Capítulo Um



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Capítulo Um


19:30. – olhei no relógio.


Minha mãe ia me matar, eu tinha certeza absoluta disso. Tinha perdido completamente a noção da hora enquanto estava estudando na biblioteca da escola e tinha esquecido que o jantar de comemoração da promoção de minha mãe tinha sido marcado para as sete horas daquela noite. Se pelo menos eu conseguisse andar um pouco mais rápido!


Meu nome era Lily Evans e eu não tinha um namorado. É claro que, se eu tivesse, eu poderia ter ligado para ele, que viria rapidamente me buscar com seu conversível vermelho, e eu claramente não chegaria tão tarde, tendo que andar uns quatro quarteirões. Mas eu não tinha, e não podia reclamar por isso.


Não, podia sim.


- Mãe! – arquejei assim que abri a porta de casa – Estou atrasada!


Eu morava sozinha com minha mãe desde que meu pai morrera, há cinco anos. Nossas comemorações eram sempre um jantar e um filme, mas ambas dávamos imenso valor àquilo. Bom, agora imagino que ela vá achar que eu não dou tanto assim.


- Eu já ia mandar a polícia atrás de você – cruzou os braços pra mim e eu tive que fazer extrema força para não revirar os olhos. Minha mãe tinha o incrível dom de fazer drama. Assim como eu, ela tinha cabelos muito ruivos e olhos muito verdes. Era um pouco mais alta, talvez isso tivesse a ajudado a chegar no horário em casa.


- Me perdoe, fiquei presa na biblioteca – disse, o que não era de todo mentira. Minha mãe olhou desconfiada pra mim – Bom, posso te dar os parabéns agora? Estou tão feliz, mãe!


Minha mãe deu um sorriso um tanto quanto relutante e eu soube que estava com a batalha ganha. Ela era médica, e tinha sido promovida a diretora do hospital em que trabalhava. Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes minha mãe tivera que sair às pressas de casa por causa de um paciente, ela era excelente. Fora ela quem tratara do caso do papai. Os outros médicos achavam que não era certo, por ser marido dela, mas não adiantou nada, minha mãe era a pessoa mais determinada do mundo. Ninguém ficou mais arrasada do que ela quando papai não aguentou. Ele morreu de câncer nos ossos.


- Eu nem deveria estar irritada com você – ela me tirou dos meus devaneios. Fingi que as lágrimas em meus olhos eram de alegria, e não de saudade – Acabei de chegar também, fiquei presa no hospital.


- No dia da sua promoção? – me surpreendi.


Ela suspirou.


- O fato de eu ter sido promovida não impede pessoas de se acidentarem, querida – falou bondosamente – Aliás, foi um dos piores acidentes que já vi lá no hospital. – suspirou – O rapaz tinha a sua idade, estava em um carro, de carona com colegas de escola. O menino era muito bonito, ficou todo desfigurado, coitado.


- Era? – me admirei – Ele morreu?


- Ah, não – minha mãe me tranquilizou. Ou talvez tenha tranquilizado mais a ela mesma. A idéia de um paciente seu estar morto a fazia estremecer e lembrar de papai – Mas está em coma profundo, será um milagre se um dia ele sair – suspirou – A família está desolada, claro. Ele era filho único, entende?


- Não fale “era”, mamãe – pedi. “Era” dava uma sensação tão ruim de que não é mais.


- A mãe dele foi conversar comigo – ela agora tirava uma lasanha do forno, mas eu já não me sentia mais com tanta fome assim – Estava arrasada. Ela disse que ele nem conhecia direito esses meninos, todos morreram na hora, foi horrível.


Derrubei meu talher.


- Estou assustando você, não estou, querida? – minha mãe se desculpou – Perdoe-me, quero dizer, eu também fiquei muito assustada, nunca tinha visto uma coisa desse porte, e o menino tinha sua idade! – eu sabia exatamente o que viria a seguir. Esse era o problema de se ter um parente médico: tudo o que acontece com seus pacientes se torna um aviso de que vai acontecer com você – Não quero nem ouvir de você pegando carona pra voltar da escola, está me ouvindo? Só um milagre tira esse menino do coma sem sequela alguma, eu odeio admitir, e Deus me livre alguma coisa dessas acontecendo com você!


Me lembrei do conversível vermelho do meu namorado imaginário e sorri enviesado. Acho que, se esse menino tivesse ido a pé para casa, como eu, estivesse em melhor situação. Desejei perguntar o nome dele, mas minha mãe estava tão entretida em cortar a lasanha sem derrubar o molho na toalha branca que acabei esquecendo.


________________________


 


- Lily! – Marlene me chamou assim que eu cheguei na escola no dia seguinte.


Lene era minha melhor amiga desde que eu me entendia por gente, talvez até antes. Ao contrário de mim, ela era alta, morena e tinha olhos azuis tão claros que beiravam a transparência. Poderia ser um anjo, se não fosse terrivelmente insuportável.


- Bom dia, Lene – suspirei, colocando meus livros no armário.


- Onde se meteu ontem à noite? – perguntou enquanto colocava os próprios livros no armário – Devo ter ligado para o seu celular no mínimo umas 20 vezes!


- Meu celular descarregou – respondi – E eu estava na biblioteca, e depois fui pra casa. Jantar de comemoração, você sabe.


- Ah, é verdade! – Lene sorriu.


- Mas o que você queria tanto comigo?


Enquanto Lene tagarelava alegremente sobre o menino que tinha conversado com ela o caminho todo na volta da escola, eu me dirigi para a biblioteca novamente. Tinha dois períodos livres e precisava dar uns retoques em uma redação de biologia particularmente cavernosa. Lene parou de falar quando notou para onde eu estava indo.


- Ah, não! – ela me segurou pelos ombros – Você não vai se trancafiar naquela biblioteca de novo, vai? Lily, pelo amor de Deus!
- Marlene! – reclamei – Nós temos exames, deveres de casa e apontamentos! É claro que eu vou me trancafiar na biblioteca, temos períodos livres agora, o que você esperava que eu fizesse?


- Ficar olhando os meninos jogarem futebol na quadra é uma boa idéia – ela sorriu marotamente – Ora, vamos, Lil’s! Você vai acabar ficando louca de tanto estudar.


Murmurei qualquer coisa sobre não estar interessada em meninos no momento e fui mais determinada ainda em direção a biblioteca, deixando Marlene revirar os olhos e ir para a quadra. Ontem, eu com toda a certeza, estaria lá esperando meu suposto namorado do conversível vermelho aparecer. Hoje, no entanto, era como se isso já não me interessasse mais.


A biblioteca estava vazia quando eu entrei, a não ser por umas poucas pessoas que estudavam silenciosas em uma mesa do canto. Dei meu habitual “bom dia” murmurado para a bibliotecária e me sentei na mesa mais afastada, como de costume. Tirei os livros da mochila novamente, só o caminho do armário até a biblioteca tinha feito meus ombros doerem e talvez eu tivesse colocando mais livros do que podia carregar. Esse seria outro problema que eu não teria mais quando tivesse um namorado de ombros largos.


- Oi – disse alguém que estava sentado na minha frente.


Eu não tinha percebido a presença de ninguém na minha mesa até esse alguém ter falado comigo. Tinha uma voz grossa e bonita, mas estava disfarçada por um pouco de timidez. Olhei para quem tinha falado comigo e tomei um susto maior do que por ter ouvido sua voz sedutora.


Era um garoto mais ou menos da minha idade, e não estava usando o uniforme da escola. Me perguntei vagamente como ele tinha conseguido entrar lá. Talvez ele fosse um aluno novo estranhamente bonito. Não, estranhamente era pouco. Ele era lindo. Tinha cabelos muito negros e totalmente despenteados. Por um instante eu me perguntei se ele não tinha acordado atrasado e ido pra escola sem pentear os cabelos. Depois pensei que ele podia ter apanhado uma rajada de vento no caminho, ou talvez estivesse tentando criar moda. Ele tinha, eu notei, os braços do tamanho que eu iria adorar para carregar a minha mochila, e os olhos de um castanho esverdeado que podia hipnotizar qualquer mulher. Era, de longe, o garoto mais bonito que eu tinha visto na vida. Me perguntei, sem me interessar muito por isso, como que as meninas da outra mesa não o estavam espiando com ávido interesse, como faziam sempre com os garotos bonitos da escola.


- Oi – respondi e me senti corar.


Percebi seu olhar assustado por me ver responder e abaixei os olhos pro meu dever de casa, mas quando o olhei novamente ele não estava mais lá. Esquadrinhei rapidamente a biblioteca com os olhos e ele não estava em lugar nenhum. Dei de ombros sem me importar realmente. Eu era Lily Evans e garotos bonitos não falavam comigo.(n/b: er...nem comigo, bgs :*)


- Qual o seu nome? – pulei de susto quando ouvi sua voz novamente. Ele estava atrás de mim, como se estivesse lendo o que eu estava escrevendo.


- Lily Evans – respondi e senti meu rosto corar mais uma vez, e a respiração desajeitada dele perto de mim. Me perguntei vagamente se ele tinha algum problema respiratório. – E o seu?


Ele se sentou de novo perto de mim, parecia estar considerando a minha pergunta. Não entendi, o que eu tinha perguntado demais?


- Lily Evans – ele sorriu.


- Quê?! Você também se chama Lily Evans?


Ele me olhou como se eu fosse louca, e eu suspeitei que estivesse mesmo ficando louca.


- Lily Evans. – ele repetiu – Você se chama Lily Evans.


- Eu sei disso! – revirei os olhos – Quero saber como você se chama.


Uma mexa dos meus cabelos caiu nos meus olhos, e por dois segundos eu não vi mais nada que não fosse um monte de fios vermelhos. Imaginei que ele estivesse rindo de mim. Mas quando finalmente tirei os cabelos dos olhos, ele não estava mais lá.


E, dessa vez, ele não voltou.


 


- O que você está me dizendo? – Marlene exigiu saber, mais tarde naquele mesmo dia. Era hora do intervalo. – Que um estranho maravilhoso disse que se chamava Lily Evans?


Era hora do almoço e era praticamente impossível encontrar alguém no refeitório da escola devido ao número de alunos que se encontravam ali. Mesmo assim, eu ainda estava virando a cabeça para todas as direções. Não deveria estar sendo tão difícil encontrá-lo! Afinal, ele deveria ser a única pessoa naquela escola que não estava usando uma espécie de uniforme. Mas ele não estava em parte alguma.


- Claro que não, Marlene! – espetei minha carne com mais força do que deveria (ou seria frustração?) e ela saiu voando pela mesa. Suspirei – Ele disse que eu me chama Lily Evans.


- Como ele sabia disso?


Marlene tinha o dom de ser assustadoramente lerda às vezes.


- Porque eu disse, Lene! – respondi com mais paciência do que tinha realmente – Mas ele sumiu antes de me dizer como se chamava.


- Como assim “sumiu”?


- Não sei, sei?


O fato é que aquele estranho não saiu da minha mente aquele dia, mas eu não o vi em lugar nenhum mais. Talvez eu o tivesse imaginado. Perguntei se alguém tinha visto um menino moreno com roupas normais, mas me olhavam como se eu estivesse ficando louca ou riam. Talvez eu o tivesse imaginado. Talvez eu não devesse estar na biblioteca agora, se já acabaram as aulas.


- Oi, Lily Evans – alguém disse novamente, e eu já estava familiarizada com aquela voz agora.


Mas isso não impediu que meu coração desse um salto miserável dentro do peito, e eu me perguntei a razão. Não era como se eu estivesse ali esperando justamente uma coisa dessas acontecer, nada disso. Eu estava terminado uma redação, e minha mãe pediu que eu ficasse na escola até ela vir me buscar depois do trabalho. Eu não estava esperando vê-lo novamente.


Não tanto.


- Oi, Estranho – sorri sem corar dessa vez. Ele ainda estava com as mesma roupas que usava quando o vi de manhã.


Ele sorriu e senti minhas pernas amolecerem.


- Não me chame de estranho! – ele pediu.


- Você não me disse seu nome.


Mais uma vez ele me olhou como se estivesse considerando minha pergunta e se sentou mais uma vez na minha frente.


- Lily? – a bibliotecária do turno da noite me perguntou. Eu não tinha visto-a entrando.


A biblioteca da minha escola – bem como a escola em si – funciona o dia todo. Não que muitas pessoas passassem lá para estudar às três horas da manhã. Mas muitos alunos bêbados paravam lá quando estavam voltando das festas que eu nunca ia.


- O que está fazendo aqui até agora, querida? – ela sorriu pra mim, sem nem olhar duas vezes para a cadeira onde Estranho estava sentado. Achei curioso, ela nunca se comportava assim.


- Estou revisando um trabalho Sra. Felton – sorri.


- Ás vezes acho que você estuda demais, minha querida – ela me olhou um pouco severa.


Estranho me olhou com curiosidade. Talvez pensando na mesma coisa que eu.


- Ah, esse é meu amigo, Sra. Felton – apontei para Estranho – Desculpe, mas não sei o nome dele. Eu o chamo de Estranho.


A sra. Felton olhou para a cadeira onde ele estava sentado, completamente bonito e parecendo um ator de novela, olhando para ela com a mão estendida, mas um olhar de dúvida. Ela olhou a cadeira somente uma vez e depois seu olhar percorreu a sala e as estantes, como se ela estivesse procurando alguém.


- Mas onde está o seu amigo, querida? – ela me perguntou.


Olhei-a como se ela fosse louca, e a mão de Estranho caiu. Ela sempre era uma senhora tão gentil, e eu não entendia muito bem porque estava fazendo isso. Era impossível uma pessoa não notar Estranho, ainda mais uma mulher que estava tão próxima a ele.


- O que está dizendo, Sra. Felton! – falei um pouco mais baixo, com medo de ferir os sentimentos dele caso ouvisse.


Ela sorriu bondosamente pra mim, como se estivesse vendo somente a mim na mesa.


- Acho que você está lendo demais, Lily – e saiu, carregando uma braçada de livros e balançando a cabeça de leve.


- Acho que ela não pode me ver – ele disse.


Olhei espantada. Ele não fazia a cara de mágoa que eu havia esperado, por ter sido completamente ignorado pela bibliotecária. Fazia uma cara serena, calma. Eu o admirei internamente por isso.


- O que quer dizer com isso?


- Acontece o tempo todo comigo – ele tamborilou os dedos na mesa – Na verdade, fiquei surpreso quando você falou comigo. Ninguém tinha feito isso antes.


- Quê?! – ele passou a mão pelos cabelos. Era a terceira vez que ele fazia isso, eu reparei. Talvez fosse uma mania – Está dizendo que ninguém nunca falou com você antes? – sorri, entendendo a grande piada dele – Pára com isso, vai. Anda, me diz logo o seu nome.


- Não sei meu nome – ele falou, colocando a mão no queixo e não olhando para exatamente lugar algum – Desde ontem estou tentando falar com alguém, mas ninguém me ouve, as pessoas passam por mim... Acho que eu morri, Lily Evans.


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N/Munique N. a beta: HÁ, maaaaaais uma vez estou super hiper ultra mega máster blaster plus advanced feliz de poder betar mais uma fic da Deb *-*


E QUE FIC NÃO? :O


To MEGA ansiosa com essa fic!


Gentem, atoron essas coisas.


Bom, vou mandar o capitulo betadinho pra autora agora.


Comentem pessoal! Digam o que acham e o que esperam ok? ;)


Beijos beijos :*


Não peguem carona com estranhos <3


 


n/a: é, não peguem carona com estranhos mesmo não, IHDISHDISHDISHDHD.


Bom, não sei exatamente como surgiu a idéia dessa fic, mas está aí, e eu espero mesmo que vocês gostem. Ela vai ser bem curtinha mesmo. Ia ser capítulo único, mas a Polie me fez mudar de idéia, IHDISHDISHIDSH. Viram a capa linda que ela fez? *--* Obrigada mais uma vez, amor!


E obrigada também a minha beta que eu sempre encho muito a paciência, IHDISHDISHD. Amo você, Mu <3


Bom, obrigada pelos comentários. E comentem mais, ok? Digam o que estão achando.


Beijos – deb


PS.: reparem que, na imagem inicial do capítulo, o cara tá mais "apagadinho" (;

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