Capítulo Dois - Restrições




Capítulo Dois - Restrições

 Hermione ficou cerca de dois dias sem notícias de Malfoy. Depois da conversa que eles tiveram, na qual ela assumira que precisava da ajuda dele, o tempo que passou foi o suficiente para fazê-la se esquecer do que havia dito, combinado ou assumido. Afinal, os estudos estavam realmente tomando toda a sua mente naquele momento, por isso era comum que ela não se lembrasse. 

 Porém, um dia, quando foi obrigada a se sentar na companhia de Rony na sala comunal, o assunto veio a tona. Nunca que ver Ronald e Lilá aos amassos na sua frente, novamente, desencadearia boas lembranças. Principalmente quando um certo ruivo lhe lançava olhares petulantes a cada intervalo coerente entres aqueles beijos. 

 Merlin, aquilo era uma lingua? Parecia mais uma jararaca que morava na boca de Lilá Brown. Mas lembre-se, Hermione, de que é aquela jararaca que invade a boca do seu querido Ronald Weasley todos os dias no café da manhã. 

 E onde é que estava Harry que não aparecia? 

 Hermione tinha mesmo uma falta de sorte imensa: o garoto que ela gostava estava aos beijos com outra... Não. Reformulando a frase: o garoto que ela gostava estava aos beijos com outra na SUA FRENTE; seu melhor amigo - sua única companhia - ainda não voltara do maldito treino de quadribol. 

 Será que podia ficar pior do que aquilo? Certo, nunca faça essa pergunta em uma situação ruim, porque a resposta para ela é: "Sim, minha querida, pode ficar muito pior!". 

 Ronald soltou um gemido alto quando Lilá começou a beijar seu pescoço, abrindo os primeiros botões da camisa e beijando o peito dele. 

 Reprimindo uma careta e ignorando a ânsia de vomito que aquilo lhe causou, Hermione abriu a bolça para tomar partido da única coisa que continuava sendo seu refúgio e que ainda funcionava como tal: livros. Ela pegou o primeiro que viu, sem nem ao menos ler o título, e começou a folheá-lo. 

 De dentro do livro aberto, caiu um pequeno pedaço de pergaminho, dobrado ao meio. Hermione pegou-o e começou a ler:

 "Me encontre em frente à tapeçaria da Sala Precisa, às sete. Não conte à ninguém."

  A garota notou que não havia assinatura, mas não havia necessidade de uma. Ela sabia perfeitamente quem era e o que queria. Hermione consultou o relógio e constatou que ainda eram seis horas. Mas ela pouco se importou. Aquilo já era um motivo para que ela saísse da frente do casal-chiclete o quanto antes. 

 A morena postou-se de pé e guardou o bilhete no meio de seu livro de poções, fechando-o na bolça em seguida. Virou-se para Ronald e fez uma careta. Lilá agora tinha as pernas passadas pela cintura dele. 

 - Hum... Ronald? - chamou, indecisa. O garoto desgrudou-se de Lilá e a encarou com as sobrancelhas erguidas, como se perguntasse o porque da interrupção. - Pode avisar ao Harry que não pude esperar por ele? - perguntou. 

 - Aonde você vai? - ele perguntou, ignorando Lilá que beijava sua orelha. 

 - Não sou eu que lhe deve satisfações, Weasley. - respondeu, apontando Lilá com a cabeça. - Só avise ao Harry. 

 - Certo. - resmungou o ruivo, antes de voltar sua atenção para outra coisa mais interessante. 

 Hermione deu as costas à eles e foi em direção ao buraco do retrato. 

................................................................................................

 Quando chegou à tapessaria em frente à Sala Precisa, Hermione se sentou imadiatamente no chão, após constatar que Malfoy ainda não havia chegado. Mas ele não estava atrasado, pelo contrário. Era ela quem estava adiantada. 

 Talvez Harry fosse querer matá-la mais tarde por tê-lo deixado sozinho com Rony e Lilá. Hermione sorriu ao constatar esse pequeno fato. Pobre Harry, pensou. 

 - Acredite, - acrescentou em um sussurro - dói mais em mim do que em você. - disse, como se Harry pudesse escutar de algum lugar do enorme castelo.

 Hermione permaneceu assim por alguns minutos, pensando no que estava prestes a fazer. Pediria desculpas a Harry depois. E daria um jeito de impor algumas regras ao Ronald que incluiam manter a língua longe da boca de Lilá em público, porque ela e Harry não tinham o dever ficar aturando a pegação que rolava entre eles. 

 Talvez ela dissesse à ele para se dar o respeito também. E se ele se recusasse, Hermione diria a Harry para dar privacidade ao casal. Rony e Lilá para um lado, ela e Harry para o outro. 

 A morena riu triste com o pensamento. Ela sabia que não poderia impor este tipo de condição à Harry, afinal, ele era o melhor amigo de Rony. 

 - Chegou cedo, Granger? - um voz irônica surgiu no final do corredor. 

 Hermione suspirou. Por um momento ela havia pensado que Malfoy daria um toco nela. Se ele o tivesse feito, a garota com certeza estaria livre de todo aquele rolo. Sim, porque ela já estava começando a se arrepender. 

 Suspirando mais um vez, a grifinória se levantou, o encarando com petulância. 

 - Se eu não tivesse vindo, você teria motivos de sobra para reclamar, mas eu estou aqui, portanto contenha-se. - disse, se postando em frente ao garoto.

 Malfoy sorriu. 

 - O fato de você ter chegado cedo me surpreendeu. - disse, ignorando o breve acesso de hipocrisia da garota. - Eu não sabia que estava tão anciosa para me ver...

 Hermione abriu a boca uma ou duas vezes, mas não encontrou resposta. Optou pela verdade:

 - Não estava anciosa para ver você, só queria me livrar do posto de observadora de um dos amassos de Rony e Lilá. - respondeu, cruzando os braços. 

 - Ah, claro. - um sorriso de deboche surgiu nos lábios dele. 

 Malfoy se virou de costas para a tapeçaria. Em frente à ele, a porta da Sala Precisa surgiu. O sonserino não hesitou em entrar, mantendo a porta aberta para Hermione passar. Cavaleirismo? Não. O sorriso de deboche não deixava o rosto dele. 

 Hermione suspirou mais uma vez. Um suspiro cansado e se perguntou pela milésima vez se estava fazendo a coisa certa. Mas ainda assim entrou. Ela olhou em volta, examinando a aparência da sala desta vez. Estava aconchegante: tinha uma lareira, poltronas, uma mesa. Parecia com a sala comunal da Grifinória, mas a decoração era verde. 

 - Péssimo gosto para cor. - ela desaprovou em voz alta e ouviu Malfoy rir. 

 - Apenas feche a boca e sente. - ele ordenou. Hermione franziu o cenho. Desde quando Malfoy lhe dava ordens? Ela manteve-se de pé, enquanto ele se acomodava em uma das poltronas. Ao ver que a garota não havia saido do lugar, o sonserino apontou a poltrona e ordenou novamente. - Você não ouviu o que eu disse? Sente-se. 

 - Ah, eu vou me sentar. - a grifinória retrucou. - A partir do momento em que aprender a ser educado. - acrescentou. 

 Malfoy examinou bem a garota, antes de fechar a cara e dizer:

 - Por favor, sente-se. - pediu educadamente. 

 Hermione sorriu vitoriosa e foi em direção à poltrona, sentando-se logo em seguida. 

 - E então? - perguntou, depois de estar acomodada. - Porque me chamou aqui? 

 - Acho que é meio óbvio. - ele rebateu. 

 - Sei disso. Mas o que eu quis dizer foi: o que faremos aqui? - ela se explicou. 

 Malfoy suspirou. Seria mais dificil do que ele imaginava. 

 - Não começarei a te ensinar hoje. Só te chamei aqui para deixar algumas coisas bem claras.

 - Diga. - Hermione instou-o a continuar.

 - Primeiro: o que faremos aqui só diz respeito a nós dois. Ou seja, ninguém deve ficar sabendo. - começou. 

 - Não era minha intenção dizer alguma coisa à alguém. - a morena disse. 

 - Não me interrompa. - cortou Malfoy. - Segundo: apenas eu entrarei em contato com você para marcar as "aulas". Não deve falar comigo. - ela balançou a cabeça afirmativamente, mostrando que estava acompanhando. - Terceiro: você fará tudo o que eu mandar sem perguntar. Quarto: você responderá todas as minhas perguntas. Quinto: você não questionará minhas aulas. - ele terminou. 

 Hermione parou por um momento, analisando todas as cinco restrições. Chegou à conclusão de que estava andando em um terreno perigoso. 

 - Não sei se concordo com as últimas três...

 

 - E porque? - o sonserino perguntou. 

 - Como vou saber se não está mentindo para mim?

 Malfoy deu de ombros.

 - Não vai saber. Apenas terá que confiar em mim. - ele disse como se fosse a coisa mais simples do mundo. 

 - Por que eu deveria confiar em você? 

 - É uma ótima pergunta. Mas não tenho a resposta. Acho que terá que arriscar. 

 A garota olhou para o loiro à sua frente. Examinou cuidadosamente o rosto dele, mas não encontrou nada que não fosse a sinceridade que brilhava nos olhos claros de Malfoy. Seria certo aceitar tudo isso sem pestanejar? Mas pensando bem, ela só tem feito coisas certas durante toda a sua vida. 

 - Certo. - respondeu. 

 - Aceita? 

 - Aceito. - confirmou. 

 Malfoy sorriu e ela sentiu um frio na espinha que caracterizou como medo, mas não perdeu a pose de petulante.

 - Duvidas? - o garoto perguntou. 

 - Sim. O que exatamente você vai mudar em mim nestas "aulas"? 

 O sonserino suspirou, como se estivesse cansado. 

 - Entenda uma coisa, Granger: eu não vou mudar você. Vou aperfeiçoar você. - explicou. 

 - Entendo... - murmurou Hermione, realmente tentando entender. 

 - Mais alguma coisa? 

 - Não, eu acho que é só isso. - repondeu ela. 

 Malfoy se levantou, gesticulando para ela fazer o mesmo. 

 - Vem comigo, quero que examine uma coisa para mim. - ele pediu, saindo da Sala Precisa. 

 Hermione o seguiu, parando em frente à tapeçaria e esperando a porta da Sala Precisa se fechar e sumir, para depois começar a aparecer novamente. Ela não entendeu, mas manteve-se quieta. O garoto andou até a porta e a abriu, revelando um lugar bem diferente do que o visitado anteriormente. Ela entrou e mais uma vez, examinou o ambiente com os olhos atentos. 

 Desta vez a sala estava cheia de objetos mágicos diferentes e curiosos. Eram tantos que chegavam a formar um tipo de entulho por todo o local. Malfoy a guiou até um objeto particularmente grande, coberto por um pano velho que foi logo retirado. 

 - O que é isso? - ele perguntou. 

 A morena se lembrou de ter visto um igual naquela loja estranha no Beco Diágonal, onde havia visto Malfoy entrar antes do começo da ano letivo. Se perguntou o porque de ele estar interessado naquele objeto se já tinha visto um idêntico à este. 

 - É um Armário Sumidouro. - ela respondeu. 

 - E para o que serve? 

 - Bem... se você entrar em um Armário Sumidouro pode ficar desaparecido por cerca de duas horas, mais ou menos. Mas há alguns riscos: na volta, uma parte de você pode ser deixada para trás. 

 - Estrunchamento? - tentou Malfoy. 

 - Quase isso. - confirmou Hermione. 

 - E o que deve ser feito para não ter estes riscos?

 - Basicamente, para evitar isso, é necessário que este Armário seja enfeitiçado para levar para algum lugar específico. 

 - Como se faz isso? 

 - Primeiro precisa-se de um outro Armário no lugar aonde se deseja ir. Depois, precisa simplesmente criar uma conexão entre os dois Armários. - ela finalizou. 

 - Como se cria uma conexão? - ele voltou a perguntar. 

 - Não sei. - Hermione respondeu. 

 - Pode pesquisar para mim? 

 Hermione franziu a testa, desconfiada. 

 - Por que? 

 - Não se esqueça de que deve responder a tudo o que eu perguntar sem pestanejar. - ele repreendeu. - Pode ou não pesquisar para mim? 

 Ela bufou. 

 - Posso. 

 - Quanto tempo vai demorar? 

 - Talvez uma semana, no máximo. - respondeu ela. 

 - Certo. 

 Ambos os dois sairam da Sala Precisa, que logo desapareceu diante de seus olhos. Hermione se perguntava o que as perguntas do sonserino teriam a ver com as 'aulas' que estava prestes a ter, mas manteve o pensamento para si, afinal Malfoy fora bem claro ao dizer que tudo o que ele perguntasse, ela deveria responder sem pestanejar. 

 

 Era uma coisa realmente curiosa, mas não era da conta dela, por isso ela resolveu manter-se calada. O loiro se virou para Hermione. 

 - Eu entro em contato. - e saiu pelo corredor, deixando a garota com seus próprios pensamentos. 

................................................................................................ 

 Assim que voltou para a Sala Comunal da Grifinória, Hermione se deparou com Ronald e Harry conversando em duas poltronas em frente à lareira. Ambos olharam ao ouvirem a garota chegando pelo retrato da Mulher Gorda. 

 Os três se encararam por alguns minutos. Hermione moveu seus olhos para Harry e viu um pedido silencioso nele: Lilá estava descendo as escadas do dormitório com uma caixinha na mão. Ele não queria ficar sozinho com o casal mais uma vez. 

 Por isso, ela se dirigiu à uma poltrona vazia entre Harry e Rony e se acomodou, colocando a bolça no chão, aos seus pés. 

 - Onde você estava? - perguntou Harry. 

 

 - Ahn... biblioteca. - respondeu. Teria ele percebido a mentira na sua voz?

 Nesse meio tempo, Lilá tinha se juntado ao grupo, sentando-se no colo de Rony, por falta de alguma poltrona vazia. Hermione reprimiu um gemido de desgosto e Harry revirou os olhos. 

 - Oi, Uon-Uon. - cumprimentou a loira alegremente e deu um beijo estalado na bochecha de Rony. Harry abafou uma risada ao ouvir o apelido, sendo aconpanhado por Hermione, que tossiu para disfarçar. 

 Rony ficou com as orelhas vermelhas de vergonha. 

 - Oi. - respondeu sem graça. 

 - Sentiu minha falta? - perguntou Lilá, toda melosa distribuindo beijinhos no rosto do ruivo. 

 Harry prendeu uma gargalhada ao ver a careta que Hermione fez ao ver a cena. 

 - Lilá, você demorou exatamente dois minutos para descer desde que subiu para o dormitório. - Rony respondeu, como se isso fosse óbvio. 

 - E não é tempo suficiente? - retrucou a garota em seu colo. 

 Rony não respondeu. 

 Harry e Hermione trocaram um olhar divertido. A morena estava enciumada e levemente enojada, mas não deixaria transparecer seu estado emocional para ninguém. 

 Houve um silêncio tenso, que foi quebrado por Rony.

 - Então... ahn... - começou ele, como se tivesse medo de perguntar. - O que tem na caixinha? 

 Lilá deu um sorriso que dizia claramente 'eu tenho trinta e dois dentes', e abriu a caixinha revelando uma correntinha dourada e fina que acomodava um pingente que dizia 'Meu Namorado'. 

 Hermione não conseguiu se segurar e começou a rir, colocando a mão na boca para que a risada não saisse histérica demais. Harry ainda tentou se segurar por um ou dois segundos - em respeito a Rony -, mas não conseguiu se conter e começou a rir também. 

 A garota loira, ainda no colo de Rony, ignorou a ambos e ajeitou a correntinha na mão do ruivo, que tinha os olhos arregalados e o queixo caído. Em seguida olhou desesperado para os dois amigos que se dobravam de rir em suas poltronas. Ele fechou a cara. Lilá parecia impaciente, por isso não esperou que Rony respondesse e disse:

 - O que achou? Linda, não é? - pegou a correntinha da mão do namorado e colocou em seu pescoço. O pingente oscilou no pescoço de Rony até parar. 

 - Ficou lindo. - Hermione elogiou com ironia, limpando as lágrimas de riso. A situação era tão hilária que ela não conseguia se chatear com aquilo, o que era bom. Podia chorar mais tarde. 

 Ronald olhou para ela furioso, mas não disse nada. 

 - Sério. Ficou... a sua cara. - acrescentou Harry, ainda rindo. 

 Lilá pareceu não notar o sarcasmo na voz dos dois e sorriu agradecida. 

 - Viu? Ficou uma graça. - ela disse, baguçando o cabelo do garoto. 

 - Obrigado. - resmugou o ruivo. Não se sabe se estava falando com seus amigos ou com sua namorada. - É claro que eu vou usar. - acrescentou amargurado. 

 E a cena que se seguiu foi a mesma de todos os dias: Rony e Lilá começaram a se beijar loucamente. Hermione fez uma careta e aquela situação começou finalmente a afetá-la. Nos últimos dias ela vinha trabalhando em seu auto-controle, de modo que quando presenciasse esses tipos de cena não deixaria transparecer o quanto estava machucada com aquilo. E depois ela chorava no quarto. 

 Então, quem a olhasse agora veria apenas alguém que estava indiferente à cena que estava presenciando. Harry a conhecia bem o suficiente para entender o que ela estava sentindo. Por dentro, Hermione estava o caos. Estava triste, envergonhada, magoada, machucada, com raiva, com medo... 

 O amigo acariciou sua mão e disse:

 - Acho que vou fazer meu dever de Transfiguração. Quer me ajudar? - perguntou, dando um sorrisinho mínimo. 

 Hermione sorriu de volta e balançou a cabeça afirmativamente, se levantando e seguindo Harry até uma mesa longe o suficiente de Rony. 

 Ela estava sem sono o suficiente para dormir, por isso ajudar Harry seria uma boa distração, sem contar que isso a dava prazer: a companhia do amigo era agradável.

 A garota ignorou o casal enroscado perto da lareira. 

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 N/A: segundo capítulo no ar e... foi completamente inútil. Um cap. muito parado em minha opinião, mas foi necessário. O next vai ser melhor e eu já tenho certa noção do vai ter nele: como conquistar uma mulher em quinze minutos (quando o next ficar pronto, vocês vão entender.).

 Visitem minhas outras fics em andamento:

Ø Um Estranho No Espelho;

Ø WEASLEYs: porque ruivos também amam.

 E ainda tenho algumas idéias para por no papel (ou na FeB). Visitem as minhas shorts também:

 > IN THE DARK;

 > NÓS VIVEMOS ATÉ MORRER. 

 Comentem!!!

 Capítulo Dois - Restrições

 Capítulo Dois - Restrições

 Hermione ficou cerca de dois dias sem notícias de Malfoy. Depois da conversa que eles tiveram, na qual ela assumira que precisava da ajuda dele, o tempo que passou foi o suficiente para fazê-la se esquecer do que havia dito, combinado ou assumido. Afinal, os estudos estavam realmente tomando toda a sua mente naquele momento, por isso era comum que ela não se lembrasse. 



 Porém, um dia, quando foi obrigada a se sentar na companhia de Rony na sala comunal, o assunto veio a tona. Nunca que ver Ronald e Lilá aos amassos na sua frente, novamente, desencadearia boas lembranças. Principalmente quando um certo ruivo lhe lançava olhares petulantes a cada intervalo coerente entres aqueles beijos. 



 Merlin, aquilo era uma lingua? Parecia mais uma jararaca que morava na boca de Lilá Brown. Mas lembre-se, Hermione, de que é aquela jararaca que invade a boca do seu querido Ronald Weasley todos os dias no café da manhã. 



 E onde é que estava Harry que não aparecia? 



 Hermione tinha mesmo uma falta de sorte imensa: o garoto que ela gostava estava aos beijos com outra... Não. Reformulando a frase: o garoto que ela gostava estava aos beijos com outra na SUA FRENTE; seu melhor amigo - sua única companhia - ainda não voltara do maldito treino de quadribol. 



 Será que podia ficar pior do que aquilo? Certo, nunca faça essa pergunta em uma situação ruim, porque a resposta para ela é: "Sim, minha querida, pode ficar muito pior!". 



 Ronald soltou um gemido alto quando Lilá começou a beijar seu pescoço, abrindo os primeiros botões da camisa e beijando o peito dele. 



 Reprimindo uma careta e ignorando a ânsia de vomito que aquilo lhe causou, Hermione abriu a bolça para tomar partido da única coisa que continuava sendo seu refúgio e que ainda funcionava como tal: livros. Ela pegou o primeiro que viu, sem nem ao menos ler o título, e começou a folheá-lo. 



 De dentro do livro aberto, caiu um pequeno pedaço de pergaminho, dobrado ao meio. Hermione pegou-o e começou a ler:



 "Me encontre em frente à tapeçaria da Sala Precisa, às sete. Não conte à ninguém."



  A garota notou que não havia assinatura, mas não havia necessidade de uma. Ela sabia perfeitamente quem era e o que queria. Hermione consultou o relógio e constatou que ainda eram seis horas. Mas ela pouco se importou. Aquilo já era um motivo para que ela saísse da frente do casal-chiclete o quanto antes. 



 A morena postou-se de pé e guardou o bilhete no meio de seu livro de poções, fechando-o na bolça em seguida. Virou-se para Ronald e fez uma careta. Lilá agora tinha as pernas passadas pela cintura dele. 



 - Hum... Ronald? - chamou, indecisa. O garoto desgrudou-se de Lilá e a encarou com as sobrancelhas erguidas, como se perguntasse o porque da interrupção. - Pode avisar ao Harry que não pude esperar por ele? - perguntou. 



 - Aonde você vai? - ele perguntou, ignorando Lilá que beijava sua orelha. 



 - Não sou eu que lhe deve satisfações, Weasley. - respondeu, apontando Lilá com a cabeça. - Só avise ao Harry. 



 - Certo. - resmungou o ruivo, antes de voltar sua atenção para outra coisa mais interessante. 



 Hermione deu as costas à eles e foi em direção ao buraco do retrato. 



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 Quando chegou à tapessaria em frente à Sala Precisa, Hermione se sentou imadiatamente no chão, após constatar que Malfoy ainda não havia chegado. Mas ele não estava atrasado, pelo contrário. Era ela quem estava adiantada. 



 Talvez Harry fosse querer matá-la mais tarde por tê-lo deixado sozinho com Rony e Lilá. Hermione sorriu ao constatar esse pequeno fato. Pobre Harry, pensou. 



 - Acredite, - acrescentou em um sussurro - dói mais em mim do que em você. - disse, como se Harry pudesse escutar de algum lugar do enorme castelo.



 Hermione permaneceu assim por alguns minutos, pensando no que estava prestes a fazer. Pediria desculpas a Harry depois. E daria um jeito de impor algumas regras ao Ronald que incluiam manter a língua longe da boca de Lilá em público, porque ela e Harry não tinham o dever ficar aturando a pegação que rolava entre eles. 



 Talvez ela dissesse à ele para se dar o respeito também. E se ele se recusasse, Hermione diria a Harry para dar privacidade ao casal. Rony e Lilá para um lado, ela e Harry para o outro. 



 A morena riu triste com o pensamento. Ela sabia que não poderia impor este tipo de condição à Harry, afinal, ele era o melhor amigo de Rony. 



 - Chegou cedo, Granger? - um voz irônica surgiu no final do corredor. 



 Hermione suspirou. Por um momento ela havia pensado que Malfoy daria um toco nela. Se ele o tivesse feito, a garota com certeza estaria livre de todo aquele rolo. Sim, porque ela já estava começando a se arrepender. 



 Suspirando mais um vez, a grifinória se levantou, o encarando com petulância. 



 - Se eu não tivesse vindo, você teria motivos de sobra para reclamar, mas eu estou aqui, portanto contenha-se. - disse, se postando em frente ao garoto.



 Malfoy sorriu. 



 - O fato de você ter chegado cedo me surpreendeu. - disse, ignorando o breve acesso de hipocrisia da garota. - Eu não sabia que estava tão anciosa para me ver...



 Hermione abriu a boca uma ou duas vezes, mas não encontrou resposta. Optou pela verdade:



 - Não estava anciosa para ver você, só queria me livrar do posto de observadora de um dos amassos de Rony e Lilá. - respondeu, cruzando os braços. 



 - Ah, claro. - um sorriso de deboche surgiu nos lábios dele. 



 Malfoy se virou de costas para a tapeçaria. Em frente à ele, a porta da Sala Precisa surgiu. O sonserino não hesitou em entrar, mantendo a porta aberta para Hermione passar. Cavaleirismo? Não. O sorriso de deboche não deixava o rosto dele. 



 Hermione suspirou mais uma vez. Um suspiro cansado e se perguntou pela milésima vez se estava fazendo a coisa certa. Mas ainda assim entrou. Ela olhou em volta, examinando a aparência da sala desta vez. Estava aconchegante: tinha uma lareira, poltronas, uma mesa. Parecia com a sala comunal da Grifinória, mas a decoração era verde. 



 - Péssimo gosto para cor. - ela desaprovou em voz alta e ouviu Malfoy rir. 



 - Apenas feche a boca e sente. - ele ordenou. Hermione franziu o cenho. Desde quando Malfoy lhe dava ordens? Ela manteve-se de pé, enquanto ele se acomodava em uma das poltronas. Ao ver que a garota não havia saido do lugar, o sonserino apontou a poltrona e ordenou novamente. - Você não ouviu o que eu disse? Sente-se. 



 - Ah, eu vou me sentar. - a grifinória retrucou. - A partir do momento em que aprender a ser educado. - acrescentou. 



 Malfoy examinou bem a garota, antes de fechar a cara e dizer:



 - Por favor, sente-se. - pediu educadamente. 



 Hermione sorriu vitoriosa e foi em direção à poltrona, sentando-se logo em seguida. 



 - E então? - perguntou, depois de estar acomodada. - Porque me chamou aqui? 



 - Acho que é meio óbvio. - ele rebateu. 



 - Sei disso. Mas o que eu quis dizer foi: o que faremos aqui? - ela se explicou. 



 Malfoy suspirou. Seria mais dificil do que ele imaginava. 



 - Não começarei a te ensinar hoje. Só te chamei aqui para deixar algumas coisas bem claras.



 - Diga. - Hermione instou-o a continuar.



 - Primeiro: o que faremos aqui só diz respeito a nós dois. Ou seja, ninguém deve ficar sabendo. - começou. 



 - Não era minha intenção dizer alguma coisa à alguém. - a morena disse. 



 - Não me interrompa. - cortou Malfoy. - Segundo: apenas eu entrarei em contato com você para marcar as "aulas". Não deve falar comigo. - ela balançou a cabeça afirmativamente, mostrando que estava acompanhando. - Terceiro: você fará tudo o que eu mandar sem perguntar. Quarto: você responderá todas as minhas perguntas. Quinto: você não questionará minhas aulas. - ele terminou. 



 Hermione parou por um momento, analisando todas as cinco restrições. Chegou à conclusão de que estava andando em um terreno perigoso. 



 - Não sei se concordo com as últimas três...

 

 - E porque? - o sonserino perguntou. 



 - Como vou saber se não está mentindo para mim?



 Malfoy deu de ombros.



 - Não vai saber. Apenas terá que confiar em mim. - ele disse como se fosse a coisa mais simples do mundo. 



 - Por que eu deveria confiar em você? 



 - É uma ótima pergunta. Mas não tenho a resposta. Acho que terá que arriscar. 



 A garota olhou para o loiro à sua frente. Examinou cuidadosamente o rosto dele, mas não encontrou nada que não fosse a sinceridade que brilhava nos olhos claros de Malfoy. Seria certo aceitar tudo isso sem pestanejar? Mas pensando bem, ela só tem feito coisas certas durante toda a sua vida. 



 - Certo. - respondeu. 



 - Aceita? 



 - Aceito. - confirmou. 



 Malfoy sorriu e ela sentiu um frio na espinha que caracterizou como medo, mas não perdeu a pose de petulante.



 - Duvidas? - o garoto perguntou. 



 - Sim. O que exatamente você vai mudar em mim nestas "aulas"? 



 O sonserino suspirou, como se estivesse cansado. 



 - Entenda uma coisa, Granger: eu não vou mudar você. Vou aperfeiçoar você. - explicou. 



 - Entendo... - murmurou Hermione, realmente tentando entender. 



 - Mais alguma coisa? 



 - Não, eu acho que é só isso. - repondeu ela. 



 Malfoy se levantou, gesticulando para ela fazer o mesmo. 



 - Vem comigo, quero que examine uma coisa para mim. - ele pediu, saindo da Sala Precisa. 



 Hermione o seguiu, parando em frente à tapeçaria e esperando a porta da Sala Precisa se fechar e sumir, para depois começar a aparecer novamente. Ela não entendeu, mas manteve-se quieta. O garoto andou até a porta e a abriu, revelando um lugar bem diferente do que o visitado anteriormente. Ela entrou e mais uma vez, examinou o ambiente com os olhos atentos. 



 Desta vez a sala estava cheia de objetos mágicos diferentes e curiosos. Eram tantos que chegavam a formar um tipo de entulho por todo o local. Malfoy a guiou até um objeto particularmente grande, coberto por um pano velho que foi logo retirado. 



 - O que é isso? - ele perguntou. 



 A morena se lembrou de ter visto um igual naquela loja estranha no Beco Diágonal, onde havia visto Malfoy entrar antes do começo da ano letivo. Se perguntou o porque de ele estar interessado naquele objeto se já tinha visto um idêntico à este. 



 - É um Armário Sumidouro. - ela respondeu. 



 - E para o que serve? 



 - Bem... se você entrar em um Armário Sumidouro pode ficar desaparecido por cerca de duas horas, mais ou menos. Mas há alguns riscos: na volta, uma parte de você pode ser deixada para trás. 



 - Estrunchamento? - tentou Malfoy. 



 - Quase isso. - confirmou Hermione. 



 - E o que deve ser feito para não ter estes riscos?



 - Basicamente, para evitar isso, é necessário que este Armário seja enfeitiçado para levar para algum lugar específico. 



 - Como se faz isso? 



 - Primeiro precisa-se de um outro Armário no lugar aonde se deseja ir. Depois, precisa simplesmente criar uma conexão entre os dois Armários. - ela finalizou. 



 - Como se cria uma conexão? - ele voltou a perguntar. 



 - Não sei. - Hermione respondeu. 



 - Pode pesquisar para mim? 



 Hermione franziu a testa, desconfiada. 



 - Por que? 



 - Não se esqueça de que deve responder a tudo o que eu perguntar sem pestanejar. - ele repreendeu. - Pode ou não pesquisar para mim? 



 Ela bufou. 



 - Posso. 



 - Quanto tempo vai demorar? 



 - Talvez uma semana, no máximo. - respondeu ela. 



 - Certo. 



 Ambos os dois sairam da Sala Precisa, que logo desapareceu diante de seus olhos. Hermione se perguntava o que as perguntas do sonserino teriam a ver com as 'aulas' que estava prestes a ter, mas manteve o pensamento para si, afinal Malfoy fora bem claro ao dizer que tudo o que ele perguntasse, ela deveria responder sem pestanejar. 

 

 Era uma coisa realmente curiosa, mas não era da conta dela, por isso ela resolveu manter-se calada. O loiro se virou para Hermione. 



 - Eu entro em contato. - e saiu pelo corredor, deixando a garota com seus próprios pensamentos. 



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 Assim que voltou para a Sala Comunal da Grifinória, Hermione se deparou com Ronald e Harry conversando em duas poltronas em frente à lareira. Ambos olharam ao ouvirem a garota chegando pelo retrato da Mulher Gorda. 



 Os três se encararam por alguns minutos. Hermione moveu seus olhos para Harry e viu um pedido silencioso nele: Lilá estava descendo as escadas do dormitório com uma caixinha na mão. Ele não queria ficar sozinho com o casal mais uma vez. 



 Por isso, ela se dirigiu à uma poltrona vazia entre Harry e Rony e se acomodou, colocando a bolça no chão, aos seus pés. 



 - Onde você estava? - perguntou Harry. 

 

 - Ahn... biblioteca. - respondeu. Teria ele percebido a mentira na sua voz?



 Nesse meio tempo, Lilá tinha se juntado ao grupo, sentando-se no colo de Rony, por falta de alguma poltrona vazia. Hermione reprimiu um gemido de desgosto e Harry revirou os olhos. 



 - Oi, Uon-Uon. - cumprimentou a loira alegremente e deu um beijo estalado na bochecha de Rony. Harry abafou uma risada ao ouvir o apelido, sendo aconpanhado por Hermione, que tossiu para disfarçar. 



 Rony ficou com as orelhas vermelhas de vergonha. 



 - Oi. - respondeu sem graça. 



 - Sentiu minha falta? - perguntou Lilá, toda melosa distribuindo beijinhos no rosto do ruivo. 



 Harry prendeu uma gargalhada ao ver a careta que Hermione fez ao ver a cena. 



 - Lilá, você demorou exatamente dois minutos para descer desde que subiu para o dormitório. - Rony respondeu, como se isso fosse óbvio. 



 - E não é tempo suficiente? - retrucou a garota em seu colo. 



 Rony não respondeu. 



 Harry e Hermione trocaram um olhar divertido. A morena estava enciumada e levemente enojada, mas não deixaria transparecer seu estado emocional para ninguém. 



 Houve um silêncio tenso, que foi quebrado por Rony.



 - Então... ahn... - começou ele, como se tivesse medo de perguntar. - O que tem na caixinha? 



 Lilá deu um sorriso que dizia claramente 'eu tenho trinta e dois dentes', e abriu a caixinha revelando uma correntinha dourada e fina que acomodava um pingente que dizia 'Meu Namorado'. 



 Hermione não conseguiu se segurar e começou a rir, colocando a mão na boca para que a risada não saisse histérica demais. Harry ainda tentou se segurar por um ou dois segundos - em respeito a Rony -, mas não conseguiu se conter e começou a rir também. 



 A garota loira, ainda no colo de Rony, ignorou a ambos e ajeitou a correntinha na mão do ruivo, que tinha os olhos arregalados e o queixo caído. Em seguida olhou desesperado para os dois amigos que se dobravam de rir em suas poltronas. Ele fechou a cara. Lilá parecia impaciente, por isso não esperou que Rony respondesse e disse:



 - O que achou? Linda, não é? - pegou a correntinha da mão do namorado e colocou em seu pescoço. O pingente oscilou no pescoço de Rony até parar. 



 - Ficou lindo. - Hermione elogiou com ironia, limpando as lágrimas de riso. A situação era tão hilária que ela não conseguia se chatear com aquilo, o que era bom. Podia chorar mais tarde. 



 Ronald olhou para ela furioso, mas não disse nada. 



 - Sério. Ficou... a sua cara. - acrescentou Harry, ainda rindo. 



 Lilá pareceu não notar o sarcasmo na voz dos dois e sorriu agradecida. 



 - Viu? Ficou uma graça. - ela disse, baguçando o cabelo do garoto. 



 - Obrigado. - resmugou o ruivo. Não se sabe se estava falando com seus amigos ou com sua namorada. - É claro que eu vou usar. - acrescentou amargurado. 



 E a cena que se seguiu foi a mesma de todos os dias: Rony e Lilá começaram a se beijar loucamente. Hermione fez uma careta e aquela situação começou finalmente a afetá-la. Nos últimos dias ela vinha trabalhando em seu auto-controle, de modo que quando presenciasse esses tipos de cena não deixaria transparecer o quanto estava machucada com aquilo. E depois ela chorava no quarto. 



 Então, quem a olhasse agora veria apenas alguém que estava indiferente à cena que estava presenciando. Harry a conhecia bem o suficiente para entender o que ela estava sentindo. Por dentro, Hermione estava o caos. Estava triste, envergonhada, magoada, machucada, com raiva, com medo... 



 O amigo acariciou sua mão e disse:



 - Acho que vou fazer meu dever de Transfiguração. Quer me ajudar? - perguntou, dando um sorrisinho mínimo. 



 Hermione sorriu de volta e balançou a cabeça afirmativamente, se levantando e seguindo Harry até uma mesa longe o suficiente de Rony. 



 Ela estava sem sono o suficiente para dormir, por isso ajudar Harry seria uma boa distração, sem contar que isso a dava prazer: a companhia do amigo era agradável.



 A garota ignorou o casal enroscado perto da lareira. 



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 N/A: segundo capítulo no ar e... foi completamente inútil. Um cap. muito parado em minha opinião, mas foi necessário. O next vai ser melhor e eu já tenho certa noção do vai ter nele: como conquistar uma mulher em quinze minutos (quando o next ficar pronto, vocês vão entender.).

 Visitem minhas outras fics em andamento:

 > Um Estranho No Espelho;

 > WEASLEYs: porque ruivos também amam.

 E ainda tenho algumas idéias para por no papel (ou na FeB). Visitem as minhas shorts também:

 > IN THE DARK;

 > NÓS VIVEMOS ATÉ MORRER. 

 Comentem!!!

 

 

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