Prólogo




Você sabe o que é perder quem você mais ama? ... Eu sei.




Há dois meses e meio meus pais foram mortos. Dizem que arrombaram a porta da nossa casa e encontraram os dois na sala de estar, então os mataram. Pareceria um simples caso de tentativa de assalto mal-sucedida se não fosse pela Marca Negra pairando sombriamente no céu... Eu não estava lá, fui ao Beco Diagonal com minha melhor amiga. Eu não estava lá. E você deve estar se perguntando: “Ah, então seus pais eram nascidos trouxas? Ou então eram abertamente contra Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado?” Nenhuma das alternativas... Nossa família é puramente bruxa, achamos que dividir nosso conhecimento da magia com trouxas é, no mínimo, nojento; temos orgulho de quem somos. Tínhamos esperanças de fazer parte do exército do Lorde das Trevas. Obviamente ele não compartilhava o mesmo desejo.




Agora eu estou a caminho de Hogwarts, o único lugar do mundo que vai me parecer normal sem as piadas sem graça do meu pai e os chiliques da minha mãe. Mas eu sei que não vai ser sempre assim. Porque ano que vem eu vou concluir o sétimo ano e vou poder ir aonde quiser. Mas lugar algum vai me parecer como um "lar". Nenhum. Eu nunca mais vou ter uma mãe pra me dar conselhos sobre garotos, ou um pai que bote pra correr aquele namorado interesseiro.




Olhando para frente, vejo Mackenzie absorta em seus próprios pensamentos, não tendo idéia de qual é a dor que sinto por dentro, apesar de eu dizer a todo mundo "Estou bem, obrigada". Quero dizer, ela esteve comigo todo esse tempo, mas eu não cheguei a conversar com ela sobre como me sentia... Nós sempre mudávamos de assunto quando minha família era colocada em pauta. Bem, eu sempre mudava de assunto. Não estava pronta para aceitar que eles se foram, e ainda não estou... Mas, depois de hoje, quando os Comensais pararam o trem atrás daquele Potter, e nem sequer olharam para mim, não demonstraram remorso algum, ou deboche algum... Foi como se nunca tivesse acontecido. Para eles, é claro. Então eu notei que a vida continua, por mais que algumas pessoas não façam mais parte dela. As pessoas não vão me tratar diferente pro resto da vida.




Não é como se eu pudesse morar pra sempre na casa da Mackie... Os pais dela vão querer seu espaço com a família e eu vou ser um encômodo irritante. Mas acho que eu ainda tenho o direito de ter uma amiga só pra mim, que me entenda... Por mais que ela esteja pensando em si mesma a maior parte do tempo.




— Mackie, você acha que eu vou conseguir encarar Hogwarts...? Tipo, será que todo mundo vai ficar me olhando estranho porque meus pais... — Não consegui terminar a frase, mas ela entendeu. Revirou os olhos e suspirou, parecendo impaciente com toda essa minha dúvida. É, minha amiga é uma Sonserina até a morte... Talvez eu deva encontrar uma Lufa pra desabafar, porque não dá pra falar sobre sentimentos com a Mackie... Muito menos sobre garotos ou família.




— Marisol, tudo vai ficar bem, tá? Quero dizer, o Lorde das Trevas está matando muita gente, você não vai ser a única órfã em Hogwarts... Aceite isso... — Ótimo. Ela me fez sentir pior. O que eu esperava? Olha, não é como se você pudesse voltar no tempo e mudar tudo! Já tô cheia de você ficar nessa melancolia o tempo todo! Já faz algum tempo que seus pais “se foram”! Agora, você tem que se focar nos estudos, concluir o último ano com prestígio! Se não, como é que você vai conseguir um emprego? O Ministério vai olhar suas notas pra te contratar, acho que você não conseguiria abrir um negócio próprio... Sabe, talvez nós duas possamos … — Parei de prestar atenção por aí. Sei que ela parece horrível, mas a Mackie também tem seus problemas. Com pais Comensais da Morte, ela tem que impressionar, só assim o Lorde irá prestar atenção a ela e talvez convocá-la. E esse é seu sonho desde... sempre. É claro que ela deve ter pirado totalmente quando seu pai disse que o Lorde queria tomar conta de Hogwarts. E ela tinha razão: eu não podia voltar no tempo e mudar tudo.




Talvez uma poção com Rabo de Erumpente, Moly, Hemeróbios, Sangue de dragão, Beladona, Bezoar, Casca de Wiggen, Sanguessugas, Xarope de heléboro, Penas de dedo-duro, Cocleária e Pó de chifre de bicórnio conseguisse surtir algum efeito de retornar ou coisa assim... Porque o Sangue de dragão é um ingrediente que tem algumas propriedades temporais... Na mistura, talvez... Talvez...




Anotei mentalmente que deveria ir até a biblioteca pesquisar mais sobre o assunto. Eu sou esse tipo de garota que sabe quase tudo sobre Poções e ingredientes e feitiços. Mas não sou Corvinal! Tenho meu orgulho!




— Olha, eu sei que é difícil, mas você não pode ficar se culpando, você não teve culpa. Ele é malvado, ele mata por prazer — Ela segurou minhas mãos e me olhou como se quisesse curar todas as minhas feridas — Você não pode voltar no tempo e refazer tudo, de qualquer forma você não conseguiria impedí-lo, as coisas não são tão simples assim e... — Como eu não tinha pensado nisso antes?! Se eu conseguisse voltar no tempo e os levar junto comigo para a casa da , eles não estariam em casa e não morreriam! Merlim, era perfeito! Olhei para minha amiga, um sorriso se formando em meus lábios e a esperança crescendo em meu peito.




— Mackie, é perfeito! Como eu não pensei nisso antes? — A abracei, agradecida por ter uma amiga tão maravilhosa e com idéias tão incríveis. — Se eu voltasse, tudo estaria bem! Acho que um vira-tempo não consegue voltar tanto assim, mas quem sabe uma poção? O-ou um feitiço?! — O plano já estava formado na minha cabeça, e sua execução seria perfeita! Agora eu me sentia mais feliz do que nunca. Mas aí a me olhou severamente e começou a estragar minha felicidade...




— Marisol Foster. Nem pense nisso, você sabe que mexer com o tempo é perigoso, e você pode estragar tudo! — Ergui uma sobrancelha para ela, incrédula. Como eu poderia estragar tudo?! — Fala sério, você acha que eu faria alguma coisa pra estragar isso?! É a minha chance de fazer as coisas se acertarem, e eu não vou perder! — Guardei o resto pra mim. Achei que não seria legal falar "e não me importa o que você ache disso!" pra pessoa que tinha acabado de me fazer sentir melhor e ainda me dado a melhor idéia do mundo. Bufei, irritada pela não acreditar que eu poderia fazer isso do jeito certo. — Você não tem idéia de como é não ter mãe ou pai! Eu preciso fazer isso...




· · ·




Chegando em Hogwarts, nós duas entramos em uma carroagem e fomos conduzidas até o castelo enquanto os primeiranistas se impressionavam com o lugar e iam de barco. Eu é que não queria andar de barco em dias como estes. Tipo, vai que um Comensal da Morte aparece no meio do lago? Ok, isso é meio impossível! O diretor Dumbledore que o diga... Eu já me sentia um pouco mais animada agora que podia ver meu segundo lar à frente e tinha minha melhor amiga ao meu lado, por mais que ela não aprovasse a minha idéia de interferir no passado.




Ao chegar no castelo, fomos direto para o Saguão Principal para ouvir aos avisos do novo diretor, o professor Severo Snape. Ele falava pomposamente, orgulhoso de si mesmo. O primeiro diretor Sonserino em anos. Apesar disso, eu, uma Sonserina orgulhosa, não estava tão feliz assim. Era como se os pequenos dramas entre casas em Hogwarts não me importassem mais.


Depois de ter discutido um pouco com a Mackie, eu fiquei bastante quieta. Mesmo sem saber, ela me deu a melhor idéia do mundo. Se eu conseguisse voltar no tempo e levar meus pais junto comigo pra casa dela, eles não morreriam! E tudo voltaria a ser perfeito! Mas a Mackie nunca entenderia e não me deixaria fazer isso sozinha. E ela não me acompanharia, porque sabe que dá em problema mexer com o passado. Mas, afinal, quem perdeu a família não foi ela. Só eu sei o que estou sentindo... Por isso, sorria sempre que necessário e ria de piadas que não ouvi. Assim, o jantar passou rápido e nós fomos para a Sala Comunal da Sonserina, finalmente descansar depois de um longo dia.




Só que simplesmente não tem como enganar minha amiga. Até parece que ela fica lendo a mente da gente!




— Mari, eu sei que você tá pensando em alguma coisa! Me promete que não vai fazer nenhuma idiotice! — ela disse, me olhando com severidade.




Encolhi os ombros e disse que não faria nada estúpido. Mas ela me lançou mais um olhar interrogador. E não tem como fugir dela.




— Tá, tá bom! Eu não vou fazer nada! — eu dizia, me fingindo de ofendida por ela não acreditar em mim. Ela deixou pra lá e foi dormir.




· · ·





Não sou uma má pessoa nem nada do tipo... Eu só quero minha família de volta. E foi por isso que eu saí de fininho todas as noites, me escondendo nas sombras e tendo a esperança que ninguém me pegasse a essa hora pelo castelo. Na verdade, acho que todo mundo está muito assustado pra fiscalizar alunos encreiqueiros. Não que eu quisesse fazer uma visita aos Carrow, mas... Eu sabia que o armário do professor de poções teria algum estoque de ingredientes e instrumentos. Além disso, tomei o cuidado de ler o livro todo de poções deste ano pra ver se encontrava alguma coisa. Tentarei misturar a poção Felix Felicis com um outra e ver no que dá. Tipo, se eu morrer, pelo menos vou ficar junto dos meus pais, certo? ... Certo?




Pela "receita" que eu inventei, a poção demoraria um mês para ficar pronta. Um mês. E enquanto isso, eu esperaria e fingiria que nada estava acontecendo... E foi isso que eu fiz. Minhas aulas não me interessavam mais. Apenas o banheiro da Murta-que-geme e o caldeirão pequeno escondido no box da fantasma. Afinal, só uma pessoa maluca pra entrar lá dentro! É, eu sou maluca. Mas eu consegui fazer uma poção sozinha!




O jeito que aquela coisa borbulhava dentro do caldeirão me dava arrepios. Parecia que a gosma tinha vida... Argh! Confesso que levei uns dois dias pra tomar coragem e beber aquele negócio. O gosto era terrível e o que senti também foi. Segundo meus "cálculos" era só fazer o desejo e tudo daria certo. Então eu falei em voz alta:




— Quero voltar e salvar a minha família! — mas no mesmo instante pensei: Se Você-Sabe-Quem não existisse, tudo estaria bem!




E deu no que deu. Agora aqui estou, em um lugar familiar desconhecido, falando com um diretor estranho e com um Dumbledore muito mais novo sentado ao meu lado. Coisa boa não pode ser.


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