Primeiro:



Bem, talvez muitos de vocês já devem ter ouvido falar do Rei Arthur. Mas garanto que são poucos os que já ouviram falar de Hogwarts.
Essa estória se passa quando a famosa – entre os bruxos - escola de magia e bruxaria de Hogwarts – ah! Minha querida Hogwarts! – ainda era jovem e quem reinava na Bretanha e nos arredores era Arthur.
É verdade que tenho que levar vocês ao começo dos fatos antes de começar a contar a estória em si. Pois bem, nossa estória começa diante do fato que eram quatro aqueles que criaram Hogwarts: Godric Griffindor, tão valente quanto se pode imaginar, Helga Hufflepuff, considerada gentil pelos mais nobres cavaleiros, Salazar Slitheryn, de olhos audazes e mente astuta, e por fim, Rowena Ravenclaw, inteligente e observadora.
Também é verdade que iremos tomar a família Ravenclaw como protagonista desse conto. Não Rowena, mas Helena, sua filha.

Ora, muitos livros de história da magia dizem que, Rowena, não satisfeita em apenas ter sabedoria dentro de sua própria mente, decidiu também concedê-la a quem tivesse a audácia de usar seu diadema, uma pequena coroa que Helena planejara por muitos anos e também forjara com suas próprias mãos se utilizando da arte dos duendes (qual conhecia tão bem.)

Mais tarde, isso causaria problemas a mais bruxos do que se poderia desejar. E o primeiro desses bruxos, fora a própria Helena.

Já ouvi de muitos bardos que Rowena subestimava a sabedoria de Helena. A garota mantinha-se quieta diante disso, sempre observando com seus olhos inteligentes – herança da mãe.


E foi numa noite em que o inverno se alastrava tão sorrateiro e mortal, que os alunos da nobre escola de Hogwarts tinham que se encolher diante das lareiras. O jantar estava sendo servido no Salão Principal, e lá os estudantes se refugiavam bem aquecidos comendo o assado de carneiro.
Na mesa em que se sentavam os quatro regentes da escola e os cavaleiros que lhes serviam, a garota de cabelos escuros tomava sua dose de vinho quieta. Não respondera aos cortejos de Sir James porque na realidade eles pouco lhe importavam. Algumas vezes, olhava de esguelha para Sir Gawaine, que estava hospedado no castelo de Hogwarts já fazia alguns meses. Pertencia à Távola Redonda, e costumava contar as histórias e notícias da Bretanha, fora dos terrenos de Hogwarts: a guerra contra os bárbaros saxões avançava, as damas do sécto de Arthur fiavam incansavelmente e os padres afrontavam a Antiga Religião cada vez mais.
Porém, naquela noite, nem as notícias da aparentemente tão distante Bretanha perturbavam Helena. Todos os seus pensamentos estavam concentrados em sua não tão distante fuga.
Ora, é verdade que planejara fugir naquela mesma noite estrelada. Um sorriso raso tingiu-lhe os lábios, pensando no desespero da mãe quando descobrisse que seu precioso diadema havia sumido. De fato, o diadema parecia importar mais que a própria filha, qual era apenas um ornamento na rica e já muito bem adornada corte de Hogwarts.
Depois que repassou mentalmente se todos os preparativos haviam sido providenciados, Helena virou seus cabelos negros na direção de Sir Gawaine, para ouvir o que contava sobre seu rei. E foi nesse momento, ouso dizer-lhes, ouvindo os feitos heróicos de Arthur, Helena concentrou em seu coração o mais sincero desejo de olhar dentro dos profundos olhos azuis do Pendragon.


Mas por ora, iremos deixar as suposições de canto e nos concentraremos nos fatos – que são sempre mais vantajosos que meras hipóteses, embora muitas vezes sejam cruéis.

Sentindo que não podia mais agüentar mais nenhum minuto sentada no Salão Principal, e deixando qualquer motivo que a fizesse ficar em Hogwarts, Helena pediu – cordialmente – licença à sua mãe, alegando que se sentia indisposta. Rowena a olhou por um segundo fugaz em que Helena achou que a mãe faria alguma objeção. Porém, a mais velha desviou a atenção com um assunto qualquer depois de consentir que Helena deixasse a mesa. Felizmente, mãe e filha não estavam em pé de guerra naquela noite, como costumavam ficar com bastante freqüência.

E assim que a garota se viu livre dos olhares curiosos dos cavaleiros, alunos e professores, ela deixou escapar um profundo suspiro. Tinha quase certeza de que Rowena sabia que havia alguma coisa errada.

Disse a si mesma que não precisava se preocupar, pois dentro em pouco estaria livre e a mãe poderia se poupar de algumas aflições.

Selou ela mesma seu cavalo, receosa de incomodar qualquer servo que fosse. Eram extremamente leais aos quatro criadores e Helena tinha a certeza de que correriam na mesma hora avisar Rowena da fuga de sua filha.

“Além disso”, pensou ela “logo não terei servos para selar meus cavalos ou escovar meus cabelos.”

Helena subiu rapidamente as escadas que davam acesso a seus aposentos e pegou duas trouxas de pano que estavam em cima de seu leito. Uma delas parecia um travesseiro. Porém, quem o apalpasse com mais atenção, iria notar alguma coisa que parecia remontar a prata ou ouro. Helena colocara ali o precioso diadema de sua mãe e preenchera os espaços vazios com penas de cotovia, arrancadas de seu próprio travesseiro, naquela mesma manhã.


Os corredores de Hogwarts, em toda a vida que Helena vivera, nunca pareceram tão sombrios e bruxuleantes como agora. A garota ressentia em deixar sua casa, seu verdadeiro lar. Mas, com todos os demônios, estava tão cansada! Cansada da vida ociosa e sem propósito que levava, e cansada de ter sua sabedoria subestimada pela mãe.

E foi com lágrimas nos olhos que Helena deixou o lar.

As estrelas emolduravam o céu, que estava negro como o ébano naquela noite. A lua decidira não aparecer, estava na fase em que escondia sua face do mundo. Com uma das mãos, os dedos trêmulos de Helena apertavam a varinha, como se fosse o objeto mágico fosse fonte de controle. Ainda apertando levemente a varinha, Helena montou Ônix, seu cavalo, e deu-lhe um puxão na crina, o que fez o cavalo começar a cavalgar, rumando para um destino que não era o seu – era o de quem carregava em seu lombo.

Até que, inevitavelmente e como haveria de ser mesmo, Helena e seu cavalo chegaram aos portões da escola de Hogwarts. O peito de Helena subiu e desceu precisamente duas vezes, antes de ela desmontar e puxar sua varinha, murmurando algumas palavras em latim que se misturavam com alguns versos em inglês. Muitas das palavras proferidas nem sequer eram latim e muito menos inglês. Muitos de vocês, se as escutassem, pensariam que vinham do próprio dialeto das fadas. Contudo, o que é que Helena tivesse murmurado, funcionou. Com um estampido que provavelmente, se a garota não tivesse antes dito um feitiço pra abafar seria um tremendo barulho, os portões se abriram.

Os cabelos negros de Helena voaram levemente com a brisa que advinha do sul, e seus olhos brilharam, num sorriso que ia muito além dos lábios. Conseguira sair da propriedade ao menos.

De fato, direi eu que Helena escolheu seu próprio destino, como todos nós vamos, algum dia, escolher os nossos (se é que já não escolhemos).

E os deuses sabem que veio tristeza desse destino. Não obstante, agora nos resta tratar das alegrias da vida que proscrita que Helena escolhera – não as desgraças, mas apenas as graças, se é que me entendem assim.

Ora, Helena nunca havia feito uma viagem de muitas milhas, e é verdade que a que pretendia empreender era infinita. E sendo assim, não exagero quando digo que Helena estava, em parte, entregue a própria sorte. Porém, durante algum tempo, Helena se alegrou com seu caminho. Havia enormes encostas verdejantes, que desciam em ziguezague e pareciam nunca acabar. Por vezes, no meio das montanhas, era possível encontrar um lago que se congelava perante o inverno. Porém, como a primavera não tardava a chegar as árvores já sacudiam os flocos de neve que cobriam seus galhos.
Embora o inverno estivesse chegando ao fim, os dias continuavam gelados como em todos os dias em que a estação perdurara. Helena trazia um pesado xale de lã, o que a dava uma aparência decadente, sempre escondendo seu precioso fardo de qualquer par de olhos que a espreitasse, mesmo que pertencessem à própria floresta.

Uma ou duas vezes, Helena encontrara viajantes errôneos ou fugitivos do fogo dos saxões, e perguntara-lhes a qual passo andava a guerra.

- Ao passo que sempre andou. – respondeu um deles. – É bem, o Pendragon nem sempre consegue vencer, mas nas vezes que o fez, ostentou a vitória com firmeza.

Dando de ombros a esses acontecimentos que chegavam a ser quase costumeiros, eles continuavam a andar por seus próprios caminhos e desapareciam.

E pode ser que a vida tenha escutado os temores de Helena quanto a guerra, e respondido, pois a guerra não tardou a chegar até Helena.


Foi em uma noite em que a lua havia voltado a ficar cheia. Jazia mais brilhante que um diamante, em um céu que não possuía muitas estrelas. Helena tinha acabado de apagar o fogo em que cozinhara alguns cogumelos selvagens e guardara seu pequeno caldeirão de latão.

A menina acariciava distraidamente o pêlo de Ônix e já fazia menção para de montar quando um zunido a distraiu. E depois a dor, que Helena só percebeu segundos depois do zunido. Uma flecha havia sido atirada com violência e acertara de raspão a orelha de Helena. Sangrava um pouco, mas não chegara a arrancar um pedaço.

Então, Helena temeu. Seu coração se encolheu em meio ao desespero. Ouvia passos de diversos cavalos se aproximando – talvez uns seis. Antes que pudesse sequer puxar sua varinha e apontá-la para qualquer ponto cego, uma espada fora mais rápida e a fazia prisioneira frente à lança.

- Maldição. – sussurrou ela para si mesma enquanto virava o rosto para encarar as feições grosseiras de seu algoz. Os cabelos louros e compridos, junto à barba, lhe cobriam toda a face, só restando, como porta da alma, seus olhos negros.

A varinha continuava a revirar nos dedos trêmulos de Helena. Segurou as lágrimas para que não caíssem, e obrigou toda a sua energia a pensar em como iria lutar com todos aqueles homens.

Passaram-se alguns breves momentos em que Helena ficou sob a ponta da espada, apenas ponderando em seu íntimo se deveria fugir ou quem sabe estuporar a todos. O bosque estava tão silencioso que ouvidos aguçados poderiam ouvir os batimentos do coração de cada homem ali. E é claro, da bela dama à mercê de tais bárbaros.

Então, nesse ponto da história, é preciso que se diga que, com sua vida em perigo, Helena contemplou o rosto de seu protetor e amigo mais leal. Tinha cabelos louros, assim como os saxões.


Porém, seus olhos azuis eram dois lagos profundos, nos quais se poderia ter uma visão que espelhava sua bondade. E ostentava o estandarte que outrora fora de seu pai, o quinto dragão.
Ora, e teve-se a sorte dos caminhos de Helena Ravenclaw cruzarem com os de Arthur Pendragon. E foi quando a menina se preparava para labutar por sua vida, Arthur tocou o destino de Helena. E não minto quando digo que fazia parte dos desígnios para Arthur ele alterar o destino de toda Bretanha. Mas não o de Helena, individualmente. Mas os deuses sabem que ele chegou a, de fato, evitar sua morte em dias vindouros. E naquele instante, realmente evitou.

Estava o rei alguns de seus cavaleiros em uma incursão para perseguir alguns saxões, quando chegaram à Helena.
Flechas voaram, então. O bárbaro que mantinha Helena presa caiu com um tiro de algum arco veloz na nuca.

Helena olhou para todos os lados, e detectou quem a havia salvo. Estava ficando perigoso ser bruxo naquelas terras: o Cristo cegara seus sacerdotes e os levara a caminho da ignorância. Porém, Helena não pensou nessas coisas, e também não se deu conta que estava diante de um rei cristão. Apenas empunhou sua varinha e gritou feitiços estuporantes, e com o efeito, derrubou tantos homens quanto podia, com o auxílio dos homens de Arthur que olhavam para os disparates de sua varinha espantados, mas continuavam a lutar.

Finalmente, quando muitos corpos bárbaros jaziam no chão, Arthur virou seus olhos curiosos em direção a Helena.
Os homens sussurravam entre si, atônitos. Entre os murmúrios, Helena captou um ou outro “bruxa”, dito entre os dentes. Bem, é de conhecimento de muitas pessoas que a própria irmã de Arthur, muitas vezes fora atribuída a essas qualidades.


Os homens se mantinham temerosos, porém, pode ser que naquele momento, o sangue das fadas que corria nas veias de Arthur, falou mais alto. Pois sua mãe era uma filha da Ilha Sagrada de Avalon, e naquele momento, ele jamais desprezaria ou temeria magia, embora mais tarde o fizesse. Assim, lhe direcionou a palavra:

- Quem é você? – perguntou ele em um tom que pretendia ser gentil, mas que não deixava a curiosidade de lado.

A bruxa ponderou por alguns instantes, pensando se deveria falar a verdade ou não. A casa de Ravenclaw não era desconhecida pelo Pendragon, pois é verdade que Godric e Rowena tinham visitado Camelot algumas vezes. Portanto, acreditando que Arthur não enviaria mensageiros à Hogwarts para avisar do paradeiro de Helena, ela respondeu:

- Sou Helena, filha de Rowena, da casa de Ravenclaw. – respondeu ela entre os dentes. – Agradeço por minha vida, vossa majestade, e partirei sem demora.

Os olhos azuis de Arthur se demoraram no rosto de Helena, e dentro deles, estava refletida a comiseração. Não sabia o porquê, mas sentia pena da garota, que vagava sozinha pela floresta.

- Salvei tua vida, pois esse é um dever de um rei. Mas é verdade que pertences a uma casa nobre. Por qual razão anda sozinha por essas terras?

Instintivamente, as mãos de Helena apertaram a trouxa na qual carregava o diadema. Porém, sua resposta fora rápida e afiada.

- Creio que o dever de um rei não o obrigue a fazer perguntas indiscretas. – e assim calou-se Arthur, não porque não tinha resposta, mas por ser Helena uma dama.


E ela teria montado em Ônix naquele momento e saído a galope, se não fosse Arthur detê-la.

- Venha conosco à Camelot. A Rainha Guinevere a acolherá em minha corte, e lá ficará por quanto tempo desejar.

Helena então suspirou, e muito pensou sobre a proposta. Estava tão cansada de vagar sem destino, e o medo começava a preceder sobre ela. E foi com o orgulho ferido que lhe falou:

- Vou contigo à Camelot, meu rei, pois sinto meu coração ficar como a floresta: escuro e incerto. Mas partirei assim que me recuperar do mal que me aflige.









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