Na Torre de Astronomia



 Lumus!

 [N/A]: Gente, essa é a minha primeira short e a primeira que eu escrevo de um outro shipper favorito meu. Eu vou fazer meio que uma mini-serie deles, as vezes do ponto de vista dela as vezes do ponto de vista dele. Então, essa é a primeira short da série. Espero que gostem.

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  Eu estava sentada na terceira carteira na fileira do canto da aula de Transfiguração olhando entediada para o professor Smith. Sentava ali por que não entendia nada da matéria, e aquele era o ano dos N.O.M’s e eu precisava realmente estudar e dessa vez aprender alguma coisa que ele falava e os alunos da Corvinal sempre sentavam nas segundas e primeiras carteiras. Olhei para o lado, distraída, onde pude ver o campo de quadribol, alguns primeiranistas estavam tendo sua aula de voo semanal, virei novamente a cabeça para frente a fim de encarar o professor que estava explicando uma teoria de como transformar um porco-espinho em uma almofadinha de agulhas. A carteira ao meu lado estava vazia, Kathy por algum motivo havia se atrasado para a antipenultima aula do dia, que tinha começado á uns dez minutos, mas pra mim pareciam dez horas, suspirei e prendi meu cabelo em um nó frouxo, deixando que umas mechas loiro-arruivado caíssem livremente, emoldurando meu rosto.


 Voltei a encarar o professor, tentando, inutilmente, absorver as palavras que ele falava. Eu sabia que hoje isso seria uma tarefa impossível, afinal, na noite anterior eu tivera uma briga terrível com meu primo de consideração extremamente idiota e irritante, tudo por que ele se acha no direito de se agarrar com qualquer uma em qualquer lugar da escola sem se importar com quem está presente. Tudo bem que eu e ele nunca nos demos muito bem, desde criança que ele se acha no direito de implicar comigo e gosta de roubar a atenção da minha família para si. Patético. Mas ultimamente as brigas têm sido piores.


 Ele está cursando seu sétimo e último – Graças a Mérlim! – ano em Hogwarts e ontem enquanto eu estava estudando em uma área isolada da biblioteca ele me aparece beijando outra garota. Não sei por que, mas ver aquilo me incomodou profundamente, na hora senti meu estômago revirar com todo o jantar que eu tinha ingerido há meia hora, eu desviei os olhos, tentando ignorar aquela cena grotesca do meu quase primo engolindo a garota. Eu tentei voltar à atenção ao meu complicado dever de Runas Antigas, mas estava impossível com Lupin-Pego-Todas quase tirando a roupa da garota ali na minha frente. Aparentemente ele não tinha percebido a minha presença, mas ele sabia que eu estava ali, ele sempre sabe onde eu estou. Lupin nunca perde a oportunidade de implicar comigo.


 Eu olhei para ele e pedi “gentilmente” que saísse dali para que eu pudesse estudar, ele se negou e falou que se eu estava incomodada que eu saísse. Ou seja, ficamos uns longos minutos discutindo, mas no final ele disse uma coisa tão grosseira que me reduziu às lagrimas. Ok, ok! Não foi realmente grosseira, mas me magoou, muito. Disse que apesar de eu ser bonita e ter sangue de veela correndo nas veias, eu era mesquinha e arrogante, nem parecia que era uma Weasley e que por isso eu estava cercada de garotos que só queriam me beijar para depois me largar. Na hora eu fiquei sem ação, só senti meus olhos se enchendo de água e saí correndo dali, esquecendo todo o meu material – Kathy depois me entregou ele, provavelmente meu quase primo o recolhera para mim e entregara a ela – fui para meu dormitório, onde passei praticamente a noite toda chorando por causa daquele meio metarmofomago que se acha O Gostosão.


 Tudo bem! Eu sei por que eu chorei e sei por que fiquei tão incomodada por ter visto o Sr. Lupin se agarrando com outra. Não sei exatamente quando começou, mas há algum tempo que eu me pego pensando nele e em como aqueles olhos cor de esmeralda são lindos (eu sei muito bem que ele copia o tio Harry, padrinho dele, é como se fosse uma homenagem) contrastando com o azul elétrico que ele usa como cor dos cabelos.


 Tomei um susto quando ouvi o professor Smith falando em um tom de voz mais alto na sala de aula. Bom, vamos voltar a prestar a atenção e deixar esse Lupin-Babaca de lado.


- Srta. Katherine O’Conner, posso saber o motivo do seu atraso de 15 minutos? – perguntou o professor Smith com um ar severo.


 Vi Kathy se sentar ao meu lado e responder ao professor com uma voz falsamente afetada:


- Desculpe, senhor. Eu não estava achando meu dever de Transfiguração no meu material de hoje. – disse ela estendendo um pergaminho enrolado a ele – Mas eu o encontrei dentro do meu livro de... de Aritmancia. Isso não vai mais acontecer, senhor, prometo. – terminou ela dando seu melhor sorriso.


 O Sr. Smith retorceu a boca, mas pareceu concordar pegando o pergaminho da mão de Kathy e voltando a explicar a teoria do porco-espinho.


 Eu olhei para Kathy, enquanto ela procurava alguma coisa em sua mochila e falei baixo para que somente ela escutasse:


- Por que você se atrasou?


- Seu primo me parou no caminho. – respondeu ela ainda catando alguma coisa na mochila.


- James? – era o primeiro ano do filho mais velho de tio Harry e ele está sempre encrencado, sempre em detenção. Meu tio disse que ele herdou esse talento do avô e de seu falecido padrinho Sirius - Por que James te parou no caminho? O que esse pestinha fez? – cochichei de novo.


- Não. Não o James, o Teddy. – ela disse remexendo na mochila.


- Hum... – disse tentando voltar minha atenção à aula – Até você, Katherine? Qual é?! – murmurei depois.


 Kathy revirou os olhos e disse com a cara ainda dentro da mochila:


- Você ta viajando, Vick. Teddy e eu somos colegas, você sabe. – disse ela puxando um pergaminho amassado. – Achei! – ela me passou o pergaminho. – Ele pediu para que eu a entregasse, ou melhor, implorou. Ficou esse tempo todo me importunando para te entregar.


 Eu olhei do pergaminho para Kathy, de Kathy para a janela vendo os aluninhos do primeiro ano dando voltas no campo de quadribol. Sem querer meu olhos captaram uma mancha azul na arquibancada movendo-se de um lado para o outro, eu sabia o que era, quem era, mas mesmo assim ouvi Kathy murmurar em meu ouvido:


- É o Teddy. Ele está inquieto desde ontem à noite, Vick, ele disse que hoje não tinha condições de assistir nenhuma aula.


 Eu virei a cabeça bruscamente para ela e pude sentir e ouvir meu pescoço estalar, semi-serrei os olhos e disse para ela, a raiva emanando da minha voz:


- Problema é dele. Não quero ler isso. – eu falei devolvendo o pergaminho à ela.


- Não! – ela disse com veemência. – Pare de bobeira Victoire Weasley e leia esta droga de bilhete. Não me atrasei e levei esporro à toa não.


- Eu não mandei você fazer isso. – eu retruquei mal humorada já desdobrando o pergaminho amassado. – Só vou ler por que estou curiosa.


- Sei.. – Kathy murmurou sorrindo e voltou sua atenção ao professor.


 Eu abri o pergaminho e o apoiei na mesa. Certa vez eu me pegara imaginando como seria a letra dele enquanto eu o via escrevendo para meu tio e agora eu sabia como era a letra dele. Não era infantil e desengonçada como eu achara ser, na verdade, era até muito parecida com a de meu pai, letras de forma. Eu respirei fundo e comecei a ler o bilhete.


“Vickie”


Já começou errando, pensei. Ele sabe que eu odeio esse apelido. Só ele me chama assim.


“Vickie”


“Preciso realmente falar com você e não posso esperar até o final das aulas.”


“Te procurei no café e no almoço e não achei! Onde você estava, sua filhote de lobo?”


“Filhote de lobo”. Arght! Outro apelido idiota que ele gosta de usar quando está implicando comigo.


“Vou ta te esperando na Torre de Astronomia quando esse seu tempo acabar.”


“Se você não aparecer lá, eu vou à orla da floresta e te chamo. Eu sei que depois te Transfiguração você tem Tratos de Criaturas Mágicas, então não adianta fugir.”


“Estou te esperando. Não me decepcione.”


“Teddy”


“Que imbecil!”, eu pensei depois que terminei de ler o bilhete minúsculo. Como ele sabia que minha próxima aula era Trato de Criaturas Mágicas? Kathy, é claro! Olhei para ela de rabo - de – olho; ela estava copiando o que o professor estava colocando no quadro com um sorrisinho cínico nos lábios. Era óbvio que ela tinha falado para o Lupin, eles eram meio que amigos. Eu balancei negativamente a cabeça e olhei novamente para o campo de quadribol à procura da mancha azul que eram os cabelos de Lupin, não estava mais lá, já devia está na Torre de Astronomia. Olhei para o relógio de parede que ficava atrás da mesa do professor. “Vinte e três minutos para acabar com essa tortura”, pensei amargurada.


 Peguei uma pena e um pergaminho para copiar o que o Sr. Smith havia passado no quadro. Hoje seria somente aula teórica, pelo o que eu tinha escutado vagamente, então eu teria tempo para estudar até quarta-feira depois do almoço e tentar não fazer muito feio na aula.


- Por que essa bosta de sinal não toca? – murmurei pra mim mesma.


- Você vai? – perguntou-me Kathy.


- Vou aonde, Kathy? – devolvi a pergunta me fingindo de desentendida.


 Ela revirou os olhos antes de me responder:


- Ir encontrar com o Teddy.


- Não sei. – murmurei olhando para o pergaminho em que escrevia. – Acho que não.


- Vic, ele vai atrás de você de qualquer jeito. – disse ela arranhando o pergaminho com a pena. – Imagina... a gente na aula da Clearwather e o Teddy chegando pedindo pra falar com você? A Nathalie ia morrer de inveja, ela é apaixonada por ele. – falou ela contendo o riso.


- Você é ridícula, Kathy.- eu disse reprimindo o riso. – Não quero falar com o Lupin, ele é patético!


Kathy suspirou já começando a guardar seu material e eu comecei a fazer o mesmo, e me disse:


- Não sei por que você não gosta dele Vick, sinceramente. – ele disse jogando os pergaminhos dentro da mochila. – Quero dizer, você gosta dele, mas não admiti.


- Eu não gosto dele, Katherine, nunca gostei. – tentei mentir pra minha melhor amiga, obvio que não consegui, ela arqueou a sobrancelha direita – Ta! Não interessa! Eu e o Lupin nunca nos demos bem, desde crianças que somos assim.


- Obvio! Isso tudo é um escape para esconder o que vocês sentem um pelo outro, Vick. – disse ela se levantando ao escutar a sineta. – O Teddy gosta de você também, da pra ver que ele faz essas coisas pra chamar a sua atenção. – ela concluiu sabiamente.


- Ótima forma de chamar a minha atenção. Beijar um monte de garota na minha frente, me chamar de mesquinha e arrogante e dizer que não pareço uma Weasley! Qual é a dele?  


 Falei amargurada e saí andando por entre os alunos, mas ela me alcançou e segurou meu braço:


- Você só vai descobrir se for lá ver o que ele quer. – disse Kathy apontando para cima.


-Eu.Não.Vou. – eu disse pontuando cada palavra.


- Legal! – disse ela. – Vamos ter um show então na aula de Trato de Criaturas Mágicas. Vai ser bom mesmo, sabe? Essa escola ta muito parada. – concluiu ela cinicamente.


- Você é patética, Kathy. – eu disse. – Mas me convenceu. Depois a gente se fala.


 E saí andando, e ainda pude ouvir um “Boa sorte” entusiasmado de Kathy. Entrei por um corredor deserto que sabia dar para a Torre da Grifinória, ia passar lá antes para deixar meu material, já que depois de Trato de Criaturas Mágicas eu teria meu ultimo tempo livre. Subi correndo para o dormitório e joguei a mochila em cima da minha cama, voltei para a porta, mas parei com a mão na maçaneta. O que eu estava fazendo? Matando aula para encontrar meu quase primo extremamente idiota? Pra quê? Pra ele jogar mais insultos na minha cara? Não, não vale a pena. Se ele quiser que venha ao meu encontro, pensei jogando a mochila por sobre o ombro de novo. Quando estava no meio da escada para a sala comunal, lembrei do que havia escrito no bilhete de Lupin. Ele realmente ia atrás de mim. Voltei e subi para o quarto de novo jogando a mochila na cama.


- Droga!


 Esbravejei para as paredes. O que estava acontecendo comigo? Sentei na cama ponta da cama e passei a mão pelos cabelos, soltando-os do nó mal feito, levante e me olhei no espelho. As olheiras da noite anterior ainda eram visíveis, meus cabelos normalmente arrumados, hoje estavam graciosamente rebeldes, minha imagem melancólica e ansiosa me assustou. De repente, a voz de Kathy veio em minha cabeça “O Teddy gosta de você também, da pra ver que ele faz essas coisas pra chamar a sua atenção.”, aquilo me confundiu. Será que o Lupin realmente gostava de mim e estava fazendo essas coisas pra chamar a minha atenção? Bom... só vou descobrir se for me encontrar com ele.


 Decidida, saí do quarto pisando forte, na intenção de fazer a ansiedade ir embora. Não deu muito certo. Acabei por indo pelo caminho mais longo, dando-me tempo para reorganizar minhas idéias e jogar umas boas verdades para aquele metarmofomago imbecil. Quando dei por mim, já estava na escadaria que dava para a Torre de Astronomia, respirei fundo, fiz a minha pior cara de má e subi.


 Quando cheguei lá em cima, pude ver Lupin encostado na parede olhando para a paisagem. “Meu Mérlim, como ele está lindo”, esse foi o pensamento mais incoerente e ilógico que já veio na minha cabeça, “Controle-se Victoire!”, ordenei a mim mesma.


 Fiquei parada por um tempo o admirando, pelo menos as costas dele. Os cabelos geralmente azuis agora estavam em um castanho claro, que eu sabia ser o seu natural. Ele sempre usava os cabelos e os olhos naturais quando estava comigo ou quando estava em casa, talvez por que não precisava se amostrar pra ninguém quando estava em casa. Vi os músculos das costas dele se movendo enquanto ele mexia um dos braços para coçar o nariz. O quadribol havia feito bem a ele, muito bem, ele era batedor, igual ao tio Jorge e ao falecido tio Fred, olhei para seus outros artifícios e corei. “Chega!” eu pensei antes de pigarrear e ver ele se virando para mim.


 Nossos olhos se encontraram por um momento, o meu azul com o mel dele, foi como se eu tivesse tomado um choque. Ele me avaliou, parecia meio constrangido com a situação. Eu não ousei a quebrar o silencio, me manti impassível com os braços cruzados, diante dele, a expressão dura, como a de meu pai quando está com raiva.


 Lupin deu um passo em minha direção, mas parou quando eu arqueei as sobrancelhas, ele levantou o braço e coçou a nuca, gesto que no momento eu achei super charmoso, mas continuei séria, sem quebrar o silêncio tenso que se instalara ali.


- Oi, Vickie. – o ouvi dizer meu apelido tão detestado.


- Fala o que você quer, Lupin. Não tenho o tempo todo, por mais que eu estava matando aula, eu ainda tenho que terminar de fazer meu dever de Runas que não pude terminar ontem. – eu falei seca.


 Pela primeira vez, em meus quinze anos que conheço Ted Remo Lupin, eu o vi corar. Sim, Lupin corou. Corou diante da minha frieza, diante da minha secura, diante da minha resposta atrevida. Vi-o dar outro passo em minha direção, mas quando eu arqueei as sobrancelhas ele não recuou, continuou andando em minha direção e parou na minha frente. Ele me olhou e eu sustentei o olhar, impassível.


- Posso... posso conversar com você um pouco? – ele pediu, falando comigo pela primeira vez, suavemente.


 Aquela voz macia entrou pelos meus ouvidos, ecoou em meus tímpanos e embaralhou meu cérebro, fazendo com que eu desviasse o olhar na hora e que meus braços caíssem ao lado de meu corpo.


 - Isso é um sim, Vickie? – de novo o apelido idiota que somente ele usava.


- É, Lupin. – eu disse impaciente, desviando-me dele e indo para o outro lado, onde eu podia ver praticamente todo o terreno de Hogwarts. – O que você quer?


- Conversar. – ele falou de repente atrás de mim.


- Então fala logo, Lupin! – eu disse me virando para ele, surpreendendo-me com a proximidade dos corpos.


- Kathy te entregou seu material ontem? – eu fiz que sim com a cabeça. – Ah!


 Eu o olhei, meio decepcionada com a conversa.


- Era isso que você tinha de tão urgente para me falar, Lupin? – perguntei com a voz visivelmente afetada.


 Ele pareceu se surpreender com meu tom e deu um sorriso de lado.


- Não. – ele pegou na minha mão, eu a puxei quando senti um calafrio percorrer por minha espinha e ele pegou de novo, segurando-a com mais força, impedindo-me de puxá-la de volta. – Vamos sentar ali.


 Ele me puxou para uma bancada do lado oposto em que estávamos. A vista dava para as montanhas e podíamos ver já o sol querendo se pôr. Seria um lugar romântico se não fosse pela situação constrangedora e pelas pessoas que a compunham no momento. Eu me sentei cruzando as pernas e ajeitando a saia de pregas do uniforme, ele se sentou do meu lado, afrouxando o nó da gravata.


 Teddy me olhava intensamente. Ops... Teddy não, Lupin. Aquilo me assustou e me fez desviar o olhar para o que estava preste a ser o por do sol.


- Você está com uma aparência horrível, Vickie. Não dormiu direito? – ele me perguntou tentando ser simpático, mas era possível perceber preocupação em sua voz. Sim, ele estava preocupado!


 Eu o olhei por alguns breves segundos e depois virei o rosto para frente, apreciando a vista, meu estomago dava cambalhotas e borboletas pareciam dançar em minha barriga. “Calma, Vick, calma! É só o Lupin, você já lidou com ele outras vezes. Relaxa.”, eu pensei. Respirei fundo e respondi:


- Obrigada pelo elogio, Lupin. Falar que eu estou com uma aparência horrível é uma coisa muito gentil de sua parte.


 Eu o ouvi suspirar e vi-o coçar a nuca de novo e encarar o lado oposto da Torre com os olhos angustiados. Passei as mão pelos cabelos, para depois prende-los novamente em um nó frouxo e disse:


- Tive uma noite difícil. – minha voz saiu sussurrada.


 O silencio se instalou ali novamente. Encarei minhas unhas, elas precisavam urgentemente ser feitas. Meu esmalte vermelho estava descascando nas pontas e minha unha do dedo médio estava torta.


 Comecei a me perguntar por quanto tempo ficaríamos em silêncio quando escutei ele falar subitamente:


- Desculpe por ontem, Vickie. – a voz dele parecia súplica. – Eu fui um idiota, imbecil e babaca. Eu não devia ter falado com você daquela maneira.


 Eu soltei uma risada fria e disse:


- Uau! Pela primeira vez concordamos em alguma coisa, Lupin.


 Ele sorriu torto:


- É, acho que sim.


- Era isso que você tinha pra falar, Lupin? – perguntei petulante.


- Também.


- Hum... bom, então eu vou indo.


 Falei me levantando, mas ele segurou minha mão. De novo senti como se uma corrente elétrica percorresse por meu corpo, fazendo-me estremecer. Eu parei, olhando para sua mão na minha, sentindo seu toque quente e macio, depois levantei os olhos para ele, que também havia se levantado.


 No momento em que nossos olhares se encontraram, senti minhas pernas ficarem bambas e meu coração disparar, descontrolado, as borboletas em minha barriga, agora pareciam querer voar para fora e meu estômago, bem, eu nem sabia mais do meu estômago. Teddy sorriu torto pra mim. Um sorriso maravilhosamente charmoso, capaz de fazer qualquer uma a se render aos seus encantos, mas eu não era qualquer uma, eu era Victoire Weasley. Por mais que eu estivesse completamente sem ação, eu não ia deixar que os encantos que ele usava com as outras, surtisse efeito sobre mim.


 Despertei de meus devaneios quando escutei a voz dele:


- Você ainda não disse se me desculpa, Vickie.


- Eu te desculpo, Teddy. Agora me deixa ir?


 Por alguns segundos eu vi uma coisa surpreendentemente linda, os olhos dele mudavam de cor em uma velocidade incrível, passando do mel para o verde, do verde para o azul, do azul para o acinzentado e assim sucessivamente em diversas tonalidades, era uma coisa inconsciente, eu pude perceber, ele fez sem sentir. O vi fechar os olhos com força, como se tivesse tomando controle de sua metamorfose. Ele abriu os olhos e eles estavam cor de mel de novo.


- Desculpe por isso, às vezes eu perco o controle quando estou nervo... – ele parou no meio da frase com uma careta e eu ri. – Desculpe.


- Vai me deixar ir, Teddy?


 Ele fechou de novo os olhos com força e riu:


- Vickie, você está me deixando seriamente fora de controle.


- Eu? – me assustei. – Por quê?


- Você está me chamando de “Teddy”, acho que a ultima vez que escutei você me chamando assim, eu tinha onze anos. – um sorriso brincava em seus lábios.


- Não estou te chamando de “Teddy”, Lupin. – eu falei rispidamente, mentindo, porque sabia que o tinha chamado pelo primeiro nome. “Idiota! Idiota!”, eu me xinguei.


- Chamou sim. – ele falou soltando minha mão e se esticando. – Chamou duas vezes. – falou presunçoso, aquilo me irritou.


- Não.Chamei. – falei pontuando as palavras.


 Eu virei para ir embora, e isso o pegou de surpresa. Estava quase na escadaria quando senti as mãos dele pegando em minha cintura e me virando de frente para ele. Eu me assustei com o gesto, me assustei mais ainda com a proximidade de nossos corpos.


 Eu era facilmente mais baixa que ele. O topo de minha cabeça batia um pouco abaixo de seu queixo, mas eu me senti completamente confortável em seus braços, como que se ali, fosse o único lugar em que eu me encaixasse. O único lugar em que eu não era vista como a filha de Gui e Fleur Weasley, que eu não era a sobrinha do famoso trio Harry, Rony e Hermione, que eu não era descendente de veela gostosona que todo mundo queria pegar. Ali eu me sentia eu, ali eu era simplesmente Vickie.


 Mas eu não podia. Eu não podia ser “simplesmente Vickie”, eu tinha que ser a Vick. Não era aceitável, não era certo. Mas então por que eu não conseguia me mover? Por que eu não conseguia falar? Por que eu estava parada igual uma idiota olhando para ele? Por que eu estava gostando se ser “simplesmente Vickie”?


- Por que você não gosta de mim, Vickie? 


 Ele me perguntou, sem se importar com que sua metamorfose tomasse o controle de novo. Vi os olhos dele mudando de cor furiosamente, parando em um preto tempestuoso, fazendo com que sua tão costumeira aparência divertida e descontraída se transformasse em uma completa melancolia. Acho que naquele momento eu consegui enxergar um pouco de Remo Lupin – pai dele- ali, geralmente, Teddy era engraçado, divertido e estabanado como a mãe, Ninfadora Tonks. Acho que eu nunca tinha visto Teddy serio daquele jeito, serio e melancólico. Tia Hermione uma vez tinha me dito que Remo, apesar de ter sido uma pessoa maravilhosa, sempre estava com uma aparência maltratada e triste, como se tivesse medo de ser o que era e que a única vez que ele tinha sido realmente feliz foi quando deu aula aqui e quando Teddy nasceu, diferentemente de Tonks que estava sempre fazendo o possível para ver as pessoas felizes e que seu jeito amalucado divertia a todos.


 Eu nunca achei que Teddy se importava comigo, muito menos com o que eu sentia por ele. Aquela pergunta me pegou de surpresa, eu achei que ele só queria se desculpar pelo o que ele disse ontem, mas não, havia alguma outra coisa que ele queria me dizer e estava lutando consigo mesmo para falar.


 Eu tentei reunir forças para me soltar dele e desviar o olhar, mas não consegui. Alguma coisa na expressão de Teddy me prendia a ele, uma coisa que eu não sabia identificar.


 Eu tentei responder, mas minhas palavras saíram gaguejadas:


- Bom.. porque.. não.. ué.


- Não está facilitando as coisas assim, Vickie.


- Facilitar o que? – minha voz saiu um oitavo mais alta.


- Por que você não gosta de mim, Victoire? – ele falou suavemente, seus olhos tomando a tonalidade natural. –


- Porque você é um imbecil? – minha afirmação saiu em forma de pergunta.


  Ele deu uma risada e respondeu:


- É. Porque eu sou um imbecil. É uma boa resposta, Vickie. – ele disse com um sorriso torto nos lábios. – E por que eu sou um imbecil?


- Onde você está querendo chegar com isso, Teddy? – perguntei sem querer entender o recado dele.


 Ele suspirou e olhou diretamente em meus olhos, abaixou a cabeça para falar em uma voz deliciosamente rouca em meu ouvido:


- Quero entender como que nós dois deixamos chegar a isso.


 Eu senti meus braços enlaçando o pescoço dele e percebi que eu não tinha mais o domínio de meu corpo, de minhas ações. As mãos dele passeavam em minhas costas, uma delas chegou até meu cabelo e ela o soltou, fazendo que ele caísse em cascata por minhas costas. Eu tentei raciocinar, mas meu cérebro não estava funcionando direito. Como, eu não sei, mas eu consegui sussurrar no ouvido dele:


- Chegar a quê?


 Ouvi uma risada rouca e senti seu hálito quente em meu pescoço, fazendo que eu me arrepiasse dos pés a cabeça.


- Quando foi que começou isso, Vickie? Há um ano? Dois? Essa coisa que me impulsiona até você, que me faz fazer coisas pra chamar sua atenção de alguma forma. Mesmo que da maneira errada. Quando foi que você começou a mexer comigo, Vickie? Como você fez isso? Como foi que você me fez parar de ter desejo por outras garotas?  - eu escutava aquilo de olhos fechados, mergulhando as mãos em seus cabelos macios sentindo o nariz dele roçar em meu pescoço. – O que você fez comigo?


- E não sei. – consegui sussurrar. – Mas foi a mesma coisa que você fez comigo.


 Foi tudo em câmera lenta. Eu o senti pressionar mais o seu corpo no meu, trazendo-me mais para perto, uma mão afagando as minhas costas e a outra meus cabelos; senti o nariz dele roçar do meu pescoço até meu maxilar, quando nossos lábios estavam a centímetros um do outro, nossos olhares se encontraram por um breve momento. Eu estremeci nos braços dele, uma corrente de força percorria por meu corpo, desejando ardentemente aquele garoto. Parece que havia perdido novamente o controle de sua metamorfose porque seus olhos mudavam de tonalidade em uma velocidade incrível, ele não se importava, em momento nenhum desviou o olhar do meu, muito menos fechou os olhos com força para tomar o controle de novo.


  Então, meio segundo depois, ele me beijou. Não foi um beijo igual ao que eu o vi dando na garota ontem, avassalador, cheio de mão e outras coisas, foi um beijo calmo, delicado, doce. A mão dele pressionava levemente a minha nuca como que se tivesse medo de eu fugir, mas eu não ia fugir, eu não queria fugir, eu não tinha forças pra fugir, mesmo que em alguma parte do meu cérebro, uma parte muito, muito fraca me dizia para parar com essa loucura. Eu não conseguia, eu não queria, eu não podia parar, mas eu tinha.


 A parte mais lógica de meu cérebro começou a ficar mais forte, gritando, me mandando parar com aquilo agora. A minha consciência me dizendo que aquilo era uma loucura, me lembrando de meus familiares, o que eles diriam quando soubessem? Teddy era praticamente da família, ele era quase meu primo, afilhado de meu tio. Ele fora criado comigo, ninguém ia aceitar aquilo, meu pai enlouqueceria, provavelmente, Teddy despertaria o lado “lobisomem” dele. Realmente, aquilo era errado, mas por que eu sentia que era tão certo? Mesmo que meu corpo estivesse implorando para que eu não fizesse aquilo, eu o fiz, desviei-me rapidamente do beijo.


- O que houve? – escutei ele perguntar aflito enquanto me afastava.


- Isso é loucura! – falei exasperada de costas pra ele.


- Eu achei que você também queria. – a voz dele tinha um “que” de magoa.


- O que minha família vai dizer quando descobrir? Você é quase meu primo! – minha voz saiu esganiçada quando falei a ultima palavra. – Eles vão pirar! – disse virando para ele.


 Não gostei do que vi. Os olhos de Teddy estavam tão escuros e tristes e aquilo acabou comigo, mas eu não tive coragem de ir até ele, por que sabia que se eu fosse, o beijaria de novo. Ele estava olhando para um ponto indefinido, com a expressão de quem acabara de perder alguém, depois ele me olhou e disse baixo:


- Exatamente, Vickie. Aí está a questão, eu não sou seu primo. O que há de errado nisso? O que há de errado em a gente ficar... junto? – ele sussurrou a ultima palavra.


 Eu suspirei. Era uma boa pergunta. O que havia de errado em ficarmos junto? Tudo bem que tudo conspirava para que não ficássemos juntos. Nossas implicâncias infantis, nossas brigas constantes por nada na sala comunal da Grifinória, a mania irritante dele de se meter em minha vida e tentar sempre controlar com quem eu saia ou deixava de sair – tudo bem que isso agora tinha algum sentindo -, tudo, absolutamente tudo conspirava para que não ficássemos juntos. E saber daquilo, de alguma forma, doeu muito. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Queria ficar com ele, aquilo parecia ser o certo, mas era o errado, pelo menos na minha cabeça.


 Eu sei que estou sendo contraditória, porque há meia hora atrás eu estava odiando Teddy com todas as minhas forças, mas agora todo o “ódio” havia se dissipado e em seu lugar, um carinho – e porque não dizer amor (?) – havia nascido. Tudo bem, aquilo já estava ali, provavelmente há muito tempo, não sei quanto, ao certo, mas só agora que eu havia me dado conta do que era. Eu olhei para ele e falei baixo, mas o suficiente para que ele escutasse:


- É complicado, Teddy. – então, uma coisa passou por minha cabeça, algo que eu ainda não havia pensado. – E se você só estiver brincando comigo? – ele me encarou, incrédulo – E se você fizer à mesma coisa que fez com aquela garota de ontem?


 Vi a expressão de Teddy mudar. Passando de incredulidade até uma breve fúria e depois para decepção. Os olhos dele, novamente enegreceram e ele me disse:


- Por que você me julga tão mal, Vickie? Eu não sou uma má pessoa. – a frieza em sua voz me pegou de guarda baixa. – Por que você acha que eu faria alguma coisa desse tipo com você? – ele suspirou e passou as mãos nos cabelos castanhos claros e disse – Eu gosto de você, Vickie. Será que ainda não percebeu isso?


Eu olhei para ele diante da confissão. Aquilo me surpreendeu. Então kathy estava certa, Ted Remo Lupin gostava mesmo de mim. Mas ainda assim, havia outros problemas a serem superados, como a minha família.


 Eu não consegui mais me manter longe dele. Dei um passo em sua direção, esperando, talvez que ele recuasse por ter enxergado todo o problema que era quilo, mas ele não o fez.  Continuou parado, me olhando, com a expressão ilegível. Quando cheguei nele, ele me olhou, um olhar suplico, seus olhos novamente mudando para o mel.


 Eu baixei os olhos e falei:


- Não estou te julgando mal, Teddy. É só que eu não quero ser só mais uma pra sua coleção.


- Você não vai ser e eu nunca nem pensei que você achar isso de mim. – o ouvi dizer. – Eu gosto mesmo de você, Vickie. – ele falou de novo, aquilo parecia música para mim.


- É que é tão complicado. – eu falei o encarando. – Eu estava de odiando há meia hora atrás e agora... – parei no meio da frase.


- E agora...? – ele disse, com um sorriso torto.


- E agora eu estou aqui, quase sucumbindo aos seus encantos, Lupin. – falei entre rabugenta e divertida.


- E o que quê falta para você sucumbir aos meus encantos, Delacour?


  Eu o olhei com um olhar homicida. Ele sabia que eu odiava ser chamada pelo nome de solteira de minha mãe, ele adora implicar comigo. Falei para ele:


- Você para de ser um idiota, talvez, Lupin. – eu falei com certo desprezo.


- Hey, desculpe. – ele disse tocando meu queixo. – Mas eu quero saber como ficamos, Vickie.


 Eu desviei os olhos dos dele e respondi baixo:


- Eu não sei. – o ouvi suspirar e voltei a encará-lo – Não sei o que minha família vai achar.


 Ele foi chegando perto, perigosamente perto. Encostou sua testa na minha e eu fechei os olhos no momento em que ele fechou os dele. Senti as mãos dele em minha cintura, trazendo-me para perto, eu, inconscientemente, envolvi seu pescoço com meus braços. Escutei ele falar suavemente:


- Por que não deixamos esse problema para outra hora? Eles não precisam saber de nada, pelo menos por enquanto.


- Me parece uma boa ideia. – eu consegui sussurrar.


  E então nos beijamos. No começo era doce e suave, mas logo a urgência tomou conta, o beijo passou a ser um pouco mais profundo.  Parece que ficamos assim por horas, meses, até anos, talvez; desfrutando um do outro, recuperando o tempo perdido.


 Talvez Teddy tenha razão. Parecia uma boa ideia deixar o problema da minha família de lado por enquanto. Teríamos tempo, muito tempo para resolver isso. Tudo que eu quero agora é curtir esse momento com ele, desfrutar de seu beijo, de conhecer sua boca, explorar cada pedacinho dela. Tudo que eu quero é ficar com ele, não sei se para toda a eternidade, a eternidade é tempo demais, mas quero ficar tempo o suficiente para ser feliz e morrer velhinha ao lado dele.

_____________________
 
 [N:/A]: E ai, gostaram? Espero que sim. (yn) É isso ai gente. Comentem
 Beiijos.
 Carol. :D

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Comentários (3)

  • adriana phelton

    Aiiii que linda a fic!  Eles são tão perfeitos juntos *.* A implicancia deles foi engraçada e depois a rendição um ao outro ( suspiro apaixonado) Só espero que os Weasleys sejam compreensivos heheheheh

    2011-07-17
  • barbara aguiar azevedo

    Adooooro Teddy e Vick!!!Capiiitulo lindoo, eu prefiro acreditar que eles ficaram juntos assim ee não desde pequeeeno como há em outras fics!!!Ameiii mesmooo!!!

    2011-05-05
  • barbara aguiar azevedo

    Adooooro Teddy e Vick!!!Capiiitulo lindoo, eu prefiro acreditar que eles ficaram juntos assim ee não desde pequeeeno como há em outras fics!!!Ameiii mesmooo!!!

    2011-05-05
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