A Plataforma 9 3/4



Draco estava entediado. Ele dividia a cabine com dois garotos grandes (Crabo, Cravo, Gollo, Groly, ele realmente não lembrava seus nomes direito) que falavam, enquanto comiam tudo que suas bocas agüentavam, sobre como seus pais e Lucius Malfoy eram amigos de longa data, apesar de Draco nunca ter ouvido falar deles. Mas seu pai não costumava falar muito sobre nada, a não ser sobre como a família tinha que prezar sangue-puro, que seu filho deveria ser o melhor em tudo, que não devia se misturar com sangues-ruins e esse tipo de coisa. Com o tempo o garoto aprendeu que a única maneira de deixar o pai orgulhoso era concordar com tudo que ele dizia.


- É, muito interessante isso Grolly – interrompeu o garoto, já cansado de ouvir tanta asneira.


- Hum, obrigado Draco. Mas... hã... Meu nome é Goyle.


- E o meu é Crabbe... Caso você... huh... Tenha esquecido.


- Claro, é. Crabbe e Goyle. 


Os nomes deles realmente não importam, pensou Draco. Eram grandes, metiam medo e tinham sangue-puro, e era exatamente com esse tipo de gente que seu pai ia gostar que ele se envolvesse.


Alguém bateu na porta da cabine deles e abriu-a logo em seguida. Uma garota de cabelos castanhos muito fofos e com os dentes da frente um tanto maiores que o normal apareceu. Draco olhou-a como se ela fosse uma espécie de verme.


- Sim? – disse com o mesmo tom de voz que seu pai usava ao falar com gente inferior.


-Um garoto chamado Neville perdeu o sapo por aqui. Vocês o viram? – ela disse com um tom de voz mandão.


- Não. Agora fora daqui. – disse Draco, olhando a janela e a ignorando.


- Ah, desculpe por interromper seu encontro amoroso, Reizinho. – a garota disse sarcástica, e fechou a porta com força. Draco virou a cabeça e fitou o local onde a menina estivera, espantado. Ninguém falava assim com um Malfoy.  A porta se abriu novamente.


Ele esperou que a garota voltasse, mas era uma menina menor e com cabelos lisos e curtos que se encontrava na cabine. Ela olhou para Draco e ficou ligeiramente corada, mas começou a falar como se tivesse ensaiado:


- Harry Potter está no trem! Perto do fim do vagão, com um garoto ruivo!


Draco agradeceu a informação e esperou a garota se retirar um tanto contrariada por não ter causado um efeito tão devastador quanto devia. Crabbe e Goyle começaram a conversar animados, lançando a Draco olhares de vez em quando, talvez temendo que o garoto pulasse e os matasse a qualquer momento. Após um momento em silêncio, pensando em qual seria a reação do pai se dissesse ser amigo do grande Harry Potter, Draco disse de modo autoritário:


- Vamos ver o tal garoto.


Andaram por entre as cabines até encontrarem uma onde um garoto de cabelos extremamente vermelhos estava sentado ao lado de outro miúdo e de cabelos bagunçados, ao qual Draco tinha certeza de já ter visto em outro lugar, apesar de não se lembrar aonde. Abriram a porta e entraram sem esperar por convite. Draco começou a falar imediatamente:


- É verdade? – perguntou – Estão dizendo no trem que Harry Potter está nesta cabine. Então é você?


- Sou. – respondeu o garoto magricelo, olhando Crabbe e Goyle com interesse.


- Ah, este é Crabbe e este outro, Goyle –  apresentou ele, sem apontar diretamente para nenhum. Já era muito se lembrar de seus nomes corretos. Saber qual era qual era pedir muito. – E meu nome é Draco Malfoy.


Se Draco esperava uma reação de espanto respeitoso, se enganou. O garoto ruivo tossiu, mas qualquer idiota poderia distinguir a risada que ele tentava esconder.


- Acha o meu nome engraçado, é? – Draco disse, irritado. Olhou o garoto com atenção pela primeira vez e deu um sorriso sarcástico ao reconhecê-lo – Nem preciso perguntar quem você é. Meu pai me contou que na família Weasley todos têm cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que podem sustentar.


Virando-se para Harry Potter, disse:


- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso.


Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, orgulhoso de seu discurso, mas Harry não a apertou.


- Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado. – disse com frieza.


Draco sentiu o rosto ficar quente, e se sentiu mais humilhado ainda por isso. Não sabia qual era o problema com as pessoas nesta escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, pois já era a segunda vez que falavam com ele como se não fosse nada. Droga, seu pai era Lucius Malfoy! Mas dessa vez ele não iria ficar quieto.


- Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry. – disse lentamente. – A não ser que seja mais educado, vai acabar como seus pais. Eles também não tinham juízo. – e subitamente se lembrando de onde vira o garoto (quando estavam comprando vestes, e a aberração que Dumbledore chamava de Guarda-Caças de Hogwarts, Rúbeo Hagrid, apareceu para buscá-lo), completou. - Você se mistura com gentinha como os Weasley e aquele Rúbeo e vai acabar se contaminando.


Os dois garotos em sua frente se levantaram. O rosto do ruivo tão vermelho quanto seus cabelos.


- Repete isso. – ele disse.


- Ah, você vai brigar com a gente, vai? – Draco caçoou.


- A não ser que você se retire agora. – falou Potter. Mas Draco sabia que era apenas bravata, porque Crabbe e Goyle eram bem maiores que os outros dois.


- Mas não estamos com vontade de nos retirar, estamos, garotos? Já comemos toda a nossa comida e parece que vocês ainda têm alguma coisa.


Um dos garotos (Goyle, provavelmente) fez menção de apanhar os sapos de chocolate ao lado de Weasley. Este deu um pulo para frente, mas antes que encostasse em Goyle, ele deu um grito horrível.


Um rato de aparência precária estava pendurado em seu dedo, os dentinhos afiados enterrados na junta dos dedos de Goyle. Crabbe e Draco recuaram enquanto o garoto rodava e rodava o braço, urrando, e quando o rato finalmente se soltou e bateu na janela, os três desapareceram na mesma hora.


Enquanto voltavam apressados, passaram pela garota de cabelos fofos indo na direção oposta. Draco olhou para trás e a viu entrando na cabine que haviam acabado de deixar. Claro, pensou ele amargurado, gentinha sempre fica amiga de gentinha. Mas todos eles vão me pagar... Ah, seu pai ia ficar sabendo disso!


 


Os três sentaram em silêncio durante um tempo, até Draco levantar e começar a colocar suas vestes, ao que foi acompanhado quase imediatamente por Crabbe e Goyle (aos quais, o garoto ficou feliz em perceber, ele já conseguia diferenciar). Mal haviam acabado de se trocar quando o trem parou.


Os três seguiram o fluxo de gente saindo, e se juntaram ao grupo mais jovem, todos com aparência assustada. Logo, por sobre a multidão, puderam ver o vulto gigantesco de Rúbeo Hagrid.


- Vamos, venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?


Aos escorregões e tropeços, eles seguiram Hagrid por um caminho de aparência íngreme e estreita. Estava muito escuro em volta.


- Será que é difícil conjurarem algum tipo de iluminação? – cochichou Draco irônico para Crabbe e Goyle, que concordaram veementemente.


- Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo – o Guarda-Caças gritou por cima do ombro. – Logo depois dessa curva.


Ouviu-se um Aoooooooh muito alto.


O caminho estreito se abrira de repente até a margem de um grande lago escuro. Encarapitado no alto do penhasco na margem oposta, as janelas cintilando no céu estrelado, havia um imenso castelo com muitas torres e torrinhas. Ainda bem que minha mãe não me deixou ir para Durmstrang, foi tudo o que Draco pode pensar.


- Só quatro em cada barco! – gritou novamente o Gurada-Caças, apontando para uma flotilha de barquinhos parados na água junto à margem. Draco, Crabbe, Goyle e a garota de cabelos escuros e curtos se dirigiram a um barco. Mais a esquerda, Draco não pode deixar de reparar, iam o magricelo Harry Potter, o ruivo Wesley, a garota de cabelos crespos, e um outro garoto gordinho.


- Todos acomodados? – gritou Hagrid pela terceira vez, usando um barco inteiro para conseguir acomodar o corpanzil. – Então... VAMOS!


E a flotilha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago. O silêncio pesava.


- Abaixem as cabeças! – berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram impelidos por um túnel escuro, que parecia levá-los para debaixo do castelo, até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcaram subindo e pisando em pedras e seixos.


- Ei, você aí! É seu sapo? – perguntou Hagrid, que verificava os barcos á medida que as pessoas desembarcavam.


- Trevo! – gritou o garoto gordinho que estivera no barco de Harry Potter. Draco não pode reprimir um muxoxo. Claro que este tinha que ser O-garoto-que -perdeu-um-sapo-por-aqui. Mas uma vez provou sua teoria de que gentinha atraía gentinha.


Logo eles subiram por uma passagem aberta na rocha, acompanhando a lanterna de Hagrid, e desembocaram finalmente em um gramado fofo e úmido à sombra do castelo.


Galgaram uma escada de pedra e se aglomeraram em torno da enorme porta de carvalho.


- Estão todos aqui? Você aí, ainda está com seu sapo?


Hagrid ergueu um punho gigantesco e bateu três vezes na porta.

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