three



Lily estava mais uma vez naquele rio, os pés dentro da água. Não conseguia se enganar. Sabia que estava esperando-o.


 


Aquele cervo, aquele animal que a salvara e que deveria estar morto naquele momento. Ainda assim, não conseguia deixar de esperar. Ouviu o barulho de cascos e arrepiou-se, virando-se para ver. Sorriu. Era ele.


 


-Hey, oi, você voltou... – Ela disse levantando-se e acariciando o focinho do cervo, que aceitou sua carícia de modo sereno. – Nem parece que faz semanas que eu te vi – Disse pra si mesma, acariciando o corpo dele vigorosamente, sorrindo.


 


Lily então não hesitou em livrar-se da blusa e da calça jeans, jogando-se na água. James quis rir para si mesmo, pensando se ela faria isso se soubesse quem ele era.


 


E, ao pensar isso, viu o quanto era injusto o que estava fazendo. E como era bizarra a diferença, o jeito com o qual ela o tratava como humano e como cervo.


 


Ainda assim, não podia fazer isso com ela.


 


Com alguma dificuldade, prendeu as calças nas patas de cervo, prontas para serem postas. Então entrou na água, sob o olhar dela, que lhe sorria.


 


James ficou imerso na água e se transformou, colocando a calça no lugar rapidamente. Então emergiu. E viu o sorriso dela fazer o oposto.


 


-Potter? – Lily não parecia estar entendendo direito. Até que a ficha caiu e os livros que leu lhe voltaram à memória. – V-você é um animago?


 


James assentiu com a cabeça.


 


-Me desculpe. Te garanto que fechei os olhos em todos os momentos que você estava... bom, você sabe – Disse e se impulsionou para o lado, pegando as roupas dela e entregando-as. Lily se vestiu embaixo da água, sentando-se na borda do rio e abraçando os joelhos.


 


-Eu quero ficar sozinha, Potter. – Ela declarou, mas ele se sentou ao lado dela. – Você me salvou e me enganou. Eu não sei o que pensar. – James riu e passou um braço em volta dela, que se esquivou.


 


-Não pense, então, ruiva. Eu te enganei sem querer. Se me transformasse em sua frente, estaria nu. Não podia fazê-lo. Mas agora você já tem algo contra mim – Ela olhou-o, séria. James riu. – Eu sou um animago ilegal, Lily. Pode me denunciar para o Ministério. Assim talvez a punição faça justiça para você.


 


Lily empertigou-se.


 


-N-não vou denunciá-lo, Potter. Estamos... quites. – Ela declarou, sem tentar se desvencilhar do corpo dele. Por algum motivo, acreditava quando ele dissera que fechara os olhos.


 


-Por que está aqui, Potter? Como descobriu onde eu moro? – Ela perguntou e James fez uma careta. Abraçou os joelhos e suspirou.


 


-Eu não sei, na realidade. Briguei com o meu pai e peguei a chave de portal dele. Ela nos leva para qualquer lugar que quisermos. E ela me trouxe aqui – James disse fitando o lago, olhando para ela em seguida.


 


-E você pensou na minha casa? – Ela perguntou, incrédula. Ele negou com a cabeça.


 


-Eu não pensei em lugar algum. Só queria sumir de casa e... – Ele revirou os olhos, batendo em sua testa. Não podia mais se enganar. Não podia mais enganar ela. – Na realidade, eu sei porque estou aqui. É por causa da discussão.


 


-Discussão? – Lily o observava, quieta, e se encostava cada vez mais no corpo dele, com frio. Não se importava mais com quem ele era ou o que fazia no colégio. Ele a salvara sem pensar duas vezes, e foi digno o suficiente para vir contar-lhe a verdade.


 


Merecia algum crédito.


 


Ou talvez James Potter não fosse tão ruim quando ela imaginava.


 


- Eu tive uma discussão com o meu pai. Você sabe sobre esse novo lorde maluco que anda a solta? – Ela assentiu com a cabeça.


 


-Ele quer acabar com os trouxas, não é? – Ela perguntou arrepiando-se. Ele a abraçou mais forte, por algum motivo, fazendo-a sentir-se segura.


 


-E com os bruxos que não tem nada contra os trouxas. E com... bem... – Ele engoliu em seco.


 


-Os nascidos trouxa – Lily completou e fitou o rio, triste e com medo.


 


-É – James quis tirar aquela dor dela, sem saber como. – E, bom, eu quero entrar nessa guerra que ele planeja.


 


-Guerra? Potter, do que está falando? – Perguntou, alarmada.


 


-É, ele planeja uma guerra, e eu quero entrar nela. Meus pais não querem, e foi por isso que discuti – Ele disse e jogou uma pedra dentro do rio, irritado. – Ele não entende, ele não entende que eu preciso... – James hesitou e soltou-a, levantando-se para caminhar de um lado para o outro.


 


-Ele não entende o que, Potter? – James virou-se para ela, vendo que ela estava também de pé. Suspirou.


 


-Ele não entende o motivo de eu querer entrar na guerra. E o motivo de eu estar aqui – Ele se aproximou dela e tocou seu cabelo, no que ela estremecia. Não sabia por que, mas seu coração batia forte e ela não conseguia fitá-lo.


 


-Eu preciso te proteger. Não posso deixar um lorde sei-lá-das-quantas te ameaçar, ameaçar a minha família, e ficar de braços cruzados. – Ela virou-se de costas, assustada. O garoto suspirou.


 


-Quando eu disse no colégio que te amava, Lily, eu estava falando sério – Sussurrou, derrotado. Colocou algo em volta do pescoço dela, fazendo-a estremecer. – Se quiser falar comigo, é só abrir esse colar e tocar o que tem dentro – Disse e virou cervo, desaparecendo na floresta.


 


Lily pegou o colar, obviamente feminino, e abriu-o. Lá dentro tinha uma foto dela e de James, tirada em Hogwarts, onde ele tentava beijá-la e ela se enfurecia com ele. Lily riu e olhou para onde ele tinha sumido e voltou para casa.


 


Estava ficando maluca, é claro. Estava até mesmo cogitando acreditar nele.


 


Vê se pode?


 


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