Capítulo 4



Capítulo 4 


Uma noite de amor é um livro ainda não lido.
 - Honoré De Balzac


 


13 de agosto


- Lenie, fiquei sabendo que foi para Nova York! É verdade? Porque sumiu desse jeito? Me liga assim que ouvir essa mensagem, amiga!


Marlene sabia que se arrependeria profundamente de ter apertado o botão de mensagens de voz. No momento em que viu que havia uma nova mensagem de voz, sabia que só poderia ser Lily. Marlene mudara seu número de celular, mas provavelmente sua mãe dera a Lily, sua melhor amiga.


Mas nem mesmo queria ficar perto e conversar com Lily, pois ela lembrava-lhe de tudo que estava querendo esquecer. E não era como se Lily estivesse extremamente preocupada com Marlene 24/7. Naquele momento ela já estava aproveitando o sol em Beverly Hills, e admirando a beleza dos surfistas e salva-vidas.


Outro dia, enquanto fazia compras pensou ter visto Jake, com aqueles músculos e cabelos loiros. Chegou a conclusão que deveria estar ficando louca. Jake não poderia estar em Nova York. Respirou fundo e apertou o botão que apagava a mensagem, tentando, com muito esforço, esquecer tudo que não pertencia à Nova York e àquele verão.


Os dias trabalhando no café de Ruby iam bem. Sua rotina consistia basicamente em acordar bem cedo, fazer a entrega de James e Sirius logo que chegasse ao café, e trabalhava o resto do dia, para depois ver Sirius á noite. É claro, que havia algumas exceções, como os dias que Marlene estava acabada de atender tantos fregueses ou quando Sirius tinha ralado o dia inteiro no jornal. 


Para Sirius, esse verão estava melhor do que ele esperava. Apesar do calor infernal da Big Apple, o trabalho era ótimo, e Marlene era melhor ainda. Estar com ela o fazia se sentir como se estivesse na faculdade novamente, sem problemas com os quais se preocupar. Porém, ele tinha problemas, e lembrou-se disso quando seu celular tocou próximo ao horário final do expediente.


- Alô? – ele disse, quando atendeu. Não havia reconhecido o número.


- Sirius? – a voz feminina disse do outro lado da linha. Sirius sentiu que seu coração tinha ido parar em seu pé. Não esperava ouvir aquela voz tão cedo.


- Carol. – ele disse, arrependendo-se em seguida. Ainda não estava acostumado a não chamá-la pelo apelido.


- Eu preciso falar com você. Será que podemos nos encontrar?


- Eu não estou em Londres... – ele começou, mas foi interrompido por ela.


- Eu sei. Estou em Nova York também.


xxx


- Como me encontrou? – Sirius perguntou após pedir dois chás no Russian Tea Room.


- Não foi fácil. Alguns de seus amigos deixaram escapar. – a mulher a sua frente respondeu.


Era Caroline Linford. Alta, com longos cabelos castanhos claros e olhos verdes. Sirius a conheceu na faculdade, enquanto tentava achar seu dormitório. Ambos eram calouros naquela época e isso ajudou para que se aproximassem. Estavam namorando seis meses após esse encontro. A relação dos dois durou vários anos, até que uma traição os separou.


- Eu precisava lhe explicar tudo.


- Não há nada para explicar. Você me traiu com meu amigo. – ele respondeu calmamente, começando a se arrepender de ter aceitado se encontrar com ela. Aparentemente seu coração não estava tão cicatrizado assim.


- Sei que continua magoado comigo, mas não traí você. – ele riu incrédulo do que ela dissera. – Traição requer sentimentos. Aquela foi uma péssima noite misturada com muita bebida.


- Certo. Esqueci que transar com outra pessoa não é considerado traição. – ele respondeu irônico.


Caroline suspirou, e tirou um papel e uma caneta da bolsa.


- Esse é o telefone do Waldorf Astoria e o número do quarto em que estou. – ela falou enquanto escrevia no papel. Colocou na mão dele, a contragosto de Sirius. – Ficarei em Nova York mais algumas semanas. Me ligue se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa. – ela deu ênfase a última parte, e Sirius segurou-se para não rir. Ela continuava com aquele ar de, perdoem a palavra, vadia.


Ele amassou o papel enquanto ela ia embora. Sirius estava alterado demais para observar aquele corpo maravilhoso que ela tinha. Foi embora do restaurante, mas não jogou o papel fora. Colocou-o no bolso do paletó.


xxx


28 de agosto


Marlene entrou no quarto, quando Sirius abriu a porta e lhe deu passagem. Tirou o casaco molhado por causa da chuva que caía lá fora e o colocou encima de uma cadeira. Haviam saído para comemorar a promoção que Sirius havia recebido. Já não era um simples estagiário. Agora era realmente um jornalista do New York Times.


- Quarto legal. – Marlene disse, quando se sentou na poltrona que havia perto da janela. – Mas achei que depois que quase dois meses trabalhando lá você já teria se mudado para o Plaza.


Ele a olhou, e percebera que mais uma vez ela estava brincando.


- Não é como se um recente ex-estagiário ganhasse muito no Times. – ele disse, colocando seu paletó na cadeira.


Marlene levantou-se e foi até o aparelho de som que havia próximo a televisão. Havia uma grande coleção de CD’s ao lado, todos numa caixa.


- O que é isso? – ela perguntou, pegando o primeiro CD da pilha dentro da caixa.


- Não não não. Você não precisa ver isso. – ele disse, pegando o CD da mão dela e fechando a caixa. Marlene sorriu. Ele estava envergonhado.


- David Bowie? – ela perguntou, arqueando as sobrancelhas. Sirius ficou sem jeito ao vê-la pegar um disco com um homem todo maquiado e fantasiado na capa. - Tudo bem, - ela disse, ainda sorrindo. – Todos nós temos guilty pleasures. ¹


- E qual é o seu? – ele perguntou, sorrindo maliciosamente.


- Buffy, The Vampire Slayer². E chocolate. - ela disse, sem corar. Sirius riu alto, e ainda assim a garota não teve reação de vergonha alguma. – Pode rir o quanto quiser, a série é muito melhor que essas que passam agora. – ela continuou revirando a caixa. – Deixe-me adivinhar: você é uma das pessoas contra a revolução digital? – ela concluiu pelo número de cd’s e vinis que ele tinha.


- Nada substitui o som de um cd ou um vinil. – ele disse, puxando-a para perto de si.


- Meu Deus, como você é velho. – ela disse, seriamente. Sirius, por uma fração de segundo, pensou em responder, porém lembrara-se das constantes brincadeiras dela.


- Está brincando, certo? – ele perguntou, arqueando a sobrancelha.


- Não tem graça se você não acha que estou falando sério. – ela respondeu, e ele sorriu, beijando-a. Sirius a soltou e foi buscar uma bebida.


Marlene, curiosa, voltou sua atenção à caixa. Pegou um dos cd’s e colocou para tocar. Os primeiros acordes de violão começaram a tocar.


- Bruce Springsteen. – Sirius disse, trazendo duas taças de vinho. – Bela escolha.


- 1984. A melhor versão dessa música. – Marlene disse para depois tomar um gole da bebida que Sirius oferecera. Vinho tinto. – Eu tenho uma alta resistência a álcool, caso esteja pensando em me embebedar.


- Eu nunca pensaria nisso. – ele dissera, colocando a taça na mesa, assim como ela fizera.


Sirius aproximou-se lentamente de Marlene, colocando suas mãos em sua cintura. Encostou sua boca á orelha dela, cantando em seu ouvido, com uma voz baixa que a fazia se arrepiar.


- You say you don’t like it, but girl I know you’re a liar. – Sirius mordeu levemente o lóbulo da orelha da morena, e sentiu que ela se arrepiou. Marlene virou seu rosto para encarar aqueles olhos incrivelmente azuis e beijá-lo em seguida.


Os beijos de Sirius ficaram mais possessivos, e Marlene foi empurrada contra a parede. Suas unhas percorriam toda a extensão de seu abdômen divino, agora que os botões de baixo da camisa dele estavam abertos. Marlene começou a desabotoar o resto da camisa branca, e ele apenas a encarava. Quando os olhos castanhos dela encontraram os azuis dele, Sirius sorriu. Como uma pessoa tão pequena poderia lhe deixar tão louco?


Marlene sabia que o que estava para acontecer definitivamente não era uma das coisas mais sensatas da sua vida. Mas naquele momento lhe parecia a mais certa. E para Sirius também. Ele tirou sua camisa, e a puxou para si mais uma vez, beijando toda a extensão do seu colo, da clavícula, passando pelo pescoço até o lóbulo da orelha. A cada vez que Sirius encostava seus lábios na pele de Marlene, ela sentia que ia ás alturas.


Enquanto ele fazia isso, suas mãos dirigiram-se para as costas dela, abrindo o zíper de seu vestido, fazendo com que ele deslizasse pelo corpo dela, caindo no chão. Ele puxou-a novamente, mas dessa vez, Marlene colocou suas pernas na cintura dele. Não havia passado pela cabeça dela quando acordara naquela manhã, que no final do dia estaria agarrada a Sirius em seu quarto, ambos semi-nus.


Marlene, que já havia se livrado de suas sandálias há algum tempo, estava agora deitada na cama com Sirius encima dela. Ele continuava traçando um caminho com seus lábios pelo colo dela, mas dessa vez, intercalando com leves mordidas. Meu Deus, como ele conseguia fazê-la se sentir daquele jeito apenas beijando-a? Ela desceu suas mãos, para abrir a calça de Sirius.


De alguma maneira, Marlene conseguiu inverter as posições, e agora beijava Sirius calmamente, enquanto passava sua mão pelo seu tórax e abdômen. Ele colocou suas mãos na cintura dela, e sentou-se na cama, Marlene em seu colo, com uma perna de cada lado de seu corpo. Sirius admitia que gostava de tentar a morena, mas o que Marlene fazia com ele era demais. E quando as mãos de Sirius foram parar em suas costas novamente, desta vez para abrir seu sutiã, Marlene encarava aqueles olhos azuis que naquele momento, tinham o brilho de malícia e desejo amplificado em 10 mil vezes.


Quando ela sentiu sua penúltima peça de roupa ser retirada, Sirius inverteu as posições, beijando-a com mais paixão do que nunca.


xxx


Sirius acordou com os raios do sol que passavam pela janela. Xingou mentalmente o idiota que havia deixado, e começou a se espreguiçar contra a sua vontade, pois a cama era muito confortável. De repente, lembrou-se da noite anterior. Virou para o outro lado, apoiando-se nos cotovelos. Marlene estava lá, dormindo deitada de barriga para baixo com o lençol cobrindo-a até sua cintura e os cabelos escuros esparramados pelo travesseiro branco. Tinha uma expressão serena no rosto e respirava profundamente. Sirius não resistiu, e deu um beijo nas suas costas nuas, levemente para que ela não acordasse.


Levantou-se da cama, vestindo a calça jeans que usava na noite anterior, tomando cuidado para não fazer barulho, mas acabou por esbarrar numa cadeira e derrubar a bolsa de Marlene e todo o seu conteúdo no chão.


Sirius olhou para Marlene, que aparentemente continuava dormindo e abaixou-se para pegar as coisas dela. O batom, a carteira, o celular, alguns papéis e cartões soltos pela bolsa. Um deles chamou sua atenção, e Sirius o olhou com mais cuidado. O que ele leu ali o pegou de surpresa. Que tipo de brincadeira era aquela?


xxx


Quando Marlene acordou, viu que Sirius não estava mais ao seu lado. O sol já estava alto lá fora, e isso significava que era tarde. Como havia conseguido dormir tanto? Sentou-se na cama enrolada no lençol, procurando suas roupas. Porém, as peças mais próximas que encontrou foram sua calcinha e a camisa de Sirius.


Vestiu as duas peças, e levantou-se. Era ridículo da parte dela não querer que Sirius a visse nua - ainda mais depois da noite passada, ela sabia disso. Foi em direção a varanda: o cheiro de cigarro indicava que ele estava lá.


- Bom dia. – ela disse, assim que o abraçou pela cintura. Marlene respirou fundo, sentindo aquele cheiro maravilhoso que emanava da pele dele misturado com o cigarro. Sirius não se moveu nem disse nada, e ela sentiu a tensão no corpo dele. – O que aconteceu?


Sirius levantou o braço, mostrando a mão. Nela, segurava um cartão. Marlene reconheceu como sendo sua carteira de identidade, com aquela foto dela que tanto detestava. Ela soltou seus braços de Sirius imediatamente.


- Onde você conseguiu isso? – ela perguntou cuidadosamente. A expressão no rosto de Sirius não era nada agradável.


- Caiu da sua bolsa quando esbarrei nela hoje mais cedo. – ele respondeu seriamente. – Isso aqui é algum tipo de brincadeira? – ele perguntou irritado.


- Sirius... – ela começou, tentando explicar calmamente, mas ele estava muito nervoso para deixá-la falar.


- Você realmente tem 17 anos? – ele perguntou, tentando respirar calmamente, mas sem sucesso.


- Sim, mas...


- Eu poderia ser preso, sabia? Ainda mais depois de ontem! – ele disse com raiva. - Você é uma chave de cadeia. – ele disse a última parte em voz baixa para si mesmo, porém Marlene escutou. Ela deu um forte tapa no rosto de Sirius.


- Eu não sou uma chave de cadeia! – ela respondeu, aumentando seu tom de voz e tentando mantê-la firme. Quem ele pensava que era para chamá-la assim?


- Se não fosse, não teria ido atrás de mim, que sou mais de 10 anos mais velho!


- Será que eu preciso te lembrar que foi você que veio atrás de mim depois do show? – ela disse, agora seriamente alterada.


Sirius não respondeu. Deu mais uma tragada no cigarro tentando acalmar-se. Marlene saiu pelo quarto recolhendo suas peças de roupa e vestindo-as.


- Quem você pensa que é? Você nunca perguntou a minha idade! E eu nunca lhe disse porque não achava necessário.


Era verdade. Sirius logo presumiu que ela estava na faculdade porque estava trabalhando durante o verão. E ela não parecia com uma garota de 17 anos. O modo como ela conversava, ou agia. Ela tinha uma aparência mais jovem, mas ele achou que ela era uma daquelas garotas que sempre tiveram cara de mais nova.


 Quando terminou de colocar suas sandálias e pegar sua bolsa na cadeira, Sirius a segurou pelo braço.


- Pelo menos me diga. – ele começou, cuidadosamente. - Ontem á noite, não foi a sua primeira vez, foi? – ele encarava aqueles olhos brilhantes que tinham um ar de ofendidos.


- Não. Minha primeira vez foi com meu ex-namorado. – ela disse, encarando Sirius sem medo algum. – Aquele do relacionamento que não deu certo. Ele me deu um fora logo depois disso.


Sirius a encarou surpreso, nunca passara pela sua cabeça que essa fosse a história de Marlene com o ex. Ela soltou-se de Sirius e pegou sua identidade da mão dele. Estava pronta para ir embora, quando viu seu celular encima de uma mesinha. Ao lado um papel amassado, mas que ela conseguia ler o que estava escrito:


Sinto sua falta, Sirius.
Love,
Carol


Waldorf Astoria, (212) 355-3000, quarto 409.


- Parece que minha idade não é o único motivo para você terminar comigo. – ela disse numa voz calma, segurando fortemente suas lágrimas. Sirius logo percebeu que ela vira o papel.


Quando alcançou a maçaneta da porta, virou-se para ele.


- Sabe, pelo menos quando ele terminou comigo eu entendi que era porque ele era imaturo. Eu esperava mais de um cara como você. – ela disse, antes de bater a porta atrás de si.


Aquelas palavras afetaram Sirius de uma maneira incrível. Como assim ela o comparara a um adolescente qualquer?


 


¹. Tradução: Prazeres culposos.
2. Buffy, a Caça-Vampiros.


N/A: Mais um capítulo! :D  Não sei se é o último ou antepenúltimo, ainda não terminei de escrever o próximo. De qualquer maneira, posso demorar um pouquinho pra postar o próximo, porque minhas aulas na faculdade começam semana que vem. E aí, quem imaginava que a Lene tinha 17 anos?? :O lol.
Muito obrigada a quem comentou: Fê Black Potter, MayBlack, vanessa ., dominique., Mrs. Nah Potter e eugenio. Fico muito feliz em saber que você acompanham e gostam da fic. Me digam, o que acharam deste capítulo?


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.