A visita de Dumbledore



Como prometido Jon estava me esperando na saída da escola. Quando me viu ele exibiu um sorriso, e me puxou para um abraço.


“Nossa! O que aconteceu?” perguntei assustada.


“Nada, eu só... Esquece.” Ele tentou disfarçar.


Durante todo o caminho de volta para casa o silêncio predominou. Quando chegamos à porta de casa, Jon sussurrou um “não se esqueça que eu sempre vou te amar.” Eu estranhei e apenas assenti.


Quando entramos em casa, escutei vozes na sala de visitas.


“Temos visita?” indaguei surpresa. Era difícil recebermos visitas no horário de almoço.


“Sim, e Ele está a sua espera.” Jon disse num tom sério.


Paralisei assim que vi a figura alta de nariz torto, óculos meia-lua, cabelos e barbas prateados e longos, com vestes roxas chamativas e incomuns. O sorriso que ele me dava era simpático. Seus olhos azuis me avaliavam com curiosidade.


“Olá, senhorita Diordeny” ele me cumprimentou com cordialidade. Estranhei quando ele me chamou de senhorita, afinal aqui no Brasil normalmente as pessoas nos chamavam pelo primeiro nome, só os britânicos utilizavam o sobrenome.


“Aya.” O corrigi de imediato, “Me desculpe a minha indelicadeza, mas eu o conheço?”


 “Oh, perdoe a minha falta de educação, Aya.” Ele disse, ainda sorrindo. “Me chamo Alvo Dumbledore.”


Olhei-o por um momento, questionando se ele era mesmo real. O personagem da minha história favorita estava bem diante dos meus olhos.


“Creio que a senhorita já saiba quem sou.” Ele disse e voltou-se a sentar, “Temos assuntos importantes a tratar. Estou aqui para responder-lhe quaisquer dúvidas que você tenha. E eu sei que são muitas.”


Assenti e também me sentei.


“O senhor aceita algo? Uma bebida?” minha mãe perguntou a Dumbledore o tratando com certo respeito, como soubesse quem ele realmente era.


“Certamente uma bebida cairia bem, Sra. Diordeny. Um suco, talvez.” respondeu ele, olhando a casa com certa curiosidade.


De repente minha mãe tirou de seu bolso uma varinha. Eu arregalei os olhos e gritei. “Você é uma bruxa?”


“Filha, todos nós somos.” Meu pai respondeu cauteloso.


Minha mãe estava prestes a sacudir a varinha, “Espere!” gritei interrompendo-a “Acho que eu posso fazer isso.” Disse exibindo um sorriso.


Imaginei a jarra de suco que estava em cima da mesa e os copos flutuando em nossa direção.


E aconteceu.


Como no dia anterior com a garrafa a jarra e os cinco copos apareceram na nossa sala, flutuando no ar. Todos me olharam surpresos.


“Oh!”


Dumbledore apenas riu. “Fascinante!”


Fiz com que os copos se enchessem e fossem para cada uma das pessoas presentes. Dumbledore aceitou o copo sorrindo, os olhos azuis brilhando em aprovação.


“Fascinante!” repetiu, admirado com as minhas capacidades mágicas. Ele ergueu uma mão, que agora eu percebia que estava preta. Então me lembrei que em Harry Potter e o Enigma do Príncipe a mão dele estava carbonizada por causa do anel de Graunt, a horcrux que ele mais tarde destruiu. “Concluo que você já sabe do que se trata minha visita. Ou ao menos sabe parte do motivo.” Ele disse percebendo meu olhar sob sua mão.


Assenti e observei meus pais ainda espantados com o que eu havia feito.


E então Dumbledore me olhou nos olhos e eu entendi o que Harry queria dizer quando tinha a sensação de ser radiografado. E eu não duvidava que ele tinha essa capacidade.


“Senhor...” eu não queria ser impertinente, mas precisava fazer aquela pergunta. Então me interrompi e afirmei “Eu sou uma aberração.”


“Filha não diga isso” minha mãe pediu.


“Ninguém tem os poderes como o meu. Eu não preciso de varinha para realizar feitiços. Eu sou uma aberração.”


“Intrigante...” comentou Dumbledore com os olhinhos brilhantes. “Isso é uma dádiva. Esse foi um dos motivos porque não te deixei ir a Hogwarts quando tinha onze anos.”


O choque ficou obvio em minha feição. Senti minha boca se escancarar.


Era para eu ter ido estudar em Hogwarts a quatro anos atrás, mas Dumbledore não deixou. Simples assim.


“Mas por quê?”


“Existem segredos que você terá que desvendar sozinha, minha jovem. Outros com a ajuda de seus pais” Ele abriu um sorriso, trocando um olhar cúmplice com meus pais “Mas creio que a senhorita talvez saiba o motivo da minha atitude. Faça um esforço.”


Isso tinha alguma coisa a ver com os meus poderes. Só havia uma pessoa que invejaria meus poderes...


“Voldemort!” exclamei como se fosse óbvio. De repente, senti uma fúria e minha expressão ficou sombria.


Meus pais e Jon se encolheram no sofá.


“Você não sente medo de Lord Voldemort?” Dumbledore me olhou por cima dos seus óculos meia-lua e seu chapéu se inclinou para frente.


“Não. Eu não consigo sentir medo dele mesmo sabendo do que ele é capaz.”


Dumbledore sorriu, satisfeito.


“Acho que isto está no sangue.” Ele comentou orgulhoso.


“Como?” perguntei confusa.


“Mais tarde você saberá...” Dumbledore disse enigmático.


Segurei a vontade de revirar os olhos diante daquilo. Dumbledore e seu enigmas. Ótimo, eu mereço.


“Mas... Agora eu irei a Hogwarts?”


Dumbledore levantou seu olhar parando no meu, e eu me senti radiografada novamente.


“Certamente que sim.”


Senti meu peito inflar. Eu iria a Hogwarts. Mas... Oh my God! Eu com meus dezesseis anos em uma turma de pessoas de onze!


“Wol!” Deixei escapar um murmúrio de surpresa.


“Sim, minha jovem?” Dumbledore indagou me observando cautelosamente, provavelmente percebendo que havia alguma coisa por trás da minha indagação. Afinal Dumbledore era Dumbledore, sempre sábio.


“Eu vou estar numa turma de alunos do primeiro ano” afirmei “Nossa.”


Jon soltou uma risada.


“Não, Aya” ele disse sorrindo “Você vai estudar com os alunos do sexto ano.”


“Oh my God!” disse num tom mais alto. Sexto ano... Enigma do Príncipe... O Harry também estaria...? “Senhor, o Harry está em que ano?” perguntei tentando conter minha curiosidade.


“Sexto”, disse apenas.


“Que incrível!” falei maravilhada, eu estudaria junto com o famoso Harry Potter, e Rony e Hermione. Oh my God! Então uma tristeza tomou conta de mim quando me dei conta sobre o que aconteceria esse ano. “Esse ano...”


“Eu sei, Aya, eu sei. Tão bem quanto você.”


Eu o encarei pasma devido a frieza que ele falava sobre aquilo. Meus pais abaixaram a cabeça parecendo triste.


“Eu já li os livros, Aya.”


No sexto livro da série Dumbledore morria. A mão negra, carbonizada, o anel, a horcrux... Eu devia ter percebido antes!


“Professor”, eu disse minha voz assumindo automaticamente uma seriedade “Eu vou ter que impedir que...”


“Lamento informar, mas eu não permitirei que a senhorita faça isso. Terei que alterar a sua memória antes que você vá a Hogwarts. Você precisa ficar viva.”


“Não, senhor. Por favor...” implorei.


“Sinto muito, Aya, isso será necessário para o seu próprio bem.” Ele disse, então mudou bruscamente de assunto “Preciso voltar a Londres essa noite. Tenho assunto a tratar com... Harry.”


“Ah,” murmurei me recordando com o que aconteceria “O professor Slughorn.”


Ele assentiu, sorrindo.


“Exato. Seus pais devem conduzi-la até o caldeirão furado até semana que vem. De lá, a senhorita pode ir até o Beco Diagonal, a Gringotes e a King Cross.”


Assenti sorrindo. Eu iria conhecer o mundo de Harry Potter, que agora também era o meu mundo.


“Já entreguei sua lista de materiais a sua mãe.” Dumbledore se colocou de pé e com um aceno da varinha, os meus exemplares de Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Harry Potter e as Relíquias da Morte voaram escada a baixo, assim como os DVDs dos filmes. Eles desapareceram no ar e eu deixei escapar um gemido. “É necessário. E agora...”


“Espere!” eu gritei em desespero “Preciso dar adeus a estas memórias...”


Fechei os olhos. Pensando no final das Relíquias da Morte, no romance de Harry e Gina, Rony e Hermione, e em seus filhos.


“Ao menos o final será feliz.” Sussurrei.


“Lembre-se o amor supera tudo, até mesmo a maldade.”


E com mais um aceno da varinha eu não me lembrava de nada que aconteceria de hoje em diante. Lembrava do Professor Slughorn, mas não sabia por que Dumbledore precisava dele.


“Bem, tenho que ir, Aya. Nos vemos em Hogwarts.” Ele disse e olhou ao redor da sala “É uma bela casa. Creio que tenha sido feliz neste lar...”


“Sim, passei os melhores momentos de minha vida aqui” falei, estranhando o rumo da nossa conversa.


“Fiz uma boa escolha”, sussurrou para si mesmo.


Olhei com uma expressão curiosa, mas ele apenas sorriu.


“Nesse caso...” ele falou indo em direção ao hall de entrada.


“Senhor, se preferir pode aparatar aqui em casa.” Eu o interrompi, achando melhor assim.


“Isso não é possível.” Ele falou me avaliando, e notou minha surpresa. “Há uma proteção na sua casa contra aparatação e algumas magias.”


“Por que?”


“Isso você descobrirá em breve...” ele me disse.


“Mas eu posso fazer feitiços.”


“Sim. A propósito, controle sua magia. O ministério não pode saber o que você faz, mas...”


“É sempre bom ter cuidado” completei.


“Até breve, Senhor e Sra. Diordeny, Jon, Aya...”


“Foi um prazer tê-lo aqui, professor.” Eu sorri enquanto Dumbledore já esperava na soleira da porta aberta.


“Digo o mesmo” ele retribuiu o sorriso “Foi um enorme prazer ter sua adorável companhia, Aya.”


Ele já se virava para partir quando se virou e disse.


“Até breve.”


“Até.”


E, quando ele atravessou o portão, ele aparatou para Londres, deixando eu em êxtase. Afinal, eu iria a Hogwarts!


Assim que fechei a porta, minha mãe me puxou para um abraço.


“Estou tão orgulhosa de você, minha menina...”


“Porque ninguém me falou que eu era uma bruxa?” perguntei me afastando da minha mãe. “Que vocês eram bruxos?”


“Para sua própria segurança.” Meu pai intercedeu.


“Jon você é...?”


“Sim.” Ele me respondeu e sorriu “Lembra quando eu fiquei anos estudando no exterior? Então, eu estava em Hogwarts.”


 “Filha...” minha mãe começou a falar, amorosa “Acho que já está na hora de você saber da verdade. Quando você era um bebe, de poucos meses de idade, Dumbledore e vários outros bruxos te trouxeram para cá, deixando você sob nossa guarda.”


“O quê?!” eu senti um nó formando em minha garganta. “Eu sou... Adotada?!”


“Nós somos seus guardiões.” Meu pai me corrigiu.


“Guardiões? De quem?”


“De Você-sabe-quem.” Minha mãe falou, e uma lágrima caiu dos seus olhos. “Sentimos muito pelas mentiras, mas não podíamos te dizer antes. Havíamos jurado que só lhe contaríamos quando fosse a hora certa” ela disse entre soluços.


“O que Voldemort iria querer comigo? Ele nem deve saber da minha existência!”


“Ele sabe. Só que ele não tem conhecimento do seu paradeiro. Por isso vivemos no mundo trouxa e te escondemos de todos. Apenas algumas pessoas da Ordem têm conhecimento sobre você. Ninguém mais.” Meu pai falou, reconfortando minha mãe.


“Eu não acredito nisso! Vocês me esconderam todos esses anos... Quem eu sou realmente. Vocês me privaram do meu verdadeiro eu!” gritei, dando passos para trás, me afastando deles.


“Era para o seu próprio bem, querida.”


“Quem são meus verdadeiros pais?” perguntei, secando a lágrima que caia dos meus olhos.


Meus pais trocaram olhares cúmplices e Jon não tirou os olhos de mim.


“Tiago e Lilian” responderam em uníssono.


“Co-como?” gaguejei. E Jon engasgou com a própria saliva.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.