como um instinto, um dom latente, uma sensação de poder intoxicante. Foi buscar a gaitinha, arquitetando uma vingança contra o menino que o denunciara.


   Voltando a sala, ele entregou a gaita para o outro, que parecia realmente aliviado que nada pior tivesse acontecido. A fama de Tom Riddle já havia se espalhado, e sua figura inspirava algo próximo, no mínimo, ao terror. Murmurando baixinho, para que apenas Gerard pudesse ouvir, Tom o alertou: “Isso vai ter volta.”  


   Alguns dias passaram sem que o incidente fosse mencionado, e Gerard pensava que Tom tinha esquecido ou perdoara. Perdoar! Tom nunca se esquecia, e muito menos perdoava com facilidade.


   Uma noite, Tom levantou-se sem ser notado e encaminhou-se para o quarto que Gerard agora ocupava sozinho. Seu antigo companheiro de quarto fora adotado, e agora o garoto ficava sozinho. No quarto mais distante.


   Tom entrou e com cuidado fechou a porta. Sentia aquele mesmo propósito de vingança que vivera quando fora delatado. Alguma coisa estava se agitando dentro dele, como querendo escapar. Ele observou o menino que ingenuamente dormia, sem suspeitar das intenções ou até da presença de Tom.


   – Boa noite Gerard.


   O outro acordou assustado, olhando para Tom com o rosto petrificado.


   – O-o-o que você esta fazendo aqui, Tom? T-t-tá tarde!


   – Você já devia saber. Eu falei que teria volta.


   – Tudo bem, eu fiquei com medo de você, nem queria tanto a gaita, pode ficar com ela, m-mas vá embora! 


   – Ficou com medo, foi? Muito sensato de sua parte.


   Gerard soltou um gritinho de horror, pois Tom começou repentinamente a ficar envolto em uma fumaça verde, cor de veneno. Soltando uma gargalhada fria, sem alegria, totalmente maníaca, o jovem menino liberou toda aquela energia que tinha dentro de si. Raios troavam dentro e fora do quarto. A fumaça começou a tomar formas assustadoras, encarnando os temores mais profundos da vítima. Naquela noite, Gerard teve mais medo que jamais sentira ou sentiria na vida. Ele dava urros pavorosos quando uma cobra gigantesca de fumaça começou a enrolar-se nos seus tornozelos, Riddle gargalhando de prazer. Curiosamente, ninguém veio verificar o que se passava. Depois de extrair toda a agonia de que foi capaz, Tom tentou se acalmar, cessar aquela energia que irrompera dele.


   – Você não dirá uma palavra do que ocorreu a ninguém. Do contrário, farei uma nova visita noturna, e acho que você não vai gostar. E ficarei com esta maldita gaita.


   Depois de fazer o outro jurar manter silêncio, Tom saiu silenciosamente pelo corredor, voltando ao próprio quarto. Chegando, ele procurou uma pequena caixinha de metal guardada na prateleira. Colocou dentro a gaita e fechou o guarda roupa. Sentando na cama, ele continuou tentando baixar os níveis de adrenalina no sangue, respirando superficialmente.


   O que foi que acontecera? O que ele tinha feito... sozinho? Tom tinha certeza que tudo o que aconteceu fora causado por ele, mesmo que sem saber como. Sentiu uma felicidade irreprimível. Ele tinha um dom, era diferente, sabia que sim. Precisava descobrir mais sobre si mesmo, estudar, saber, controlar. Agora tinha um trunfo na manga contra todos que o chateassem! Lembrou-se da expressão no rosto do colega. Fora prazeroso ao extremo ver sua face de horror. Sentia que simplesmente precisava vê-la de novo, ou até mesmo de outros.


   Os dias foram passando e Tom não foi descoberto, em compensação começou a explorar seus poderes, usando como cobaias, obviamente, seus desafetos. Duas vezes aterrorizou as gêmeas Baudelaire, fazendo-as ter crises frequentes de choro sempre que o avistavam. Fez o coelho de Carlinhos Stubbs atacá-lo sem o menor treinamento. Conseguiu até mesmo assustar Caroline a ponto de fazê-la chegar à histeria.


   Durante três anos a história do orfanato esteve pontuada por incidentes desagradáveis, muitas vezes com suspeita da participação de Tom Riddle; porém, nunca sendo apanhado, sempre fora apenas um suspeito. Porém, no tradicional passeio anual do orfanato, as coisas finalmente escaparam ao controle da sra. Cole, que fora nomeada governanta chefe.


-------------------------------------------------------------------

Esse capitulo foi baseado em momentos descritos pela Jo, que Dumbledore conta a Harry, ficando sabendo pela propria Sr. Cole, no dia em que encontrou Tom pela primeira vez. Tentei desenvolver os episodios da forma mais proxima que eles teriam acontecido. Espero que o capitulo esteja bacana. So lembrando, estou aberta a sugestões! 
  Bjs, Roxanne Prince. 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Neuzimar de Faria

    E um tema inesperado, mas interessante e você escreve bem. Continue, vamos ver se você é uma psicóloga vocacionada. rsrs

    2011-12-08
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.