Como um homem faz





CAPITULO SEIS


 Hermione Granger se levantou naquela manhã com um humor renovável. E ela não era a única, afinal era sexta feira. E uma sexta feira belíssima, diga-se de passagem. Estava um dia lindo e confortavelmente quente.


 A morena se levantou normalmente. Havia quase uma semana que não via Malfoy e isso não a incomodava nem um pouco. A não ser pelo fato de Lilá ganhar cada vez mais tempo com Rony.


 Balançou a cabeça negativamente e foi ao banheiro, a fim de escovar os dentes e tomar um banho rápido. Saiu enrolada em uma toalha e passou a procurar o uniforme pelo quarto. Lembrava-se vagamente de tê-lo deixado pendurado em uma cadeira. Encontrou-o depois de dar uma breve volta pelo dormitório.


 Vestiu a camisa. A saia. Colocou um tênis simples nos pés. Jogou a gravata em volta do pescoço e deu um nó quase perfeito. Dispensou a capa com um gesto de mãos.


 Passou os dedos habilmente pelos cabelos, apenas para ajeitar os cachos. Olhou-se por um momento. Reparou que só usava os cabelos separados no meio. Deu de ombros e separou-os do lado dessa vez.


 - Ficou bom – elogiou a si mesma.


 Foi em busca da bolsa, que estava pendurada na cabeceira da cama. Estava quase saindo porta afora, quando ouviu um barulho vindo da janelas, ao lado de sua cama.


 Tomando cuidado para não acordar suas companheiras de quarto (ela não teria realmente se importado em acordar Lilá Brown), ela foi até a janela e descobriu uma coruja familiar.


 Sorriu, repentinamente animada e desprendeu a carta da perna da coruja.


 Desceu as escadas e esbarrou com Rony e Harry, que também desciam apressados.


 - Desculpa, Hermione.


 - Bom dia pra vocês também.


 Os três desceram até a Sala Comunal. Os meninos foram até o retrato da Mulher-Gorda, mas Hermione não os acompanhou. Ela foi para a mesa mais próxima e se postou a abrir a carta.


  - Você não vem, Hermione? – perguntou Rony, parando.


 - Não.


 - Por quê?


 - Tenho que escrever uma coisa. – respondeu ela, retirando um pedaço de pergaminho de dentro do envelope. – E você? Não vai esperar sua namorada? – perguntou, tentando parecer indiferente.


 Rony fez uma careta.


 - Ah... – fez ele. – Tinha me esquecido. 


 Ele e Harry voltaram para a Sala Comunal, sentando-se na mesma mesa que Hermione ocupava.


 Hermione leu a carta atentamente, sorrindo a cada frase dita. No final, ela soltou um pequeno suspiro, dobrando a carta ao meio e pegando pena e pergaminho.


 - Harry, será que pode me emprestar seu tinteiro? Acho que esqueci o meu...


 - Claro.


 Harry abriu a bolsa e pegou seu tinteiro, entregando-o à amiga.


 - Obrigada. – disse, sorrindo.


 A garota começou a escrever freneticamente. Rony esticou o pescoço, tentando ver o que ela escrevia, mas não conseguiu nada.


 - O que esta escrevendo, Mione?


 - Uma carta.


 - Parece mais um livro.


 Hermione balançou a cabeça negativamente.


 - Nem todos tem preguiça de ler uma carta comprida.


 - Eu não disse que tinha preguiça.


 - E eu não mencionei o seu nome.


 Harry pensou que aquilo se parecia muito com uma daquelas brigas que seus amigos tinham antes de Rony começar seu namoro com Lilá.


 - Não precisava ser ignorante. – resmungou Ronald.


 - Eu não fui ignorante. Foi você quem criticou minha carta.


 - Eu apenas fiz um comentário.


 - Um comentário bem inútil, pelo visto.


 As orelhas do ruivo começaram a ficar vermelhas.


 - O que quer dizer com isso?


 - Qual foi a utilidade em anunciar que minha carta parece um livro? – questionou Hermione, começando a perder a paciência.


 Harry movia a cabeça de um para o outro, como se estivesse vendo um jogo de ping-pong. 


 - Afinal, para quem é essa carta? – perguntou Rony, tentando puxar a carta das mãos de Hermione.


 - Porque isso seria da sua conta? – retrucou ela, se debruçando sobre o pergaminho, impedindo que o garoto o pegasse.


 - É do Krum! – berrou Rony. Não foi uma pergunta.


 - Quem é que te garante isso?!


 - Você me deixaria ver se fosse outra pessoa. – declarou Ronald. – Tenho certeza que é do Krum!


 - E se for? Desde quando você se importa com isso?


 Ronald Weasley perdeu a fala. Estava ardendo de ciúmes por saber que Hermione conversava com Víctor Krum por cartas.


 - Aposto que você andou dando pra ele! – berrou, mudando o rumo da conversa.


 Harry arregalou os olhos, horrorizado. Hermione ferveu de raiva.


 - Como se atreve?!


 - Ah, então você nega?


 - É claro que eu nego!


 - Então deve ser verdade. Afinal, deve haver algum motivo para ele continuar se correspondendo com uma pessoa tão insuportável quanto você!


 Hermione ergueu a mão, ávida para virar um tapa na cara do garoto. Mas voltou à abaixá-la. Não iria perder seu tempo com ele.


 Ele realmente a achava insuportável?


 - Me respeite, Weasley! Não sou como sua namoradinha, que até o ano passado se trancava nos armários de vassoura com cinco garotos de uma só vez!


 - E, me diga, qual é a diferença? Ela se trancava nos armários de vassoura e você se trancava na biblioteca!


 - Não sou obrigada a ouvir isso.  


 Hermione agarrou suas coisas e começou a guarda-las o mais rápido que conseguia. Entregou o tinteiro à Harry, jogando um “obrigado” rápido e choroso. Como Rony podia pensar isso dela?


 Antes de a morena passar pelo retrato da Mulher-Gorda, Ronald já estava arrependido.


 Deixou-se cair na cadeira, ligeiramente exausto.


 - Me diga, porque ela ainda perde tempo trocando cartas com aquele búlgaro imbecil?


 Harry olhou para ele, incrédulo.


 - E, me diga, qual é o seu problema?



 



 


 Hermione Granger andou até a mesa de café da manhã, em busca de Gina. Havia terminado sua carta, mas precisava de um coruja para manda-la. Por dentro, ela estava com uma vontade quase incontrolável de chorar. Mas, por fora, parecia naturalmente indiferente ao que acontecia em volta.


 Encontrou a ruiva sentada ao lado de Luna, na mesa da Grifinória.


 - Olá, meninas. – cumprimentou, sentando-se ao lado de Luna.


 - Olá, Mione. – disse Gina.


 - Olá, Hermione – disse Luna, distraída. – Brigou com o Ronald outra vez?


 Hermione engasgou com o suco de abóbora que havia pegado. Gina olhou para a amiga, procurando algum vestígio de tristeza nos olhos da morena.


 - Do que está falando, Luna? – perguntou Gina. – Hermione está perfeitamente normal.


 - Normal demais. – comentou a loira.


 A morena balançou a cabeça negativamente e disse:


 - Bem, eu briguei sim com o Ronald.


 - Ah, conte uma novidade, Mione – ironizou Gina.


 Luna riu suavemente.


 - Ele deve ter dito coisas horríveis. – comentou.


 - Sim. Mas como sabe? – perguntou Hermione, confusa.


 - Bem, se fosse uma briga comum, você estaria deixando claro para todos que estava furiosa. Mas, dessa vez, você esta tentando fingir que está tudo bem. E eu sei porque.


 - Por quê? – perguntou Gina.


 - Porque ela não está furiosa. Está triste.


 As duas olharam penalizadas para Hermione, que bufou, revirando os olhos. Tentou fingir melhor.


 - Quer falar sobre isso? – perguntou Gina.


 - Não. – respondeu Hermione, seca.


 - O que foi que ele disse? – pressionou Gina.


 - Porque não pergunta à ele?


 Gina e Luna se entreolharam. A loira deu de ombros e começou a cantarolar uma canção sem sentido.


 - Pode me emprestar sua coruja? – perguntou Hermione, mudando de assunto.


 - Claro.


 


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 Na Sala Precisa, às sete. Não se atrase.


 


 Esse era o bilhete que Hermione encontrara no meio de seu livro de poções no final do dia. Olhou para a caligrafia elegante e se sentiu uma verdadeira desleixada, mas deu de ombros. Não podia sentir inveja, mesmo que da caligrafia, de Malfoy.


 Deu de ombros e jogou o bilhete no meio do livro de poções novamente, como fez com o último. Poções estava longe de ser sua matéria preferida. Que as coisas ruins ficassem juntas.


  Ainda eram seis e dez, então teria tempo de tomar um banho antes de ir à Sala Precisa. Aquele não era seu lugar preferido nos últimos tempos.


 Faltava meia hora para às sete da noite quando Hermione desceu as escadas do dormitório, vestindo uma calça jeans e uma camiseta comum. Não queria estar bonita para um sonserino.


 Ignorou Ronald quando o viu na Sala Comunal e cumprimentou Lilá que estava ao seu lado, fazendo Harry ficar de boca aberta. Não fazia sentido ficar com raiva de Lilá. No final das contas, ela não tinha culpa de absolutamente nada – muito menos de estar namorando com uma ameba esquizofrênica com um cérebro menor do que um polegar.


 Passou pelo retrato da Mulher Gorda e cumprimentou Gina, que estava do lado de fora. Andou calmamente pelos corredores, tentando parecer natural, como se estivesse apenas dando um passeio.


 Levou cerce de dois minutos para chegar à tapeçaria da Sala Precisa. Malfoy já estava lá.


 - Malfoy. – cumprimentou Hermione, com um aceno de cabeça.


 - Granger. – respondeu Draco, se levantando e abrindo a porta da Sala Precisa (que acabara de surgir).


 Ambos entraram, sem se olhar verdadeiramente.


 - Tem tido sucesso com os armários sumidouros? – perguntou Hermione, puxando conversa.


 - Não é da sua conta. – retrucou Malfoy, sorrindo amavelmente. – E você? Tem tido sucesso com o Cabeça de Cenoura?


 Hermione fez uma careta.


 - Esses apelidos são infantis e ridículos. – comentou ela. – Você não precisa disso.


 - Isso também não é da sua conta.


 A garota desistiu de tentar argumentar e respondeu à pergunta dele.


 - Não estamos indo à lugar nenhum com isso.


 - E porque acha isso?


 - Eu e Ronald brigamos hoje.


 Malfoy fez uma voz fininha e levantou os braços.


 - Uau! Mas que novidade. – disse.


 Uma gargalhada escapou pelos lábios de Hermione e ela tossiu para disfarça-la. Malfoy se sentiu desconfortável. Era a primeira vez que alguém ria dele por acha-lo engraçado.


 - Desculpe. – disse Hermione, se recuperando. – Foi o impulso.


 - Sem problema. Ãhn... Qual foi o motivo da briga?


 Hermione suspirou e se sentou em uma poltrona, encolhendo as pernas.


 - Uma carta.


 - De quem era a carta?


 - Minha.


 - E quem lhe mandou a carta?


 - Victor Krum. Acho que se lembra dele.


 - Ah, sim, ele te levou ao baile de inverno no quarto ano. – meditou Malfoy. – Não sabia que ainda se correspondia com ele.


 - Não havia motivo para você ficar sabendo.


 - Realmente. – concordou o garoto. – Mas, voltando ao assunto, sobre o que era a carta?


 - Não é da sua conta.


 - Preciso saber o conteúdo da briga.


 - Não precisa, não. – retrucou Hermione. – O que aconteceu foi o seguinte: eu estava respondendo a carta do Victor e Rony começou a falar merda no meu ouvido. Então nós discutimos e ele disse que eu estava dando para o Victor. Fim da história. – finalizou ela, com uma aceno de mãos.


 - Hum... – fez Malfoy, meditando.


 - Hum o que?


 - Isso é um ótimo sinal.


 - Não acho que seja.


 - E porque não?


 - Nós brigamos. Isto esta longe de ser um bom sinal.


 O loiro bufou.


 - Ah, Granger! Use seu cérebro. O Weasleyzinho implicou com a carta por que ficou com ciúmes.


 Hermione cruzou os braços, aborrecida.


 - Pode até ser. Mas insinuar que eu estava dando para o Victor foi um desaforo.


 Malfoy jogou a cabeça para trás e riu alto – e ironicamente, se é que isso é possível.


 - Essa parte foi hilária. – comentou.


 - Foi patética!


 - Certo, certo... – disse ele.


 - Certo. Porque me chamou aqui?


 Draco se levantou e juntou as mãos, parecendo um verdadeiro professor.


 - Vou te ensinar a política masculina.


 - O que?


 - A politica masculina.


 - O que é isso?


 - Santa ignorância! – reclamou Malfoy. – A politica masculina se resume em alguns critérios básicos. Primeiro: mulher. Segundo: comer/dormir/quadribol. Terceiro: mulher.


 - Você disse “mulher” duas vezes.


 - É porque as mulheres são duas vezes mais importantes do que os outros quesitos.


 Hermione revirou os olhos.


 - Prossiga. – disse, com um gesto de mãos.


 - Vou te dar uma lista com alguns quesitos para te ajudar à compreender como a nossa cabeça funciona. – ele pausou, para ver se Hermione estava acompanhando. – 1: nenhum garoto gosta de admitir que levou um fora. 2: A maioria dos garotos acham que existe uma “super cantada” que deixa a menina caidinha por ele, quando na verdade, só o faz mais babaca ainda. 3: Para a maioria dos garotos ficar com meninas é como uma competição, ganha quem pegar mais. 4: Os garotos gostam de quem os despreza, e despreza quem gosta deles. 5: Todo garoto surta quando a ficante diz que o ama já no primeiro dia.


 - Por quê?


 - Nenhum garoto gosta de menina que fica muito no pé. Vai por mim. Mesmo que você não intervisse, o Pobretão logo daria um fora na Brown. – explicou Malfoy. – 6: 90% das meninas que os garotos pegam nas baladas são antes avaliadas por 2 critérios: Beleza e Beleza. 7: Os garotos pensam mais na beleza do que na inteligência e personalidade. Ou seja, Granger, procure ser menos inteligente. – acrescentou, fazendo a garota fechar a cara. – 8: Garotos insistem várias vezes no mesmo erro. 9: A maioria dos garotos já quis ficar com a melhor amiga. Isso te lembra alguém, Granger?


 - Na verdade, não. Prossiga.


 - 10: Garotos gostam de mulheres que se cuidam. 11: Todo garoto já pagou de idiota por causa de uma menina e depois acabou se ferrando. Por isso eles desistem. 12: Todo garoto já quis pegar a mais gata da escola. E é sempre a mais popular, a mais puta e a mais galinha. 13: Quase todo o garoto já beijou a própria prima. Eu já fiz isso. – riu-se Malfoy. - 14: Os garotos preferem mulheres que não perguntam muito. 15: Na balada, grande parte dos garotos preferem as mulheres que beberam mais, elas ficam mais soltas…


 - Terminou?


 - Terminei.


 - Posso fazer uma observação?


 - Fique a vontade.


 - Vocês são idiotas.


 - E você tinha dúvida disso?


 Hermione revirou os olhos novamente.


 - Qual é moral disso tudo?


 - Se você achar um garoto que não entre nessas 15 características, ele é gay.


 - Só isso? – perguntou Hermione, incrédula.


 - E você esperava mais?


 - Na verdade, sim, eu esperava mais.


 - Nunca espere demais de um garoto. Principalmente se ele for um sonserino.


 Hermione suspirou, cansada.


 - Algo mais?


 Malfoy levantou a sobrancelha esquerda e deu um sorrisinho de lado.


 - Uma coisa você fez certo, Granger. Continuar se correspondendo com o Krum nos trouxe uma vantagem em uma ótima hora. – comentou.


 - E qual seria essa vantagem?


 - O Weasley tem ciúme dele. E mais cedo ou mais tarde você vai ter que provar ao seu amado que não está nem ai para fato de ele ter uma namorada. Qual a melhor maneira de se fazer isso? – ele esperou que Hermione respondesse, mas como ela continuou calada, ele mesmo respondeu: - Saindo com outro garoto. Então, faça o seguinte: chame-o para passar uns tempos aqui em Hogwarts. Tenho certeza de que a Velha Enrugada não vai se opor.


 - E quem seria essa velha enrugada?


 - A McGonnagal. – respondeu Malfoy, como se fosse óbvio.


 Hermione pareceu pensar.


 - Tem certeza? – perguntou.


 - Absoluta.


  

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Comentários (1)

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