~capítulo um~



Capítulo Um
Ou
A Year Without Rain


Domingo.


Era só no que eu pensava.


Mais duas semanas. Eu sabia que conseguiria suportar. Já tinha vivido muito tempo sem de fato estar feliz, não tinha? Quinze dias passariam como uma nuvem passageira carregada de mau-humor.


Os cafés-da-manhã eram monótonos e iguais. Minha rotina era parada e infeliz.


Não sabia o que esperar daquela reviravolta em minha vida. A primeira mudança radical tinha me deixado só em meu apartamento e me transformado em um ser muito impaciente e resmungão. E se a segunda me deixasse tão pior quanto já estava, preferia renunciá-la. A princípio, logicamente, achava que não. O amor que foi tirado de mim já tinha me feito muito mal, então, o que aconteceria se ele fosse recolocado mais uma vez de onde nunca deveria ter saído?


Eu já tinha tido a mesma conversa um milhão de vezes, desde que Marlene me deixara. Okay, talvez eu não pudesse colocar as coisas desse jeito. Ela não tinha me deixado, propriamente. Ela não tinha tido escolha. Claro que não poderia rejeitar a proposta de sua vida. E Lene era do tipo que fazia aquilo não por ela, não por usufruir de algo maior, mas por aquelas crianças. O serviço público era bastante precário, mas ela amava aquilo. Levantava todas as manhãs (mesmo aos fins de semana) com um sorriso no rosto, por conta daquele motivo. E, para ela, nada era mais importante do que salvas crianças, fossem elas do jeito que fossem. Até mesmo me deixava em segundo plano; não que eu reclamasse muito, na época. Eu sabia que tínhamos horas para nós. Ela tinha uma dedicação intensa a tudo que gostava.


Agora, quase um ano após ela ter partido para o Congo (e eu não tinha ido visitá-la nenhuma vez), eu sentia suar frio toda vez que pensava nela. Eu não estava morrendo sem ela, era verdade; mas tampouco me sentia feliz. Ela, no entanto, eu já não tinha muita certeza. Era fato que nos e-mails que eventualmente conseguia me mandar da sede do acampamento Marlene parecia bem. Não sabia se conseguia, apenas por aquelas poucas palavras, constatar se estava feliz. Escrevia-me que estava fazendo um grande progresso com as crianças das comunidades e que se sentia útil exercendo sua profissão.


Eu podia agüentar suas palavras. Seus e-mails, cada vez mais esporádicos, expressavam a Marlene de sempre. A minha Marlene. Bem, talvez não tanto depois de tantos meses.


Distanciamo-nos pela falta de tempo, pela falta de oportunidade e pela falta de interesse.


E tudo isso vinha dela.


Porque eu tinha tempo, tinha oportunidade e estava ainda mais interessado nela.


No entanto, Marlene tinha mesmo optado por me deixar. Ou me esquecer.


Eu lotava a sua caixa, mas ela pouco me retornava.


Quando retornava, desculpava-se por estar a semana sem luz ou sem wireless e me dirigia palavras rotineiras.


Seu antepenúltimo e-mail tinha me deixado extremamente desorganizado e afoito.


Para: Sirius Black, Inglaterra
De: Marlene Mckinnon, África
Assunto: estou voltando (:
Oi, Sirius! Adivinha. Acho que a partir da segunda semana de setembro o meu contrato termina. O que quer dizer que estou livre do Congo. Não que eu queira me libertar desta terra, pois aprendi muito com todos aqui; levarei lembranças eternas das pessoas com que conversei.
Mamãe disse que vou poder ficar na casa dela e do Jeff, mas assim que puder, entro em contato com você, para lhe dar os detalhes.
Beijos, meu eterno garoto!


Para: Marlene Mckinnon, África
De: Sirius Black, Inglaterra
Assunto: olá (:
Que boa notícia, Mckinnon! Espero mais notícias.
Amo você (:


Meus e-mails, tão animados no começo, agora já estavam cansados de transmitir qualquer coisa boa. Eu lhe escrevia precariamente, quase que repetidas vezes. Escrevia-lhe muito, mas minhas palavras, com o tempo, também se encurtaram.


Estávamos fadados a nos transformar em meros amigos distantes.


Eu já tinha essa dolorosa sensação no estômago, mas não queria aceitar a coisa daquele modo. Podia ser que e-mails eram mesmo muito frios para servirem de comunicação a namorados separados por um mar imenso.


Seu último recado deixou-me extasiado, mas apreensivo.


Para: Sirius Black, Inglaterra
De: Marlene Mckinnon, África
Assunto: estou voltando (realmente)
Hey. Agora é sério. Eu vou voltar!!!
Domingo, 13/09
Meu vôo sai às oito da manhã e acho que estarei na Inglaterra perto das onze.
Pode avisar a mamãe? Não estou conseguindo conexão telefônica. Não tem sinal por aqui.
Até a volta ;)


Eu avisei a Sra. Mckinnon, bem como Marlene me pediu. Ela, claro, ficou maravilhada e contente. A mãe da Lene, digo. Disse-me para levá-la ao aeroporto quando a filha pousasse na cidade. Eu lhe prometi que o faria.


Durante as duas semanas que se seguiram, não consegui escrever nada a ela. Não podia lotar mais uma vez sua caixa de e-mail com palavras como “amor” e “eu amo você”. Isso soaria como passado. Tudo bem, talvez eu estivesse preso demais no passado, mas não podemos definitivamente largar o que já nos foi nosso, não é mesmo? A Marlene já tinha pertencido a mim por tempo suficiente para eu saber cada detalhe de sua pessoa e de sua vida; afinal, seis anos não são três dias. Anos não podem ser comparados a meras horas. Marlene tinha estado em todos os meus pensamentos, quase por 24 horas. Aparecia até mesmo em meus sonhos, em minhas lembranças distantes. Ela não me largava, por mais que eu fizesse um esforço para deixá-la.


No sábado de manhã, despertei com a sensação de que já era domingo. Eu estava delirando de ansiedade. Quase um ano sem vê-la. Será que tinha mudado muito? Ou melhor, será que tinha mudado? O tempo, é verdade, transforma certas pessoas, certas preferências e certos sentimentos, mas será mesmo que a minha Marlene não era mais tão minha quanto antes? Ainda que ela tivesse parado de escrever sobre o amor, continuava me chamando de “seu garoto”. Não era tão ruim, de todo modo. Ela ainda era a minha garota, por mais que não quisesse mais.


Perto das dez horas da manhã eu passei no casebre da mãe de Lene, que dividia com o novo namorado, o Jeff. Já era domingo e eu esperava que nada tivesse mudado. Eu me decepcionaria se isso tivesse acontecido.


- Oh, olá, Sirius. Como estou? Digo, estou tão nervosa! Pouco falei com a Marlene durante esses meses... Jeff quer nos acompanhar, tudo bem? – a Sra. Mckinnon me disse, toda apressada. Trajava um conjuntinho rosa antigo muito parecido com um tailleur.


Fiz que não, e ela logo gritou o nome do namorado. Então, Jeff apareceu e nos enfiamos em meu carro. E no minuto seguinte estávamos partindo, finalmente, para o Aeroporto Internacional.


O trajeto foi preenchido com muita conversa agradável a respeito da horta de Jeff e sobre como a Sra. Mckinnon estava começando a se interessar por comida orgânica.


Quando estacionei no primeiro piso do estacionamento pago de aeroporto, a mãe da Lene não parava de falar correndo sobre como estava morrendo de saudades da filha. Eu fazia jus a ela. Eu estava tão transtornado quanto ela.


Passamos a hora comendo cupcakes e bebendo Coca Cola em uma das lanchonetes do local, até que anunciassem o pouso do avião vindo do Congo.


Às 11:03 o avião taxiou na pista. Nós três corremos até o desembarque internacional, para aguardarmos a aparição de Marlene.


Quando a vi tive a sensação de que a estava enxergando pela primeira vez. Meu coração se acelerou tanto quanto uma pipoca na panela e não pude evitar sorrir.


A minha garota estava de volta.


Marlene pegou sua mala gigantesca e acenou para nós. Então, veio de encontro a nós.


- Ah, Marlene! – a Sra. Mckinnon estava quase à beira das lágrimas e abraçava a filha – Como você me deixou preocupada por todos esses meses, garota!


- Desculpe, mãe. Você sabe que eu estava trabalhando. Desculpe não poder retornar seus telefonemas. O sinal de lá era horroroso – Marlene se desculpou, apertando a mãe ainda mais nos braços.


- Sua mãe não parava de falar sobre você – Jeff estava sorrindo.


- Awn, Jeff, oi, querido! – Lene disse e logo foi abraçá-lo também.


Então ela parou e olhou para mim.


- Hey, cara, você está diferente! – ela caiu na risada, provavelmente rindo do meu cabelo, que crescera bastante, já que eu não tinha motivação para ir ao barbeiro.


- Você também – analisei.


Marlene realmente estava diferente. Não que aquilo fosse ruim, só natural. Afinal, quase doze meses.


Ela tinha cortado o cabelo na altura dos ombros e usava menos maquiagem do que o normal. Suas roupas continuavam as mesmas. Aquele estilo vintage que eu adorava. Ela estava, se possível, mais encantadora do que o costume, mesmo estado morando por quase um ano em um país deplorável.


- Como está? – ela me perguntou, abraçando-me também, mas de leve, como se não quisesse se envolver demais.


- Estou... – pensei bem antes de responder. Não queria mentir, mas também não queria lhe contar a verdade inteira – feliz. Agora.


Minha resposta foi a mais sincera. Achei que se mentisse, ela perceberia. Ela era ótima nisso.


- Também estou – ela me respondeu, encostando sua testa em meu ombro – Você não tem idéia de como lá era quente. Tinham horas que eu queria ficar pelada de tão quente.


Rimos.


Para uma profissional, Marlene não mais se parecia com uma, naquele momento.


- Como foi de viagem, amor? – sua mãe lhe perguntou.


- Bem. Os caras me colocaram na área VIP e até tomei gim-tônica.


- Maravilha. Venha, vamos para casa. Sirius nos trouxe até aqui.


- Ah, muita gentileza, Six – ela me disse, dando-me uma piscadela.


Levei-os até a rua da mãe da Lene. Jeff tinha dito que iria preparar uns rabanetes de salada e torta fria de cenouras e cebolinhas para o almoço. Marlene disse que agradecia muito, mas que estava muito cansada e queria descansar antes de almoçar.


Então, a Sra. Mckinnon e o Jeff entraram conversando tão felizes que meu coração se apertou, e eu e Lene ficamos sozinhos no jardim.


- Deixe-me ajudá-la – falei, achando que era a única coisa que deveria fazer.


- Obrigada – ela me agradeceu.


Abri o porta-malas e tirei sua mala vermelha de lá. Tinha rodinhas, mas eu a puxei para dentro da casa e a deixei no quarto de hóspedes, onde Marlene dormiria por algumas noites.


- Lugar bom, não? Não me recordava muito desse quarto, porque minha mãe o deixava trancado com as coisas de meu pai – ela comentou, passando os dedos no lençol limpinho da cama.


- É, eu sei – falei, porque eu já tinha estado naquela casa algumas vezes, antes de ela ter se mudado para meu apartamento.


- Ela parece feliz com o Jeff, não acha? – ela soltou uma risadinha baixa.


- Sim, parece que ele é muito bom para ela – observei.


Ela suspirou.


- É bom estar de volta. Almoça conosco? – ela me perguntou em um tom extremamente agradável.


Eu não podia rejeitar aquilo.


- Claro.


- Ótimo – ela sorriu - Vou tomar um banho e cair na cama por alguns minutos. Não consegui dormir no avião, acredita? Tinha um velho super chato ao meu lado que não parava de falar sobre a expedição dele no Egito.


- Hm, então é melhor descansar. Qualquer coisa, é só me chamar.


Ela riu de novo, agora com as mãos na boca.


- Certo, se uma barata entrar aqui o chamo, pode deixar – ela me falou.


Eu fiz uma careta para ela e deixei o quarto.


Fui para a sala, onde a TV estava sintonizada no programa da Rachel Ray. A Sra. Mckinnon e o Jeff estavam muito ocupados tomando vinho do porto, cozinhando e cochichando para prestarem atenção em mim. Fiquei feliz por estar naquela casa.


O almoço ficou pronto rapidinho e eu fui incumbido de avisar à Marlene. Quando bati à porta e a abri um tantinho, meus lábios deixaram escapar um sorriso sincero. Ela estava jogada na cama ainda feita com o mesmo vestido preto de gola gótica.


Entrei no quarto quietamente e deitei-me a seu lado. Seu rosto estava tão sereno que quase estava me fazendo dormir também.


Quando as pontas de meus dedos desenharam a linha de sua bochecha, ela despertou.


- Hm? – ela falou, observando-me turvamente.


- Oi, sou eu – falei, sorrindo de leve.


- Ah, oi – ela resmungou, nem se dando ao trabalho de trocar de posição.


Então meus lábios encontraram os dela e, por breves segundos, eu me senti o velho Sirius.


- Sir-ius – ela gaguejou no meio do beijo.


Distanciei-me dela por milímetros e disse:


- Veja bem-vinda, Lene.


Ela tornou a fechar os olhos e aprofundou o beijo. 


 ____

N/a: olá meus amores *-* Temos que combinar que eu até que escrevi esse capítulo bastante rápido, considerando que eu estou escrevendo outras fics. E tenho que lhes comunicar que infelizmente o próximo capítulo vai demorar um pouquinho mais para aparecer, porque segunda-feira vou viajar e para onde vou não sei se terei internet. Continuarei a escrever, claro, mas não sei quando postarei. Sinto muito. Mas agradeço muito pelo carinho e pelos comentários *-* Vocês são uns amores *-* 

Nina H.


28/01/2011

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Comentários (1)

  • IsaBlack

    Aiiii! Como a Lene é bobaaaa! Se fosse eu num espereva nem sair do avião direito pra ficar com o Six! *---* Hãn. hauhauhauhahua Maravilhoso, como sempre, Nina! :D

    2011-05-11
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