Capítulo Único



Nargulés. Por que será que eles teimam em me perseguir? Comem os meus pudins, escondem os meus tênis, fazem zumbidos irritantes durante a noite que não me deixam dormir direito... Tenho pena de pessoas que assim como eu, são atormentadas por essas pestes! O estranho é que eu nunca conheci alguém que sofresse desse problema também, embora os Nargulés estejam por toda parte! Confuso, não é?
Enquanto pensava em algum jeito de resolver as minhas inquietações, saí do castelo e fui em direção à Floresta Proibida, na qual se encontrava pequenas famílias de Testrálios. Era fim de tarde e apesar do céu estar camuflado por diversas árvores naquela região, o sol ainda se infiltrava através de pequenas frestas existentes entre os galhos.
Sempre me entristeceu o fato de as pessoas não conseguirem ver essas criaturas tão adoráveis que são os Testrálios... Ainda bem que pelo menos eles têm suas famílias, pois caso contrário seriam animais muito solitários e amargurados. Me aproximei e, quase que instantaneamente, vários deles vieram ao meu encontro. Pequenos filhotes tentavam vir brincar comigo e mesmo eles sendo um tanto frágeis, não deixavam de serem espertos. O mais divertido em observar esses bebês é o fato de que, como eles não sabem andar direito devido às suas finas e trêmulas perninhas, eles acabam se desequilibrando na maioria das vezes em que tentam dar alguns passinhos. É claro que suas mães logo vinham ver se estavam bem, para depois os encorajarem a tentar novamente, até obterem sucesso.
Em meio a tantos devaneios a respeito de Nargulés e Testrálios, ouvi passos lentos e pesados logo atrás de mim. A pessoa respirava ofegantemente e o som de seus pés contra a grama possuía um certo ritmo. De repente, senti o vestígio de seu cheiro. Eu nem precisava mais me virar para descobrir quem era. Ele estava bem às minhas costas. Tão perto, mas não o suficiente para mim. Eu sabia que, no momento em que me virasse para vê-lo, seria tomada por aquele já habitual frio na espinha. Podia quase sentir seu toque, o qual infelizmente ficava guardado só em sonho e pensamento.
- Olá Harry Potter, – O final de tarde de sol tornava seus olhos mais deslumbrantes do que já eram, juntamente com a cicatriz, a qual quase saltava de sua testa. Ele era... perfeito? Tentei ao máximo não transparecer a intensidade de meus sentimentos e das várias ideias que passavam soltas pela minha cabeça. - como vai?
- Oi Luna! – disse ele abrindo um leve sorriso enquanto se aproximava mais de mim – Ahn, vou bem obrigado. E você? O que faz aqui?
- Só estou passando o tempo, na verdade. - Respondi, retribuindo seu sorriso da melhor forma que podia. Harry tirou seus olhos de mim por um instante e voltou-os para as famílias de Testrálios com tamanha fascinação. Ele nem notou que meu olhar estava mais interessado nele do que nas criaturas à nossa frente.
- Eles até que são bem legais. - disse ele, quebrando o silêncio.
- Os Testrálios? Ah sim, eles são especiais eu diria. 
- Você sabe o porquê de só nós podermos vê-los? – perguntou.
- Bem, na verdade sei! - respondi, feliz por Harry estar ali - Os Testrálios só podem ser vistos por quem já presenciou a morte.
- Então você também... – começou ele.
- Sim... Minha mãe. – respondi serenamente – Ela era uma bruxa extraordinária, porém adorava fazer experiências um tanto arriscadas. Em seu último experimento algo deu errado e ela simplesmente se foi.
- Sinto muito.
- Tudo bem, eu ainda tenho o meu pai. – Tentando amenizar o ambiente e trocar o rumo da conversa, retirei de minha bolsa uma maçã bem vermelha e a dei para o filhote de Testrálio mais próximo. 
- Não está com frio, Luna? - perguntou Harry notando meus pés descalços. Era minha impressão ou havia um sinal de preocupação em sua voz? Não pode ser! Eu devo estar pirando, isso sim!
- Confesso que o chão está um pouco frio sim, – admiti – mas não há o que fazer, já que os meus tênis sumiram misteriosamente ontem à noite.
Olhei para o lado com o intuito de ver se o Testrálio já havia comido toda a maçã, mas ele nem ao menos havia tocado nela. Notei também que o animal fitava curiosamente a minha bolsa até com certa expectativa. Não demorou muito para eu de fato perceber o que estava acontecendo, de modo que abri minha bolsa mais uma vez e retirei de lá um pedaço de carne crua. O filhote começou a se mostrar animado com o que eu tinha e logo que lhe entreguei a carne, devorou-a ansiosamente.
- É legal de sua parte alimentá-los. – comentou Harry - Na verdade, você é muito legal, sabe Luna?
Repentinamente, meu coração começou a bater descontroladamente, parecia até querer sair do peito e pular até Harry. Senti que meu rosto estava ficando da cor dos rabanetes em meus brincos. Eu estava totalmente corada.
- Sou? Bem, obrigada Harry. – agradeci tentando conter a explosão de emoções que acontecia dentro de mim – Você também é muito legal. Sempre me tratou muito bem ao contrário dos outros.
Ele sorriu discretamente e depois passou rapidamente a mão em seus cabelos como se estivesse encabulado. Nós nunca havíamos estado tão perto um do outro antes. Eu escutava a sua respiração, ele escutava a minha. Eu observava os seus olhos, ele observava os meus. Eu não me permitia acreditar que havia alguma sintonia entre nós, pois embora eu cultivasse um sentimento por ele, nunca havia acreditado na possibilidade de ele ser recíproco. Nossas mãos se encontraram instintivamente. Sua pele era macia e uns dois tons acima da minha. Seus dedos traçaram linhas pela palma de minha mão, fazendo com que eu sentisse leves cócegas. Comecei a rir e Harry abriu um sorriso satisfeito.
- Sente cócegas, é? - brincou ele, soltando a minha mão e tocando logo em seguida em meu rosto. Harry acariciou minhas bochechas rosadas e se aproximou um pouco mais.
- Está melhor agora sem cócegas?
- Bem, eu até gostava das cócegas, mas tenho que admitir que assim está consideravelmente melhor.
O meu rosto estava a centímetros de Harry e agora eu poderia afirmar que ele estava perto o suficiente. Toda a noite eu sonhava com nós dois juntos e aquilo que estava acontecendo parecia simplesmente a melhor parte de todos os meus sonhos. E então ele me beijou. Nós ficamos ali juntos, só sentindo o calor um do outro. O toque de sua pele a minha era melhor do que eu imaginava. 
Quando nossos lábios se separaram, abrimos os olhos simultaneamente. Cada um ficou observando a expressão do outro com um interesse evidente. Harry sorriu de repente e me roubou inesperadamente outro beijo. 
- Era só ter pedido! - Rimos juntos enquanto eu o abraçei.
- Vamos voltar para o castelo? – perguntou ele, radiante.
Eu abri um largo sorriso e quando me dei conta, estávamos de mãos dadas, indo em direção à Hogwarts. Tudo o que havíamos tido naquele final de tarde não terminaria ali, eu conseguia sentir isso. Acho que quando é amor mesmo, o coração sabe exatamente como reagir. Eu o amava e parecia ser correspondida! Era bem difícil de acreditar, mas meu coração dizia para eu ficar calma e ser feliz. Harry não parava de sorrir e segurava a minha mão como se não tivesse vontade de largá-la nunca mais. Então quer saber? Se afinal eu estivesse dormindo e tudo aquilo fosse só mais um sonho, pelo menos essa seria a melhor noite da minha vida. 

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