Pesadelos Reais



O verão de 1998 se aproximava e com ele as férias, era começo do mês de dezembro, dias quentes de sol brilhante e convidativo. Todos os estudantes estavam em êxtase.


Todos os jovens estavam planejando, viagens, praias, acampamentos, todas as meninas estavam rodeadas de amigos e acompanhadas de seus namorados.


Mas Hermione estava sempre sozinha, sem amigos, sem namorado, sem planos, sem perspectivas e muito menos animação.


Seria para ela um verão como outro qualquer.


Era filha única de pais muito ocupados, seus pais não tiravam férias a mais de quatro anos, seu dia-a-dia se resumia a seus gostos particulares: livros, filmes, pintura, além da devoção da sua babá Elisabeth.


Hermione estudava muito, e realmente tinha muito prazer e estudar, em aprender, em se superar, tudo o que era novo para ela era um desafio e ela gostava de se desafiar, brincava com a própria imaginação, fazendo de si mesma uma rival, como se apostasse sua vida num jogo em que ela precisava avançar pra sair vitoriosa ou até mesmo viva. Assim era Hermione Granger. Vivia de sonhos, de fantasias, de amigos imaginários.


Às vezes falava sozinha como se duas pessoas estivessem conversando, costumava praticar línguas estrangeiras deste jeito.


Era como esconder a verdade dolorosa da sua vida solitária nas páginas dos livros intermináveis que ela lia, era como viver outra vida nas cenas dos filmes que via, era como ser outra Hermione, mas confiante, feliz e decidida, que vivia em outro tempo e local.


Sua satisfação maior era chamar atenção dê seus pais, arrancar-lhes um elogio e isso se transformava em mais um motivo para que ela estudasse tanto.


Os boletins eram impecáveis, mas raramente seus pais davam muita atenção. Elogiavam-na com freqüência, mas isto parecia um hábito já muito mecanizado.


Estava no último ano do colégio, com certeza estaria em uma boa faculdade no ano seguinte, mas não se sentia confortável em dizer o que realmente queria para seu futuro.


A arte era sua grande paixão, Hermione tinha talento, visão e sensibilidade de artista, gostaria muito de decidir uma carreira nesta área, mas com certeza seus pais lhe reprovariam se seguisse alguma carreira ligada a isto.


Por gostar de história e de ler também cogitava ser professora, mas seu pai achava perda de tempo, ele queria medicina: “você se tornará a quarta geração de médicos que temos em nossa família Hermione, continuará o legado de meu avô, nenhum Granger nasceu para ser professor”. Ele dizia orgulhoso e preconceituoso, traçando em suas palavras um destino que não era dele, e que não era do direito dele decidir. Quando ela tentava argumentar, ele dizia: “que grande desperdício de inteligência, você pode salvar vidas Hermione, pode manipular vidas”. Mas Hermione não queria manipular vidas, ela só queria ser feliz.


Todos os professores a adoravam, mas a maioria dos alunos nem sabia que ela existia.


Uma vez numa aula de matemática a professora notou que Hermione havia faltado pela terceira vez consecutiva e perguntou: “alguém poderia me dizer algo sobre Hermione Granger?” e um aluno respondeu: “ô professora, isto é aula de matemática ou de história?”.


Mas ela pouco se importava, com eles, importava se apenas com um deles. Aquele que era sua inspiração, pra pintar, pra sonhar e pra sorrir.


Em 1994, quando chegou ao Centro Educacional Hogwarts, ela conheceu e se apaixonou por Ronald Weasley.


Ronald era um rapaz com uma beleza acima da natural, muitas garotas dentro e fora do colégio eram apaixonadas por ele, além da beleza, tinha como aliados na arte da conquista sua simpatia.


Filho de típicos Ingleses, Ronald herdou da família do pai, o charme típico, além das feições, alto, olhos azuis e os cabelos ruivos que se destacava por sua pele muito clara e poucas sardas.


Era um bom aluno, e um atleta melhor ainda, adorava esportes, no colégio praticava futebol e natação, fora dele era adepto de esportes radicais. Estava sempre bem vestido e com um sorriso fascinante no rosto.


Seu comportamento era típico de um adolescente de 17 anos, festas, namoradas, ele era muito sociável e tinha muitos amigos.


Apesar de ser filho único de pais ricos e de ser muito popular entre os amigos Ronald não era soberbo. Ele fazia questão de falar com todos, de ajudar quem lhe pedia. Ele tinha um bom coração, e não costumava julgar as pessoas por nenhuma razão, ele fora muito bem criado e aprendera que todos eram iguais e na mente dele isto era uma realidade, mas como não podia deixar de ser, era cercado de amigos, ricos e extremamente preconceituosos.


Hermione apaixonou-se perdidamente por ele, mas esta paixão foi mantida guardada dentro dela, nunca mencionara nenhuma palavra sobre o assunto com ninguém.


Os poucos amigos que tinha no colégio se contava nos dedos de uma só mão, e como ela, todos eles se empenhavam em alguma coisa e quase não tinham tempo para conversar com ela, sua amiga mais próxima chamava-se Adriane, foi a única que notou a paixão que Hermione tinha por ele.


Eles estudavam juntos há quatro anos, mas apesar de às vezes ele já ter lhe sorrido ou cumprimentado algumas vezes, eles só vieram a se aproximar no último ano. A professora de geografia havia pedido um trabalho valendo ponto na média e encarregou Hermione de recolhê-los, ela sempre pedia a ajuda de Hermione, era sua aluna favorita.


Era dia de entregar os trabalhos e Ronald foi falar com ela:


-             Oi, desculpa, posso falar com você?


Ela mal acreditou, engasgou quase não se ouvia sua voz na resposta:


- Comigo? – ela perguntou olhando para os lados para se certificar de que ele não estava se referindo a qualquer outra pessoa.


Ele riu.


- É sim.


-              Claro. – disse ela nervosa.


-              Você ficou encarregada de recolher os trabalhos de geografia não foi?


-              Sim.


-             Pois é. Eu vim entregar. – ele remexeu sua bolsa e sua expressão mudou. Tirou de dentro da bolsa uns papéis amarrotados, alguns estavam rasgados. – Cara, olha o que aconteceu. Que droga.


Hermione não disse nada.


-              Deixa pra lá, eu sei que a professora não vem hoje, mas não vai dar tempo de fazer outro até amanhã. Mesmo assim, obrigado. – ele sorriu e o coração dela disparou.


Ele estava se afastando quando ela teve uma brilhante idéia, ou pelo menos pensou ser uma.


-              Ei! – ela tomou coragem. – Ei! Espera.


-             Oi?


-             Olha, eu posso fazer pra você.


-              Como é?


-              É sim, eu sei que você é ocupado, mas eu estou livre o resto do dia, posso te ajudar.


-              Pode mesmo? – o rosto dele se iluminou.


-              Posso, dá pra ler alguma coisa ai?


-              Acho que sim. – ele examinou os papéis. – dá sim.


-             Ok, então eu posso fazer outro. Pode deixar comigo.


-              Nossa você não sabe o quanto eu estou agradecido, é..., me desculpa mesmo, eu não sei o seu nome.


-              Her... Hermione.


-              Certo, obrigado Hermione, nunca mais vou esquecer. – e ele beijou-lhe o rosto e saiu.


Hermione quase perdeu o ar, as pernas tremeram e ela sentou-se até ter fôlego o suficiente para se levantar outra vez.


Foi um raro momento em que ela se sentiu plenamente feliz.


Ela fez o trabalho dele o mais bem feito que pôde, melhor que o dela própria, tanto que ele recebeu muitos elogios da professora:


-    Ronald! – Chamou a professora.


-           Rony! Ei! A professora está chamando você. – Ele foi advertido por um garoto que estava próximo a ele.


-          Sim professora. – ele respondeu avidamente.


-           Ronald, eu estou impressionada com seu desempenho neste trabalho, é claro que você é um ótimo aluno, mas este trabalho está realmente incrível, fico muito feliz que tenha entendido tanto o assunto.


Ele ficou um pouco sem graça e olhou para Hermione. Ela riu suavemente


-           É, eu me empenhei muito professora, eu... curti mesmo o assunto. Obrigado.


-           Vejo que você gostou muito do assunto. Hermione querida me desculpe, mas desta vez o trabalho do Ronald é o Conceito A máximo. Mas o seu está muito bom também.


-           Não tem problema professora. Fico feliz. – ela falou sentindo-se orgulhosíssima de si própria.


Eles passaram a aula inteira apenas trocando olhares de cumplicidade.


Na saída da aula ele foi falar com ela.


-                       Hermione!


-                       Oi Ronald.


Ela falou, olhando para o chão, envergonhada.


-                      Chame-me de Rony ok? Eu quero agradecer, eu fiquei até sem jeito, é a primeira vez que eu tiro um A máximo, meu pai vai adorar.


-                       Que é isso. Eu só tentei fazer um bom trabalho.


-             Um bom trabalho? Você fez o melhor trabalho, eu fui melhor que você.


Eles riram.


-            Olha, muito obrigado mesmo. Eu vou retribuir.


-            Não precisa.


-            Não é sério, eu vou. Eu quero. Isso é o máximo, meu pai vai vibrar. E de quebra eu saio ganhando né? – Ele deu um sorriso malicioso.


Era incrível, ele falava com ela como se fossem amigos há anos.


- Tenho certeza que você merece ganhar tudo.


- Você é um anjo. Tchau Hermione.


- Tchau Rony.


Depois daquele dia, sempre que ele precisava de ajuda em alguma matéria ele recorria a ela e sempre que a via ele lhe sorria ou acenava.


Por várias vezes solicitou-lhe ajuda para atividades escolares e isso a deixava bastante feliz.


Certa vez conversando com sua amiga Adriane ela comentou:


- Os jogos escolares estão chegando não é?


- Estão Hermione, por quê? Você nunca se interessou por esportes.


- É que eu acho que o Ronald Weasley vai precisar de mim, afinal ele vai estar ocupado com os treinos e não vai ter muito tempo para estudar.


-  Hermione não deixe-o te usar.


- Ele não está me usando, eu que ofereci ajuda. – Ela disse irritada.


      Adriane apenas gesticulou com os ombros.


Ela estava certa, com a proximidade dos jogos escolares ele recorreu a ela muitas vezes e eles ficavam muito tempo juntos.


A necessidade de se sentir importante e indispensável a Ronald Weasley,  era a mesma que Hermione sentia por seus pais. Era como o vicio de uma droga, uma necessidade e ansiedade que só era aliviada quando eles lhe pediam alguma coisa e ela podia novamente sentir o prazer de ser útil. Era uma dependência.


Por este motivo, hermione não admitia que ninguém lhe dissesse que estava sendo usada. Nem Elisabeth conseguia tirar-lhe da cabeça que este não era o melhor caminho para que ela se aproximasse de Rony.


Elas passavam horas conversando na varanda, Hermione adorava deitar na rede de seu pai e ouvir Elisabeth contar-lhe histórias ou lhe dar conselhos.


-   Estou muito feliz, Mione. Ultimamente você me parece bastante disposta e contente.


-   Estou sim, Liz.


-   Mas Mi, tem uma coisa que me preocupa.


-   O que é?


-   Você anda fazendo os trabalhos de seus amigos da escola?


Hermione franziu a testa:


-   Eu?Por que ?


-   Por que eu a vi fazendo as pesquisas para a escola e vi dois trabalhos com o mesmo tema em sua escrivaninha.


- Liz, esta bisbilhotando minhas coisas?


-   Não Mi, você sabe que não. Eu apenas fui levar-lhe um lanche e vi.


-   Estou só ajudando um amigo.


-   Que amigo?


-   Ta curiosa? É só um amigo.


-   De que forma você acha que o está ajudando? Fazendo o que ele deveria fazer?


-   Não é bem assim. Ele está participando dos jogos escolares, precisa treinar muito pra vencer. E não tem tempo. Eu só estou ajudando.


-   Creio que muitos outros alunos estejam participando dos jogos escolares e estejam loucos pra vencer, mas eu não estou vendo você fazer o trabalho de todos eles.


Hermione ficou calada. Pensou: “Todos os outros não são Ronald Weasley,” Depois disse:


-   Ele é um bom aluno, só está precisando da minha ajuda agora.


-   O que ele faz com o tempo livre? – Elisabeth fez uma pausa, mas não houve resposta. – Hermione ele usa você pra fazer a parte chata das obrigações dele.


-   Não é bem assim Mama. – Ela estava visivelmente irritada.


-   Ta bom, não vou discutir ok. Quer um suco?


-   Quero.


-   Vou buscar tá?


E isso foi o máximo que Elisabeth conseguiu. Hermione estava obcecada por ajudar Rony e de alguma forma fazer parte da vida dele.


Ela estava certa, era a ela a quem ele recorreria nos próximos dias.


Por sua vez Ronald também não se via explorando Hermione, nem havia passado pela cabeça dele se aproveitar dela. Mas ele realmente havia se acomodado. Ele via Hermione com muito carinho, era bastante agradecido a ela por tudo, mas ele não se aventurava a tentar enturmá-la em seu meio, pois ele sabia bem que ela jamais seria aceita.


Assim que chegou ao colégio Rony foi logo procurá-la. Ela ainda não havia chegado e isso era muito estranho, pois Hermione era sempre uma das primeiras a chegar.


Ele já estava ficando preocupado, precisava muito falar com ela. Ficou muito surpreso com sua preocupação, estava muito dependente dela:


-   Grande Rony. Já tão cedo no colégio? – seu amigo Draco o cumprimentou.


-   E ai? Viu a Hermione?


-   Quem?


-   Hermione. A menina da nossa sala. Que faz os trabalhos.


- Já tão cedo procurando  a “bunitinha”. Ha ha ha.


-   Deixa de palhaçada, eu to precisando falar com ela.


-   Se a Lilá souber que você chegou e a primeira pessoa que você procurou foi o monstrinho, ela vai ficar P...


-   Problema dela. Olha eu tenho que ir ta.


E ele se afastou se dizer mais nada.


-   Bom dia pra você também Rony. – Draco falou de longe, mas ele não estava mais ouvindo.


Rony já estava se aborrecendo quando finalmente avistou Hermione, e ele foi logo ao encontro dela aliviado:


-                       Bom dia Rony! – Ela estava com um grande sorriso.


-                       Bom dia Hermione, como está?


-                       Estou bem obrigada.


-                      Queria mesmo falar com você.


-                     Pode falar.


-          Sabe o que é? Eu não estudei pra prova de amanhã, por causa dos treinos sabe? E eu vou treinar hoje de novo então queria saber se não for incomodar você, se poderíamos estudar amanhã antes da prova?


-                                         Claro que sim, já fizemos isto outras vezes lembra?


-                                         Claro, é que, eu estou meio fraco em Química e... Bom, Hermione eu sei que vai ser bastante cedo, mas você poderia chegar umas duas horas antes da prova? – Ele olhava pra ela quase suplicando, esperando um não, mas ela nem piscou.


-                                         Posso sim. – Disse firmemente.


-                                        Ah! Hermione muito obrigado, obrigado mesmo. – Ele lhe deu um beijo demorado no rosto. – Vou lhe ser grato para o resto da vida.


Ele foi embora deixando a menina para trás com um grande sorriso no rosto.


Depois que falou com ela, ele mudou de humor, ficou tranqüilo, confiante e bem humorado.


-  Ai está o Rony, o campeão de Hogwarts, por enquanto.


Quem falou foi Carl, um garoto que disputava a posição do Rony no time de futebol.


-   Por enquanto? – Rony perguntou sarcástico.


-   É, pois vejo que você está treinando bastante, mas as regras são muito claras a respeito das notas. E eu estou estudando muito. Portanto, se você se ferrar nas provas e você vai, eu ficarei no seu lugar.


-   Eu não estaria tão certo.


-   Qual é Ronald, você não estuda, não participa, nem presta atenção nas aulas. Você não sabe nada do assunto de amanhã. Vi você se enrolando todo nos exercícios. Como acha que vai se sair bem com o professor Snape.


-   Vou me sair bem Carl e você vai ficar no banco de novo. Apenas pelo fato de que tenho alguém pra me ensinar melhor que o professor Snape. Aguarde e verá. Até o banco Carl.


E ele saiu com seus amigos, todos rindo.  Carl estava realmente certo de que Rony não se sairia bem, mas Hermione estava disposta a provar o contrario. 


No dia seguinte Hermione levantou ainda de madrugada, revisou os materiais três vezes para ter certeza de que não esqueceria nada, mal tomou café da manhã e saiu, chegou antes dele:


-                                                     Já chegou? – Disse ele surpreso.


-                                                     Achei que estava atrasada.


-                                                     Estou abusando de você não é?


-                                                     Não, não está. – ela disse divertida – E agora esqueça de mim um pouco e concentre-se nas leis da física.


-                                                     Eu nunca vou esquecer você Hermione. _ ele segurou a mão dela e disse isso olhando fundo nos seus olhos, aquele mar azul inundando todo o ser dela. – Nunca vou esquecer nada do que você fez por mim.


Ela ficou corada.


-                                                     Concentre-se Weasley, ou lhe dou um zero – ela falou imitando o professor Snape. Eles riram.


Eles estudaram muito, era bem fácil aprender com Hermione, ela tinha muita paciência e transformava tudo de um jeito que ficava fácil. Em pouco tempo, Rony conseguiu entender tudo o que não conseguia entender com o professor.


Quando terminaram Rony falou:


-                   Se você fosse professora, este colégio seria bem melhor.


-                   O professor Severo não é tão mau.


-                   Não,Claro que não. Pra quem tem uma mente brilhante com a sua.


Eles riram.


-                   Hermione, olha, faz tempo que eu estou pensando num jeito de te agradecer, - Ele disse de maneira simples, mas tudo o que Rony fazia soava magicamente lindo para ela. Qualquer gesto, qualquer palavra. – bom não sou melhor que você em nada então só me restou perguntar se você me deixa te paga um sorvete?


Neste exato momento Hermione entendeu o real significado da expressão, “quase sentir o coração saltar pela boca”.


-                   O que? – Ela nem acreditou.


-                   Podemos dar uma volta hoje à noite, se você não tiver nada pra fazer é claro.


Ele tinha um sorriso bonito e sincero no rosto.


-                   Não! – ela disse rápido e por impulso.


-                   Não quer ir? – ele fez uma careta.


-  Não! Quer dizer, não é isso. É... Eu quero ir eu quis dizer não tenho nada pra fazer hoje à noite.


Hermione atrapalhava-se toda com as palavras.


-  Que ótimo. Que ótimo, então está combinado.


Ele estava saindo:


-             Ah Hermione, será que você poderia me encontrar na quadra do treino?  Eu vou sair em cima da hora.


-             Tudo bem. Sem problemas.


Ela estava estática. Ao sair do colégio foi correndo pra casa. Era difícil acreditar se aquilo era realmente verdadeiro. Mas ela não iria perder tempo tentando encontrar uma explicação.


Seu coração batia violentamente descompassado, sentiu as vertigens que lia nos livros e quase não conseguiu caminhar.


A partir dali o relógio era seu inimigo, passavam tão lentas as horas que lhe pareciam dias.


Ela começou a se trocar três horas antes do combinado. Tentou várias combinações e todas pareciam péssimas.


Elisabeth a viu em frente ao espelho e várias roupas em cima da cama. Ela estranhou, pois em 16 anos Hermione nunca havia se preocupado com isso. Mal olhava o espelho e sempre vestia a primeira coisa que pegava no armário.


Elizabeth notou a dificuldade que a menina estava tendo pra se trocar.


-   Vai sair minha querida?


-  Liz! – ela se assustou.


-   Assustei você?


-   Não! – Ela se atrapalhou - Eu vou à casa da Adriane. – ela disse rápido.


-   Sério? – Elizabeth falou fingindo acreditar. – Que coisa boa. Você quase nunca sai.


-   É...


Ela deu um sorriso fraco, aquele sorriso que a denunciava. Elizabeth conhecia Hermione como a palma de sua mão, sabia a tradução perfeita para cada expressão ou atitude. Cada sinal corporal. Sabia que ela estava mentindo. Mas isso a deixou feliz. Sabia que se tratava de um garoto, e isso mostrava-lhe que Hermione estava vivendo um pouco mais.


-    Sei. Nossa mas você está bem indecisa sobre a roupa não é?


-   Ah... Eu...


Elizabeth riu.


-   Quer ajuda?


-   Quero. – ela falou sem jeito.


-   Bom, acho que este vestido fica lindo em você. Se você deixar eu posso arrumar seu cabelo e te fazer uma maquiagem.


-   É?


-   É. Não é só por que você vai à casa da Adriane que não pode se arrumar não é?


-   Hum Hum. – ela riu.


Elizabeth a arrumou.


Ela ficou bastante diferente.


E daquele jeito, dava pra ver que ela não era nem um pouco feia. Seu rosto, tinha uma beleza pura de menina intocada. E ela também não era tão gorda quanto parecia.


Ela chegou vinte minutos antes do combinado e ficou vendo o jogo de longe, estava ansiosa em ver o que ele ia dizer.


Como sempre Rony foi muito simpático, ficou bastante impressionado com a mudança repentina.  Mas foi apenas simpático, nada além disso:


-             Oi, você está linda. – havia muita sinceridade em sua voz.


-              Obrigada. – ela falou num sussurro de voz, as bochechas mais vermelhas que os cabelos dele. Coisa que ele achava extremamente lindo nela.


-              Vamos? – ele perguntou oferecendo a mão.


-              Sim.


O passeio foi muito simples, eles conversaram bastante, na verdade Ronald contou todas as suas vitórias em torneios, e muitas histórias engraçadas da sua infância, Hermione falou pouco, preferia ouvi-lo.


Rony levou-a numa praça próxima a casa dela, “o cenário é perfeito” – ela pensou. Havia muita gente andando, conversando, muitos casais. O clima era de paz e propício para o namoro.


Eles sentaram num dos quiosques da praça.


-   O que vai querer? – ele perguntou.


-   Hum, pra dizer a verdade eu não sei.


-   Posso pedir por você?


-   Vai em frente. – Ela assentiu.


-   Que tal você experimentar o sundae de chocolate daqui?


-   Oh não! Não sei se é uma boa idéia. Estou de dieta.


-   Dieta pra que? – Ele perguntou fingindo-se indignado – Você está ótima, vamos me acompanhe.


Ele pediu o mesmo para os dois e eles começaram a conversar sobre tudo. Rony falava mais que ela.


-              Ei! Você não fala? Cadê sua história pequena sereia?


-              Ah, não tem muito pra contar. Sou filha única, não tenho muitas aventuras. – ela deu um sorriso magro e suas ultimas palavras vieram muito carregadas de tristeza. Rony entristeceu-se junto com ela.


-              Quer conversar Hermione?


-              Ah Rony, eu não vou chatear você com minha história sem graça. Ou então nunca mais você sai comigo de novo. – ela riu de novo, desta vez um riso fraco.


-              Conta, eu quero ouvir.


Ela o olhou e começou a falar decidida a não dizer muito, mas quando percebeu já estava contando toda sua amarga vida a Rony.


Falou dos seus momentos de solidão, e do que lhe confortava. Falou-lhe de Elizabeth, e até de suas manias de falar sozinha.


-   E seus pais Hermione?


-   Não é culpa deles, são muito ocupados. Profissões importantes.


-   Mas você é filha. – ele falava tenso.


-   Eu sei, por isso preciso compreendê-los.


-   Meu pai quer que eu siga os passos dele.


-   O meu também.


-   Ele quer que você seja médica?


-   Sim. – saiu um tanto amargurado.


-   E você não quer?


-   Não que eu não ache uma profissão bela, mas é que eu desejava mesmo pintar, ser artista plástica.


-   Então, se é sua vontade siga-a.


-   Não é tão simples. – ela baixou a cabeça. Serei a quarta geração de médico de minha família. – a frase saiu sem nenhum tipo de empolgação ou alegria.


-   Hermione, você não pode se prender as vontades das pessoas e esquecer as suas. –


Neste instante ele percebeu que fazia parte destas pessoas. Que ela esquecia seus próprios desejos e necessidades para atender os dele. Rony sentiu pena de Hermione, mas junto com isso veio um forte desejo de confortá-la.


-   Se sente muito só não é?


Ela baixou os olhos e uma lágrima rolou do seu rosto. Ele levou delicadamente uma mão ao queixo, enquanto a outra subiu em sua face enxugando-lhe a lágrima, depois ele disse:


-   Não chore. Não está mais sozinha. Sempre que você quiser conversar. Me liga, me manda um e-mail ou um sinal via telepatia.


Ambos riram.


Eles terminaram o sorvete e começaram a caminhar. Rony passou o braço por cima dos ombros dela, abraçando-a, eles pareciam um casal. Ela permaneceu calada e ele falava coisas engraçadas para animá-la.


Quando chegaram próximos á casa de Hermione ela disse:


-                        Deveríamos aproveitar e chamar um táxi pra você, estou tão pertinho de casa. Posso ir sozinha daqui


-                         Você sempre querendo facilitar minha vida não é?


-                         Imagina, não quero lhe dar trabalho.


-                         Eu é que vivo te dando trabalho, mas não senhora, eu quero lhe levar em casa.


Eles andaram um pouco mais e chegaram à entrada da rua, havia enormes casarões e Hermione apreensiva falou:


-                         Eu moro ali. Vamos lá, chame seu táxi. – ele a olhou divertindo-se com a preocupação dela, pegou o telefone e chamou um táxi.


 


Ficaram conversando enquanto o táxi vinha, e não demorou muito pra ele chegar. Rony aproximou-se mais dela para se despedir e a abraçou.


O abraço dele era quente, Hermione poderia compará-lo a um dia de primavera, quente, confortável e prazeroso.


Perdeu-se na dimensão do que aquele abraço significava para ela. Sentiu os braços dele em volta de si e tremeu, sua pernas ficaram bambas e sua respiração se alterou. Automaticamente suas duas mãos encontraram-se nas costas dele, retribuindo o gesto. Talvez com mais força que o necessário.


Aspirou ao máximo o cheiro dele, aquele perfume marcante que inebriava sua mente.


Ele a apertou contra o peito de maneira gentil e delicada, depois pegou seu rosto entre as mãos e disse olhando em seus olhos:


 


-                          Sabe Hermione, você é uma garota muito legal, você merece ser feliz.


-                         Eu... – Ela engasgou.


-                         Você é encantadora Hermione, sabia disso?


Ela não sabia o que dizer. Tropeçava nas palavras e sua mente não conseguia projetar nada concreto.


-                         Não há nada que eu queria mais neste momento que uma coisa que só você pode me permitir. Você permite?


-                         O...o que... Rony?


Ela perguntou perdida.


-                        Isto.


E sem mais esperar, Ronald lhe deu um beijo, seu primeiro beijo. Não foi muito longo, se bem analisado poderia ser considerado como um demorado roçar de lábios, mas para Hermione foi a coisa mais maravilhosa do mundo.


- Pra te agradecer. – Ele sorriu. – Até amanhã professora.


- Até... Amanhã.


Ela esperou que ele fosse, ficou ali sem acreditar no que havia acontecido. Sua respiração estava suspensa, seus olhos marejados, suas pernas tremiam agora a uma velocidade incrível, por alguns minutos ela ficou incapacitada de dar um passo que fosse. Levou os dedos aos lábios, tocando-os com tanto cuidado que parecia que se desfariam com um contato mais brusco. Devaneou por um tempo, até que sua razão chamou-lhe de volta. Olhou para trás assustada e aliviou-se ao ver que não havia ninguém os observando.


Ao voltar para casa Hermione parecia flutuar.


Ela estava tão feliz como nunca esteve, eufórica, elétrica. Precisava tanto desabafar, parecia ter descoberto o segredo do milênio. Porém sozinha como sempre, restou-lhe seus sentimentos no seu diário improvisado, já que não podia mais reprimir tantas sensações juntas. Aquela noite foi longa para ela. A cada momento ela relembrava os acontecimentos como se estivesse rebobinando um filme. Sentia-se eufórica e cheia de energia, mas não podia transparecer tanto, principalmente para seus pais. Por isso jantou em seu quarto e permaneceu lá. Deitada, agarrada a um enorme boneco de pelúcia, como se estivesse abraçando o Rony. Cheirava a própria roupa para sentir o perfume dele. Tocava as próprias mãos e os lábios como se pudesse senti-lo.


E quando conseguiu dormir sonhou com ele.


Era uma terça-feira, dezembro de 1998, as aulas estavam cada vez mais próximas do fim, Hermione estava em seu quarto preparando-se para ir á escola. O quarto dela era o sonho de qualquer garota, especialmente decorado por profissionais seguindo tendências da moda misturada aos gostos dela. Era enorme, as paredes pintadas em azul-claro, sua cor favorita. Lembravam o céu, o teto era revestido por um papel decorado com desenhos de estrelas, cometas, planetas, á noite com apenas a luminária acesa, parecia o universo que vemos nos livros, refletido acima da cabeça dela.


Ainda nas suas paredes, réplicas de Van Gogh, Manet e Da Vinci, além das suas próprias pinturas, lindamente emolduradas. A maioria das suas pinturas eram retratos com um rosto familiar porem distorcido. Eram pinturas que ela fazia de Rony, as pinturas que tinham o rosto nítido, ela guardava pra que ninguém visse. , mas tinha uma que era sua favorita, que ficava em frente a sua cama, um retrato das feições de Ronald, porém estavam desenhados apenas os contornos de seu rosto, como se fosse uma sombra.


Seu quarto possuía dois cômodos, em um deles ficava uma cama enorme de casal branca com duas mesinhas de cabeceira onde ela guardava seus livros favoritos, um armário de roupas, uma poltrona azul que outrora fora usada por Liz para contar-lhe histórias e hoje a usava para conversarem sobre a vida. No outro cômodo ficava uma escrivaninha com seu computador, outra escrivaninha com o material escolar, além de uma pequena biblioteca particular com os livros que ela não lia com tanta freqüência. Quanto a conforto, ela nunca poderia se queixar. Era um espaço só dela, sua fortaleza.


Naquela manhã Hermione encontrava-se na cama escrevendo em seu diário quando sua mãe entrou em seu quarto.


-              Mione, querida. O que está fazendo.


Ela tomou um susto, mas tentou disfarçar.


-              Nada mãe, estou terminado de me arrumar. Vai me levar hoje? – Ela forçou um sorriso.


-              Ah querida me desculpe, não vou poder. Mas preciso de sua ajuda.


Os olhos da menina se iluminaram quando ouviram o pedido de sua mãe. Hermione sentia-se extremamente feliz quando seus pais lhe pediam algum favor.


-              Claro mãe, o que quer?


-              Minha filha, Antônia não veio hoje, está doente de novo. Estou tão ocupada, preciso que a lavanderia venha buscar as roupas, meu Deus que mais? Preciso que dê uns telefonemas pra mim, pode ser?


-              Claro. Deixe-me pegar um papel e anotar os números.


-              Querida, anote ai mesmo, estou sem tempo.


 


-              Certo. – Hermione anotou os números e os pedidos de sua mãe no seu diário e foi para o colégio sozinha, como quase sempre.


 


Ela jamais esperou que aquilo pudesse acontecer...


 


Hermione chegou ao colégio ansiosa em ver Ronald, depois do beijo ela ficou cheia de esperanças.


Esbarraram-se num corredor.


Ao cumprimentá-lo Hermione percebeu que ele lhe falou como se nada tivesse acontecido. “Foi coisa de momento, foi isso – Ela pensou – bom pelo menos ele ainda fala comigo”. Apesar de se sentir frustrada pela reação dele ela procurou entender seu comportamento, como sempre fazia.


Mas na hora do intervalo ele veio falar com ela:


-   Hermione.


-   Oi, Rony como você está? – Ela falou tentando parecer o mais normal possível.


-   Muito melhor agora. Tirei 8.5 em física, vou ficar com a posição no time.


-   Parabéns.


-          Parabéns pra você, você não tem idéia do quanto isso foi importante pra mim.


Eles começaram a andar pelo colégio, até pararem atrás da quadra.


-          Hermione você é muito legal, me ajuda muito. Eu fico muito feliz por sermos amigos.


-          Amigos? – ela falou entusiasmada.


-          É, você é minha amiga não é?


-          Sou sim.


-          Olha, se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa que eu possa fazer, pede tá?


-          Certo.


-          É serio, eu sei que por ser estudiosa você sofre algum preconceito aqui no colégio e se alguém te incomodar me procura. Eu defendo você.


-          Ok Superman. – ela disse abrindo um lindo sorriso. Um sorriso que Rony chamava de angelical.


-          Então, Lois Lane, até mais.


O coração dela bateu mais forte. “Lois Lane é a namorada do Superman” ela pensou. “O que será que ele quis dizer com isso?”


Ela passou a aula de matemática inteira sem conseguir raciocinar, o professor, acostumado com ela sempre participando, estranhou e perguntou:


-    Hermione, você está bem?


Ela voltou a si, não estava propriamente se sentindo mal, mas realmente não queria ficar naquela aula.


-   Ah, não professor, eu... Pode me dispensar por hoje?


-   Claro, absolutamente – todos os professores a adoravam – Descanse. Aproveite e coma alguma coisa.


-                     Obrigada.


Ela saiu e Rony ficou prestando atenção.


Hermione andou até a quadra e sentou na raiz de uma árvore, ali era o lugar onde ela observava Rony durante os treinos.


Poucos minutos depois ela sentiu uma mão no seu ombro. Ela se assustou e virou-se, era o Rony, sorrindo daquele jeito maravilhoso dele:


-                   Se assustou?


-                   Ah, não eu só... estava longe.


-                   Eu vi. No que pensava?


-                   Eu... é...


-                   Posso arriscar um palpite sem ser presunçoso?


-                   Claro.


-                   Estava pensando em ontem?


-                   Eu... ah...


-                   Tudo bem. Eu também estava. E muito.


O coração dela começou a acelerar.


-                     Eu quero que saiba que o que aconteceu, não foi por causa de gratidão, eu realmente quis.


Bateu ainda mais forte, ela nem podia falar.


-                     Eu... – Ele pegou as mãos dela – Só quero que saiba que você é uma menina incrível e que eu fiquei muito orgulhoso de ter te beijado, mas...


-                     Mas... – ela continuou com a voz fraca.


-                     Mas foi pouco pra mim.


Enquanto dizia isto ele foi se aproximando mais dela e segurou sua cabeça pela nuca entre os cabelos dela.


-                     Você não é feia Hermione, nunca acredite nisso, você é muito...linda e o melhor, pro dentro e por fora, você é especial...


Dizendo isso ele a beijou de novo. Era de fato o primeiro beijo dela, ela nem sabia o que fazer, mas ele foi terno. Hermione sentiu a língua dele e se desesperou. O que realmente precisava fazer naquela hora? Com se lesse a mente dela ele olhou-a e disse:


-                     Apenas feche os olhos e me siga, relaxe, eu faço o resto.


Foi lindo. Rony beijava-a como aqueles príncipes encantados das historias que ela ouvia, com uma delicadeza que a fez flutuar.


De repente eles ouviram passos e risos. Era hora do intervalo. Ele a olhou e riu depois disse:


-           Eu vou parar agora, mas é pra não ficarem falando mal de você. Sabe como é, eu posso não ser uma companhia boa.


Eles riram juntos.


-                        A gente se vê depois? – ele perguntou


-                        Claro que sim.


-                        Tchau


Ele lhe deu um ultimo beijo e se afastou.


Estava mesmo acontecendo. E ela estava acreditando agora. Sabia que Rony nunca havia ficado com uma garota por muito tempo e que ela não podia esperar muito, mas ela havia escolhido-a. Ela se sentiu a mais linda de todas as mulheres do mundo. Pouco importava quanto tempo passariam juntos.


Ao término da aula de educação física ela teria um intervalo e faria as ligações para sua mãe. Hermione saiu da aula de e foi ao banheiro tomar banho, mas descuidou-se e deixou a bolsa aberta com o “diário” à vista no espelho do banheiro e entrou numa das cabines.


Alguns minutos depois entraram no banheiro Lavender Brown e Luna Lovegood.


Lavender Brown, mais conhecida como Lilá, era uma garota soberba, fútil e iludida pelo dinheiro e nome de sua família, as suas convicções e sentimentos eram muito confusos, para ela a vida não passava de um grande shopping onde ela podia comprar tudo e todos.


Felicidade para ela era estar acima dos outros, era pisotear os mais fracos, aparecer numa coluna de revista ou jornal, era ter pessoas bajulando-a, era poder humilhar as pessoas, comprar coisas caras e desnecessárias e manter todos os garotos aos seus pés.


Mantinha um relacionamento sem compromisso com Ronald, mas achava-se no direito de namorada e assim se comportava.


Aos olhos masculinos era uma garota interessante, tinha 17 anos, possuía um corpo atraente à custa de academias e tratamentos caros, os cabelos naturalmente castanhos eram pintados constantemente de uma loiro tão forte que quando expostos ao sol ficavam brancos, em questões intelectuais não ia muito longe, suas notas eram abaixo da média, ela não se interessava por qualquer atividade escolar, tratava mal a maioria dos funcionários e não recebia nenhum elogio de nenhum professor, mas ela não se importava, seu destino já estava traçado, conseguiria se casar com Rony e viveria para sempre como sempre viveu.


Para ela, não precisava de nada além do seu corpo, sua mãe havia lhe ensinado que aquele era o seu passaporte para o sucesso.


Quando as duas garotas avistaram o diário resolveram ler:


-              Olha só Lilá, é um diário. Não sabia que ainda se usava diário. – Luna sorriu inocentemente – Eu tinha um. Deixa-me ver... Hermione Granger, Hum... Quem é Hermione Granger?


-              É aquela CDF da nossa sala, aquela que foi escolhida para representante.


-              Ah, sei. Como é que você sabe o nome dela?


-              Não foi ela quem ajudou o Rony com o trabalho de Geografia?


-              Ah sim, foi mesmo. – Luna falou com seus ares fora de órbita.


-              Só podia ser uma retardada como ela para Ter um diário nesta idade. – Lilá debochou.


-              Tem algo interessante ai?


-              Sei lá, acho que pode ter no máximo um interessante relato sobre qual trabalho ela gostou mais de fazer, eu vou ler.


-              E se ela aparecer? – Luna indagou temerosa.


-              Vai fazer o que Luna? No máximo chorar.


As duas riram.


Ela folheou o diário a procura de algo e de repente:


-              Eu não acredito! – a expressão de Lavender mudou.


-              O que foi Lilá?


-              Isto é ridículo. – A loira disse estupefata.


Ao folhear as páginas do diário Lilá descobriu os sentimentos de Hermione por Rony.


Leu versos e expressões, que ela mesma nunca havia sentido. Rony era solteiro, ficava com quase todas as garotas do colégio, mas desta vez Lilá se incomodou mais do que o normal, pois aquelas palavras expressavam um sentimento que ela não conseguia entender, que ela nunca havia sentido antes. Ela jamais foi apaixonada pelo Rony, era louca por um primo distante que a visitava algumas vezes por ano, mas que já tinha um filho e ainda assim não assumia nenhum compromisso. Seus pais nunca aceitariam que a filha única se casasse com um “irresponsável aproveitador” e que nem ao menos tinha um nome, como o pai dela mesmo dizia.


Mas ela se amedrontou pela força daquelas palavras, O amor que Hermione sentia por ele, era mais do que uma posição privilegiada ou interesses comuns.


-              Escuta só Luna: “hoje fui ver o jogo de futebol dos meninos, fiquei de longe é claro, mas perto o suficiente para ver aqueles lindos olhos do Rony, e o sorriso quando ele venceu, eu ficaria uma vida inteira atrás daquela árvore para ver aquele sorriso, ele tem uma luz que é inexplicavelmente sedutora”. Dá pra acreditar?


-  Como é que é?


-  Aquela coisa feia é apaixonada pelo Rony. Em que mundo nós estamos vivendo, os ratos já acham que podem sair dos bueiros.


-   Qual é Lilá deixa isso pra lá, afinal, todo mundo nesta escola é ou já foi apaixonada pelo Rony, menos eu lógico, que amo meu Draco. Seria estranho s ela não fosse. Apesar que eu sempre achei que ela era lésbica, dizem que as CDFs são sempre lésbicas.  – A outra garota falou sem dar importância ao assunto.


Quem falava agora era Luna Lovegood, 16 anos.


Namorava Draco Malfoy melhor amigo de Rony. Era uma garota calma e que no fundo tinha bons sentimentos, mas para estar o mais próxima possível ao namorado a quem ela amava muito e era muito dependente, se mantinha presa à amizade de Lilá e fazia tudo o que ela mandava.


Era muito bonita, loira natural de olhos azul-claros lindos, descendente de alemães, mas tinha uma personalidade muito fraca e uma auto estima muito baixa por isso copiava as amigas. Ellen nunca gostou de magoar as pessoas, era uma garota agradável, que gostava de sorrir, não se impressionava fácil com dinheiro, mas estava sempre seguindo aquilo que seus amigos ditavam como moda. Achava que a melhor maneira de não ser excluída era fazer de tudo para estar naquele grupo e este era seu maior erro. Muitas vezes era maltratada pelos amigos, mas passava por cima de seu orgulho, por medo.


 Ela tentou desconversar, queria que as duas saíssem logo dali.


-              Olha isso Luna! “Ele me levou para tomar um sorvete, queria me agradecer pelas aulas que lhe dei ontem de manhã, ele conversou comigo, foi tão bom, contei tanta coisa pra ele. Senti que Ele ficou com pena e acho que foi por causa disso que ele me deu um beijo, foi bem rápido, mas foi maravilhoso, não queria que fosse por isso, mas não pude evitar. Eu sei que ele jamais olharia pra mim, mas aconteceu e isso é o suficiente. Foi o meu primeiro beijo, estou tão feliz.” – Ele a beijou!


-              Lilá ele estava com pena dela, ela mesma descreveu isso. Deixa pra lá.


-              De jeito nenhum, ela é muito pretensiosa, merece um corretivo.


-              Lilá, Rony nem nota que ela existe.


-              Como não? Sempre que precisa de ajuda nas matérias, recorre a ela e agora esse beijo.


-              Foi por piedade Lilá, ele estava grato a ela, foi só isso pelo amor de Deus ele nem deve se lembrar. Não acredito que você acha que o Rony vai ficar com ela? – Luna parecia preocupada.


-              Claro que não, mas eu quero me divertir e você vai me ajudar. Vamos levar este caderninho.


Luna fez um gesto com os ombros e saiu do banheiro acompanhada por Lilá.


Quando Hermione terminou de trocar de roupa foi pegar a bolsa e percebeu que seu diário não estava dentro, pensou ter deixado cair na sala e saiu do banheiro desesperada procurando pelo chão da escola. “Oh céus, isso não podia ter acontecido”.


Na porta da sala havia um pequeno amontoado de gente cercando Lilá e Rony.


Quando Hermione tentou passar, todos a encararam.


Lilá se adiantou:


-              Procurando por isso horrorosa?


-              Meu diário?! Foi você quem pegou?


-              Sim, fui eu. E daí? Vai me denunciar idiota? Eu acho, sinceramente, conselho de amiga, que você deveria procurar um palhaço assim feito você pra se apaixonar, você não concorda? O circo estaria completo. O palhaço e a mulher monstro. – todos riram.


-              Eu,... Eu não sei do que... (Hermione quase não tinha forças para falar).


-              Sabe sim, não adianta negar, eu já mostrei pra todo mundo seus versos ridículos.


-              Ei cara, teu fã clube já foi melhor hein? (quem falava agora era Draco Malfoy, melhor amigo de Rony.).


-              Fala alguma coisa pra ela Rony, ela vai chorar hein? – todas as pessoas em volta riam.


Rony parecia estar tão incomodado quanto Hermione e não disse nenhuma palavra, além de um “Deixem que ela passe” fraco, quase inaudível.


-              Qual é Rony? – insistiu Draco, - se você ficar calado vai virar piada.


Ele estava imensamente envergonhado, não queria que as pessoas humilhassem Hermione, ele gostava dela, de um jeito que ele não conseguia entender e achava que era gratidão por tudo o que ela havia lhe feito. Queria cumprir a promessa e protegê-la, mas não conseguiu se mexer, teve medo da reação dos amigos.


-              Eu...


-              Vamos lá garota – Lilá viu que Rony não ia falar e continuou. – Não vai me dizer que se empolgou só por que ele te pediu ajuda e te deu um beijinho. É pra isso que vocês servem, pra fazer favores, quanto ao beijo, ele estava com pena de você ou você acha que em sã consciência ele ficaria com alguém a quem ele mesmo ajudou a apelidar de “patinha feia?”


Todos explodiram numa grande gargalhada, gritavam em coro “patinha feia, patinha feia”, o mundo de Hermione desabou, ela não conseguia pensar ou falar, a única coisa que ela conseguiu fazer quando voltou a si, depois de alguns minutos paralisada foi correr.


Ela esqueceu O diário, as ligações de sua mãe, esqueceu tudo e apenas correu.


Correu o máximo que pôde e quando seu fôlego acabou ela sentou-se embaixo de uma árvore e chorou o choro mais desesperado de sua vida, mal podia acreditar que o garoto dos seus sonhos a fez passar a maior vergonha da sua vida, no intimo sabia que não fora ele, mas sua mágoa maior fora vê-lo compactuar com aquilo. Hermione encostou a cabeça nos joelhos e só conseguia repetir uma frase: “nunca mais Rony, nunca mais”...


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Espero que gostem desta


 


 

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