O Grupo Babuínico



Capítulo 1 - O Grupo Babuínico

Nos corredores escuros e pétreos do antigo castelo encantado ouviam-se passos apressados. Ainda havia pouca luz vinda de um sol moribundo que se enterrava no horizonte.


 


Alguém estava fora da cama fora do horário. Não era costume de Severus quebrar regras. Sempre rígido e tímido, desprezava aqueles quatro inúteis que estavam sempre em seu caminho.


 


E lá estavam eles. Todos os quatro. Badernando, como de costume. Aprontando travessuras e rindo como nunca.  Como o bando de completos patifes que eles sempre foram. Tão idiotas que nem perceberam sua presença. Agora eles realmente seriam expulsos. Estariam para sempre fora de seu caminho.


 


Estava pronto para dar o flagrante quando sentiu algo se aproximando por traz de si. Por um momento sentiu todos os músculos de seu corpo enrijecerem e uma sensação nada agradável se apoderar de sua região lombar e de seus ombros.


 


Ele tentou dar alguns passos para qualquer direção, com a intenção de fugir desesperadamente, mas suas pernas não responderam. Depois disso, o que já era esperado: Uma mão em sua boca e outra em suas costelas o puxaram para trás bruscamente.


 


Ambos caíram no chão e a “sombra misteriosa” só não riu porque sua missão era séria.


 


Tão logo Severus sentiu o chão, sentiu que as mãos ainda tocavam seu corpo firmemente. Sentiu-se curioso: “O que vem agora? Vai me matar?”. Até que percebeu que as mãos cálidas que ainda faziam pressão em seus lábios não poderiam machucá-lo. Aquele cheiro adocicado vindo do cabelo ruivo era inconfundível.


 


Olhou para trás apenas para ter certeza. Sim, era ela.


 


Arregalou os olhos para que a pouca luz que ainda restava pudesse iluminar aquele rosto angelical e levar aquela imagem à sua retina. Ela finalmente soltou sua boca com um movimento tão delicado como seus profundos olhos azuis. Fez um gesto sutil para que ele falasse baixo.


 


- O que você está fazendo aqui, Lilly? Quer ser expulsa?


 


- Pelo menos, se eu for nós dois iremos juntos. Está espionando James novamente, não está?


 


- Espionando? Eu? A culpa não é minha se aqueles patifes fazem mais barulho que babuínos drogados. Vim ver se não são eles que estão pregando peças nos professores de noite.


 


- E o que você faria se fossem eles? Iria delatá-los ao professor Dippet? Francamente, Severus, se eu não o conhecesse, diria que está morrendo de ciúmes deles.


 


- Ciúmes dos babuínos? Por que eu teria ciúmes?


 


- Porque eles se divertem como eu sei que você nunca conseguiu na vida.


 


O garoto dos cabelos negros ensebados se retraiu. Era verdade o que ela dizia, mas ela não entenderia o porquê. Ele não podia ser feliz. Não merecia aquela “diversão”.


 


- Desculpa. Não quis te magoar. – Disse a menina em tom sincero. – Eu só... Não gosto de ver você aí sozinho e infeliz.


 


Ele se levantou. Cabisbaixo andou vagarosamente até o fim do corredor, sem perceber a presença insistente daquela que provavelmente era uma das suas únicas amigas no mundo.


 


Prestava atenção em seus próprios pés. Ficava orgulhoso de ter sapatos tão bem engraxados. Sempre ouvira que devia julgar o caráter das pessoas por seus sapatos, pois roupas e outros acessórios podiam ser enganosos, mas sapatos nunca: eles refletiam a personalidade de qualquer pessoa.


 


A mão pousou novamente em seu ombro. Ele continuou andando.


 


Ela desistiu. Resolveu parar ali e deixá-lo a sós com seus pensamentos. Nem bem ficou sozinha no corredor. James encostou sua cabeça no ombro da moça. Cochichou algo em seu ouvido e riu em seguida.


 


Ela fez uma cara de pena, mas deu a mão para James e se juntou a Almofadinha, Rabicho e Aluado em volta da árvore onde estes comiam Feijõezinhos De Todos Os Sabores.


 


--


 


Enquanto isso, no caminho para o Salão Comunal da sua casa, Severus fingiu não ver o insolente Potter se aproximar da doce Lilly. Fingiu não ouvir sua voz interior dizer-lhe para voltar lá e acabar com ele. Fingiu, por um segundo que Lilly era apenas sua e que não havia James Potter nenhum que a tiraria dele.


 


Dentro daquele corpo magro e por baixo das vestes escolares pretas havia, afinal, um resto de sentimento no meio daquele grande bloco de gelo que as pessoas chamavam de coração.


 


Mesmo com seus passos vagarosos, ele chegou rápido em seu quarto e nem bem repousou a cabeça em seu travesseiro, percebeu que não conseguiria dormir tão cedo. Por mais que tentasse não pensar no que Lilly estava fazendo com o quarteto babuínico àquela hora, não conseguia parar de imaginar como aquela garota tão boa poderia compartilhar uma amizade com aquele arrogante.


 


Resolveu tomar um banho. Talvez a água quente batendo em suas costas o fizesse ter algum pensamento agradável.


 


O banheiro era grande, gelado. Não havia nada lá que lhe inspirasse uma boa sensação, mas, mesmo assim, seria melhor que se revirar na cama até que o sono se apresentasse.


 


Abriu a porta de madeira escura e teve um pequeno vislumbre do banheiro composto basicamente por azulejos brancos, algumas repartições para os vasos e os chuveiros e várias pias com torneiras de prata antiga em forma de cobra.


 


Por uma fração de segundo se perguntou se as torneiras das outras casas tinham o formato de leões, corvos e texugos, mas perdeu o interesse assim que passou a mão em sua toalha felpuda.


 


Deixou seu pijama de flanela verde esmeralda num banco, próximo ao box onde tomaria seu banho. Em seguida, tirou sua roupa – não sem antes olhar para trás uma ou duas vezes para ter certeza de que ninguém entraria pela porta e o veria – e dobrou-a, colocando-a, em seguida, ao lado do pijama.


 


Entrou no box e ligou o chuveiro. A água saiu mais quente do que ele esperava e deixou sua pele num tom avermelhado. Demorou um tempo para que ele ajustasse a temperatura e em aproximadamente quinze minutos ele já trajava seu pijama e pantufas e se encaminhava para seu quarto.


 


Percebeu que o banho de nada lhe adiantou, então resolveu fazer algo que ele tinha certeza que era bom: estudar a arte do preparo de poções.


 


Seus companheiros de quarto foram chagando aos poucos e dormindo aos poucos. Ele continuou com seu livro na mão até que o primeiro raio se sol ofuscasse seus olhos negros, como se lhe dissesse: “Durma um pouco agora. Amanhã será um longo dia”.


Ele obedeceu. Deitou os cabelos negros no travesseiro e dormiu instantaneamente.

Fim do primeiro capítulo. 

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