O início







Hermione subiu as escadas devagar, sentindo suas pernas fraquejarem quando chegou ao último degrau. O silêncio da casa era perturbador, sentia falta do barulho que as crianças faziam, correndo pela casa e implicando umas com as outras.


 


Abriu a porta do quarto e ficou recostada no batente, observando, pesarosa, o homem deitado na cama. Deu um longo suspiro, numa tentativa falha de acalmar seu coração.


 


Ela fechou os olhos lentamente, as lembranças preenchendo rapidamente seus pensamentos...


 


- Alguém viu um sapo? Neville perdeu o dele.


 


Hermione podia vê-los nitidamente com 11 anos em sua primeira viagem de trem à Hogwarts. O menino ruivo irritante ao lado do famoso Harry Potter, a boca cheia de doces, os quais ele tentava engolir depressa, com a varinha na mão. Sorriu ao lembrar que Rony confessara muitos anos depois que teve vontade de rir naquele dia quando notou que ela tinha os dentes da frente maiores que os demais.


 


- Já dissemos a ele que não vimos o sapo.


 


Rony olhou para ela parecendo nervoso por ter sido interrompido. Ela continuou olhando fixamente para a varinha que ele apertava com força. Não foi capaz de refrear sua curiosidade.


 


- Você está fazendo mágicas? Quero ver.


 


Petulante, sentou-se ao lado de Harry, aguardando ansiosa pelo feitiço que Rony tentava executar.


 


Rony acabara confessando também que havia ficado muito nervoso, porque ela parecia criticá-lo com os olhos incrivelmente brilhantes, cheios de euforia.


 


- Hum... Está bem.


 


Pigarreou.


 


- Sol, margaridas, amarelo maduro, muda para amarelo esse rato velho e burro.


 


Ele agitou a varinha, mas nada aconteceu.


 


- Você tem certeza que esse feitiço está certo? Bom, não é muito bom, né? Experimentei uns feitiços simples só para praticar e deram certo. Ninguém na minha família é bruxo, foi uma surpresa enorme quando recebi a carta, mas fiquei tão contente, é claro, quero dizer, é a melhor escola de bruxaria que existe. Já sei de cor todos os livros que nos mandaram comprar, é claro, só espero que seja suficiente, aliás, sou Hermione Granger, e vocês quem são?


 


E foi naquele dia que Hermione conheceu o garoto que seria como um furacão em sua vida.


 


.......................


 


 


- Vingardium leviosa! - Rony pronunciou o feitiço, parecendo terrivelmente ofendido por ter sido obrigado a fazer par com ela. 


 


- Você está dizendo o feitiço errado. É ving-gar-dium levi-o-sa, o gar é bem pronunciado e longo. - Ela tentou ajudar, mas aparentemente ele se ofendeu.


 


- Diz você então, que é tão sabichona.


 


-Vingardium leviosa!- ela pronunciara do jeito certo, sentindo uma sensação maravilhosa enquanto a pena subia em direção ao teto da sala perante todos os colegas, que olhavam admirados o que a menina que nascera trouxa era capaz de fazer.


 


Rony, no entanto, não demonstrara nenhuma emoção, e quando a aula terminou estava definitivamente de muito mau humor.


 


- Não admira que ninguém suporte ela.- ele falava, próximo a Harry.- Francamente, ela é um pesadelo.


 


Escutar que era um “pesadelo” era muito pior do que ter que escutar que era uma sabichona. Ela esbarrara propositadamente em Harry ao passar. Não sabia explicar porque, mas queria que Rony soubesse que ela havia escutado.


 


Ela estava assustada, acabara de conhecer um mundo novo, completamente alheio ao que ela conhecera desde que nascera, e embora tivesse lido a respeito de Hogwarts e do mundo bruxo, ainda era como uma estranha naquele universo. Nesse momento, ela apenas odiava aquele garoto estúpido de cabelos vermelhos e olhos incrivelmente azuis.


 


E foi naquele mesmo dia que Hermione descobriu o quão os sentimentos podiam ser confusos e contraditórios.


 


Ela passara o resto do dia trancada no banheiro, sentindo medo, raiva e até desprezo por si mesma. As grossas lágrimas ainda manchavam seu rosto quando escutou um barulho estrondoso. Ergueu os olhos apreensiva, e foi neste momento que se deparou com uma criatura assustadora.


Seu grito ecoou pelo banheiro, chamando atenção do monstro para si, embora essa definitivamente não fosse sua intenção. Estava encolhida em um canto, pronta para morrer no seu primeiro dia em Hogwarts quando viu um maço de cabelos vermelhos. Seu coração disparou em um misto de alívio e pânico. Afinal o que aquele garoto poderia fazer para ajudá-la. Mas para sua surpresa, fora exatamente aquele garoto, que a magoara mais cedo, que salvou sua vida.


 


Rony demonstrara naquele dia porque havia sido escolhido pelo chapéu seletor para ser membro da Grifinória; e de repente Hermione parecia tão orgulhosa do garoto de olhos azuis que sequer lembrava que era por culpa desse mesmo garoto que ela ficara trancada naquele banheiro durante todo o dia!


 


...........................


 


- Ninguém pediu sua opinião, sua sujeitinha de sangue ruim - xingou Draco ao ouvi-la dizer que nenhum jogador da Grifinória havia pagado para entrar no time.


 


Hermione percebeu na hora que Draco dissera uma coisa realmente ofensiva, porque houve um tumulto instantâneo em seguida às suas palavras. Flint teve que mergulhar na frente de Draco para impedir que Fred e Jorge se atirassem contra ele. Alícia gritou com voz aguda:


 


- Como é que você se atreve! –


 


Em meio ao tumulto, Hermione sequer percebeu quando Rony mergulhou a mão nas vestes e puxou a varinha:


 


- Você vai me pagar! - ele apontou a varinha, furioso, para a cara de Draco, por baixo do braço de Flint. Hermione ficou atônita, sem saber o que fazer.


 


Um estrondo muito forte ecoou pelo estádio, e um jorro de luz verde saiu da ponta oposta da varinha de Rony, atingindo-o na barriga e o atirou de costas na grama.


 


- Rony! Rony! Você está bem? - gritou Hermione agora muito preocupada.


Rony abriu a boca para falar, mas não saiu nada. Em vez disso, ele soltou um poderoso arroto e várias lesmas caíram de sua boca para o seu colo."


 


Aquela era uma atitude essencialmente Ronald Weasley, um garoto impulsivo, corajoso e com um enorme coração. Ele nunca medira esforços para defender seus amigos e as pessoas que amava, e Hermione sempre o admirara muito por isso.


 


- Professor, por favor- Hermione ergueu a mão, incapaz de se conter... - O lobisomem se diferencia do lobo verdadeiro por pequenos detalhes. O focinho do lobisomem...


 


- Esta é a segunda vez que a senhorita fala sem ser convidada. Menos cinco pontos para a Grifinória, por ser uma intragável sabe-tudo.


 


Hermione ficou muito vermelha, baixou a mão e olhou para o chão com os olhos cheios de lágrimas, quando ouviu a voz de Rony, o garoto parecia muito irritado.


 


- O senhor nos fez uma pergunta e Hermione sabe a resposta! Por que perguntou se não queira que ninguém respondesse?


 


Hermione ergueu os olhos, vendo Snape caminhar até Rony lentamente. O garoto sustentou o olhar do professor. Uma sensação de incrível admiração e gratidão fez o peito de Hermione se aquecer de uma forma absurdamente reconfortante.


 


Mais uma vez lá estava Rony a defendendo. Era como se ele tivesse um instinto natural para protegê-la. Analisando a história deles agora, depois de tantos anos, Hermione tinha a estranha impressão de que Rony julgava ser o único a ter o direito de magoá-la, afinal as brigas e implicâncias foram uma constante ao longo de suas vidas juntos; mas ela não reclamava, muitas vezes implicava com ele pelo simples prazer de vê-lo irritado.


 


 


............................


 


 


Hermione estava sentada em um canto da sala comunal, enquanto o time de quadribol da Grifinória comemorava a vitória contra Corvinal. Ela lutava para se manter concentrada no livro que tinha em mãos, mas seus olhos não obedeciam, eles percorriam ansiosos a sala a todo o instante, e toda a vez que localizavam Rony uma sensação de tristeza a tomava.


 


Sabia que Bichento estava com ela há apenas alguns meses, mas não conseguia acreditar que seu gato tivesse realmente devorado Perebas.


 


- Vamos, Mione, venha comer alguma coisa. - Harry a convidara, arriscando um olhar para Rony.


 


- Não posso, Harry. Ainda tenho muitas páginas para ler. De qualquer modo - ela olhou para Rony também, a voz carregada de tristeza - ele não quer a minha companhia.


 


Nesse momento, Rony a olhou também, e falou alto, para que todos na sala comunal pudessem escutar:


 


- Se Perebas não tivesse sido devorado, ele poderia ter comido uma mosca de chocolate. Ele gostava tanto...


 


Hermione não conseguiu se controlar. As lágrimas se assomaram a seus olhos antes que ela pudesse esconder o rosto. Largou o livro na poltrona de qualquer jeito e desapareceu escada acima, correndo para se refugiar no dormitório.


 


Ela entrou no quarto e se jogou na cama, sentindo-se imensamente infeliz. A sensação de culpa parecia corroer-lhe as entranhas. Sabia que Rony não tinha dinheiro para comprar outro rato, ou uma coruja. E no fundo, sabia que ele gostava daquele rato e que estava sentindo falta dele.


 


No fundo, Hermione sempre soubera da dificuldade de Rony em expressar seus sentimentos, o garoto sempre tivera o hábito de desprezar as pessoas que gostava, talvez por medo, talvez por insegurança...


....


 


Ainda muito abalada pela última briga com Rony e pelos últimos acontecidos no castelo, ela correu até a cabana do Hagrid em busca de algum consolo.


 


- Mione, o que aconteceu? – Perguntou o meio gigante vendo os olhinhos aflitos da menina.


 


- Perebas... - Hermione achou que não conseguiria continuar falando.- Bichento estava caçando Perebas há-há algum t-tempo e...


 


Mas ela não precisou terminar. Hagrid foi até ela e lhe deu breves tapinhas no ombro. A garota afundou alguns centímetros na poltrona com o impacto.


 


- Todos os gatos fazem isso, Mione. Não se sinta culpada.


 


Não era a primeira vez, naquele ano, que Hermione procurava Hagrid para desabafar.


 


Foi para a cabana de Hagrid que ela correu em busca de consolo, quando se viu sozinha, sem ninguém para desabafar, para expor seu medo e sua angústia após saber que Rony fora atacado por Sirius Black.


 


- Merlin! Podia ter sido muito pior – ela gaguejava, em meio às lágrimas. - Ainda não consigo acreditar que aquele homem conseguiu ir até o dormitório dos garotos.


 


Hagrid escutava atento.


 


- Acalme-se, Mione... está tudo bem agora.


 


- Eu sei - a voz dela beirava a histeria.- Se ele tivesse atingido o Rony, n-não sei o que faria. Ele não fala comigo há dias, e... eu... eu nem... nem me desculpei direito com ele.


 


Entre soluços, ela escondeu o rosto nas mãos.


 


 


Aquela tinha sido apenas a primeira vez que Rony havia a deixado em pânico, o medo de perdê-lo a assombrava desde aquele dia. Ela não demorou muito a entender porque temia tanto que algo acontecesse ao garoto que acabara se tornando um dos seus melhores amigos na escola.


 


 


........


 


 


Hermione segurava a carta, apertando-a com demasiada força. Ela simplesmente não podia acreditar.


 


Ao avistar os garotos, não pensou em mais nada, correu até eles, enquanto grossas lágrimas molhavam seu rosto, e contou que Hagrid havia perdido o caso, Bicuço seria executado.


 


- O pai de Malfoy deve ter intimidado a Comissão para ela fazer isso. Vocês sabem como ele é. Os outros são um bando de velhos caducos e bobos e ficaram com medo. Mas vai haver recurso, sempre há. Só que não consigo ver nenhuma esperança. Nada vai mudar até lá.


 


- Vai, sim - Rony falou com ferocidade, a surpreendendo.- Você não vai ter que fazer o trabalho todo sozinha desta vez, Mione. Eu vou ajudar.


 


Pega de surpresa, Hermione sentiu um nó se formar em sua garganta, uma vontade incontrolável de dizer a Rony como ela estava triste, o quanto lamentava por Perebas, mas ao invés disso, ela apenas o abraçou.


 


- Ah, Rony!


 


Hermione atirou os braços no pescoço de Rony, agora chorando mais do que nunca. O garoto, com cara de terror, acariciou muito sem jeito o topo da cabeça da garota.


 


Uma onda quente percorreu o corpo de Hermione, causando um leve estremecimento ao sentir os dedos de Rony acarinhando seus cabelos. Era um sentimento novo, desconhecido, e que fazia com que ela se sentisse estranhamente protegida.


 


Hermione ouviu um gemido fraco, espichou o pescoço para poder vê-lo melhor, mas Rony permanecia dormindo.


 


 

 


 


..........................................................


N/A: A vontade de construir esse remake de Ron e Hermione surgiu da minha necessidade de sempre tê-los por perto! Espero que gostem de reviver esses momentos comigo!


Um super agradecimento a Viviane Barreda, não apenas pela betagem, mas pela sugestão da cena do segundo ano, a qual mostra o quanto Rony sempre se importou com Hermione, embora tenha demorado para admitir :)


Beijos a todos!

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Comentários (5)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    PERFEITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO <3 <3 <3 "Ah meu Deus! Tow aqui chorando, amo muito o seu casal! Mais uma fac sua que eu vou salvar aqui no computador! Parabens..." <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3

    2012-12-17
  • andiara nobreza

    continua por favorr ta muito muito lindo *-*  

    2011-09-07
  • Murillo Gustavo

    Muito boa mesmo a fanfic... Continua porfavor...

    2011-09-06
  • Laridsa Falcão

    continua essa fic, por favor!!!

    2011-09-04
  • FafisAmorim

    Ah meu Deus! Tow aqui chorando, amo muito o seu casal! Mais uma fac sua que eu vou salvar aqui no computador! Parabens...

    2011-09-02
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