Conflito familiar.



“Se você pudesse me dar algum sinal, para viver e não morrer... Eu poderia encontrar uma pequena luz” 
(Belinda)


 


-


Capítulo II: Conflito familiar.


 


“... Era uma noite escura e chuvosa, eu estava correndo para fugir da tempestade a procura de um lugar para me abrigar até a água parar de cair.


Estava no meio do nada. Nada além de chuva e barro se estendiam ao horizonte e para onde quer que olhasse e tentasse fugir.


Minha respiração estava falhando, o ar gelado parecia querer perfurar meus pulmões e ao mesmo tempo em que me congelava, parecia pegar fogo.


Corri mais rápido que pude, sentia a chuva aumentar a ponto de cada pingo cair com tamanha força que me deixava mais lenta e dolorida, estava cansada de tanto correr e não chegar a lugar nenhum. Meus pés estavam cobertos por lama, na verdade todo meu corpo estava. Então eu os vi.


- Mãe! Pai! – gritei com todas as minhas forças. Eles estavam não muito a minha frente, caminhando de mãos dadas. – Mãe! Pai! Estou aqui – gritei mais uma vez, mas parecia que não haviam me escutado.


Comecei a correr atrás deles. De repente a tempestade que cruelmente caia não importava mais, a lama que teimava em prender meus pés parecia tentar me puxar ainda mais, meus pulmões encontraram mais dificuldade em respirar, mas isso não importava. Nada mais importava, eu estava perto de meus pais e uma vez que os alcançasse o mundo poderia desabar a minha volta que não iria fazer diferença. Eu estaria do lado deles, estaria segura.


- MÃE! PAI! Me esperem! Não me deixem sozinha – parecia que quanto mais eu corresse, mais eles se afastavam. Mas não importava, eu iria os alcançar mesmo que me custasse a vida. – Por favor, me esperem... Eu estou aqui – mas eles não paravam. Estavam perto o suficiente para me ouvir, eu tinha certeza. Eu deveria desistir? Deveria me entregar à tempestade e esperar morrer ali? Minhas pernas fraquejaram e eu senti meus joelhos encontrarem a terra.


Então meus pais sumiram na tempestade.


- Talvez você precise de ajuda – uma mão se estendeu em minha frente – Não conseguirá sozinha – uma voz doce ressoou em meus ouvidos. Uma voz tão doce que fez com que meus medos desaparecessem. Senti-me segura pela primeira vez – Me dê sua mão – disse a voz, levantei a cabeça e pude ver um par de olhos pretos gentis prontos para me acolher. Não pensei duas vezes e segurei sua mão. – Venha comigo – ele me levantou gentilmente. Sua mão macia me levou a um abraço. Pude sentir seu corpo quente colar no meu. – Não está mais sozinha – Foi bom escutar aquilo. Foi bom saber que alguém se importava comigo exatamente da maneira que eu havia pedido. Não consegui conter a curiosidade e o afastei um pouco para ver seu rosto.


Seu rosto era fino e levemente bronzeado, tinha o nariz com uma leve curvatura na ponta o dando um certo charme, sua boca era rosada e bem preenchida, lábios “beijáveis” como qualquer garota normal falaria e ainda tinha aqueles olhos. Eram tão escuros quanto à noite, mas eram doces. Tinha cabelos claros, mas não o suficiente para dizer que eram loiros. Ele sorriu e senti como se mais nada no mundo pudesse me atingir. O abracei mais uma vez.  Fazia-me esquecer todas minhas angustias e problemas. Não queria mais sair dali.


- Não vai mais fugir – falou. Mas não era a mesma voz gentil de antes embora saísse da mesma pessoa. Desta vez era uma voz arrastada e rouca. Era fria e me fez arrepiar.


O calor emanado do corpo de repente sumiu e deu lugar ao frio que sentia antes. O desespero voltou a mim e minhas pernas ao peso. O que estava acontecendo?


Afastei-me novamente, queria ver seu rosto. Não era a mesma pessoa que estava ali comigo há segundos atrás, disso eu estava convicta. Tive dificuldade em me afastar como se ele não quisesse que visse seu rosto até que finalmente depois de tanto lutar o enxerguei.


A pele bronzeada estava extremamente pálida, seu cabelo antes um pouco escuro havia se transformado em louro, quase branco e escorrido. Os lábios carnudos eram finos, mas de certa forma continuavam a ser atraentes e os olhos pretos escuros como a noite adquiriram a pigmentação azul acinzentado, como um dia nublado e sombrio. Olhei com mais atenção então entrei em desespero completo e comecei a me debater nos braços dele.


Malfoy.


- Olá sangue-ruim! – ele me apertou mais enquanto eu lutava para me ver livre. Ele ria. Era uma risada doentia e assustadora, estava a ponto de chorar, ele não me largava independente do que eu fazia – Seus pais estão mortos! – Sua voz arrastada ecoou em meus ouvidos – Mortos! – riu mais uma vez – Está se sentindo sozinha sangue-ruim?


- PARE! – supliquei.


- Não se preocupe, estará com seus pais em breve – falou ele finalmente me largando. Largando não, me jogando com força no chão. Ergueu a varinha e apostou para mim. – AVADA KEDAVRA!


Um lampejo verde irrompeu os céus e veio em minha direção. Senti meu minha visão embaçar e meu corpo amolecer.


Malfoy riu. ”


 


- AAAAAAAAAH! – abri os olhos assustada. Estava ofegante e senti que estava suando. Malfoy havia me matado. Espera... Olhei em volta ligeiramente e percebi que a chuva havia sumido e a lama também. Encontrava-me no dormitório feminino da grifinória, na minha cama. Foi só um sonho. Um pesadelo. Ultimamente andava tendo muitos pesadelos e todos envolviam meus pais. Eles sempre apareciam de longe e eu nunca conseguia os alcançar por mais que corresse. E o fato de ter visto Malfoy hoje tenha me deixado enlouquecida. Na verdade, não parei de pensar no que vi desde aquela maldita hora que nos esbarramos no trem. Não prestei atenção na cerimônia do chapéu seletor, sequer na reunião da monitoria nem mesmo tive fome quando o banquete foi servido.


Harry desistiu de fazer com que Rony e eu nos acertássemos, Rony esperava um pedido de desculpas da minha parte e eu não pretendo fazer isso, afinal, quem errou não fui eu. Quando disse isso Harry apenas soltou um suspiro derrotado e sorriu. Rony por outro lado tentou armar confusão, mas Harry interveio antes que tivéssemos um público para assistir nossa discussão de camarote.


E eu não queria encrenca, só queria ficar sozinha no meu canto sem a interferência de quem quer fosse para me confortar. Talvez tenha magoado Harry ao dizer isso, mas acredito que mais do que qualquer pessoa ele deveria entender o que estou sentindo.


 


Bichento ronronou deitado aos pés de minha cama, olhei em volta com receio de ter acordado alguma garota, mas todas dormiam feito pedras. Graças a Merlin.


Tentei dormir mais uma vez, porém havia perdido o sono depois daquele pesadelo. Maldito Malfoy! Mesmo quando estou dormindo, me atormenta, ele nunca irá me deixar em paz, quem sabe o dia em que estiver morto – embora tenha minhas suspeitas de que ele daria um jeito de me azucrinar mesmo depois de bater as botas. Respirei fundo e calcei os sapatos, não iria ficar na cama sem fazer nada.


Abri meu malão e peguei um livro qualquer, queria afastar meus problemas pelo menos naquela noite e desci em direção ao salão comunal. Não havia ninguém por lá, e os elfos não deviam ter passado por lá já que havia diversas coisas fora dos lugares e almofadas espalhadas pelo chão. Atravessei o salão em direção ao meu lugar favorito: a poltrona em frente à lareira.


Sentei e abri meu livro, ainda havia uma fraca luz que vinha da lareira em meio às cinzas quase se apagando, murmurei um “lumus” e comecei a ler. Obviamente não consegui me prender muito tempo a leitura, ficava pensando em meus pais e no que acontecera n’A Toca poucas noites atrás e infelizmente em Malfoy. Aquela marca que ele tinha no pescoço tinha sido feita por mim, tenho certeza. Assim como sempre soube que Malfoy seria um comensal, mas se ele é um comensal o que faz de volta a Hogwarts? Seria ele um espião? Arrepio-me só em pensar.


O que não consigo entender é o porquê de ele ter se escondido da batalha na noite do ataque à Toca, sempre soube que Malfoy foi um covarde, mas não pensei que fugiria quando estivesse lutando com seus “iguais”. Poderia ficar apenas olhando os outros fazerem o serviço sujo ou simplesmente ter atacado alguém pelas costas. O que fosse mais de seu feitio.


 


- Hum, oi? – uma voz familiar me despertou dos pensamentos, pisquei os olhos duas vezes com força e virei para o lado. Talvez não fosse tão familiar, já que não o conhecia.


- Ãn, oi! – respondi agora olhando fixamente para seu rosto. Mesmo assim não o reconheci. Franzi o cenho, pois até onde sabia conhecia todos os estudantes da grifinória e aquele garoto, bem... Nunca havia visto na vida.


- Posso sentar aqui? – O fitei mais uma vez, parecia meio desconfortável inseguro e até mesmo atormentado. Talvez a palavra certa fosse deslocado.


- Por que não? – tentei parecer simpática, sorri tentando transmitir alguma confiança e o observei sentar lentamente – então... Nunca te vi por aqui – joguei querendo soar indiferente, embora estivesse curiosa e desconfiada.


- Ah, eu estudava em Durmstrang até o ano passado – respondeu calmamente – com toda essa confusão e guerra estourando, meus pais resolveram me mandar para Hogwarts, onde segundo eles é o lugar mais seguro que há. – fazia sentido. Ah por que estou tão paranóica? – Me chamo Sebastian.


- Prazer Sebastian, sou Hermione, Hermione Granger. – respondi sorrindo. – Então... Está em que ano?


- Estou no sétimo, graças a Merlin – falou com um sorriso torto que me lembro vagamente uma pessoa. Ah Hermione, tire isso da cabeça! – E devo concluir que você está...


- No sexto – respondi rapidamente. Droga. Preciso parar de falar desta maneira. Ele provavelmente achou que sou uma sabe-tudo irritante como todo o resto, mas parecia que não havia se importado, pois deu continuidade ao assunto.


- Tenho um primo que está no sexto ano que estuda aqui também – concluiu – Não sei exatamente o nome de sua casa, aliás, só sei o nome de minha própria casa o que já considero muito – falou descontraído, ele parecia ser uma boa pessoa. Bem, pelo menos era simpático.


- Te darei um desconto por ser seu primeiro dia aqui – falei dando um breve suspiro antes de começar – Existe apenas quatro casas em Hogwarts: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina – falei fazendo uma careta ao falar a última, o que o fez rir. – Os alunos que fazem parte da grifinória são conhecidos pela sua coragem e astúcia – ambos sorrimos – Os que pertencem a Lufa-Lufa são justos e leais, embora sempre haja uma exceção. Já os alunos de Corvinal são famosos por sua inteligência e ter sempre mente alerta. E – suspirei e repeti minha careta – os alunos de Sonserina são extremamente ambiciosos e sedentos pelo poder. Sem falar que se julgam superiores por serem puro-sangue. – E são MUITO filhos da puta, mas resolvi não falar isso.


- Vejo que não gosta muito dos alunos da última casa – falou divertido embora receoso.


- Não, não gosto. – respondi – eles são mesquinhos e traidores. Sem falar que todos os bruxos que fizeram parte dessa casa foram para o lado de você-sabe-quem. – talvez isso tenha soado preconceituoso e... E não me importo se soou preconceituoso, não gosto dos sonserinos e ponto final. – Então... De que casa seria se primo? – perguntei apoiando o braço na poltrona. Não que tivesse interessada em seu primo, só estava curiosa.


- Não sei – falou ele meio confuso – Desculpe.


- Não faz mal – falei o observando e pela primeira vez prestando atenção em sua aparência.


Tinha olhos pretos.


Foi a primeira coisa que me prendeu atenção. Seus olhos eram tão escuros quanto a noite. E isso pareceu familiar. Seu cabelo era claro e bagunçado e isso o dava um certo charme e combinava perfeitamente com seu rosto fino... E seus lábios carnudos. Exatamente como o garoto de meu sonho. O que seria uma estranha coincidência.


-Sebastian, tem certeza que nunca nos vimos antes? – perguntei insistente, não é que pensasse que Sebastian e eu tivéssemos algum tipo de ligação. Era só... Estranho.


- Não, acredito que não – ele disse coçando a cabeça e logo depois sorriu – talvez em meus sonhos?


- O que? – perguntei incrédula. Sonho.


- Calma, estou só brincando – respondeu – Mas talvez não fosse uma má ideia – refletiu.


- Então, hãn, o que faz acordado há essa hora? – fiquei sem graça com seu comentário.


- Ah nada, apenas não consegui dormir. – respondeu me encarando com aqueles olhos pretos. Tão lindos. Tão lindo. Cala a boca Hermione. – E você?


- Pelo mesmo motivo – por causa de meus pais, mas evidentemente eu não diria isso a qualquer estranho – Creio que para você seja mais difícil dormir do que para mim. Afinal sair de uma escola e vir para outra completamente diferente, não ver mais seus amigos, se adaptar a uma nova rotina, novos professores. – Odeio quando começo a falar feito uma tagarela. E só falo besteiras.


- E garotas – falou rapidamente.


- Como? – senti meu rosto corar levemente.


- Bem, não havia garotas em Durmstrang – ah, quando se trata de garotos logo percebe-se que sou um zero à esquerda.


Sebastian me lembrava alguém, mas não ao certo quem seria. Talvez não fisicamente, mas havia algo nele. Tinha um sorriso galanteador, mas ao mesmo tempo sarcástico e se me é permitido dizer com um certo ar de superioridade. Mais de uma vez o vi balançando a cabeça a fim de espantar os fios de cabelo teimosos que lhe caiam no rosto. Sua voz era rouca e misteriosa – não tão misteriosa quanto seus olhos – que parecia esconder alguma espécie de segredo. O encarei por breves segundos e percebi que Sebastian era o tipo de enigma que faz qualquer um quebrar a cabeça para desvendá-lo. E esse era o meu tipo favorito de enigma.


- Hermione Granger ... – prosseguiu Sebastian me tirando de meus pensamentos – Já ouvi esse nome mais de uma vez. – franziu o cenho e levou a mão até o queixo, parecia pensativo – Ah claro, como poderia esquecer? – Sorriu confiante – a amiga do garoto da cicatriz, Harry Potter. Certo? – assenti com a cabeça. Sorriu, mas desta vez com satisfação como se tivesse vencido uma partida de xadrez-bruxo com uma estratégia genial. – E a garota do Krum. – arregalei os olhos e fiquei completamente vermelha.


- É, bem... Foi no quarto ano – tentei me explicar, como se houvesse um motivo real para isso. Sebastian riu.


- Você está vermelha – falou naturalmente – Se está preocupada com o que ouvi falar a seu respeito em Durmstrang pode ficar tranquila – deu os ombros – Krum sempre teve bom gosto com as garotas, tanto na aparência física quanto no intelectual.


- Obrigada, eu acho – Bom, o  que vocês queriam que eu dissesse? Não me culpem pelo fato de não ter vida amorosa ativa. Não que eu não tenha uma vida amorosa, tenho mais coisas na cabeça, como a guerra que estourou lá fora e o fato de eu querer resgatar meus pais – onde quer que estejam.


- Você parece sem jeito – prosseguiu. Sebastian parecia não se importar em fazer esse tipo de coisa, sabe, me deixar totalmente acanhada. – Desculpe se te deixei assim.


- Não, não é isso – É O QUE ENTÃO HERMIONE? – Não costumo...  – INTERAGIR COM O SEXO MASCULINO. Bem, não exatamente interagir já que convivo diariamente com Harry e Rony. Mas Harry é meu melhor amigo e Rony é uma cenoura. – ouvir esse tipo de coisa – Claro, Hermione, brilhante resposta. Onde estão aqueles milhões de neurônios que trabalham fervorosamente todos os dias para encontrar respostas perfeitas?  


- Não costuma ouvir gentilezas? – Ah claro, se ele considera “sangue-ruim” gentileza, sim, escuto muitas.


- Algumas – respondi simplesmente. Parece que cada partícula do meu cérebro se empenhava em me deixar parecendo uma completa idiota na frente de Sebastian, o que era visivelmente divertido para ele.


- Algumas? – me encarou sério – Uma garota como você não deveria receber “algumas” gentilezas – claro, fala isso para os sonserinos.  


- Ah, eu... bem, eu p-preciso subir – tentei inutilmente falar algo que tivesse coerência, mas droga, por que eu não conseguia? Eu deveria estar pensando em outras coisas ao invés de estar totalmente vulnerável aos olhos pretos de Sebastian. Se eu ficasse ali mais alguns minutos, provavelmente pularia  nele ou coisa pior. 


CRACK.


Houve um estalo ao lado da lareira fazendo Sebastian assustar-se e pular para outro lado, assustei-me também com o fato de Dobby estar parado ali com mais um elfo provavelmente para limpar o salão comunal. O pequeno elfo me olhou e sorriu gentil “Boa noite senhorita Granger” e logo em seguida virou-se para o olhar curioso de Sebastian não muito longe de onde estava e o cumprimentou com um cordial boa noite.


- Dobby atrapalha alguma coisa, Srta Granger? – perguntou inocente e senti minhas bochechas pegarem fogo – Dobby mau, Dobby mau. – e começou a bater com a mão na cabeça.


- Dobby,não – tentei intervir – Pára Dobby! – falei severa. Nunca gostei da maneira que os elfos tratavam-se castigando a si mesmos por qualquer coisa que achavam ter feito errado. Ele imediatamente parou ao ouvir minha voz autoritária. – Nós já estávamos indo dormir mesmo, não interrompeu nada – olhei brevemente para Sebastian. Graças a Merlin havia recuperado a sanidade mental. – Boa noite – falei apressada e quase correndo em direção às escadas. Sebastian me deu um último sorriso antes de subir e me enterrar na cama.


Fiquei extremamente brava ao ver como reagi em frente a algum garoto. Sebastian era muito bonito, gentil e simpático mas isso não era desculpa para perder o juízo e quase ter o beijado. Tinha coisas muito mais importantes para pensar do que no quase beijo dado em Sebastian. Aliás, quantas vezes já mencionei o nome dele desde que nos apresentamos?


De qualquer maneira, não voltei a pensar em Sebastian, pois agora com a mente sã pude pensar direito no que fazer em relação aos meus pais. Por mais que tentasse chegar a um plano perfeito, não sabia exatamente o que estava buscando. Eu faria esse resgate sozinha? Harry e Rony tentariam me impedir? O que me aguardaria quando finalmente encontrasse-os? Eu deveria esperar um próximo ataque dos comensais e segui-los até onde eles os mantinham em cativeiro?


Eu estava tentando encontrar uma resposta há mais ou menos uma hora, sentia a cabeça doer e meus olhos pedirem clemência enquanto lutava para mantê-los abertos, o que a cada segundo se tornava mais difícil. Por fim desisti de tentar permanecer acordada, estava cansada e talvez precisasse de descanso.


Não demorei muito a cair no sono naquela noite, o que há muito tempo não acontecia. Tive diversos sonhos e em todos eles meus pais estavam lá. Eu precisava encontrá-los.


-


- Bom dia, pessoal! – ouvi a voz de Gina invadir meus ouvidos no momento em que sentou ao nosso lado no salão principal pronta para tomar café.


- Bom dia – respondemos em coro. A ruiva sentou-se entre Rony e Harry à minha frente. Rony soltou um muxuxo enquanto Gina s apertava entre eles. Pergunto-me porquê, com tanto espaço sobrando na mesa da Grifinória ela teimou em sentar entre Rony e Harry. Pergunta idiota, devo admitir, já que só me dei conta o porquê de sentar ali era único e exclusivamente Harry Potter.


- Como vocês estão entusiasmados para o começo das aulas – falou ela sarcástica tentando puxar algum assunto depois de finalmente ter empurrado Rony para o lado.


-  Ah, claro. Muito entusiasmados – respondeu Rony enchendo o prato mais uma vez. Dei uma breve olhada para Harry e ele apenas sorriu sem muita vontade. O clima estava pesado entre nós desde minha briga com Rony. Não nos falávamos com a mesma naturalidade de sempre e até Gina percebeu isso.


- Preciso pegar três livros na biblioteca mais tarde para começar a ler para História da Magia, vai querer algum, Harry? – Ok, isso soou um pouco infantil, mas não iria dar o braço a torcer a Rony mais uma vez.


- Nossa Hermione, o ano letivo nem começou ainda e você já está querendo ler os livros que o Binns mandou – Gina queria chamar atenção de Harry a qualquer preço, até mesmo interferindo em assuntos sérios – talvez você devesse relaxar um pouco, sair, namorar um pouco – engasguei com a última palavra que a ruiva havia dito. Larguei meu copo de suco de abóbora e tentei respirar. Harry riu. Rony ficou com as orelhas ardendo em brasa.


- Bom Gina, eu já li o livro que o professor Binns nos indicou, mas ao meu ver o que li não  foi o suficiente. – respondi simplesmente, isso a fez revirar os olhos. Eu era a única pessoa naquela escola que realmente se preocupava com os estudos? – Harry, vai querer algum livro? – ele pensou por alguns segundos e negou com a cabeça, isso me deixou profundamente irritada, sempre quando Harry e Rony precisavam de alguma anotação emprestada eu os ajudava, mas vendo o quão sério ele leva os estudos senti uma raiva sem tamanho – Ótimo! – falei irritada – Estou indo até a biblioteca, não me procurem quando precisarem de alguma coisa – e falando isso parti caminhando pesado, olhei para trás e vi Gina puxando um assunto qualquer com Harry. Logo Rony se envolveu na conversa também. Ah claro, ignorem a presença da Hermione que sempre esteve ao lado de vocês, façam isso. Mas não contem com a ajuda dela mais tarde.


-


Caminhei até a biblioteca em passos rápidos e silenciosos, olhava para um ponto fixo sempre em frente enquanto outros estudantes passavam para tomar o café da manhã. Como todos os anos, há alunos do primeiro ano conversando com os quadros ou apontando sem nenhuma discrição – provavelmente os alunos trouxas. Finalmente dobrei à direita e adentrei a biblioteca. Vazia como sempre. Como sempre não, como sempre no primeiro dia de aula já que o único ser humano que se preocupa em estudar e obter notas altas desde o princípio sou eu.


Cumprimentei Madame Pince e fui em direção à estante com os livros sobre história da magia específicos do sexto ano. Olhei em volta mais uma vez e comecei minha busca pelos livros. Passava o dedo atentamente por cada um procurando pelos títulos que queria e no caminho retirava da estante alguns outros que me chamavam atenção, logo quando peguei os livros que estava procurando havia quase dez livros nos braços, achei o suficiente e me virei em direção ao balcão onde Madame Pince encontrava-se escrevendo furiosamente em algum pergaminho.


- Hermione! – ouvi uma voz masculina me chamar e virei a cabeça – olá! – sorriu Sebastian animado.


- Olá Sebastian – tentei disfarçar a vergonha que senti durante a noite quando estávamos no salão comunal, que por sua vez voltou à tona – Como vai?


-  Muito bem – respondeu com as mãos no bolso e um ar despreocupado. – Na biblioteca logo no primeiro dia de aula? – bom, ele não poderia falar muito já que também estava ali. Olhou para meus livros – Ora, temos uma aluna aplicada aqui – falou brincalhão tirando as mãos do bolso.


- É, um pouco – respondi sem jeito – E você, o que faz na biblioteca?


- Preciso pegar um livro que estava esgotado, Mcgonagal mandou-me aqui – respondeu tirando as mãos do bolso, Sebastian não usava capa, estava apenas com uma calça preta e uma camisa branca com o símbolo da grifinória no bolso acompanhado pela gravata vermelha e dourada e sapatos bem lustrados pretos. Seu cabelo bagunçado e caindo levemente pela testa. Estava bonito.  


- Posso te ajudar a procurar, sobre qual matéria? – Hermione querida, pensei que tivesse aprendido a lição na noite passada: seus neurônios não funcionam corretamente na presença de algum garoto.


- Eu adoraria – sorriu ele. – Mas acho que você também precisa de ajuda com esses livros – voltou o olhar novamente para os livros que segurava. Os pegou de minhas mãos e colocou na mesa mais próxima. – Transfiguração.


- O que? – perguntei confusa.


- O livro que preciso – Sebastian, você poderia parar de sorrir para que meu cérebro volte a funcionar normalmente?


- Ah, claro – dei um tapa leve na cabeça o que o fez rir – Por aqui – comecei a retomar o caminho feito anteriormente e fui até a ala mais afastada da biblioteca onde ficavam os livros de transfiguração. Fomos até as estantes – Qual o título do livro? – perguntei. Já conhecia tantos livros de transfiguração que sabia a localização exata da maioria deles.


- Hum. – coçou a cabeça pensativo – Da água ao vinho – respondeu. Acho que já li esse livro ano passado ou retrasado. Deveria estar por ali em algum lugar. Logo ergui a mão esquerda e peguei o livro. Exatamente onde o havia visto na última vez.


- Aqui está ele – sorri sem mostrar os dentes, não queria parecer muito “alegre” por estar sozinha com Sebastian ali, mas queria ser gentil.


- Obrigada Hermione – olhou para o livro – É este mesmo.


- Oh Merlin, que horas são? – perguntei apavorada, não podia chegar atrasada. Muito menos por ser o primeiro dia de aula. E muito menos ainda pelo fato da primeira aula de hoje ser aula de poções. – Vamos!


Sem pensar duas vezes puxei Sebastian pelo pulso quase correndo, peguei os livros que havíamos deixado na mesa e saímos da biblioteca. Mas qual não foi minha surpresa ao sair de lá? Senti meu corpo colidir com força em algo – ou alguém – e deixar os livros que carregava se espalharem no chão. Esperei que pelo menos a criatura se desculpasse. Ou que Sebastian me ajudasse a recolhê-los e a levantar. Nenhuma dessas coisas aconteceu, ao invés disso ouvi uma voz rouca – que não era a de Sebastian – ecoar no corredor.


- Ora veja, se não é a mais nova órfã de Hogwarts? – falou Malfoy com seu ar superior de sempre – Sangue-ruim Granger! – é incrível como aquele protótipo de Barbie consegue me tirar do sério tão fácil, o olhei com nojo.


- Cai fora Malfoy – falei levantando após recolher meus livros. Obrigada pela ajuda Sebastian. Aliás, havia algo realmente errado com ele, pois o olhei e não se mexeu. Assumiu uma postura séria e por ali ficou.  – Caso não tenha percebido, temos aula agora – falei puxando Sebastian esperando que reagisse.


- Não deveria ter levantado Granger, lugar de sangue-ruim é no chão – Malfoy me encarou com aqueles olhos frios e inexpressivos e desviou – Ora Sebastian, desde quando passou a andar com sangue-ruins? – Como assim, MALFOY CONHECE SEBASTIAN?


- Isto não te interessa Draco – DRACO, COMO ASSIM DRACO?


- Ah claro que não – respondeu com aquele maldito sorriso sarcástico – Mas parece que essa atração por trouxas veio do seu lado da família, não é mesmo primo? – MAS HEIN? COMO ASSIM PRIMO? SEBASTIAN E MALFOY SÃO DA MESMA FAMÍLIA? – O que realmente é uma pena, eu em seu lugar teria vergonha de carregar o nome Malfoy pelo simples fato de ser um bastardo. – ALGUÉM PODE ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO?


- Chega Malfoy – falei ainda confusa com os acontecimentos.


- Não se intrometa no que não lhe diz respeito sangue-ruim – falou virando mais uma vez. E então eu vi mais uma vez. Marcas de dentes em seu pescoço. Estavam quase sumindo, mas ainda eram visíveis. Apertei os olhos para enxergar com mais nitidez. Como numa avalanche tudo veio à tona novamente. Desta vez eu tinha certeza de que quem fizera isso em seu pescoço fora eu.


 


N/A: Olá meus caros leitores, tudo bem com vocês? Primeiramente eu gostaria de dizer que este capítulo é chatinho, eu sei, mas precisava dele para “apresentar” Sebastian ( o criei a partir de um amigo meu, que espero que nunca leia a fic bjs) a vocês, rs. Eu agradeço a todos que comentaram, fiquei muito feliz por terem feito isso. Não demorarei a postar o próximo capítulo. 

Beijos, Luiza.
 


 

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